segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Um duro golpe nos alunos licenciados em Ciências Sociais ?


Por Rogério Proença Leite (Universidade Federal de Sergipe)

Dentro das tratativas entre a CAPES e o CESAD da UFS, um novo curso de especialização foi aprovado e agora tramita no Departamento de Ciências Sociais para aprovação final e inicio do seu funcionamento.

Trata-se do Curso “Especialização em Ensino de Sociologia no Ensino Médio – modalidade à distância” a ser ministrado pelos docentes do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Sergipe.

A proposta do curso é bem interessante e muita oportuna, uma vez que se direciona a oferecer a necessária habilitação para aqueles professores efetivos da rede pública que já lecionam Sociologia, mas não são formados em Ciências Sociais. É uma forma dos usuais professores  de matemática, biologia, historia etc serem “efetivados” na disciplina, com uma melhor qualificação curricular.

Tive acesso ao Projeto do curso aprovado e, infelizmente, constatei que de fato o curso poderá ser um duro golpe ao alunos licenciados em Ciências Sociais, esperançosos que sejam abertas vagas especificas nos concursos públicos vindouros. Mais do que isso: instalará uma situação no mínimo inconsistente para o Departamento de Ciências Sociais da UFS. Pois ao mesmo tempo em que estaremos licenciando Cientistas Sociais para exercerem o magistério, estaremos também ofertando formação continuada a quem já é professor concursado em outra área, mas que deseja também lecionar sociologia..... outras palavras, pergunto: não estaríamos ajudando a conformar uma situação hoje indesejada pelo movimento nacional dos estudantes de Ciências Sociais ? qual seja: a luta pelo reconhecimento  profissional e a abertura de vagas para Cientistas Sociais no ensino médio ??

O curso foi criado na perspectiva de atender à obrigatoriedade do ensino da Sociologia no ensino médio, a partir da  lei n° 11.684/2008, de 2 de Junho de 2008, que  alterou a LDB, e que  consolida uma diretriz já delineada pela o Conselho Nacional de Educação, em seu Parecer CNE/CEB Nº 38/2006, que dispõe sobre a obrigatoriedade das disciplinas Filosofia e Sociologia no currículo do Ensino Médio

Vejamos o que diz o projeto do curso, sobre o público-alvo e quais são os segmentos a serem beneficiados:

“5.4 – Público Alvo:
Professores graduados que estão atuando nos sistemas públicos de
ensino e ministram aulas nos Ensinos Fundamental e Médio.

Obs: Havendo vaga, e em consonância com as necessidades dos respectivos
sistemas de ensino e instituições formadoras, outros segmentos poderão ser
atendidos na oferta deste curso”
(….)

“6.1. Princípios e pressupostos relativos à formação no Curso de Especialização em Ensino de Sociologia no Ensino Médio

“De um lado, o desafio de aprofundar o processo de
formação inicial de professores para essa área por meio de desenhos
curriculares nos cursos de licenciatura em Sociologia que assegurem uma
sólida formação teórica e interdisciplinar, fortemente articulada com as
necessidades da escola e do nosso tempo na contemporaneidade. De outro, o
desafio de responder à formação continuada dos professores que atuam nessa
área, tendo em vista que parcela significativa deles não possui habilitação
específica para o exercício do magistério em Sociologia. É caso de
profissionais graduados em outras áreas e que são do quadro efetivo do
magistério, que por vezes e por diferentes razões, são designados para
ministrar Sociologia no ensino médio” (…..)

O texto parece claro. O curso se volta para a formação continuada de uma número elevado de professores das mais diversas áreas que lecionam Sociologia, ocupando a vaga que deveria ser preenchida por um licenciado em Ciências Socais.  Infelizmente, todos sabem porque esses demais profissionais de outras áreas são designados para lecionar Sociologia: primeiro, porque ainda paira um enorme e lamentável preconceito que matérias como Sociologia, Artes e Filosofia podem ser ministradas por qualquer um. Segundo, para complementação de carga horária. Muitos desses profissionais sequer são das áreas de Humanas, o que piora ainda mais o quadro. Isso tem reconhecidamente trazido grandes prejuízos aos profissionais formado em Ciências Sociais. Se a tendência for essa, muitos profissionais de Ciências Sociais continuarão sem a chance de concorrer a uma vaga em concurso público porque simplesmente vagas não serão abertas. E não serão abertas porque aparentemente não há necessidades, uma vez que o acúmulo de disciplinas por professores de áreas diferentes está mascarando a verdadeira carência de profissionais qualificados nas áreas específicas.

O meu nome está na proposta original e já solicitei que fosse retirado por discordar pedagógica e politicamente dos objetivos do curso. Para mim é vital que o curso não corrobore uma prática pedagógica duvidosa que tem trazido enormes dissabores a quem passa anos estudando Ciências Sociais e depois descobre que nem para lecionar Sociologia ele é necessário, simplesmente porque outros profissionais estão ocupando a vaga que deveria ser sua.

Tenho tudo respeito e sou reconhecedor da enorme importância social que os cursos à distância da UAB têm tido no Brasil, favorecido uma inclusão educativa. Contudo, creio que a expansão de vagas não pode por em risco a qualidade do ensino e a coerência das nossas propostas de ensino.

Penso ser válido qualquer curso, desde que ele não entre em rota de colisão com outros já existentes. Por isso indago e faço dessa pequena reflexão um convite ao debate:
Aqui no Estado de Sergipe (e, imagino, em outros estados do país) , muitos dos ex-alunos, licenciados em Ciências Sociais, aguardam com ansiedade a abertura de concurso publico, na esperança que as vagas sejam destinadas restritamente para aqueles que forem portadores da licenciatura em Ciências Sociais. Nada mais justo, penso eu. E devemos não apenas apoiar essa reivindicação, como também somar esforços possíveis para que ela se amplie.

Pois bem, eis a questão que considero mais importante: em que medida é valida  a existência de um curso de especialização que contraria os interesses dos licenciados em Ciências Sociais, ao permitir que outros profissionais já concursados se habilitem legalmente para a lecionar Sociologia, tornando desnecessária a abertura de novos vagas para Ciências Sociais em concursos vindouros ?

37 comentários:

Tâmara disse...

Rogerio,
Enquanto membro do Departamento de Ciências Sociais da UFS, tenho a responsabilidade de tomar parte nesse debate, cuja publicidade você ampliou. Em primeiro lugar, concordo que os problemas que você coloca são realmente sérios e sua preocupação mais do que legítima. E ainda bem que, como esse projeto de especialização ainda será discutido pelo departamento, teremos tempo suficiente para sua discussão. Tempo : esse nó cego da experiência profissional e existencial contemporânea e que nos faz atuar como campeões de atletismo. Por que remeto-me à experiência contemporânea do tempo para falar desse projeto de especialização ? Por causa de um detalhe em seu texto : seu nome faz parte do projeto – assim como o meu e o de todos os colegas do DCS/UFS, exceto um, o único que se recusou, declarando-se contra a educação à distância. Nós todos fomos comunicados sobre isso – embora à época eu estivesse fora do país, em licença para assuntos particulares, lembro-me bem de ter recebido essa comunicação. Fui mesmo convidada a lecionar sociologia da educação, mas recusei por considerar que, à distância, eu não poderia conhecer melhor o projeto para decidir se eu gostaria e poderia participar dele. Além disso, embora eu ache louvável o princípio da inclusão educativa, sempre tive sérias dúvidas sobre a tensão validade/factualidade desse princípio na educação à distância – tanto que nunca aceitei convite para lecionar em nenhum desses cursos. Neste sentido, já me perguntei muitas vezes se e como a própria licenciatura em ciências sociais à distância prejudica nosso curso de licenciatura presencial. Como vivo me perguntando porque nós do DCS/UFS desprezamos tanto nossa própria licenciatura (opção da maioria de nossos estudantes), em favor da formação da carreira acadêmica. Pois bem : fomos comunicados que nossos nomes constavam do projeto e o permitimos, sem perder tempo para tentar conhecê-lo, refletir, discutir sobre. Mas ele não foi aprovado pelo DCS/UFS. Agora, quando ele entrará em pauta de nossas reuniões, seremos obrigados a assumir nossa responsabilidade profissional. Vejo luz no fim do túnel. Abraço, Tâmara

Rogerio Proença Leite disse...

Tâmara,

Fico muito feliz que venha tomar parte do debate: você tem sido uma profissional séria e competente. Merece estar nessa discussão. Sim, meu nome está na proposta tanto quanto o dos demais colegas por quase uma mera formalidade do organizador da proposta. Lembro-me da consulta rápida, típica de corredor, se queríamos participar. Eu não tenho reservas ao ensino à distância, embora tenha muitas criticas a fazê-lo. Disse ah época que aceitaria participar, mas que a verdade seja dita: eu não li a proposta, essa proposta não foi apresentada e nem discutida. Quis ser solidário a um colega que confiava. Agora a coisa vem à tona: vamos votar no departamento. Com o que me deparo ? com uma proposta que é um duro golpe na licenciatura de Ciências Sociais. NO nosso caso, há luz no fim do túnel ? ótimo. Conto com você para barrar essa proposta nefasta. Mas a questão precisa ser amplamente debatida porque isso não é um problema local: vivemos hah muito tempo um ambiente de total desrespeito à nossa profissão. E os nosso alunos vão pagar por isso ?

Rogerio Proença

Anônimo disse...

Sou aluno e ainda não vi nada parecido com isso em qualquer outra área. Pelo visto, é um curso que não me serviu para nada além de me tornar mais pessimista com a sociedade humana e conhecedor de meia dúzia de autores eremitas que, no fundo, mudam pouca coisa.

Anônimo disse...

percebo que todos sao contra ao famigerado ensino a distancia até o momento que percebem que ali podem aumentar um pouquinho seus pobre salários, e é neste momento em que surgem assinaturas em tudo que venha escrito $$$$$$.
o que nao vejo e nunca ví de parte de NENHUM professor do departamento de ciencias sociais da UFS é o interesse pelo aluno.
alias, me parece nítido que sao funcionários públicos apenas no contra cheque, porque na realidade odeiam dar aulas e adoram viajar as custas da viúva. existe sim um interesse privado na maquina pública e a assinatura ou nao nao muda em nada um projeto que nao tem absolutamente nada de positivo para ninguém a nao ser os que vao tirar seus centavinhos a mais né doutores.

Anônimo disse...

Notas para a imprensa: UFS boicota próprios Alunos para Governo de Sergipe economizar uns trocados na educação.

No dia 14 de setembro, por volta das 09 horas da manhã, um debate importante será travado na Universidade Federal de Sergipe, mais especificamente dentro do departamento de Ciências Sociais: a validade ou não do diploma de graduação em licenciatura para os sociólogos. A questão a ser debatida é a possibilidade de validar a atuação de outros profissionais, das mais variadas áreas, para o ensino da disciplina "sociologia" nas escolas, dispensando assim o concurso público de professores licenciados em ciências sociais. Segundo a resolução 24/00 do CONEP, a habilitação em licenciatura em ciências sociais é integralizada, ou seja, concluída após 2.295 horas de curso presencial. Se a proposta que está em tramitação no referido departamento passar, professores de qualquer formação (matemáticos, físicos, biólogos, geógrafos e etc.) poderão cursar uma pós-graduação à distância, com pouco mais de 300 horas, e pronto, estarão aptos a lecionar a mesma disciplina, oferecendo aos alunos conteúdos que os licenciados em sociologia passaram 4 anos para aprender. A quem interessa mais esse processo de precarização da educação? Existem, pelo menos, algumas vozes dissonantes: os professores Rogerio Proença e Marcelo Ennes, professores efetivos daquela instituição, estão se contrapondo à proposta e convocando alunos e profissionais formados, que estão indignados com a possibilidade de aprovação dessa proposta. Esse será um debate e tanto!

Anônimo disse...

Não esperem um 11 de setembro num 14 de setembro, posso garantir-lhes não será. Ao terminar os discursos acalourados que por ventura possam existir tudo voltara ao mesmo marasmo e "tranquilidade" que segue naquele departamento como em tantos outros e em tantas outras universidades do Brasil, aliás o que está acontecendo agora já aconteceu antes e antes e antes e antes, e ira acontecer depois e depois e depois, outros tantos alunos e ex-alunos incrédulos com tantas situações do curso, no departamento, de professores, já "brigaram" gritaram (literalmente) e até perderam o "rumo" mas tudo volta ao "normal" e quem não faz seu mestrado e doutorado e não entra numa universidade para ganhar seus 7 mil a 20 mil reais (existe isso viu, bem perto de nós)acaba dando aula numa escola particular numa situação lamentável ou pior numa loja de departamentos sendo explorado e muitas vezes humilhados. Tenham certeza: esse caminho que se dará daqui a pouco é o pior na busca da "redenção" das ciências sociais em Sergipe, discutir neste fórum não é o correto, ainda vivemos num pais democrático de DIREITO, ouviram de direito, ou seja, LEGALISTA, é, parece piada mas no Brasil temos leis para tudo, ainda que não funcionem existem e podem ser exigidas de se fazer cumprir, portanto, saiam dessa situação de vem e vai e vai e vem e de esperar a boa vontade de um ou de outro, conheçam e procurem a legislação para essa e outras situações por que passa as ciências socais. Existem inúmeras leis que nos favorece, portanto, leiam, busquem que sejam cumpridas e vamos deixar de "monólogo flácido para acalentar bovinos" (Ricardo Feltrin)Ah! e para aqueles que entendam ou que se machucaram com algo aqui dito me perdoe é pura intenção de ajudar a resolver o problema e antes que me cobrem eu estou fazendo algo sim.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Tâmara disse...

E' sempre assustador quando as novas TICs são usadas anonimamente para agressões pessoais. Que violência! Além disso, como esta' pu'blico que o departamento do qual faço parte, estaria discutindo esse projeto com problemas sérios, esse comenta'rio anônimo da' a impressão de que no's o aprovamos. Não é verdade. Como conselheira departamental, solicitei vistas ao processo, por considerar necessa'rio (não so' para mim como para outros conselheiros) conhecer melhor o teor do projeto e melhor analisar os problemas que ele coloca.
Na verdade, a reunião do DCS hoje teve participação pu'blica,contando inclusive com licenciados e estudantes engajados num coletivo pela abertura de concurso pu'blico no estado, para professores de sociologia. A reunião foi conduzida democra'ticamente, permitindo a palavra a não-membros do Conselho Departamental. Tivemos participações brilhantes e responsa'veis de nossos estudantes. Ao contra'rio do que a violência insuporta'vel do comenta'rio anônimo indica, tivemos um amadurecimento para atuarmos de forma mais responsa'vel na defesa de nossa licenciatura.

Rogerio Proença Leite disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rogerio Proença Leite disse...

Embora entenda a indignação das vozes anônimas aqui expostas, concordo com a colega Tâmara e repudio igualmente tais posições: agressões pessoais são condenáveis e desvirtuam o mérito do assunto que está em debate. Não devemos personalizar a questão. Trata-se de uma assunto que diz respeito à profissão dos futuros docentes em Ciências Sociais e deve ser discutido em alto nível. O assunto é agora questão departamental e somos todos responsáveis por ele.

Corroboro a informação que realizamos hoje uma reunião absolutamente inédita no Departamento de Ciências Sociais da UFS, com ampla participação e manifestação equilibrada e madura de alunos, ex-alunos e professores. A reunião foi conduzida da melhor maneira possível. O relator do processo leu seu parecer favorável ao curso e todos puderam expressar suas divergentes opiniões, com os naturais contras e a favor, em um clima de muito respeito.

Continuo com minha posição contrária, pelas razões já expostas. O debate está em andamento e continuará na próxima reunião, para a qual esperamos que a colega Tâmara [que, conforme aqui explicitou, pediu vistas ao processo] traga uma boa contribuição ao assunto, ajudando-nos a entender melhor a questão, independente da posição que venha a tomar.

Mais do que isso: esperamos que tudo isso sirva para uma reflexão profunda sobre a Academia, as Ciências Sociais e o contexto da sociedade brasileira contemporânea.

Le Cazzo disse...

Como um dos editores do Cazzo, sei que posso falar em nome de Cynthia e de Artur quando afirmo com toda a ênfase possível: este é um espaço para discussão de ideias e não se presta ao horrendo papel de aviltar a imagem de quem quer que seja – muito menos de alguém que merece todo o meu respeito. Quer da sombra triste e pantanosa do anonimato ou não, e por vezes é melhor mesmo que certas personalidades fiquem na sombra, comentários como aqueles postados acima são uma ofensa a qualquer pessoa que entenda que discussões teóricas devem constituir um ato político, e não algo movido pelo ódio; um ato que visa à melhoria da vida, à construção de possibilidades de justiça, do convívio com a diferença e outros valores fundamentais à civilização, e não à humilhação de adversários, à torpeza da ofensa pessoal. Sobre esse tipo de comentário, nós no Cazzo nunca chegamos a um acordo. Por que enlamear o espaço de discussão que temos construído com tanto cuidado e carinho com a permanência da ofensa pessoal? De fato, titubeio aqui. Nos nossos quatro anos de história, foi muito raro nos depararmos com situações como essa. Se não deleto simplesmente o comentário anônimo acima é porque acredito que ele possa ser objeto de reflexão de como não se deve proceder num espaço público, de como não se discutir ideias, de como não se fazer política, de como não se tratar um adversário, de como não se portar na casa alheia. E também por respeitar os comentários daqueles que, como eu, mostram-se indignados diante da infâmia.

Jonatas

Sitio Pedreiras disse...

Jonatas,

me parece melhor deletar o comentário anônimo que se direciona de forma ofensiva ao professor Pericles. Melhor porque preserva o nível desse Blog e não expõe o Pericles por tempo indeterminado à calunia. Já os romanos sabiam: Semper aliquid haesit! (Franz Josef Brüseke)

Le Cazzo disse...

Caro Franz,

Cedo ao seu pedido e de outros colegas da UFS. Creio não ser justo promover uma reflexão sobre esse tipo de comentário quando a vítima de sua inadequação e vileza não seja eu próprio. Vocês me convenceram. Abraços, Jonatas

Tâmara disse...

Jonatas,
Também acho que, neste caso, foi melhor ter suprimido. E aproveito para dizer o que, em minha primeira resposta indignada àquele comenta'rio anônimo, não tive condições emocionais de fazer - tamanha foi a violência com a qual ele atingiu-me.
O colega que foi assim violentado por aquela infâmia, trata-se de socio'logo e professor digno, com uma capacidade de trabalho admira'vel e pessoa séria e generosa. Alia's, é um dos professores do departamento que sempre teve preocupações efetivas com nossa licenciatura. Para mim, é colega e amigo.
Além disso, enquanto colaboradora relativamente assi'dua do Cazzo, também estou indignada que esse espaço tão sério tenha sido dessa forma enlameado.
Por tudo isso, na verdade estou mais do que indignada com isso. Estou mortificada. Mas renascerei, com certeza. Sua resposta àquela infâmia e sua decisão de suprimi-la mostram que ainda somos fortes e temos coragem. Muito obrigada.

Rogerio Proença Leite disse...

Como autor do texto original que tem gerado esse importante debate sobre a Licenciatura em Ciências Sociais, gostaria de me manifestar numa derradeira vez sobre essa última polêmica, da qual participou agora um dos editores desse respeitável blog e que culminou com a supressão de uma manifestação pública anônima de um participante desconhecido.

Sou absolutamente solidário com a indignação dos colegas e de acordo com a ação do administrador do blog. Tenho tido com Péricles, Paulo, Tâmara, Franz e muitos outros colegas da UFS e de outras Universidades, acaloradas polêmicas acadêmicas, mas todas elas públicas e sempre balizadas em questões relativas restritamente à Universidade. Jamais e sob nenhuma hipótese deixaria de repudiar uma ofensa pessoal, infundada e desrespeitosa como essa.

Sobre a necessidade de supressão do comentário anônimo, acho que o Cazzo não deveria nem permitir a postagem anônima, que tumultua e desvia o debate: se a idéia é promover o debate cívico e político num esfera pública midiática democrática, seria crucial e muito mais transparente que conhecêssemos nossos interlocutores, pública e abertamente. Nunca se sabe quem pode entrar sorrateiro no debate para desconfigurá-lo.

Veja esse caso: é realmente lamentável. A quem interessaria postar uma mensagem assim ? Além de atingir a honra de um professor e tentar “enlamear” o Cazzo, ainda parece conseguir desvirtuar um debate em si já muito movediço e arredio, deslocando o foco da questão central que deveria estar sendo o objeto da nossa discussão.

Em qualquer das hipóteses, perdemos todos: um colega foi vilipendiado, um importante blog foi atingido, a colega Tâmara (próxima relatora do polêmico processo) está abalada. E o debate......fora de foco. E os alunos.....bem, esses poderão ser os mais prejudicados com o projeto que deveríamos estar aqui discutindo e poucas vozes indignadas se levantaram em favor deles. Tudo isso é mesmo muito frustrante e cansativo.

Lamento profundamente por tudo isso e espero que o eixo primordial do debate ainda possa ser retomado, em desejado alto nível. E com total respeito a todos os envolvidos. A reunião de hoje do DCS/UFS foi uma prova cabal que podemos – sim – discordamos com civilidade, num comunicabilidade respeitosa e dialógica.

Por fim, gostaria de aproveitar para reiterar meu apreço por esse blog e agradecer ao Cazzo pelo convite (da minha amiga Cynthia) para publicar meu texto que teve, desde o início, o único propósito de fomentar uma discussão que julguei relevante. Ainda acho que é.

Anônimo disse...

é uma pena que chegamos este nível, me refiro aos dois lados tanto ao de um projeto "cheio de boas intenções" como este, quanto a covardia de ataques pessoais (apesar de não ter lido tais ataques).
mas espero que o DCS comesse a pensar em seus alunos e ex-alunos de maneira plena contrariamente ao que historicamente vem ocorrendo.
para o beneficio de uma maioria (alunos e sociedade em geral) os doutores ao invés de pensarem apenas em como dar menos aulas na graduação e terem mais licença para os pós-doc. pensassem em uma graduação (licenciatura e bacharelado) como prioridade no ensino e sua modernização pedagógica. uma postura cidadã e coerente com a de um funcionário público seria ótima para melhorar a imagem da sociologia (com péssima fama) em Sergipe.

Rogerio Proença Leite disse...

“quem deve ensinar Sociologia no ensino fundamental e médio são os licenciados em Ciências Sociais”

(Trecho da Carta da Sociedade Brasileira de Sociologia – SBS, de 10 de maio de 2007, dirigida aos Secretários de Educação dos estados brasileiros.)

Cynthia disse...

Passei uns dias afastada e me surpreendi com alguns dos comentários anônimos que li aqui. Parece-me que parte do problema é a incapacidade de se perceber que se trata de uma questão que transcende muito o âmbito da UFS.

Como alguém que vem acompanhando os debates sobre a obrigatoriedade do ensino da sociologia no nível médio, desde o início me parecia claro que, no curto e médio prazo, teríamos que fazer determinadas escolhas, algumas relativamente indigestas.

A primeira delas diz respeito à necessidade de se adequar à realidade das escolas. É fato que a sociologia tem sido ensinada por professores sem formação alguma em ciências sociais e é irreal supor que haverá contratações de profissionais da área em número suficiente para suprir a demanda no curto prazo. Nesse sentido, é absolutamente legítimo e necessário se pensar em ações emergenciais para minimizar o impacto negativo que isso possa ter nos alunos do nível médio.

No entanto, como o debate que vem ocorrendo na UFS demonstra, há que se considerar as consequências dessas ações emergenciais no longo prazo. Contrariamente ao que foi sugerido por alguns comentaristas, reflexões desse tipo não são reflexo de interesses particulares ou corporativos, mas obrigação de qualquer profissional da educação digno desse nome.

Propostas, contra-propostas, discordâncias, consensos provisórios, fazem parte de qualquer política que se pretenda séria e é muito bom ver que isso vem ocorrendo em diversas universidades brasileiras.

Parabenizo os colegas da UFS pela iniciativa e espero que debates como este sejam publicizados para que todos possamos aprender com os nossos erros e acertos.

Rogerio Proença Leite disse...

Cynthia, você trouxe o bom debate de alto nível de volta. Esse debate me interessa.

O problema é quando medidas emergencias para mitigar o sofrível quadro do ensino da sociologia por outros profissionais [que não os licenciados em Ciências Sociais] significa a manutenção desses profissionais no quadro do magistério em detrimento da abertura de vagas especificas em concursos públicos vindouros para os Cientistas Sociais.

“é irreal supor que haverá contratações de profissionais da área em número suficiente para suprir a demanda no curto prazo” ??

Aqui em Sergipe a estatística é inversa: há mais profissionais licenciados do que vagas a preencher. Por isso, me parece totalmente ilegítima qualquer ação que contribua, neste momento em Sergipe, para a abertura de vagas paras as Ciências Sociais.

É surreal supor que haverá contratações de licenciados em CS se esses outros profissionais forem habitados por cursos de especialização.

Por isso considero o curso inoportuno no atual contexto de afirmação da profissão do Cientistas Social, seja aqui em Sergipe ou em outra parte do pais.

Mas isso é somente uma opinião.......

Rogerio Proença Leite disse...

*Uma correção: quis dizer – na mensagem anterior – que por isso, me parece totalmente ilegítima qualquer ação que Não contribua, neste momento em Sergipe, para a abertura de vagas paras as Ciências Sociais.

Cynthia disse...

Rogério,

desconheço a proposta da Capes/UFS, portanto, vou falar em termos bastante genéricos.

Em primeiro lugar, gostaria de salientar que defendo fortemente a profissionalização dos professores de sociologia no nível médio, conforme pode ser constatado nos diversos artigos sobre o tema publicados por mim aqui no Cazzo. Neste sentido específico, concordo com você e, mais geralmente, com a SBS, de que ensino de sociologia é para licenciados em ciências sociais.

Mas acredito também que este é o horizonte para o qual devemos caminhar, um horizonte ainda distante. De acordo com dados da Capes, em 2008, havia 20.339 professores/as atuantes no ensino da sociologia no nível médio. Deste total, apenas 2.499 (ou 12%) eram licenciados na área - ou seja, há um déficit enorme de licenciados nas escolas.

Sem sombra de dúvidas que esta demanda reprimida só poderá ser resolvida a contento com a formação de profissionais nos nossos cursos de licenciatura, que precisam ser melhor estruturados no país inteiro (e não estou pensando apenas em quantidade, mas, sobretudo, em qualidade). Por outro lado, é extremamente improvável - para não dizer impossível - que as Secretarias de Educação possam, no curto prazo, contratar licenciados em quantidade suficiente para substituir os professores que atuam na área no momento (basta pensar nas dificuldades de contratação de professores cuja carga horária é tão pequena, como é o caso de sociologia e de filosofia).

Não se trata, portanto, de negar a luta pela abertura de vagas para licenciados (em minha opinião, isso deve ser uma prioridade), mas de reconhecer que isso não vai resolver o problema concreto que se apresenta no momento. Infelizmente, cursos de formação terão que ser oferecidos como paliativo por um bom tempo e essa responsabilidade é das universidades.

Creio que o que precisa ser melhor debatido são as características desses cursos e, como você bem aponta, em que medida isso compromete a luta pela abertura de vagas para as ciênias sociais. O ensino a distância é uma boa opção para o nosso caso específico? Ele deve ser aberto a professores com formação em todas as áreas, ou apenas àqueles de áreas afim? Deveria haver um prazo para a substituição de professores com apenas especialização por licenciados? Como fica a situação dos bachareis em ciências sociais que, a rigor, são os únicos que, do ponto de vista legal, podem ser chamados de sociólogos?

Enfim, o problema é bastante amplo e acho que debates como o que você levantou são extremamente necessários. Ainda que o nosso objetivo último seja o de fazer com que a sociologia seja ensinada por licenciados em ciências sociais, não se pode perder de vista o contexto mais amplo da educação no Brasil.

Rogerio Proença Leite disse...

Cynthia,

Acho sua análise muito ponderada e pertinente. Não me oponho por mera oposição à idéia de um curso de especialização que habilite outros profissionais a lecionar Sociologia, ainda mais em casos comprovados de carência de licenciados em Ciências Sociais.

Minha reserva é tão somente em casos em que essa carência está politicamente justificada pela ausência de abertura de concurso. É neste casos que creio estar havendo uma inversão das coisas: se uma vez aberto concurso, as vagas não fossem preenchidas, aí sim justificaria um curso especial, ainda que à distância, que habilitasse os demais profissionais. Não parece ser o caso do nosso cenário nacional.

Em relação aos seus dados apresentados, tenho uma dúvida crucial: você disse que “de acordo com dados da Capes, em 2008, havia 20.339 professores/as atuantes no ensino da sociologia no nível médio. Deste total, apenas 2.499 (ou 12%) eram licenciados na área - ou seja, há um déficit enorme de licenciados nas escolas”.

Se entendi bem, a estatística corrobora o ponto polêmico da questão. Se somente 12% dos professores que leciona sociologia são licenciados em Ciências Sociais, isso significa, por dedução, que os outros 88% são licenciados de outras áreas ou nem são sequer licenciados. Ora, de fato devo insistir que esse déficit enorme de licenciados (em Ciências Sociais) nas escolas não revela a falta de profissionais licenciados disponíveis no mercado (você teria esses números ?), mas tão somente explicita as distorções existentes, uma vez que revela que os Cientistas Sociais não estão dentro do sistema de ensino: se estivessem, esse déficit seria logicamente menor.

Se isso estiver correto, existem duas maneiras de resolver esse déficit: habilitando os atuais não licenciados ou abrindo concurso para que os licenciados existentes e desempregados assumam seus postos. Como você destacou, em consonância com as diretrizes gerais da SBS, defendemos naturalmente a segunda alternativa. A outra alternativa, a saber: curso para habilitar outros profissionais de outras áreas, somente seria plausível em contextos específicos de comprovada carência de profissionais licenciados em Ciências Sociais. Seria esse o caso ?

(continua na próxima postagem)

Rogerio Proença Leite disse...

(continuação)

Realmente não creio seja responsabilidade da Universidade oferecer cursos paliativos para resolver a questão. À Universidade cabe formar, com qualidade, licenciados nas diversas e respectivas áreas do conhecimento.

Esses cursos de especialização têm implicações políticas muito sérias, penso eu, e a despeito de contar com a participação de colegas professores seriíssimos, podem esses cursos involuntariamente embasar as justificativas das Secretarias de Educação em não abrir vagas para essas disciplinas, como Sociologia e Filosofia. Para quê se pode-se alinhavar com os profissionais já existentes que precisam complementar suas cargas horárias ?

E não estou aqui nem discutindo ainda outro aspecto que você levanta com muita pertinência, que é a necessidade de discutirmos a qualidade desses cursos ofertados.

Um ultimo ponto me chamou a atenção e creio ser de muita relevância: você indaga, para nossa reflexão, se deveria haver um prazo para a substituição de professores com apenas especialização por licenciados? Esse é um aspecto bem importante: a legislação atual existente em Sergipe (e esse é um dos pontos de nossas saudáveis discordâncias) é contraditória com a legislação nacional. Em Sergipe, existe a obrigatoriedade do ensino da Sociologia, mas não da contratação de licenciado em Ciências Sociais para isso. Entendeu o imbróglio ? Mesmo com a alteração da legislação (aspecto que já está sendo discutido pelos alunos e profissionais com o CEE), essa mudança na lei não tem caráter retroativo. Isso talvez signifique que quem se efetivar ministrando Sociologia, poderá, com uma especialização que o habilite, provavelmente permanecer lecionando, mesmo com a abertura de concurso (se houve concurso, já que esses profissionais estarão mascarando o déficit real de licenciados em Ciências Sociais). Em outras palavras: ao que parece, nada garante que o licenciado assuma posteriormente o lugar do “habilitado”.

É por isso que, com a atual legislação em vigor em Sergipe, com a ausência de abertura de vagas para Sociologia nos concursos públicos e com tantos profissionais já formados aguardando uma oportunidade, que esse curso de especialização proposto nas condições atuais pode ser, salvo melhor juízo, um duro golpe na licenciatura em Ciências Sociais.....

Anônimo disse...

Primeiro que acho louvável por ao menos o curso em questão, aqui na UFAL o ICS não aceitou discutir a questão, não pelo curso mas pela EAD.
Concordo com a Cynthia, não temos licenciados em número suficientes para a contratação automática, não só pela questão dos números totais, mas também pq muitos licenciados ñ querem ensinar, seja belos baixos salários, seja pelas condições ruins no ensino na educação básica, seja pela formação dada historicamente nos DCS q situam os licenciados como cientistas sociais de segunda categoria, o q tem a ver com aprópria dificuldade do curso s pensar como um curso de formação de professores.
Tbm pesa outra questão a qual devemos estar atentos, professores são horistas, a maior partes destes profissionais q estão assumindo a disciplina d sociologia n o fizeram por achar a disciplina maravilhosa. Pelas minhas pesquisas aqui em Alagoas na verdade eles s sentem em geral muito desconfortáveis com a situação. Normalmente assumem p completar a carga horária (no caso dos concursados em escolas públicas), ou p completar a renda e ter o mínimo d dignidade (no caso da rede particular). Nossos licenciados ao entrar nas escolas possivelmente teriam q completar a carga horária, considerando q a disciplina em geral tem 1 aula semanal, e em cidades pequenas (a maior parte do Brasil e do Nordeste em particular) só há uma escola pública d ensino médio, isso é estatístico, logo, só há em média 3 aulas semanais, logo, o q fazer no resto da carga horária? Para q empurrarão nossos licenciados? P lecionar história, filosofia, geografia e o q mais aparecer, pois,afinal, onde estavam nossos licenciados antes d 2008? Lecionando história, geografia, etc. Sem formação, sem habilitação, etc.
Outra questão é que nosso compromisso é com o social, no sentido amplo, e tbm restrito (na esfera intelctual), de modo q os professores q ensinam sociologia msm sem formação tbm é "problema" nosso. Eles existem e é fato. Claro q o ideal é "a sociologia p os sociólogos", mas enquanto isso n chega o q deixamos ocorrer, deixamos uma disciplina incipiente ainda com pouca legitimidade ser lecionada d toda forma? nos recusando a oefertar qq formação q seja? Permitindo q as aulas ocorram tendo como única referência bibliográfica o livro didático? isso quando ele existe... acho q a universidade tem q discutir a questão, brigar pela abertura d concursos, pedindo a habilitação específica, conforme apregoa a LDB (lei 9394/96).
(continua)

Anônimo disse...

Claro q é um ato político a escolha por este curso, claro q pode ter consequencias drasticas, mas tbm n tê-lo possui outras consequencias, q tlz n mexam com a nossa "reserva d mercado", mas mexem com a qualidade da educação, e com a legitimidade da disciplina, q s articula com o próprio desenvolvimento dos cursos, afinal, muitos jovens escolhem seus cursos com base no encanto (e desencanto) com as disciplinas escolares.
Acerca da dinâmica específica do curso, tbm devemos alardear sobre o significado da EAD, sobre como reflete o próprio sucateamento da universidade, afinal, abre-se UAB sem abrir um número suficiente d professores, sobrecarregando os professores do magistério superior, ao invés de pagar o salário de um professor d nível superior paga-se uma bolsa, no caso de cursos de graduação creio de 1300 h a cada 15 horas d disciplina (independente do número de turmas). O q é vergonhoso, mas o suficiente p comprar a nossa categoria, sim, nos vendemos barato. Será q sem essa bolsa os professores sairiam d suas casas p incrementar suas cargas horárias apenas movidos por boas intenções? tenho minhas dúvidas. E falo d professores de modo genérico.
Todos estes elementos devem ser trazidos p a agenda pública. Mas afirmo aqui minha posição clara, acho o curso ante a atual conjuntura interessante. O q n pode levar a um esvaziamento político de outras questões mais amplas.
S queremos nossos licenciados em sala de aula começemos por formá-los em pé d igualdade com os bachareis, compreendendo q o q diferencia o bacharelado da licenciatura n é a existência da pesquisa, mas a razão do pesquisar. Os professores são produtores d conhecimento, alias, segundo Michael Apple são os principais intelectuais em nossa sociedade.
Não olvidemos ainda q mesmo este curso atinge uma pequena parcela da população, ainda temos um número considerável de docentes q nem ao menos têm nível superior em qq área do conhecimento, na zona rural isso chega aos 70%. logo, quais são e quais devem ser nossas verdadeiras preocupação? Nossa pauta será uma reserva de mercado ou algo mais amplo?
Nossos alunos reclamam q os alunos chegam ao ensino médio mal sabendo ler, o q inviabiliza as aulas d sociologia, e isto n é problema nosso? Já q n s encontra em nossa reserva d mercado? Qual o engajamento das ciências sociais em torno do debate acerca da educação básica? Basta dar uma olhada no diretório de grupos de pesquisa do CNPQ, quais as preocupações de pesquisa dos cientistas sociais? E isso reflete na ação política destes.
Amurabi -Professor de Estágio Supervisionado em Ciências Sociais (UFAL)

Anônimo disse...

Claro q é um ato político a escolha por este curso, claro q pode ter consequencias drasticas, mas tbm n tê-lo possui outras consequencias, q tlz n mexam com a nossa "reserva d mercado", mas mexem com a qualidade da educação, e com a legitimidade da disciplina, q s articula com o próprio desenvolvimento dos cursos, afinal, muitos jovens escolhem seus cursos com base no encanto (e desencanto) com as disciplinas escolares.
Acerca da dinâmica específica do curso, tbm devemos alardear sobre o significado da EAD, sobre como reflete o próprio sucateamento da universidade, afinal, abre-se UAB sem abrir um número suficiente d professores, sobrecarregando os professores do magistério superior, ao invés de pagar o salário de um professor d nível superior paga-se uma bolsa, no caso de cursos de graduação creio de 1300 h a cada 15 horas d disciplina (independente do número de turmas). O q é vergonhoso, mas o suficiente p comprar a nossa categoria, sim, nos vendemos barato. Será q sem essa bolsa os professores sairiam d suas casas p incrementar suas cargas horárias apenas movidos por boas intenções? tenho minhas dúvidas. E falo d professores de modo genérico.
Todos estes elementos devem ser trazidos p a agenda pública. Mas afirmo aqui minha posição clara, acho o curso ante a atual conjuntura interessante. O q n pode levar a um esvaziamento político de outras questões mais amplas.
S queremos nossos licenciados em sala de aula começemos por formá-los em pé d igualdade com os bachareis, compreendendo q o q diferencia o bacharelado da licenciatura n é a existência da pesquisa, mas a razão do pesquisar. Os professores são produtores d conhecimento, alias, segundo Michael Apple são os principais intelectuais em nossa sociedade.
Não olvidemos ainda q mesmo este curso atinge uma pequena parcela da população, ainda temos um número considerável de docentes q nem ao menos têm nível superior em qq área do conhecimento, na zona rural isso chega aos 70%. logo, quais são e quais devem ser nossas verdadeiras preocupação? Nossa pauta será uma reserva de mercado ou algo mais amplo?
Nossos alunos reclamam q os alunos chegam ao ensino médio mal sabendo ler, o q inviabiliza as aulas d sociologia, e isto n é problema nosso? Já q n s encontra em nossa reserva d mercado? Qual o engajamento das ciências sociais em torno do debate acerca da educação básica? Basta dar uma olhada no diretório de grupos de pesquisa do CNPQ, quais as preocupações de pesquisa dos cientistas sociais? E isso reflete na ação política destes.
Amurabi -Professor de Estágio Supervisionado em Ciências Sociais (UFAL)

Anônimo disse...

Christine Jacquet

Como bem coloca Rogério, a alteração da lei não é retroativa. Ou seja, mesmo se a legislação mudar hoje, no sentido de tornar obrigatória a licenciatura em CS, um professor de matemática ou de qualquer outra área, poderá continuar ministrando sociologia durante décadas, com ou sem uma habilitação, porque é um direito adquirido. É justamente esse problema que a capes, através de sua chamada, tentou amenizar.

Cynthia disse...

Rogério,

Embora, no geral, concorde com sua posição, discordo de sua afirmação segundo a qual "não creio seja responsabilidade da Universidade oferecer cursos paliativos para resolver a questão. À Universidade cabe formar, com qualidade, licenciados nas diversas e respectivas áreas do conhecimento".

Cursos de extensão, especialização etc. são de nossa responsabilidade, sim. E diante das colocações de Amurabi acerca da carga horária, e de Christine, sobre direitos adquiridos, creio que somos obrigados a travar duas batalhas distintas: oferecer alguma formação aos que já estão aí e lutar pela abertura de vagas para pessoas da área.

O que temos que pensar é nas características desses cursos que, por mais indigestos que nos pareçam, são necessários na conjuntura atual. Do jeito que está, não dá para ficar.

Rogerio Proença Leite disse...

Caras Cynthia e Christine,

Apesar de achar que já expus com clareza meu ponto de vista, volto aqui para esclarecer um aspecto que não me pareceu muito correto.

Minha amigas, não existe essa coisa de direito adquirido. Só existe uma possibilidade, na atual legislação, de um professor de outra área continuar lecionando sociologia: se ele for habilitado por cursos semelhantes ao que se está propondo aqui na UFS. Esse é exatamente o problema. O curso legitima uma prática corrosiva à afirmação profissional dos licenciados em Ciências Sociais.
São cursos como esse que poderão dar sustentação jurídica a esse discurso futuro do “direito adquirido”.

E por não ser retroativa a alteração da lei, esses profissionais que estão lecionando sociologia, se forem habilitados, aí sim ficarão possivelmente para sempre, repercutindo na supressão das vagas correspondentes que não serão abertas para licenciados em Ciências Sociais.
Mais claro do que isso, impossível.

Cynthia afirma que “que somos obrigados a travar duas batalhas distintas: oferecer alguma formação aos que já estão aí e lutar pela abertura de vagas para pessoas da área.”
É uma posição muito sensata se obviamente a primeira alternativa não inviabilizar a segunda. Temos garantia disso ? Não, não temos. Ao contrario, a julgar pela resistência que as Secretarias de Educação têm tido em abrir concurso com vagas especificas para licenciados em Ciências Sociais, ao que parecer a tendência é apostar em medidas paliativas, como a de usar outros profissionais para complementar carga horária com a Sociologia.

Discordo mais uma vez que esses cursos são necessários na conjuntura atual. Eles não vão melhorar a formação sociológica de matemáticos e biólogos que nem levam a sério a disciplina sociologia. Que nem nos respeitam profissionalmente. Pergunte a eles o que acham de nós sociólogos ministrarmos física ou biologia. Somos motivo de chacota!

Será que vocês não entendem que o que está em “jogo” é muito mais do que uma “reserva de mercado” ? O que está em jogo é também os princípios que devem reger nossa atuação em defesa da profissão de sociólogo ?!

Acho, com todo respeito, uma tremenda ingenuidade achar que um curso desse nível, e realizado à distância, vai realmente capacitar outros profissionais. Vai apenas habilitá-los, justificando sua permanência no ensino da Sociologia , não capacitá-los.....Já fui professor de sociologia da UAB, sei como [não] funciona....

Concordo quando Cynthia diz que do jeito que está, não dá para ficar. Contudo, não acho que a solução seja digerir um curso reconhecidamente indigesto que, além de não capacitar o profissional que está a complementar sua carga horária com um curso considerado por ele de menor importância, ainda pode colocar em risco a necessidade da licenciatura em Ciências Sociais.

Eu não tenho estômago para isso!

Amurabi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Acho q tem outra questão q deve ser pensada ainda, q mesmo q a Universidade Pública ñ oferte estes cursos outras instituições o farão. D qualidade ainda mais questionável. Tbm atuo na UAB, e sei bem dos problemas q há, alias, sempre digo a meus alunos no curso presencial: "vcs deveriam estar num curso presencial, sabem pq há a EAD?...".
No entanto este cenário de Sergipe é idissincrático, ainda q eu tenha minhas dúvidas jurídicas sobre este "direito", já q vai d encontro ao artigo 62 da LDB (lei nº 9394/96).
Claro q é desconfortável lecionar neste curso, considerando este cenário de "legitimar" tal prática, mas tbm n podemos fingir q estas pessoas n existem, e elas s sentem perdidas, sozinhas, etc.
Entendo a posição do Rogério, mas acho q temos q pensar em questões mais amplas no q tange à educação básica, pensar nas questões estruturais q s mostram como um gargalo hj. O problema pelo qual a sociologia passa outras disciplinas tbm passam, ainda q em menor grau. Quem conhece a realidade docente no interior do Nordeste sabe como é difícil encontrar um cientista social lecionando sociologia, q dirá lecionando matemática, mas garanto q n é difícil encontrar professores d matemática, química, biologia, etc, q nunca pisaram numa universidade, por iosso penso q as questões são mais amplas e profundas.
S a Universidade n pensa suas práticas ante às demandas sociais, ante às necessidades dos sujeitos, n tenho clareza sobre o lugar da Universidade neste mundo.
Amurabi Oliveira

Eduardo Alves disse...

Minha primeira graduação foi em Geografia, então descobri as Ciências Sociais e decidir ser sociólogo (também lecionar sociologia) o que fiz? Prestei vestibular e cursei. Confio em todas as aulas assistidas (e também dormidas) que me fizeram durante alguns anos (e ainda fazem) refletir teoria e prática além dos muros da UFS. Acredito no potencial de todos os colegas do curso de ciências sociais em sua teoria e prática, é injusto, negar a nós, que com tanta dificuldades (econômicas, familiares e emocionais) por paixão e também por razão, enfrentamos o cotidiano. Para que então, não tenhamos o mínimo de garantia do exercício da profissão que escolhemos. Peço, aos professores, que estimo e alguns tomo como referencias pessoais que, não solapem o pingo de esperança que há entre nós alunos. E que o DCS, NPPA e NPPCS reflitam mais, sobre que tipo de profissionais e para o que/quem estão formando.

Atenciosamente,
Eduardo Alves Neto.

Rogerio Proença Leite disse...

Que Cazzo é esse no abaixo-assinado ?

Já havia me recolhido desse debate por entender já ter dado (e recebido de volta) a minha contribuição como crítico, mas um fato merece registro, sobretudo aqui nesse blog que de certo modo se tornou uma espécie de “livro de registro” do fato.

A propósito do polêmico curso, alunos, professores e profissionais se reuniram com representantes do CEE e estão se mobilizando para debates e ações que objetivam aprofundar a discussão sobre a Licenciatura em Ciências Sociais.

Também foi criado um abaixo-assinado, no site Petição Pública, endereçado ao Conselho Estadual de Educação/SE, Ministério Público/SE e Departamento de Ciências Sociais da UFS. (http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2011N14488)

A petição pública pede ao Departamento de Ciências Sociais “[...] um posicionamento desfavorável à realização do Curso de Especialização em Ensino de Sociologia no Ensino Médio, na modalidade à distância, da forma como está constituído no projeto em questão, a ser posto em votação na próxima reunião departamental desta Universidade”.

Existe um aspecto interessante que não pode passar desapercebido nesse abaixo-assinado: o professor que assinou a proposta original aprovada no CESAD/UFS/MEC para implantação do discutido e discutível curso de Especialização assina a petição pública que pede sua rejeição (assinatura 57).

Queria ri com bom humor, mas não cabem palhaços nem palhaçadas nesse questão, do mesmo modo que nem esse blog nem a petição me parecem programas humorísticos. Se a assinatura é uma zombaria, zombou de coisa séria que merece um pouco mais de respeito.

Ou o professor reconheceu o equívoco (então...devemos parabenizá-lo por isso) ou resolveu afrontar ainda mais alunos e professores, ao tentar desqualificar essa petição! Dada a implausibilidade dessa segunda alternativa, considerando ser o colega pessoa muito educada, salvo melhor juízo, a conclusão parece ser que o professor reavaliou e pede publicamente que o DCS rejeite a sua própria proposta.

Acho que a “causa” parece ter agora mais um declarado e importante voto no DCS contra o referido curso: a assinatura 57.

Cynthia disse...

Não entendi, Rogério. O Cazzo assinou a petição, foi isso? Certamente não fomos nós...

Cynthia disse...

Ah, desculpe. Não havia entendido. Bem, como diz Luciano Oliveira parafraseando Habermas, é conversando que a gente se entende. Tenho certeza que uma boa conversa pode esclarecer a questão e sugerir um curso de ação alternativo (talvez retirar/modificar o projeto?).

De qualquer forma, é bom ver o envolvimento de alunos e professores neste debate tão importante. Não deixem que malentendidos interrompam o diálogo.

luikovski disse...

Boa tarde a todos,

primeiro gostaria de parabenizar o espaço aberto pelo blog para um excelente debate, como dito entre os comentários, que transcende a particularidade das Ciências Sociais na UFS. Muito pelo contrário, como tambem dito e repetido entre os comentários, é de fundamental importância para travarmos umma discussão macro das Ciências Sociais em nosso contexto contemporâneo.
Tentarei não me ater aos argumentos que já foram expostos, debatidos e rebatidos, por mais que seja um tanto dificil. Começando pelo final e a petição pública, prefiro pensar que o Professor Péricles tenha refletido de forma séria em cima dos argumentos contrários ao tão propalado curso de especialização. As propostas surgem para serem debatidas, reformuladas ou consensuadas. Creio ser, esse processo saudável que nos possibilita o exercício da participação e reflexão crítica sobre o assunto.
Como ex-estudante de CISO em Aracaju, espero que possamos ter um envolvimento contínuo dessa tríplice aliança (professores, estudantes e ex-estudantes) nas questões que envolvem nossa área de conhecimento. Só a partir dessa experiência, teremos de fato, condições de pensar os aspectos positivos e negativos de nossa área de concentração. Para tanto, se faz necessário, que possamos deixar de lado, os laços hierarquicos que se constituem o "campo acadêmico" para que se possa horizontalmente debatermos de forma profunda o que queremos de fato, das ciências sociais, nesse caso específico, em sua licenciatura.

luikovski disse...

Não podemos ter receio de pontuarmos nossas opiniões, sobretudo, a opinião que perpassa os corredores e mesas de bares, onde se encontram nossos estudantes e ex-estudantes, acerca de nossa precária formação. É pensando nessa precaiedade e mais ainda, na marginalização que sofre a licenciatura que me pergunto, porque ao se pensar numa especialização como esta, não se pensou que a mesma poderia servir para complementar a formação de nossos licenciados em Ciências Sociais?
Não tocarei nos pontos da legitimação legal para aquilo que é ilegal ou ilegitimo(licenciados de outras áreas estarem dando sociologia, já que tanto professor Rogério, como as professoras Cynthia e Christine, já debateram. Mas sim, ao fato de que, se conseguissemos enxergar e admitir que a licenciatura e sua formação tem sido deixada de lado, essas proposição de especialização, poderia vim a "suprir" parte de nossa formação que não é contemplada numa graduação.
Portanto, com todo respeito aos nossos professores e a nossa instituição formadora, penso que o debate traz uma oportunidade de discutirmos de forma ampla a nossa graduação de ciências sociais, quem sabe não encontremos ai, ferramentas que nos ajude a refletir por exemplo, o porque do baixo índice de estudantes formados em CISO, adentrando em nossa pós-graduação.

Cordialmente,

Luige de Oliveira
Licenciado em Ciências Sociais - UFS