
O poster original de Lakmé, de 1883
Um dia desses, Jonatas me disse que incluiria outro post sobre o proto-romantismo e, secretamente, nutri grandes esperanças que ele desistisse desse tal de Caspar David Friedrich para ilustrar o novo post. Tentei, de diversas maneiras, desviar sua atenção para a influência de Schiller na música: emprestei a nona de Beethoven, falei dos lieder de Schubert, tudo para ver se ele largava o tal do Caspar e ilustrava a estética romântica por outros meios, quiçá mais sublimes.
Resolvi radicalizar. Abandonei de vez a terra (e a língua) da filosofia e fui atrás de uma representação do romantismo desenvolvida no centro do Grande Império Britânico: mocinhas chinesas de olhinhos azuis (!) repuxados, sentadas em torno de um lago embrumado, afagando cãezinhos pequineses deitados nas dobras de seus vestidinhos de tafetá... Enfim, a promessa de redenção dos povos conquistados que, finalmente, sairão das trevas da ignorância e se unirão à Humanidade, com H maiúsculo. Mais kantiano, impossível! (Quanto a Schiller, essa eu deixo para Jonatas responder).
Mas e a figura? Não achei. Mas achei melhor! Um trecho da ópera Lakmé, o famoso Dueto das Flores (Vien, Mallika), do compositor romântico Leo Delibes (1836- 1891). E olha que coisa mais Iluminista: Orientalismo no melhor estilo Edward Said. O cenário é um jardim indiano, freqüentado por fiéis hindus, então proibidos de praticar sua religião livremente após a invasão britânica. Lakmé é a filha de um importante sacerdote brâmane que, para resumir uma longa história, se apaixona por um soldado britânico que invade o jardim. O pai de Lakmé fere o soldado e Lakmé o leva para um recanto afastado e cuida dele. Quando fica bom, um companheiro do exército de sua majestade aparece e o lembra de seus deveres para com o regimento e com o império. Lakmé nota a mudança que esta aparição tem sobre o seu amado e, ao perceber que o perdeu irremediavelmente para a rainha Vitória, come uma folha venenosa e morre a fim de preservar sua honra.
Desconforto em relação à cultura da razão e do controle? Ai, ai. Mas, falando sério, que Delibes dá de mil nesse tal de Caspar, isso dá! Ouve aí...
Resolvi radicalizar. Abandonei de vez a terra (e a língua) da filosofia e fui atrás de uma representação do romantismo desenvolvida no centro do Grande Império Britânico: mocinhas chinesas de olhinhos azuis (!) repuxados, sentadas em torno de um lago embrumado, afagando cãezinhos pequineses deitados nas dobras de seus vestidinhos de tafetá... Enfim, a promessa de redenção dos povos conquistados que, finalmente, sairão das trevas da ignorância e se unirão à Humanidade, com H maiúsculo. Mais kantiano, impossível! (Quanto a Schiller, essa eu deixo para Jonatas responder).
Mas e a figura? Não achei. Mas achei melhor! Um trecho da ópera Lakmé, o famoso Dueto das Flores (Vien, Mallika), do compositor romântico Leo Delibes (1836- 1891). E olha que coisa mais Iluminista: Orientalismo no melhor estilo Edward Said. O cenário é um jardim indiano, freqüentado por fiéis hindus, então proibidos de praticar sua religião livremente após a invasão britânica. Lakmé é a filha de um importante sacerdote brâmane que, para resumir uma longa história, se apaixona por um soldado britânico que invade o jardim. O pai de Lakmé fere o soldado e Lakmé o leva para um recanto afastado e cuida dele. Quando fica bom, um companheiro do exército de sua majestade aparece e o lembra de seus deveres para com o regimento e com o império. Lakmé nota a mudança que esta aparição tem sobre o seu amado e, ao perceber que o perdeu irremediavelmente para a rainha Vitória, come uma folha venenosa e morre a fim de preservar sua honra.
Desconforto em relação à cultura da razão e do controle? Ai, ai. Mas, falando sério, que Delibes dá de mil nesse tal de Caspar, isso dá! Ouve aí...
Cynthia Hamlin
Mas eu gostcho!
ResponderExcluirJonatas
Ha ha! Tá certo! Neste caso, aguardo ansiosamente pela próxima reprodução do Caspar. E também por uma reflexão sobre esta relação entre Schiller e alguns românticos mais iluministas. A propósito, você poderia elaborar mais detalhadamente a relação romantismo/modernismo/anti-iluminismo/anti-modernidade, independentemente de Schiller?
ResponderExcluirCynthia
Jonfer,
ResponderExcluirJá que você anda cada vez mais enfronhado no romantismo e seus duendes, bruxas, elfos, fadas e pixies de todos os tipos, uma outra referência de negação da razão: "Where is my mind?" do The Pixies. Com a certeza de que você vai odiar, só para encher sua paciência....
Cynthia