sábado, 1 de outubro de 2011

Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFPE: Humano, Demasiado Humano



Por Cynthia Hamlin


No dia 29 de setembro de 2011, cerca de 100 estudantes da UFPE foram à reitoria protestar contra o que consideram a ausência de uma política institucional em relação à ocorrência de suicídios  no Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFPE. Embora tenham sido colocadas grades nas varandas de todos os andares do prédio, foram registrados 3 casos no ano de 2011, o que atestaria a insuficiência das medidas adotadas.

 A iniciativa dos estudantes é importante e revela a necessidade de se pensar coletivamente a solução não apenas deste, mas de uma série de problemas relativos a segurança, espaços de convivência, funcionamento dos elevadores, más condições das salas de aula, para ficarmos apenas no âmbito do CFCH. Apesar disso, uma política de prevenção de suicídios eficaz pressupõe clareza acerca da relação entre os suicídios e os diversos problemas que atingem a comunidade do CFCH e da UFPE, como um todo. E é aí que as dificuldades começam.

O suicídio é um fenômeno complexo que pode envolver fatores de diversas ordens - biológica, psicológica, social e cultural - e deve ser entendido como um processo, mais do que como um simples ato. Isso significa dizer que, ainda que ocorra em um local e momento específicos, pode estar associado a processos de médio e longo prazo, como a depressão, o abuso de drogas, a doença mental. Esses processos não ocorrem em um vácuo social, estando associados a determinados contextos que podem atuar, ora como causa, ora como efeito, ora como reforçando-se mutuamente: o ambiente familiar, o tipo de relações entre os grupos de pertencimento e outros grupos, relações interpessoais etc. Por fim, ocorrem em um lugar específico que, além de representar ocasião ou contexto para o ato em si, pode estar associado  ao uso de métodos particulares que frequentemente carregam um conteúdo simbólico e comunicativo (Hamlin & Brym, 2006; Brym & Hamlin 2009).

Generalizações - especialmente as de base reducionista e construídas sobre um número insuficiente de casos que fundamentam argumentos do tipo: “estudantes de ciências humanas são mais propensos ao suicídio”, ou  “a ‘desumanização’ do campus e do CFCH tem contribuído para os suicídios observados” – frequentemente se baseiam em associações causais que não se sustentam, ou entre elementos que estão tão remotamente associados que não podem servir como guia para nenhuma política de prevenção séria.  Ao contrário, terminam gerando estigmas que, esses sim, podem atrair mais pessoas para escolherem o CFCH como local para dar cabo à própria vida na medida em que estabelecem uma associação simbólica entre o prédio e o suicídio. (Falo aqui de uma associação simbólica apenas na medida em que existe, na cidade do Recife, uma série de outros edifícios com características estruturais semelhantes ao CFCH. Isso não significa dizer que elementos simbólicos seriam os únicos, ou mesmo os mais importantes, na escolha de um local qualquer).

Dado que argumentos como os acima, apresentados com graus de sofisticação variável, tem sido os mais comuns, torna-se fundamental esclarecer alguns pontos.

Em primeiro lugar, o estigma que vem sendo associado aos estudantes de humanas e ao prédio do CFCH baseia-se no pressuposto de que os suicidas, em sua maioria, consistem em estudantes da UFPE, particularmente os de humanas. Isso não parece ter fundamento. Uma rápida observação dos registros, efetuados pela Direção do CFCH, relativos ao suicídios ocorridos desde 1997 sugere que poucos eram estudantes da UFPE. Digo “sugere” porque os dados a que tive acesso são insuficientes. (Havia lacunas no registro disponível, de forma que solicitei à Direção do Centro um registro mais completo, desde o ano de 1997 - quando a Universidade passou a efetuar o registro sistemático dos casos. Aguardemos, pois. E cobremos).

Em segundo lugar, e relacionado à questão anterior, impedir a cristalização do estigma implica a celeridade da instituição, por meio de sua Assessoria de Comunicação, em desmentir falsos boatos acerca do suicídio de estudantes. Isso é especialmente importante diante do poder das redes sociais contemporâneas na disseminação de boatos. Vejamos.

No dia 28 de setembro último, o Jornal do Commércio publicou uma matéria na qual pelo menos duas das informações fornecidas não procediam. Primeiro, afirma que ocorreram quatro suicídios no CFCH este ano (foram três - já não é ruim o suficiente?); segundo, afirma que o último caso ocorrido envolvia uma aluna da UFPE, mais especificamente, do Curso de Ciências Sociais. Até o momento em que escrevo, três dias após a divulgação da notícia pelo Jornal do Commércio, não vi a Universidade se manifestar publicamente a fim de desmenti-la.

Além de contribuir para o referido estigma, ao se omitir de ações como esta a Universidade está contribuindo para um outro fenômeno, que em sociologia se denomina de “pânico moral”. O pânico moral assume as seguintes características:

Uma condição, episódio, pessoa ou grupo de pessoas emerge e passa a ser definido como uma ameaça a valores e interesses sociais; sua natureza é apresentada de forma estilizada e estereotípica pelos meios de comunicação de massa; as barricadas morais são erigidas por editores, bispos, políticos e outras pessoas cujas opiniões são consideradas sensatas e moralmente corretas [right-thinking people]; peritos socialmente reconhecidos pronunciam seus diagnósticos e soluções; a condição depois desaparece, submerge ou deteriora-se e torna-se mais visível. [...]. Algumas vezes o pânico passa e é esquecido, exceto no folclore e na memória coletiva; outras vezes, tem repercussões mais sérias e duradouras e pode produzir mudanças legais e em políticas sociais, ou mesmo na forma como a sociedade se autoconcebe (Cohen, citado em Thompson, 1998: 7).

Assim como ocorre na maioria dos casos de pânico moral, a visibilidade da situação real e sua resolução são especialmente difíceis porque envolvem um tema considerado tabu. Se o filósofo francês Edgar Morin (1968)  já afirmava que, após a revolução sexual, a morte permaneceu como o último grande tabu do século XX, talvez caiba aqui uma hipérbole: a morte por suicídio é o tabu que não ousa dizer seu nome. Isso explica, em parte, o silêncio da Universidade em relação ao tema. Outra parte do silêncio poderia ser explicada por meio da referência a um fenômeno que ficou conhecido como “efeito Werther”.

O efeito Werther refere-se à onda de suicídios observada entre os jovens românticos, especialmente na Alemanha, após a publicação do romance de Goethe - Os Sofrimentos do Jovem Werther - que de certa forma glamourizava o suicídio ao caracterizá-lo como um ato de coragem. O fenômeno caracteriza, assim, o elemento de difusão ou contágio do suicídio a partir de sua menção ou divulgação – um fenômeno que tem servido como fundamento de uma espécie de código de ética entre jornalistas do mundo inteiro.

Embora tenha afirmado que “não há dúvida de que a ideia do suicídio se transmite por contágio”, Durkheim (2000: 138) teve o cuidado de definir o contágio em termos de imitação e delimitar em que sentido este último poderia ser legitimamente aplicado ao estudo do suicídio:

Há imitação quando um ato tem como antecedente imediato a representação de um ato semelhante, anteriormente realizado por outros, sem que entre essa representação e a execução se intercale nenhuma operação intelectual implícita ou explícita, sobre as características intrínsecas do ato reproduzido.

Isso significa que o suicídio por imitação tende a ocorrer na ausência de reflexão - o que aponta para a necessidade de fazer as pessoas expostas ao suicídio, como é o caso dos nossos alunos, refletirem sobre o assunto. E o silêncio certamente não é a forma mais apropriada de gerar uma reflexão informada.

Por outro lado, existem controvérsias consideráveis acerca do alcance dos processos imitativos na explicação das taxas de suicídio. O próprio Durkheim atribuía um alcance limitado ao suicídio por imitação, afirmando que “do fato de que o suicídio possa transmitir-se de indivíduo para indivíduo, não se segue a priori que [...] ela afete a taxa social de suicídios”(Ibid: 143). E utilizava como argumento a ideia de que, se o contágio tivesse uma influência marcante nas taxas de suicídio, dever-se-ia observar um fenômeno de concentração dessas taxas em determinados núcleos geográficos (por ex., o centro das cidades) e uma diminuição gradual dessas taxas à medida em que se afasta desses núcleos. Traduzindo para o nosso caso, ao longo de um período relativamente extenso, deveria ser possível observar um número relativamente elevado de suicídios entre estudantes, professores e funcionários da UFPE, em particular os diretamente expostos ao suicídio, em comparação com suicidas oriundos de outras áreas da cidade. Como vimos, este não parece ser o caso. Mas aguardemos mais informações antes de fazermos quaisquer afirmações categóricas neste sentido. (Abro aqui um parêntese para enfatizar fortemente que não estou usando este argumento para defender a ideia de que, se não altera as taxas de suicídio entre os membros da UFPE, a difusão não deve ser considerada em uma política interna de prevenção de suicídios. Um único caso é um caso em excesso. O que estou argumentando é que esse risco deve ser combatido por meio da reflexão informada, já que a exposição ao suicídio é um fato concreto, pelo menos no momento).

O argumento de Durkheim não foi consensualmente aceito e a controvérsia continuou. Nas décadas de 1970 e 1980, o sociólogo David Philips publicou uma série de artigos sobre o tema. O principal deles foi resumido por outro sociólogo, Ira Wasserman (1984: 427), da seguinte forma:

Empregando um método quasi-experimental para examinar a influência que as estórias de suicídio que apareceram nas manchetes do New York Times entre 1947 e 1968 tiveram nos padrões de suicídio nos meses seguintes, Philips (1974) formulou um novo teste para a teoria da imitação. Contrariamente a Durkheim, encontrou um aumento significativo no número de suicídios no mês que se seguiu ao aparecimento dessas estórias no New York Times.

Ao submeter a hipótese da imitação a teste novamente, Wasserman (Ibid.) efetuou um estudo com base em uma série de modelos que o permitiram controlar fatores exógenos, como a influência dos ciclos de negócios e das crises econômicas nos resultados observados por Philips.  Concluiu que não havia correlação significativa entre a taxa nacional de suicídios e as estórias sobre suicídio que apareceram nas manchetes do New York Times no período 1947-1977. Por outro lado, ao aplicar seu modelo apenas às manchetes relacionadas a “celebridades”, observou uma correlação significativa entre as estórias contadas a partir de tais manchetes e um aumento nas taxas de suicídio no mês subsequente à sua publicação. Isso significa que a hipótese de Philips é mais limitada do que ele supunha, isto é, tende a ser corroborada nos casos de reportagens sobre o suicídio de celebridades.

A isto, a Organização Mundial de Saúde menciona outras conclusões importantes, retiradas de outras pesquisas: primeiro, que o impacto da cobertura jornalística na mídia impressa e televisiva tende a ser maior entre pessoas jovens; segundo, que não são as notícias per se que geram um aumento nas taxas observadas, mas a forma como os suicídios são noticiados para as populações vulneráveis (de maneira sensacionalista, com excesso de detalhes, oferecendo explicações simplistas ou sugerindo que o fenômeno é inexplicável, glamourizando o ato ou transformando a vítima em mártir, caracterizando o suicídio como única saída possível, omitindo a dor de familiares e amigos, dentre outros).

Assim, ao contrário da ideia simplista de que os suicídios não devem ser noticiados a fim de evitar sua difusão por contagio ou imitação, num documento de prevenção do suicídio direcionado a profissionais da mídia (World Health Organization, 2000: 6) enfatiza-se que “certos tipos de cobertura [jornalística] podem ajudar a prevenir a imitação do comportamento suicida”. O documento enfatiza ainda que “sempre existe a possibilidade de que a publicização do suicídio possa tornar a ideia de suicídio ‘normal’. A cobertura contínua e repetida do suicídio tende a induzir e a promover preocupações suicidas, particularmente entre adolescentes e adultos jovens.” (Ibid). Neste sentido, a conclusão geral é a de que  
reportar os suicídios de uma maneira apropriada, acurada e potencialmente útil pela mídia esclarecida pode prevenir a perda trágica de vidas pelo suicídio.  (Ibid.).
Dada a exposição a que temos sido submetidos ao suicídio na UFPE, o poder das novas mídias em difundir boatos que são reforçados pelas mídias tradicionais e a situação de pânico moral que isso ajuda a difundir, o silêncio da UFPE em torno do tema não contribui em nada para a resolução desta situação: ao contrário, tende a perpetuá-la e a gerar uma série de problemas associados à ansiedade, ao sentimento de insegurança e aos conflitos que decorrem deles.

Para o bem ou para o mal, o suicídio não pode mais ser tratado como um tabu entre nós, mas como algo “humano, demasiado humano”. Já está mais do que na hora de começarmos a falar sobre assunto de forma clara, informada e responsável. Façamos, cada um de nós, a nossa parte.

(a ser editado)

Referências

Brym, Robert J.; Hamlin, Cynthia Lins. (2009) “Suicide Bombers: Beyond Cultural Dopes and Rational Fools”. In: Cherkaoui, Mohamed; Hamilton, Peter. (Org.). Raymond Boudon: A Life in Sociology: Essays in Honour of Raymond Boudon. 1 ed. Oxford: The Bardwell Press, v. 2, p. 83-96.
Durkheim, Émile (2000). O Suicídio. São Paulo: Martins Fontes.
Hamlin, Cynthia Lins; Brym, Robert J. (2006) The Return of the Native: A Cultural and Socio-Psychological Critique of Durkheim's Suicide based on the Guarani-Kaiowá of South-Western Brazil. Sociological Theory, Estados Unidos, v. 24, n. 1, p. 42-57.
Morin, Edgar (1951) L’Homme et la mort. Paris: Éditions du Seuil.
Thompson, Kenneth (1998). Moral Panics. Londres e Nova York: Routledge.
Wasserman, Ira M. (1984). Imitation and Suicide: a reexamination of the Werther effect. American Sociological Review, V. 49, June, p. 427-436.
 World Health Organization (2000). Preventing Suicide: a resource for media professionals. Genebra: Mental and Behavioural Disorders, Department of Mental Health, WHO.

39 comentários:

wellthon disse...

Obrigado pelo ótimo post Cynthia, sem dúvida vários estudantes e pessoas que frequentam o CFCH ao lerem seu texto se sentiram um pouco representado pelas suas palavras. Está sendo dificil falar e discutir sobre o tema entre todos nós.
De fato vemos o quanto a sociologia tem a contribuir para pensarmos sobre o suicído que ocorrem no não apenas no prédio. Os jornalistas do JC, DP e Folha deveriam dar uma olhada nesse texto, rs.
Aguardamos os números da UFPE sobre os casos, ainda que eu esteja bem desacreditado de haver uma organização tal para se usar os números.
Além disso, acho que tanto os atos dos alunos da UFPE quanto seu post são o começo de um fim do silêncio e a ausência de debate sobre o tema que tanto nos incomoda.

Seria ótimo a sua presença na reunião com a Reitoria no dia 20. Caso não possa estar presente, peço sua autorização para ler o seu texto no começo da reunião entre alunos e o Reitor.

Abraços e mais um vez parabéns pelo post.

Jefferson Góes disse...

Gostei muito do texto, Cynthia.

Ana Paula Portella disse...

Excelente texto, Cynthia! Parabéns pela clareza, precisão e, por que não?, coragem - por falar como integrante da comunidade universitária, fazendo-a se manifestar, ainda que não seja de forma "oficial". Muito bacana. Eu não esperava menos do que isso vindo de você e do PPGS. Vou fazer circular, tá?

Beijo!

Unknown disse...

Boa reflexão! Aguardemos agora os números, eles certamente poderão nos dizer mais alguma coisa sobre esse assunto incômodo, mas que é necessário enfrentar.

Cynthia disse...

Obrigada, gente. Dando uma relida rápida no post, notei que está cheio de erros de português e com ideias que precisam ser colocadas de forma mais clara. Por razões diversas, escrever isso me deixou exaurida, de forma que peço que relevem os problemas. Depois volto aqui e edito o texto.

Alyson Freire disse...

Parabéns Cynthia pela força e coragem de levantar o debate e por lançar luz sobre a questão.

É preciso quebrar esse interdito que se formou sobre os suicídios no CFCH - frise-se bem NO CFCH e não DO CFCH, como li em fóruns de discussão nas redes sociais.

Como profissionais e futuros profissionais de Humanas, é de nossa vocação romper o silêncio e optar pela palavra e pela ação, apesar do choque e da dureza dos atos dessa natureza suscitarem mais, de início, o emudecimento. Você tem toda a razão quanto à urgência de combater a cristalização desse estigma sobre os estudantes de Humanas. Estudantes, aliás, que já sofrem, em todas as universidades públicas do Brasil, com os estigmas de “maconheiros”, “porra-loucas”, “pirados”, “radicais”, “menos capazes”, etc..

Minha solidariedade e apoio a todos os funcionários e estudantes do CFCH e à comunidade acadêmica da UFPE.

Cynthia disse...

Obrigada, Alyson, mas o mérito não é só meu. A mobilização dos estudantes tem sido fundamental nesse momento de reflexão (ainda que discorde de algumas estratégias particulares). Neste sentido, temos muito a agradecer a Rafael Acioly, o principal responsável por essa mobilização.

Também contei com a ajuda de outras pessoas, a maioria em conversas de corredor (e não necessariamente nesta ordem): Silke Weber, Socorro Ferraz, Antonio Carlos Duprat, José Luiz Ratton, Jonatas Ferreira, Erliane Miranda, Wellthon Leal, Teresa Oliveira, Conceição Lafayette.

Certamente esqueci alguém - o que ilustra o fato de tem muita gente envolvida nesse debate.

Abçs

Conceição Lafayette disse...

Cynthia:

Li atentamente seu texto para bem observar a riqueza das informações e os pontos oportunos ressaltados. É um marco importante na sistematização de um debate que já devia ter saído dos sussurros dos corredores. Acho que todos nos sentimos agradecidos pela sua iniciativa.
um abraço afetuoso.
Conceição Lafayette

rezzending disse...

excelente reflexão cynthia. necessitamos realmente "refletir de forma informada" sobre as causas e efeitos deste fato social. tambem me parece curioso que, a despeito da quantidade enorme de suicídios, e, da aceleração "exponencial" nos tempos recentes (provavelmente pela difusão nas redes sociais), que a universidade silencie a respeito. desde que cheguei ao cfch em 2000 sao 36 suicídios, inclusive tive a terrível sensação de ver um ao vivo, quando vinha retornando de uma aula no prédio do ccsa, ficando tres semanas sem conseguir dormir. mesmo sem uma base empírica que fundamente qualquer argumentação, arrisco a conjectura de que a letal combinação do "capital simbólico" do suicídio como ritual no cfch, a ausência de mecanismos mais rígidos de controle de pessoas na universidade (e no cfch, especialmente), atrelado aos fatores sociais por voce apontados, contribuem enormemente para a "cultura do suicídio". espero que possamos entender melhor, agir, e, reduzir outros casos no futuro. parabéns pelo brilhante trabalho de reflexão. ab, flavio rezende.

Cynthia disse...

Oi, Flávio,

Ao contrário dos nossos diálogos anteriores aqui no Cazzo, dessa vez vou discordar veementemente de você (o que não significa, obviamente, que você não possa discordar de volta - afinal, como disse no texto, esse é um tema particularmente complexo).

Em primeiro lugar, acho complicado afirmar quantos casos foram sem acesso aos dados oficiais (seja da UFPE, seja do IML, seja do Ministério da Saúde).

Segundo, de um ponto de vista sociológico, o termo "ritual" não se aplica a este caso porque não há nenhuma prescrição cultural que possa ser atribuída a esses comportamentos.

Por fim, falar de uma "cultura do suicídio", mesmo entre aspas, é complicado. Para falar de cultura, é preciso falar de um grupo específico (uma categoria de pessoas, como pessoas que se suicidam no CFCH não caracteriza um grupo). Além disso, uma série de valores relativos à morte, particularmente à morte por suicídio, deveria fazer parte da ideologia (entendida em sentido amplo) desse grupo.

É isso o que penso. Mas talvez nossos colegas antropólogos possam esclarecer melhor a questão.

Abçs

yzak disse...

Concordo muito com o texto. Eu sempre comentei com meus colegas de faculdade a questão do glamour que é se suicidar no CFCH. As pessoas sempre diziam que eu estava exagerando e coisa do tipo. Mas eu acredito que sim, não sei se em todos os casos, mas em certos casos. Principalmente com esta questão de estigma que envolve todo esse clima de mistério sobrenatural.

Bom texto.

rezzending disse...

cynthia, devido a quantidade de caracteres, vou responder em partes:

parte I

"Não quero polemizar com você sobre o assunto. Longe de mim. Quero mais uma vez parabenizá-la pela excelente contribuição ao debate sobre um tema, em que o silêncio predomina. Como disse anteriormente, me sintonizo com sua argumentação que devemos estudar mais profundamente o caso específico do CFCH (e por que não fora dele?). Não adianta também ficarmos num debate guiado por teorias e conceitos, por prenoções (o que é pior) a quem pretensamente se confere validade. A questão decisiva a ser enfrentada, na minha concepção é exatamente: "Como e por que ocorrem (há anos) tantos suicídios no CFCH?". Para mim é tarefa dos cientistas sociais interessados em gerar explicações consistentes aos fatos, como Durkheim brilhantemente fez na "gênese da sociologia" como obra prima. Não há dúvida que existem múltiplos fatores, e se trata de um fenômeno dotado de "complexidade causal". Mas, como a complexidade não se constitui impedimento à compreensão científica, devemos encarar a oportunidade de produzir explicações causais (intencionais ou não; com ator ou não, ai vai da escolha metodológica do cientsta) sobre este importante fato social. Precisamos de teorias, dados, e conceitos que nos levem além das conjecturas.

rezzending disse...

parte ii

Considerando as conjecturas serem também relevantes para guiar o debate arrisco uma: "penso que existem incentivos “simbólicos” que ampliam as chances de ocorrência deste fato no CFCH". Somado a fatores macro-sociais por você já brilhantemente citados (alienação, perda de sentido da vida, etc), existem incentivos para manter este evento ocorrendo. É um prédio alto, isolado (assim como o hotel bates em psicose), não existe controle de entrada de pessoas (fato curioso - em qualquer universidade brasileira e internacional relevante existem controles rígidos a entrada de pessoas e materiais nos prédios. curioso como a universidade, e, especialmente o CFCH ainda "é aberta". ninguem sabe quem entra, quem sai, quando entra, quando sai. existem casos de pessoas que moram no cfch para chegar ao limite. existem outras que guardam drogas e armas la... para nao ir mais além.... fico por aqui), e também há um legado do CFCH que potencializa as chances de ocorrência, especialmente, para pessoas de fora do CFCH. É impressionante como ainda não se atentou para o fato da grande quantidade de pessoas (que não tem nada com a universidade entram ali à noite) que vagam livremente pelo CFCH, especialmente nos andares superiores....

rezzending disse...

parte III

Durante os meus primeiros anos ali, ficava muito a noite para dar aula nas sextas feiras as 20:10. Hoje não me aproximo dali depois das cinco da tarde, em qualquer hipótese. Mesmo não vendo os dados (e nem querendo analisá-los caso existam, pois estou atualmente interessado em outros temas e problemas de pesquisa), suponho ser plausível, a noção de que estudantes, funcionários, e professores do CFCH não se constituem quantidade considerável nesta população (no sentido técnico da estatística). Precisamos estudar melhor a partir de bases empíricas mais consistentes. Não falo de um “ritual” no sentido de cultura, mas, de uma conexão de incentivos que “levam” as pessoas a continuarem a se lançar de um prédio “no way out”. As chances de morte em saltos a partir do 10 andar, sabem os suicidas, sao muito altas. Como não existem câmeras, não se pode auferir de que andar as pessoas se jogam no CFCH. Que pena para a ciência social !

rezzending disse...

Parte IV

Claramente isto é um fato social e ocorre com grande freqüência em muitos edifícios altos no Recife (e em outras capitais, apenas para ficar no Brasil). Não em todos. Em alguns.... E, usualmente os “visitantes” (outsiders) suicidam-se. É um padrão muito mais comum do que se imagina. Para ficar mais próximo da “realidade” vou ilustrar dois micro-fatos (sem qualquer base estatística mais consistente que possa dar suporte a uma teoria, é bom que se diga). Um caso próximo, um grande amigo meu, colega de faculdade, secretário de governo de um dos municípios da região metropolitana, sem “aparente razão” jogou-se de um prédio alto no centro da cidade, perto do 13 de maio, ao visitar um outro colega com a suposta hipótese de ir assistir uma partida de futebol. Quando morei em Piedade, por um ano, no 18 andar de um prédio a beira mar, ouvi falar em dois suicídios, e, os moradores já haviam revelado a ocorrência (usualmente velada) mais de cinco nos últimos anos, e, em grande parte, confirmado por fontes mais “válidas”, cometido por pessoas visitantes. Outro dia conversando com um amigo meu próximo que joga xadrez comigo e que trabalha com a investigação destes casos, ele afirmou ser muito frequente, em prédios altos das camadas mais abastadas que nas festas, jantares, e, outras reuniões sociais, pessoas "misteriosamente" se atirem das janelas. Mas, há a cultura do tabu. O silêncio predomina. Quero ser levado a crer que “alguns edifícios, como era o antigo prédio JK no centro do Recife”, e o “CFCH” me parece ser um caso deste tipo, que cria incentivos por atraírem maior atenção, significado, e, reconhecimento do ato suicida, como afirmam algumas importantes teorias sociais contemporâneas (as quais você conhece com grande profundidade e maestria). O caso Norman Bates no filme Psicose, em que os “rituais” ocorriam num obscuro “hotel de beira de estrada” parece melhor revelar o problema sob o ponto de vista estritamente psicológico do que sociológico." O reconhecimento, o status, e, os "ganhos simbólicos" ainda se constituem importantes categorias analíticas para a explicação do fato social.

abs, e bom domingo,

Cynthia disse...

Yzak,

É uma ideia a ser considerada, mas dado que a fama do CFCH vai no sentido oposto ao glamour, eu ficaria surpresa se esse fosse o caso.

Cynthia disse...

Flávio,

Obrigada por suas muitas contribuições ao debate.

Mas aproveito para esclarecer uma coisa que não deixei clara no texto. Ao dizer que "não parece ter fundamento" a ideia de que a maioria dos casos refere-se a estudantes da UFPE, minha única intenção era não usar números que podem estar incompletos. Mas tenho certeza absoluta que o número de casos de alunos é ínfimo (no sentido estatístico, obviamente: do ponto de vista humano, um que seja, já é demais).

rezzending disse...

exatamente esta seria a minha "melhor conjectura"... os casos de suicidios de pessoas do cfch seriam reduzidos.... grande abraço, e, bom domingo

Anônimo disse...

Parabéns Cynthia pelo post. O fenômeno de natureza complexa requer ser tratado com profundidade e serenidade. Zelia Porto

wellthon disse...

E ai enquanto pensava e via a repercussão ótima que esse texto teve... observo esse comentário infeliz do sr. Pierre Lucena:

@pierrelucena: Evanescence é a banda mais deprê do rock mundial. Imagine um show deles no CFCH

-

Dá para aguentar?

Cynthia disse...

Obrigada, Zélia. Quanto à serenidade, tenho a sorte de trabalhar com pessoas que conseguem transformar a dor e a indignação em algo produtivo. Isso ajuda a manter a cabeça no lugar.

Abçs

Le Cazzo disse...

Muito bom, Cynthia. Seu texto reclama por uma discussão mais sistemática desses suicídios ao qual o CFCH está associado. Sob a melhor herança do iluminismo: ousar saber. E que a imprensa seja convidada para um ou mais debates sobre o tema - pois é fundamental, como você afirma, chamá-los à responsabilidade sobre o que dizem e como dizem. Jonatas

Cynthia disse...

Pois é, Jonatas. E não se trata apenas de evitarem divulgar notícias falsas, mas do sensacionalismo que se revela na ausência de propósito do que é divulgado.

Coincidentemente, na semana passada o Globe & Mail, jornal de maior circulação do Canadá, divulgou uma série de 4 reportagens enormes sobre suicídio entre adolescentes:

http://www.theglobeandmail.com/life/health/new-health/conditions/addiction/mental-health/a-four-part-action-plan-in-the-battle-against-teen-suicide/article2182663/

O propósito das reportagens era claro: fazer com que a população pudesse reconhecer sintomas de jovens em situação de risco; tornar evidente o trauma de familiares e amigos, ajudando a desencorajar o ato; oferecer endereços e contatos de instituições de apoio; opinião de especialistas de diversas áreas; divulgação de resultados de pesquisas, dentre outros.

E aí, eu me pergunto: qual o propósito do que vimos na notícia do JC? Vender jornal? Desinformar?

Honestamente, me preocupa a forma como a frase da OMS em relação à divulgação de notícias relativas ao suicídio ("de uma maneira apropriada, acurada e potencialmente útil pela mídia esclarecida") será interpretada.

Otávio Luiz Machado disse...

Já divulguei o texto pelo twitter,o facebook e em parte da minha lista de e-mails. Acredito que essa reflexão pode ajudar em muito a nortear as políticas públicas para a UFPE. Otávio L. Machado

Antônio Lino Jr disse...

Cynthia,

Olha que em nossa turma tinha de tudo, mas não lembro de nenhum caso representativo no CFCH nesse período.Entretanto, tenho que confessar o peso das vozes que ouço, afirmando que virou conteúdo de disciplinas tal evento. Certa vez, escutei duas meninas comentando, no Hall da FAFIRE, que pagariam Suicídio l e ll, mas não conseguiriam concluir o curso de Ciências Sociais, uma vez que não aprenderam a elaborar um projeto de pesquisa. No entanto, penso que vc manda bem quando fomenta o exercício da transparência, por parte da UFPE, bem como, instiga paraque se aprofundem as discussões nas mais diversas esferas societárias - não só na academia - de maneira que não se permita a institucionalização desse açodo por parte da mídia, fortalecida pela celeridade das redes sociais

Cynthia disse...

O curso de sociologia da Fafire tem um curso sobre suicídio, Lino? Isso deve ser brincadeira. Nunca ouvi falar disso na vida.

Cynthia disse...

Eita! Eram dois! Lino, querido, lamento informá-lo, mas as criaturas estavam tirando onda com a sua cara. Imagino como você deve ter se sentido péssimo ao saber que passou por sua graduação inteira na Federal sem esses cursos...

Antônio Lino Jr disse...

Cynthia,

Infelizmente, não gozo do melhor labor para vincular o que penso ao exercício da escrita. Carrego esse fardo a tempo. Portanto, vou tentar tornar claro o informe. As duas meninas são alunas minhas, na FAFIRE, num curso de capacitação para gestão de projetos para o terceiro setor desenvolvido pelo Instituto Pró-cidadania e outras ONGs, em parceria com a Secretaria de Turismo do governo do Estado. Investidas na condição de conseguir a graduação no Curso de Ciências Sociais da UFPE (inclusive, adianto o professor, são orientandas de Ventura, por uma questão ética não passarei o nome das alunas)e numa conversa informal, no final da aula, ouvi o comentário em tom de ironia, reproduzindo a tese de que pagariam as disciplinas de suicídio l e ll, como vem sendo recorrente no CFCH, mas que dificilmente concluiriam o curso.Reitero, jocosidades intrínsecas a essa difusão academicista, onde em toda esquina tem uma faculdade.Egresso desta universidade e tendo o orgulho de ter passado por esse espaço de produção do conhecimento, mas precisamente o CFCH, confesso que fiquei incomodado com a marca que vem sendo impingida por segmentos da mídia ao CFCH,ao ponto de ver uma nova geração de alunos fazer as devidas tratativas como sendo parte das inexorabilidades institucionais do recinto. Lendo suas colocações e me identificando com a mesma, sobretudo no que diz respeito a um melhor esclarecimento por parte da UFPE, fiz uso do episódio para corroborar no processo de estancar essa usina de boatos tão evidentes nos idos atuais.

Cynthia disse...

Entendi, agora. A crermos em Freud (no do ensaio sobre o chiste, pelo menos), isso poderia ser considerado uma forma de catarse. Só mesmo isso para explicar como se pode fazer piada de coisas que causam tanto sofrimento aos outros - particularmente se a piada é pública.

Anônimo disse...

Acredito q a Administração deve ter instaurado sindicância para apurar todos os casos de suicídio ocorridos no CFCH, ou falo bobagem ? A propósito, acho bastante séria a afirmação de que "existem casos de pessoas que moram no cfch para chegar ao limite. existem outras que guardam drogas e armas la..." É claro que não estamos em uma Delegacia; longe de mim transformar o fato em caso de polícia; mas como disseram lá atrás, o assunto é complexo e exige a participação de todos. Que falem os Senhores Gestores Públicos: é, no mínimo, obrigação moral deles!

Cynthia disse...

Caro anônimo,

todos os casos de morte ocorridos no campus são investigados pela polícia federal e/ou pela polícia técnica, não por uma sindicância interna. A causa mortis, por seu turno, deve ser determinada por um patologista, só sendo declarada suicídio após a autópsia pelo IML. A Universidade não tem absolutamente nada a ver com isso.

Quanto à alegação de uma pessoa que esteve morando no CFCH, isso sim, está sendo investigado por uma sindicância interna. Desconheço as demais alegações.

Anônimo disse...

Desculpe-me a insistência, mas a "Universidade" tem sim a ver com isso:

"A Universidade Federal do Pernambuco pode ser responsabilizada juridicamente pelos casos recorrentes de suicídio se houver provas de que a instituição não vem tomando medidas preventivas para evitar as mortes, afirma o procurador do Estado do Rio de Janeiro e chefe da Procuradoria de Serviços Públicos, Flávio Willeman (...) Não estou dizendo que a universidade tem o dever de impedir os suicídios dentro do campus. Mas, é preciso esclarecer que, se esse fato acontece anualmente, não pode a administração pública não adotar nenhuma medida para que isso volte a acontecer se ela assim não faz, ela se omite desse dever de zelar pelos alunos"

Além disso, a apuração pela PF ou Polícia Técnica não obsta, creio, a que o Gestor Público tome iniciativas para conhecer das circunstâncias do ocorrido e fundamentar suas ações doravante, o que pode ser feito por meio de instauração de sindicância. Aliás, isso demonstra o quanto o Agente Público é ou está consciente de seu comprometimento/envolvimento (ônus do cargo público que ocupa) nesses infelizes casos de repercussão social e o quanto procurou encaminhar e acompanhar possíveis medidas de prevenção.

Senão fica parecendo aquela velha conduta nossa conhecida: "Eu ? Não tenho nada a ver com isso! Isso é com o outro, lá..."

Será ? Com a palavra, nossos amigos do Direito.

(Esqueci de parabenizá-la pela coragem de romper o silêncio com um texto tão provocador. O diabo é que, algumas vezes, a gente não sabe no que isso vai dar...)

Cynthia disse...

Caro anônimo,

A apuração dos casos é feita pela polícia federal e pelo IML, mas medidas preventivas vem sendo tomadas há vários anos pelos gestores (por ex., a instalação de telas, posteriormente de grades e a determinação da instalação de câmeras de segurança em todos os andares o prédio). Essas questões são exaustivamente discutidas em reuniões de Conselho e as soluções propostas envolvem o trabalho de engenheiros, arquitetos, do corpo de bombeiros e da Segurança da UFPE.

Como disse no início do texto, essas medidas mostraram-se insuficientes, daí você ter razão no sentido de que outras soluções devem ser pensadas. Pessoalmente, acredito que nenhuma medida será 100% eficaz diante da determinação de um suicida, mas creio que os casos podem, sim, ser minimizados.

Para isto, seria interessante que a Segurança da UFPE desenvolvesse um registro detalhado de casos mais extenso do que a que tem no momento (desde 2004, e não desde 1997, como fui inicialmente informada). Dada a "raridade" estatística dos eventos, de um ponto de vista sociológico, qualquer diagnóstico deve se basear numa série temporal relativamente longa, já que "estudos de caso" (sugestão gentilmente oferecida a mim por um funcionário da Segurança) só seriam possíveis mediante o estabelecimento de uma sessão espírita - método, infelizmente, ainda não acessível aos sociólogos da UFPE.

De qualquer forma, independentemente de um diagnóstico sociológico, medidas preventivas vêm sendo discutidas e implementadas e, como demonstra nota divulgada ontem pela Direção do Centro, um debate interdisciplinar com antropólogos, sociólogos, psicólogos, psiquiatras, dentre outros, dará continuidade a essas discussões.

Abç

Anônimo disse...

O caso de acusação a uma pessoa morando no CFCH foi encerrado em agosto de 2010, nos órgãos competentes e em comum acordo entre as partes envolvidas, nesse caso uma pessoa que trabalhava como bolsista e um segurança da UFPE. Tal assunto foi requentado nas eleições de Reitor agora em 2011, visando atingir uma pessoa que defendia determinado candidato. Não há respaldo algum em tal tipo de acusação, pois o mesmo já comprovou junto a uma Comissão (que analisa uma série de problemas relacionados a um professor do CFCH e isso acabou entrando) que sempre teve residência fixa e isso foi um pretexto utilizado indevidamente em épocas de eleições por outra pessoa tentando desqualifica-lo. Ao querer desviar o foco da questão e encobrir coisas extremamente graves que ocorrem de fato, o que se sabe é que tentam aplicar a velha prática de deixar tudo como está para que uns poucos não percam nada.

Cynthia disse...

Você tem razão, "anônimo". Insistir neste fato é desviar o foco da questão. A menção foi pertinente somente até o ponto em que esclareceu que acusações fundamentadas, de qualquer natureza, têm sido investigadas pelas instâncias competentes da UFPE. Talvez o próprio ex-bolsista se interesse em discutir essa questão em outro blog - já que o Cazzo dedica-se a questões que envolvem reflexões sociologicamente embasadas.

Neste sentido, reitero minha posição de que é necessário repensar seriamente a relação que vem sendo estabelecida entre suicídio e outros problemas que atingem a comunidade da UFPE. Misturar as coisas não vai ajudar a resolver o problema.

Anônimo disse...

Conheço dez blogs que tratam de questões políticas envolvendo a UFPE com muita competência, com uma boa frequência e com a produção de um bom debate. Os blogs justamente existem para isso!

Anônimo disse...

Não precisa estabelecer uma sessão espírita, não! Basta ir atrás do material produzido pela investigação, né? Mas reconheço q isso é chato, muito chato. Melhor fazer uma reunião pra discutir o caso...

Anônimo disse...

O post ficou muito bom, de fato. Acredito que devamos considerar alguns aspectos objetivos, que no meu entender têm um peso bastante significativo: quantos prédios de mais de 10 andares qualquer estranho teria livre acesso? em especial na região da CDU?
Há modas na forma de se matar (um fato social como tantos outros), segundo relatos de uma amiga minha, nos anos 80 a moda na região de Camaragibe, para se matar, era beber água sanitária. As formas de se matar variam, portanto, no tempo e no espaço, o que não constitui em uma novidade.
O estigma, de fato, é algo ruim, em especial quando assentado em informações levianas, ou, ao menos, distorcidas, mas eu, particularmente, sou a favor que as pessoas tenham o direito de se matar onde bem entenderem, fui e sou contra as grades postas no CFCH, alias, que se mostram completamente ineficazes. O que não quer dizer que possamos banalizar a questão.
Por fim, gostaria de dizer que o que parece chocar na morte de um estudante de graduação, é a possibilidade de nos colocar como passíveis de também morrer. De repente, não mais que de repente, nos deparamos com a realidade humana: basta estar vivo para morrer, e o mais estranho, que parece romper com a "ordem natural das coisas", é o fato de alguém escolher morrer, levantando a dúvida: "de fato vale a pena viver?", no final das contas, o suicídio inverte a lógicas das coisas, ao menos nossa lógica.

Amurabi

Sil disse...

Parabéns pelo texto e pela coragem em aborda tal tema. Eu, particularmente acredito, que o suicídio é algo que deve ser estudado sobre vários aspectos (coletivo e individual). No caso das repetições no CFCH (em outros lugares também), fazer o exercício de entender como as questões simbólicas (reais) incidem sobre o grupo, sobre comunidade universitária, e sobre os indivíduos, ajudam a levantar elementos que podem ajudar a todos, não só a evitar o ato (ou diminuir), mas lançar reflexões e problematizar os porquês dessa repetição no CFCH e como isso chega e é tratado por toda comunidade universitária. Pois, hoje em dia, outros elementos se somam para essa análise, que são importante para a questão, tais como a repercussão/divulgação nas mídias sociais; o envio dos registros da morte via WhatsApp, e; como isso gera (ou desperta) um ritual de contemplação da morte para tanta gente.