quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Hermenêutica dos metarrefrões microtonais polissemióticos



Estou sem palavras. Talvez quando conseguir parar de rir...

Cynthia

10 comentários:

Le Cazzo disse...

Inclusive eu conheci um muezim que de tanto cantar melodias em intervalos microtonais, certa ocasião, do alto de um minarete...

Cynthia disse...

Eu lembro, Jonatas, eu lembro. Inclusive, foi para evitar tragédias como aquela que Brennand resolveu colocar música gregoriana em seu atelier...

Le Cazzo disse...

Trata-se de outro muezim, Cynthia. Este de que falo não teve um fim trágico. A única consequência daquele célebre acontecimento (sobre o qual não ouso falar explicitamente, pois mal consigo entoar meu dó-ré-mi-fá) foi que um célebre aiatolah, que passava por baixo do tal minarete naquela ocasião, jamais tornou a fazê-lo sem seu guarda-chuva. Mas essa foi a única consequência do ocorrido, volto a afirmar. O líder religioso, de longas barbas brancas, era do tipo tolerante - fora educado na microtonalidade. Esse Tom Zé é uma figura!

Cynthia disse...

André, do mestrado em Sociologia, acaba de me enviar um texto de Tom Zé onde ele explica melhor suas ideias. Lá vai:

"Estou de volta de uma saudável excursão ao meu querido Nordeste. Bebi e comi fartamente daquela concepção cosmogônica lá instalada. Tenho material para processar durante um bom tempo. Enquanto estava viajando, escrevi "Exegese de Tô Ficando Atoladinha", porque num jornal do Rio se dizia que algumas músicas de 'Estudando a Bossa" foram influenciadas pelo funk carioca. E por que não?

EXEGESE DE TÔ FICANDO ATOLADINHA,
META-REFRÃO MICROTONAL E PLURI-SEMIÓTICO

3) PLURI-SEMIÓTICO:

O refrão de “Atoladinha” tem vários planos de significado:

a) em termos semânticos, o significado léxico já registrado em dicionário, que abarca o nível denotativo;

b) em termos pragmáticos, “Tô Ficando Atoladinha” desencadeia um novo significado, agora ambientado em um ato sexual. É o chamado nível conotativo dos significados deflagrados pelo uso.
* * * *

Depois desse passeio pelo denota e pelo conota, o refrão foge dessas classificações e vai reverberar no sentido do tato. E o tato já é outro código de sinais.
* * * *

Além disso, cria um signo contundente, quando numa sociedade misógina e preconceituosa, faz uma mulher assumir o comando de um ato sexual e chamar para si o direito e a conclamação do prazer.
* * * *

De acordo com C. S. Pierce, o fundador da Semiótica, o conjunto de signos “To Ficando Atoladinha”, dentro das 10 classificações compostas e combinatoriamente possíveis das tríades piercianas, forma um legi-signo dicente indicial.

Considerando o contexto, eu talvez preferisse um sin-signo dicente indicial, porque o lugar objetivo onde se dá o encharcamento é o vestíbulo vaginal e a metáfora lancinante é mais exatamente uma metonímia – o tropo que estabelece a parte tomada pelo todo.


Estou exagerando? Se o exagero passa por sua cabeça, convoco o testemunho da dra. Carmita Abdo, diretora do Departamento de Sexologia da USP. Em pesquisa divulgada em outubro de 2004 a dra. Abdo revelou que, no próprio campus da USP, um dos bolsões mais civilizados do País, 68% das meninas de 15 a 25 anos revelaram não ter prazer no ato sexual. Alegaram que seus parceiros terminavam antes, não ligavam para o que acontecia com elas. e “com medo de parecerem depravadas ou prostitutas”, não tinham coragem de pedir mais, de pedir ao parceiro que as socorresse na frustração.

(continua)

Cynthia disse...

2) Microtonal

O canto microtonal era praticado pelos cristãos nas catacumbas de Roma, onde se reuniam os adeptos de uma religião católica ainda proibida no Império Romano. Depois da oficialização do credo, o papa Gregório, no início do século 7, proibiu a microtonalidade na Igreja e instituiu a escala diatônica, criando o cantochão ou canto gregoriano.

Essa escala diatônica serviria de base para toda a música ocidental. Até hoje somos prisioneiros desse dó-ré-mi-fá-sol-lá-si-dó, com seus sustenidos e bemóis, tanto na música erudita quanto na popular.

Acontece que do ponto de vista da Física, entre um dó e um ré existem 9 comas, que se instituiu chamar quartos de tom e oitavos de tom.

Vale a pena dizer que para um violinista o dó # é diferente do ré bemol. Chegaram a ser construídos na Europa instrumentos de teclado que tinham uma tecla para o dó # e outra para o ré bemol. Depois, no século 18, veio o temperamento, que unificou os dois acidentes.

Muitos músicos e teóricos saíram a campo para dizer que não funcionaria, mas J. S. Bach tomou o partido da inovação. Para provar que dava certo escreveu o Cravo bem temperado.

Desde então a prisão da escala diatônica temperada dominou a música ocidental popular e erudita.

Agora defrontamo-nos com o inesperado.

Há duas exceções: o compositor erudito italiano Giacinto Scelsi e o funk carioca com o MC Bola de Fogo. O primeiro, escrevendo peças microtonais para orquestra e este, escrevendo Tô ficando atoladinha.

No caso de Atoladinha, trata-se de um achado muito simples. Na repetição obsessiva

Tô ficando atoladinha,
Tô ficando atoladinha ,

a cantora não muda diatonicamente a nota musical: num crescendo insistente, vai subindo obsessivamente quartos de tom, como a própria excitação e aquecimento do assunto requer.

(continua)

Cynthia disse...

1)Meta-refrão

Ora,uma peça tão bem achada chama a atenção e põe em questão todos os refrões e toda a arte de compô-los.

Portanto, quando se acusa o meu “Estudando a Bossa” de ser influenciado pelo funk carioca, não se trata de uma aberração: em aspectos mais profundos e em momentos de exceção, o funk tem laivos criativos tão altos como a bossa nova."

Cynthia disse...

Por muito menos Adorno se desentendeu com Lazarsfeld e abandonou a Universidade de Colúmbia. Imagina se ele tivesse lido isso...

Pedro disse...


lerum lerum

Anônimo disse...

Gostei 😌

Anônimo disse...

Pode me mandar o texto completo no e-mail 2012fontes@gmail.com