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sábado, 1 de janeiro de 2011

Ontologia da Pedra


Artur Perrusi

Pensando nesse negócio de imanência e transcendência, fui parar alhures, lá pelos cantos dos argumentos ontológicos. Fui parar no velho Marx. Embora seja desconfiado de que ontologia e “tudo é história” não combinam muito, aceitei provisoriamente que, em Marx, há o esboço de uma ontologia do ser social. Por isso, fui parar em Lukács. Assim, fiz algumas anotações que geraram o drops abaixo. Baseei-me, claro, no húngaro, mas dei uma chegada rápida, nalgum momento do drops, por incrível que pareça, em Searle. Aqui, as duas referências:

- Lukács, György (1979) - Ontologia do ser social: os princípios ontológicos fundamentais de Marx - São Paulo: Ciências Humanas.
- Searle, John R. (1995) – La construction de La realité sociale – Paris: Gallimard.

(Por falar em Lukács, saiu a bela tradução, direto do alemão, pela Boitempo, dos “Prolegomenos a uma ontologia do ser social”)

Repito: eu me baseei, embora, na verdade, tenha divagado, parando noutros cantos, o que significa que o drops não foi fiel às referências. Como a forma drops permite ficar flutuando nas fronteiras e nas besteiras, arrisquei-me um pouquinho.

Bora lá.

O fato social é uma objetividade totalmente nova em relação à natureza?

(por favor, são perguntas retóricas, viu?! Não respondam, porque assim desmonta minha argumentação. As perguntas devem permanecer como tais, pois, se respondidas, morrem incineradas pelas respostas. As perguntas são frágeis, embora possam causar tempestades – o que não é o caso, aqui)

Posso responder de forma tradicional e dizer que há uma ruptura entre o social e o natural. Caso seja mesmo assim, fica a questão de se achar o fiat lux disso tudo. O tema da ruptura leva-me a desvarios transcendentais, não nego. Sendo uma ruptura, há uma separação ontológica. Se não há ruptura (uma descontinuidade na continuidade, por exemplo), pode-se pensar numa distinção entre o social e o natural? Qual a natureza dessa diferença? E, ainda, essa distinção é heurística ou real?

Mas, e se for uma emergência, no sentido entomológico de “eclosão” -- o fato social como um fenômeno emergente da natureza? Influenciado pelo verbo “eclodir”, pensei na relação entre a borboleta, o casulo e a larva. Viajei na maionese e imaginei, metaforicamente, o esquema marxista da seguinte forma: a larva seria a natureza, o casulo, o trabalho, e a borboleta, o social. A metáfora causou-me efeitos colaterais, pois meu esôfago não parava de rir, por causa de algumas consequências lógicas do meu raciocínio, tipo assim (utilizei enfim essa expressão da inteligência jovem): os cientistas sociais, no fundo, estudam “borboletas” – essa é a minha frase de final de ano.