sábado, 17 de abril de 2010

O olho que nada vê: da visão à audição como metáfora para se pensar a reflexividade na obra de Margaret Archer 2



Cynthia Hamlin

Na primeira parte deste texto, coloquei o problema identificado por Kant em relação à introspecção como forma de autoconhecimento: se, por um lado, seria indubitável que o sujeito pode pensar acerca de si mesmo como um objeto, por outro, não se pode explicar como este sujeito é, simultaneamente, sujeito e objeto de seu pensamento.

O que está pressuposto na noção de introspecção (intra spectare, ou “olhar para dentro”) é que aquele que observa é o mesmo que é observado. Nas palavras de Auguste Comte (apud Archer, 2003: 53), “o pensador não pode se dividir em dois, onde um pensa enquanto o outro o observa pensando. Sendo o órgão observado e o órgão que observa idênticos neste caso, como poderia ocorrer a observação?”. Alguns, como o próprio Comte - e Durkheim e os behavioristas depois dele - tomam isso como prova irrefutável de que a o autoconhecimento é impossível. Sendo assim, nenhuma ciência deveria se basear no conhecimento de conteúdos mentais, já que não é possível observá-los.


2 comentários:

Pedro Eduardo disse...

Interessante o texto.
Sinceramente não conhecia Archer antes.

Essa discussão da escuta interior me lembra um texto (de Artur se não me engano) que li há tempos sobre a identidade.
Se dizia que o nosso self é como de uma narrativa, uma historia que construímos em que somos sujeitos.

Me parece (mas é apenas um palpite...) haver alguma relação com a idéia de Archer.

Cynthia disse...

Sei lá o que o doidinho pensa sobre isso. Mas você acaba de me dar uma boa idéia de nome para uma banca.

De qualquer forma, a idéia de identidade pressupõe sempre algum tipo de narrativa do próprio sujeito. A originalidade de Archer refere-se à ideia de que essa narrativa é construída num processo de conversação interna do sujeito com ele mesmo.

Abraço