sábado, 29 de outubro de 2011


Por Renan Springer de Freitas (UFMG)

Nos últimos cinqüenta anos o pensamento teológico cristão cunhou a expressão “teologia da superação” (“displacement theology”) para se referir, de forma pejorativa, à concepção teológica, crucial para a imagem que o cristianismo construiu a respeito de si próprio, de que a saga do povo de Israel relatada nas escrituras hebraicas foi desde sempre uma prefiguração da presença atemporal de Jesus no mundo. De acordo com esta concepção, que já se esboça na epístola de Barnabás (final do primeiro século), a morte e ressurreição de Cristo tornou o judaísmo obsoleto porque universalizou o acesso à graça divina que os judeus haviam outrora restringido a si próprios. A substituição do judaísmo pela fé cristã foi posteriormente atribuída à pregação de Paulo e, no século XIX, o teólogo protestante Ferdinand C. Baur arrematou essa concepção “superacionista” ao postular que a passagem de Paulo significou a transição de uma “religião étnica, particularista”, o judaísmo, para “a idéia universal de Cristianismo”.


Judaísmo, racionalismo e teologia cristã da superação: um diálogo com Max Weber discute o vínculo existente entre essa concepção teológica e uma discussão de inequívoca centralidade na sociologia: a que diz respeito ao processo que conduziu ao racionalismo ocidental. Este vínculo é particularmente visível na tese weberiana, desenvolvida recentemente por Wolfgang Schluchter (em The rise of western rationalism), de que a doutrina profética hebraica trazia em germe certas concepções inovadoras cujas potencialidades éticas o povo judeu, em razão de sua condição de “pária”, não foi capaz de desenvolver e, por esta razão, foi necessário que o particularismo judaico viesse a ser substituído, ou superado, pelo universalismo Paulino para que tais potencialidades pudessem, de fato, se desenvolver no ocidente. Argumenta-se que esta linha de raciocínio se limita a reeditar a visão superacionista, peculiar ao pensamento teológico do século XIX, a respeito da importância histórico-cultural do trabalho missionário de Paulo, da natureza do judaísmo farisaico e da relação entre ambos. Impõe-se, nesse caso, a tarefa de apresentar um quadro mais veraz a respeito de tudo isto. É o que me proponho a fazer no presente livro.

8 comentários:

wellthon disse...

Muito interessante o livro, como estudante graduando é impossível tê-lo. Portanto voto para que Renan Freitas vá ao PPGS apresentar um seminário.

:D

Cynthia disse...

Boa ideia, Wellthon. O negócio é pressionar o chefe.

wellthon disse...

Olha aí Jonatas! Que tal?

wellthon disse...

Olha aí Jonatas! Que tal?

Le Cazzo disse...

Concordo! O negócio é pressionar o chefe. Depois de ler o post de Frédéric, só não sei quem ele é. Abraço, Wellthon.
Jonatas

Cynthia disse...

Jonatas e Wellthon,

Renan Springer de Freitas tem um trabalho maravilhoso em epistemologia e metodologia das ciências sociais. Já esteve conosco em uma banca de seleção do doutorado (há uns 10 anos, creio) e um texto de sua autoria já esteve na bibliografia de seleção do mestrado. Tentamos convidá-lo para uma banca novamente, mas Ratton, que falou com ele pessoalmente, disse que ele estava com excesso de trabalho neste final de ano, impossibilitado de aceitar. Depois a gente tenta de novo.

wellthon disse...

Não é o chefe, e sim a chefa. hehehe. Massa ano vem pressionamos mais.

Cynthia disse...

Oi? Jonatas mudou de sexo e não avisou ninguém?