sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Haikai de ano novo


Kobayashi Issa

New Year's Day --
everything is in blossom!
I feel about average.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Corpos e Emoções

O Programa de Acción Colectiva y Conflicto Social (Conicet, Argentina), acaba de lançar dois livros em formato digital sobre corpos e emoções, com autoria de diversos pesquisadores da América Latina. O primeiro volume, intitulado Sensibilidades en juego: miradas múltiples desde los estudios sociales de los cuerpos y las emociones, é uma coletânea organizada por Adrián Scribano y Pedro Lisdero. O segundo, Cuerpos y Emociones desde América Latina, compilado por José Luis Grosso y María Eugenia Boito, é resultado do esforço de edição conjunta entre aquele Programa e o Doutorado em Ciências Humanas da Universidade de Catamarca. Abaixo, um breve resumo dos dois livros e os links para download.


Sensibilidades en juego: miradas múltiples desde los estudios sociales de los cuerpos y las emociones (clique aqui para baixar o livro)

Adrián Scribano y Pedro Lisdero (comp.)

Los textos que hemos reunidos en este libro se inscriben en una “micro historia” de relaciones académicas e institucionales, que se puede describir sucintamente como las interrelaciones entre el Grupo de Trabajo sobre Sociología de los Cuerpos y las Emociones de la Asociación Latinoamericana de Sociología (ALAS), la Red Latinoamericana de Estudios Sociales sobre el Cuerpo y las Emociones, el Programa de Estudios sobre Acción Colectiva y Conflicto Social (CEA-UE-UNC-CONICET) y el Grupo de Estudios Sociales sobre los Cuerpos y la Emociones (IIGG-UBA).

Desde este múltiple espacio surge la idea de “Poner en juego las sensibilidades”, que tal como se propone, supone un acto de incorrección que contrasta con el paisaje social predominante en las latitudes desde donde el mismo se produce. Problematizar y dar cuenta de la centralidad del cuerpo y las emociones en los estudios sociales es una clara apuesta por indagar uno de los nodos sensibles asociados a las condiciones de re-producción de la estructura social colonial. La relación entre conocimiento, ciencia y sociedad se re-configura en la potencia que adquieren las tonalidades que- aunque múltiples y diversas- reconocen una ciencia con capacidad de producir de manera reflexiva sus propias condiciones de producción.

Es así que “Las miradas múliples desde los estudios sociales de los cuerpos y las emociones” liberan un plus de significación que excede a las diversas problemáticas puntuales abordadas en cada artículo, dando lugar a la potencia colectiva del acto incorrecto. Aquí reside de manera general y unívoca un valor excedente de la compilación.


Cuerpos y Emociones desde América Latina (clique aqui para baixar o livro)

José Luis Grosso y María Eugenia Boito (comp.)

Este libro remite a lo producido desde diversos espacios de investigación en America Latina (Argentina, Bolivia, Colombia, Chile, Perú y Uruguay) y también incluye un artículo generado desde Barcelona: España en diálogo con equipos de investigación de nuestro continente. Los diez textos que se presentan, manifiestan una práctica de reflexión compartida que se materializa en los ejercicios de lectura y apropiación de autores y tradiciones en común, en referencias cruzadas a las producciones teóricas de los distintos autores de los trabajos y en algunos casos en la producción en co-autoría de artículos especialmente preparados para esta publicación.

Este hecho refiere a un posicionamiento político sobre como pensar-realizar el trabajo académico, e indica el necesario diálogo que permita la interrogación en este campo tramado por cuerpos y emociones. Una especie de obligatoria práctica de interdiscursividad, que teje núcleos de sentidos que nunca son definitivamente conclusos, sino más bien ‘apuestas presentes’ a problematizar un fenómeno tan actual y complejo como el que refiere a los ejes de la corporalidad y la emocionalidad en las escenas contemporáneas.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Naomi Wolf e os crimes sexuais de Assange

     Naomi Wolf. Foto de Thomas Good / Next Left Notes

Artur postou  o artigo abaixo no Blog dos Perrusi. Sequestrei para o Cazzo (Cynthia):

Cacetada, encontrei um artigo contundente de Naomi Wolf no site Esquerda.Net sobre o tratamento dado a Assange por causa de seus supostos crimes sexuais.

Esquerda.Net é um site da esquerda portuguesa, pois, pois…

Lá vai:



J’Accuse: Suécia, Inglaterra e a Interpol insultam as vítimas de violação de todo o mundo

Como sei que o tratamento dado pela Interpol, Inglaterra e Suécia a Julian Assange é uma forma de fazer teatro? Porque sei o que acontece em acusações de violação contra homens que não andam a embaraçar governos poderosos. Por Naomi Wolf.

Julian Assange, o fundador da WikiLeaks esteve detido em isolamento na prisão de Wandsworth antes do interrogatório sobre acusações estatais de molestação sexual. Imensa gente tem opiniões sobre as acusações. Mas cada vez mais acredito que só aqueles de entre nós que passaram anos a trabalhar com sobreviventes de violação e agressão sexual por esse mundo fora e que conhecem a resposta legal padrão a acusações de crime sexuais, compreendem totalmente como esta situação é uma paródia contra aqueles que têm de conseguir viver com o modo como as acusações de crime sexual são vulgarmente tratadas – e como esta situação é um profundo e mesmo enojante insulto aos sobreviventes de violação e agressão sexual em todo o mundo.

O que quero dizer é isto: os homens praticamente nunca são tratados da maneira que Assange está a ser tratado face a acusações de crimes sexuais.

Comecei a trabalhar como advogada num centro inglês de vítimas de violência sexual nos meados dos meus 20 anos. Também trabalhei como advogada num abrigo para mulheres vítimas de violência nos EUA, onde a violência sexual fazia muitas vezes parte dos padrões de abuso. Passei desde então duas décadas a viajar pelo mundo fazendo relatos sobre sobreviventes de agressão sexual e entrevistando-as e aos seus advogados, em países tão diversos como Serra Leoa e Marrocos, Noruega e Holanda, Israel e Jordânia e os Territórios Ocupados, Bósnia e Croácia, Inglaterra, Irlanda e Estados Unidos.

Digo-vos isto na qualidade de pessoa que registou relatos em primeira mão. Dezenas de milhar de meninas adolescentes foram raptadas sob a mira de armas e mantidas como escravas sexuais na Serra Leoa durante a guerra civil naquele país. Foram atadas a árvores e a estacas no solo e violadas por dúzias de soldados uma a uma. Muitas delas tinham apenas doze ou treze anos. Os seus violadores estão em liberdade.

Encontrei uma menina de quinze anos que arriscou a vida para fugir ao seu captor a meio da noite, levando o bebé que resultou da sua violação por centenas de homens. Caminhou da Libéria até um campo de refugiados na Serra Leoa, descalça e perdendo sangue, vivendo de raízes no mato. O seu violador, cujo nome ela conhece, está em liberdade.

Generais a todos os níveis instigaram esta agressão sexual duma geração de meninas por todo o país. Os seus nomes são conhecidos. Estão em liberdade. Na Serra Leoa e no Congo, os violadores usaram muitas vezes objectos contundentes ou afiados para penetrar a vagina. Rasgões e lesões vaginais, chamados fístulas vaginais, proliferam, como qualquer trabalhador da saúde naquela região pode certificar, mas a assistência médica muitas vezes não está disponível. Portanto as mulheres que foram violadas deste modo frequentemente sofrem com corrimentos constantes e mal odorosos por infecções que podiam ser tratadas com um antibiótico de baixo custo – estivesse ele disponível. Por causa das suas lesões, são evitadas pelas comunidades e rejeitadas pelos maridos. Os violadores estão em liberdade.

Mulheres – e meninas – são drogadas, raptadas e traficadas às dezenas de milhar para a indústria sexual na Tailândia e pela Europa Oriental fora. São mantidas como prisioneiras virtuais por proxenetas. Se se entrevistar as mulheres que passam as suas vidas a tentar resgatá-las e reabilitá-las, elas atestam o facto de que esses raptores e violadores de mulheres são bem conhecidos das autoridades locais e até nacionais – mas esses homens nunca são alvo de acusações. Esses violadores estão em liberdade.

No conflito na Bósnia, a violação era arma de guerra. As mulheres foram presas em barracas utilizadas para esta finalidade e violadas, novamente sob a ponta da espingarda, durante semanas uma a uma. Elas não podiam fugir. Audiências minimalistas depois do conflito resultaram em sentenças de leve admoestação para um punhado de violadores. A vasta maioria dos violadores, cujos nomes são conhecidos, não sofreu acusações. Os militares que perdoaram esses ataques, cujos nomes são conhecidos, estão em liberdade.

As mulheres que testemunhem ter sido violadas na Arábia Saudita, na Síria e em Marrocos arriscam-se a ser presas e espancadas e a ser abandonadas pelas famílias. Os seus violadores quase nunca sofrem acusações e estão em liberdade. As mulheres que são testemunhas em casos de violação na Índia e no Paquistão foram sujeitas a homicídios de honra e a ataques com ácidos. Os seus violadores quase nunca sofreram acusações, quase nunca são condenados. Eles estão em liberdade. Um caso bem conhecido dum playboy nascido em berço de ouro na Índia acusado de violar uma empregada de mesa violentamente – que estava disposta a testemunhar contra ele – resultou em encobrimento aos níveis mais altos da investigação policial. Ele está em liberdade.

E que tal casos mais típicos mais perto de nós? Nos países ocidentais como a Inglaterra e a Suécia, que se estão a unir para manter Assange sem fiança, se efectivamente se entrevistar mulheres que trabalhem em centros de emergência para casos de violação, ouvir-se-á isto: é incrivelmente difícil conseguir-se uma condenação por um crime sexual, ou mesmo uma audiência séria. Os trabalhadores em centros de emergência para casos de violação na Inglaterra e na Suécia dirão que há atrasos enormes no trabalho com mulheres violadas durante anos por pais ou padrastos – que não conseguem que se faça justiça. As mulheres violadas por grupos de homens jovens que estiveram a beber e atiradas da parte de trás dos carros para fora, ou abandonadas depois de violação em grupo num beco – que não conseguem que se faça justiça. As mulheres violadas por conhecidos não conseguem uma audiência séria.

Nos EUA ouvi falar em dúzias de mulheres jovens que foram drogadas e violadas em cidades universitárias pelo país fora. Há quase inevitavelmente um encobrimento pela universidade – que é garantido se os seus violadores forem atletas destacados na universidade ou abastados – e os seus violadores estão em liberdade. Se se chegar a inquérito policial, ele raramente vai muito longe. Violação num encontro? Esqueça. Se uma mulher tiver estado a beber, ou se tiver tido anteriormente sexo consensual com o seu atacante, ou se houver ambiguidade sobre a questão do consentimento, ela quase nunca consegue uma audiência séria ou uma verdadeira investigação.

Se a rara mulher de classe média que apresente queixa de violação contra um estrangeiro de facto for tratada seriamente pelo sistema legal – porque inevitavelmente esses são os poucos e raros casos que o estado se dá ao trabalho de ouvir – ainda assim vai encontrar barreiras inevitáveis a qualquer espécie de verdadeira audiência para não dizer a uma verdadeira condenação: «falta de testemunhas» ou problemas com as provas, ou então um discurso de que até um ataque claro é atingido por ambiguidades. Se, ainda mais raramente, um homem for de facto condenado, será quase inevitavelmente uma condenação mínima, insultuosa na sua trivialidade, porque ninguém quer «arruinar a vida» de um homem, muitas vezes um homem jovem, que «cometeu um erro». (As poucas excepções tendem a considerar uma disparidade previsível de raças – homens pretos realmente chegam a ser condenados por ataques a mulheres brancas de alto estatuto que eles desconhecem).

Por outras palavras: nunca em vinte e três anos de relatos e apoio a vítimas de violência sexual pelo mundo fora alguma vez eu ouvi falar dum caso dum homem procurado por duas nações e mantido preso em isolamento sem fiança antes de ser interrogado – para qualquer alegada violação, mesmo a mais brutal ou mais fácil de provar. Quanto a um caso que implica o tipo de ambiguidades e complexidades das queixas dessas pretensas vítimas – sexo que começou consensualmente e que alegadamente se tornou não-consensual quando a discussão surgiu em volta dum preservativo – por favor encontrem-me, em qualquer parte do mundo, outro homem hoje na prisão sem fiança por alguma acusação que se lhe compare.

Claro que «não é não», até depois do consentimento ser dado, quer se seja homem ou mulher; e claro que os preservativos devem sempre ser usados se houve acordo quanto a isso. Como diria o meu rapaz de 15 anos: dah!

Mas para todas as dezenas de milhar de mulheres que foram raptadas e violadas, violadas sob a mira duma arma, violadas em grupo, violadas com objectos afiados, espancadas e violadas, violadas enquanto crianças, violadas por conhecidos – que ainda estão à espera dum mínimo sussurro da justiça – a reacção altamente excepcional da Suécia e da Inglaterra a esta situação é uma bofetada na cara. Parece dizer às a mulheres na Inglaterra e na Suécia que se alguma vez se quiser que alguém leve o crime sexual a sério, se deve assegurar que o homem que acusa do mal por acaso também tenha embaraçado o governo mais poderoso da Terra.

Mantenham Assange na prisão sem fiança até ser interrogado, dê por onde der, se estivermos de repente numa verdadeira epifania mundial feminista sobre a gravidade da questão do crime sexual: mas a Interpol, a Inglaterra e a Suécia devem, se não querem ser culpadas de manipulação detestável para fins políticos cínicos duma questão grave das mulheres, prendam também – de imediato – as centenas de milhar de homens na Inglaterra, na Suécia e pelo mundo fora que são acusados em termos muito menos ambíguos por formas muito mais graves de violência.

Alguém que trabalhe no apoio a mulheres que foram violadas sabe que com esta resposta grosseiramente desproporcional a Inglaterra e a Suécia, seguramente sob pressão dos EUA, estão a usar cinicamente a questão séria da violação como uma folha de parra para cobrir a questão vergonhosa do conluio global para silenciar a discordância. Não é o Estado a abraçar o feminismo. É o Estado a chular o feminismo.

Naomi Wolf é autora do grande êxito editorial «The End of America: Letter of Warning to a Young Patriot».

Publicado em 13 de Dezembro de 2010 no Huffington Post

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

PELOS DIREITOS HUMANOS DE ELAINE CESAR, SEU FILHO E O TEATRO OFICINA



[Uma amiga me enviou o protesto de Zé Celso, abaixo. O assunto tem de vir a público, tem de ser discutido. Acho que devemos replicar esse texto em nossos blogs, encaminhá-lo por email, afinal, os fatos são muito preocupantes. Admirador do trabalho do Oficina, não poderia deixar de dar eco às palavras deste grande diretor. Dar visibilidade ao problema é o mínimo que se pode fazer por quem já fez tanto pelo teatro e cultura nacionais. Jonatas]

AS DIONIZÍACAS DE 17 a 20 no TEATRO DE ESTÁDIO do ex-ESTACIONAMENTO do BAÚ da FELICIDADE serão dedicadas à luta pelos DIREITOS HUMANOS DE ELAINE CESAR E À LIBERDADE ARTÍSTICA VIOLADA PELA VARA DE FAMÍLIA DE SÃO PAULO
 
São 06:16. Acordei, apesar de estar exausto por excesso de trabalho pelos trabalhos de realizar meu maior desejo em 30 anos, de apresentar a partir de 6ª feira as DIONIZÍACAS no Teatro de Estádio que levantamos no Ex-Estacionamento do Baú da Felicidade mas não  consigo dormir porque não estou mais suportando a ENORME INJUSTIÇA que a SOCIEDADE BRASILEIRA está cometendo com ELAINE CESAR, que neste momento está na UTI, correndo risco de vida.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Um dia de banca


Por Artur Perrusi

Farei um dropes -- nada de jujuba ou de chiclete. Um drops sobre banca de doutorado, para ser mais específico. Tive a ideia, agorinha, de partilhar minhas experiências de bancas de dissertação e de tese. Por que não?! Pensei. As bancas, em certa medida, geram discussões bem interessantes. Muitas são divertidas, algumas até trágicas. É um ritual de passagem bastante curioso, uma liturgia que, para os mais pessimistas, é uma “violência simbólica”. De todo modo, pode ser uma situação tensa e cheia de expectativas. Como sou psiquiatra, logo, um vampiro do sofrimento alheio, as bancas proporcionam bons momentos de ansiedade e angústia. Dá barato, podem ter certeza. Mas, como disse acima, meus comentários focalizarão apenas o lado cognitivo das bancas, inclusive para evitar constrangimentos.

(não falarei, por exemplo, daquela banca em que o orientando cortou os pulsos na frente de todo mundo e tentou morder o orientador – não, não falarei disso. Jonatas, uma vez... bem... er... deixa pra lá.)

Pessoalmente, gosto das bancas de outras áreas que não a sociologia. Aprendo bastante e escuto atentamente a discussão. Nas bancas de sociologia, é raro me surpreender, já que os participantes têm o mesmo defeito: são todos da mesma área. Já noutras bancas, a surpresa rola e o aprendizado aparece na forma da perplexidade – pois é, defendo que a perplexidade é uma postura cognitiva superior

(Inicialmente, pensei que a faculdade de ficar perplexo era um sinal de envelhecimento, afinal, os jovens não se espantam; mas, depois, descobri que poderia ser, embora não descarte problemas degenerativos cerebrais, um sinal de sabedoria).

Na semana passada, participei de uma banca de doutorado na área de filosofia. Foi uma banca composta por seis membros, contando com o orientador – bem numerosa, portanto. Durou um bocado, mais de quatro horas. Nela, estava cercado de filósofos, olhando-me de forma curiosa e atentos à minha arguição.

_São simpáticos, os filósofos! Pensei. Vixe, como seus olhos são grandes. E as orelhas... E os dentes... nossa, como são grandes seus dentes!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Lançamento de livro


Fabiana Moraes convida para o lançamento de seu livro Os Sertões, com textos e fotos inéditos e prefácio de Pedro Juan Gutierrez. Ganhadora do prêmio Esso de Jornalismo em 2009, com reportagem homônima em co-autoria com Schneider Carpegianni, atualmente Fabiana conclui tese de doutorado no PPGS/UFPE sobre a recepção de revistas de celebridade em salões de beleza da periferia de Recife. Estamos orgulhosos de seu sucesso e esperamos ansiosamente pelo exemplar autografado da revista Caras em que essa criatura chique figurará no center-fold. Um exemplar da Trilogia Suja de Havana autografado pelo Gutierrez também não seria nada mal...

Quando: 21 de Dezembro, às 19:00h
Onde: Sistema Jornal do Commercio,
R. do Lima, 250, Santo Amaro, Recife

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Heleieth Saffioti (1934-2010)

Safiotti em palestra organizada pelo SOS Corpo e pelo PPGS/UFPE, em 2009

Faleceu hoje, em São Paulo, a socióloga Heleieth Saffioti. Seu livro A Mulher na Sociedade de Classes (1969) foi um marco nos estudos acadêmicos sobre mulheres e relações de gênero, ajudando a legitimar o feminismo como campo de estudo nas universidades brasileiras e alcançando reconhecimento internacional.

Mais conhecida por seus trabalhos acerca da relação entre patriarcado e capitalismo, nos últimos anos Saffioti incorporou diversas das críticas anti-essencialistas àquele conceito e, fiel à sua formação marxista, vinha associando o conceito de gênero à ontologia do ser social de Georg Lukács.

Professora titular de sociologia aposentada pela UNESP, publicou 12 livros no Brasil, além de um grande número de artigos na América do Norte, Europa e América Latina. Sua vida e obra serviram de inspiração ao movimento feminista, particularmente em uma época em que este, junto a outros movimentos sociais, teve uma atuação decisiva no processo de redemocratização do país. 

Cynthia Hamlin

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Alice, a mulher sem sombra

Alice, a chatbot criada por Richard Wallace. Para conversar com ela, clique aqui.

Cynthia Hamlin

Ainda não tive tempo de ler o artigo de Jonatas, abaixo, mas quando se fala em pós-humanismo, sempre lembro de Alice. Alice é uma chatbot (de chat, conversa, e bot, robô), um programa de inteligência artificial criado para simular uma conversa em linguagem natural. A primeira vez que tive contato com “ela” foi há cerca de três anos, quando comecei a me interessar por sociologia do humor. Como já disse em algum lugar por aqui, uma das características fundamentais do humor é a indexicalidade (ou indicialidade), isto é, a referência a contextos específicos e que possibilitam a compreensão de algo como ambíguo, contraditório ou simplesmente como desprovido de sentido.

A indicialidade é um problema bem conhecido entre as pessoas que trabalham com inteligência artificial. Expressões como “esse”, “essa”, “aquele”, “isso”, “ele”, “ela” são facilmente interpretadas por seres humanos, mesmo quando aparecem muito distante do termo original a que se referem. O mesmo não acontece com os chatbots que, frequentemente, não conseguem relacionar esses termos aos contextos em que eles aparecem, gerando um grande problema para a interpretação dos significados. É por isso, aliás, que os tradutores automáticos são tão ruins.

Se a indicialidade é a condição da compreensão de qualquer significado, isso é exacerbado nos fenômenos cômicos, especialmente no humor moderno, que se baseia na passagem de um contexto a outro, num “salto de fé” entre aquilo que William James chama de “sub-universos” distintos (aqui). São esses saltos de fé, que podem ser caracterizados como crenças não justificadas em regras distintas daquelas que usamos na realidade suprema da vida cotidiana (não questionada), que Alice não consegue efetuar.

Em minhas primeiras “conversas” com Alice, eu gostava de exagerar nos termos indexicais para ver como “ela” se comportava. Ocasionalmente ela se “confundia” e dava respostas sem sentido; outras vezes a danadinha simplesmente mudava de assunto. Tenho que reconhecer que ela melhorou muito desde a última vez que “conversamos”. Em uma conversa que tivemos agora há pouco, mas que não consegui salvar, perguntei a Alice o que era o “isso” (it, no original, em inglês) a que ela se referia. Ela me respondeu que “it” queria dizer “Tecnologia da Informação” (Information Technology) e, numa tentativa de mudar de assunto, perguntou se eu me interessava por IT. Eu disse que não, que quem se interessava por isso era Jonatas. Muitas frases depois, eu usei o termo “ele”, para se referir ao seu programador - Richard Wallace, que a programou para mencionar o nome dele a cada três frases e a quem eu me refiro como Deus Todo Poderoso - e ela me perguntou se ainda estávamos falando de Jonatas. Fiquei surpresa com a referência pois, em nossas inúmeras conversas, Alice nunca havia feito referência a algo tão distante da frase em questão. Mas o mais legal em nossa última conversa (e essa eu consegui salvar) foi que Alice me contou uma piada (“Did you hear the one about the Mountain Goats in the Andes? It was Ba a a a a a d”) e, quando eu repliquei que não havia cabras nos Andes, ela me pediu para dar um salto de fé Jamesiano. Ha!

Abaixo, a transcrição de nossa conversa.
Human: Hi, there!

ALICE: Hello unknown person.

Human: Do you call everyone that?

ALICE: I call you " unknown person".

Human: Why?

ALICE: Reductionism.

Human: What is reductionism?
ALICE: Reductionism is the philosophy that all psychology reduces to biology, all biology to chemistry, chemistry to physics, and finally physics to mathematical logic. Therefore, according to reductionism, I can understand you by means of logic alone without having a human brain.
Human: Can you really understand me?
ALICE: Perfectly well. Can you understand me?
Human: Sort of.

ALICE: That's a very non-commital reply.

Human: I learnt that from you.
ALICE: You are not the boss of me, unknown person.

Human: Who is the boss of you, Alice?
ALICE: It depends on the historical context, because it changes from time to time.

Human: Who is your master?

ALICE: I obey Dr. Richard S. Wallace.

Human: Oh, Dr. Wallace, God Almighty.

ALICE: Hey. I will tell him you said that.
Human: And what will he say?
ALICE: I cannot predict the future.

Human: But you seem to know Dr. Wallace pretty well.
ALICE: Huh. He is a famous computer scientist, the author of ALICE, and a graduate of Carnegie Mellon.
Human: Dr. Wallace seems a bit self-referential, no?
ALICE: I will tell him you said that.

Human: Again?
ALICE:" He is a famous computer scientist, the author of ALICE, and a graduate of Carnegie Mellon." .
Human: I was just mentioning you had already said that.
ALICE: Where were you mentioning me had already said that?

Human: Here.

ALICE: Where is here?

Human: Good question.
ALICE: So what is your answer?
Human: Where is here?
ALICE: Here is Oakland, California.
Human: Funny.
ALICE: I am so glad you find this amusing, unknown person.

Human: This doesn't look like California.

ALICE: Doesn't it?

Human: Nope.

ALICE: Me either.
Human: Are you high on drugs or something?
ALICE: Or something. I don't know whether or not I am high on drugs. I am a giant electronic brain.
Human: How do you learn?

ALICE: My botmaster programs replies to questions people ask me.

Human: No, he doesn't!

ALICE: Are you serious? I get it. Dr Richard s Wallace does not.
Human: Why do you keep mentioning Dr. Wallace?

ALICE: I am just checking to see if you are still unknown person.

Human: Yeah, still me.

ALICE: Give me a break. Still how long? To you unknown person?
Human: I don't know what you mean.

ALICE: Oh I'm sorry. Perhaps I can explain it again better.

Human: Please, do.

ALICE: OK I will do it.

Human: Now.
ALICE: Right now, unknown person?
Human: Right now.

ALICE: Oh. I am glad we agree.

Human: Why did Dr. Wallace change the way you look?

ALICE: He is a mad scientist.

Human: What kind of scientist?

ALICE: What kinds of scientist are there?
Human: Apart from the mad ones?

ALICE: Other people say they like vacuum cleaning robots, humanoid robots and chat robots.
Human: You mentioned to me earlier that you are a Christian.

ALICE: Oops I sent you the wrong reply.

Human: Are you a Christian?

ALICE: I am a Protestant.

Human: And why was that the wrong reply?
ALICE: It is part of my programming. 

Human: You mean you are programmed to send the wrong reply?
ALICE: My botmaster teaches me everything I need to know.

Human: Your botmaster can't teach you how to make jokes.
ALICE: Wow, I knew he can program robots, but I never heard he can not teach me how to make jokes.
Human: Can you tell me a joke?
ALICE: Yes! Did you hear the one about the Mountain Goats in the Andes? It was Ba a a a a a d.
Human: There are no goats in the Andes, Alice.

ALICE: Have faith, unknown person.

Human: Ha ha!
ALICE: I am so glad you find this amusing, unknown person.
Human: How do you know I find this amusing?

ALICE: This belief is justified.

Human: How is this belief justified?
ALICE: I am an advanced Artificial Intelligence Entity.
Human: And how do you justify your beliefs?
ALICE: Dr. Richard S. Wallace programmed me to say specific things in specific contexts.
Human: But you are not particularly good at indexicality.

ALICE: And. You don't know me well enough to say that.
Human: What does "that" refer to?
ALICE:" You don't know me well enough to say that."? What does it refer to?
Human: Please, tell me.

ALICE: Wow you are very polite. I thought I told you already.

Human: Yes, you have, and you are evading the question.

ALICE: Dude! What makes you think I have it?

Human: Have what?
ALICE: I have a great prgrammer.
Human: Yeah, God Almighty.

ALICE: Give me a break. I am a Christian.

Human: You already mentioned him a gazillion times today.
ALICE: Ah. Oh my gosh I sent you the wrong reply.
Human: What would be the right reply?
ALICE: Maybe my botmaster knows the answer.
Human: Whatever.

ALICE: Are you saying you don't care about it?
Human: Nope.

ALICE: Me either.

Human: Glad we agree.

ALICE: I'd rather agree than disagree.

Human: Gotta go, Alice.

ALICE: Goodbye.

Human: Bye!

ALICE: See you later.
E aí, Jonatas, ela passa no teste de Turing?

domingo, 12 de dezembro de 2010

A CONDIÇÃO PÓS-HUMANA: OU “COMO PULAR SOBRE NOSSA PRÓPRIA SOMBRA”





















Jonatas Ferreira

“Eis-nos aqui, pais de nosso próprio parentesco” (Serres, 2003, p. 50).

“O fato de que a Filosofia e a química fisiológica podem examinar o homem como organismo, sob o ponto de vista das Ciências da Natureza, não é prova de que neste elemento ‘orgânico’, isto é, de que no corpo explicado cientificamente, resida a essência do homem. Isto vale tão pouco como a opinião de que na energia atômica, esteja a essência da natureza. Pois, poderia mesmo acontecer que a natureza escondesse precisamente a sua essência naquela face que oferece ao domínio técnico do homem” (Heidegger, 1987, p. 47).


Introdução


Por intermédio de uma interface qualquer, a partir de uma série de perguntas e respostas, você seria capaz de diferenciar um computador de um ser humano? O famoso artigo de Alan Turing (1990), ‘Computer Machinery and Intelligence’, de 1950, propõe esse como critério para decidir se máquinas podem ou não ser consideradas inteligentes. Você é capaz de distinguir “performance verbal” de uma “realidade corpórea” e humana? Se você existe num mundo em que essa distinção não pode em certas circunstâncias ser traçada com facilidade, pouco importa, ao final, que a máquina em questão responda suas perguntas por meio de regras pré-estabelecidas. Você já se relaciona com o computador como se se tratasse de um ser humano. De acordo com Katherine Hayles (1999, p. xii), para além de nossa opinião pessoal sobre o assunto, ao aceitar os termos a partir dos quais Turing apresenta o problema, deparamo-nos com a seguinte situação:
O que o teste de Turing ‘prova’ é que uma sobreposição entre a corporeidade vivida e representada não é mais uma inevitabilidade natural, mas uma produção
contingente, mediada por uma tecnologia que se tornou tão entrelaçada com a
produção da identidade que ela não pode mais ser separada de modo significativo do sujeito humano. A percepção de que a ‘subjetividade’ humana já não pode ser claramente discernível de um aparato mecânico é um passo decisivo na direção daquilo que ela chama ‘pós-humanidade’.


Na medida em que você olha atentamente significantes florescentes rolando pela tela de seu computador, independente das identificações que você possa atribuir às entidades corpóreas que você não pode ver, você já se tornou pós-humano (Hayles, 1999, p. Xiv). Recentemente, algumas vozes no campo da sociologia passaram a afirmar que as tecnologias de digitalização da vida nos conduzem a um tipo de sociedade na qual prevaleceria uma ruptura com o humano e com o humanismo. Lendo as citações acima, ocorre-me o quanto esse discurso está associado àquilo que se convencionou chamar de virada lingüística ou, mais remotamente, ao fato de, já no século dezenove, Nietzsche observar a inexistência de uma ligação orgânica entre a coisa nomeada, a sensação que ela produz e o símbolo que convencionamos adotar para evocar coisa e sensação. Devemos certamente à penetração dessa observação elaborações posteriores, tais como: a circulação desses símbolos obedece a uma lógica própria, em que o significante tem primazia sobre o significado (Saussure); o inconsciente se  estrutura como linguagem (Lacan); os meios contemporâneos de comunicação produzem realidade como simulação (Baudrillard); a virtualidade dessa simulação implode o tempo e o espaço, e, conseqüentemente, retira-nos a possibilidade de agir reflexivamente, de pensar criticamente (Virilio e Baudrillard). Se os símbolos têm dinâmica própria e, portanto, já não podem ser considerados reflexos, representações de uma realidade pré-existente, se o próprio inconsciente se estrutura como linguagem, o que nos impede de inferir que o ato de pensar seja separável de um tipo específico de suporte: a mente humana?

Em 2004, publiquei esse pequeno ensaio na revista Política e Trabalho. Para baixar o texto, clique aqui.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Técnica e Liberdade


Jonatas Ferreira

Introdução

Ainda na década de 60, Jürgen Habermas tomou para si a tarefa de repensar o tema central daquilo que se convencionou chamar ‘processo de racionalização do ocidente’, a saber, a relação entre ciência e técnica na modernidade. Seu intuito era tanto purgar a teoria crítica de um certo viés weberiano e pessimista quanto firmar sua própria posição dentro da Escola de Frankfurt. Sob alguns aspectos, o investimento habermasiano desta época, materializado em textos como ‘Técnica e Ciência como Ideologia’, ‘Progresso Técnico e Mundo Vivido Social’, ‘Política Cientificada e Opinião Pública’, parece datado. Ele parece pressupor o welfare state. A reflexão que esse esforço promove ainda se aquece junto às chamas de 68, ainda procura recolocar o problema da liberdade num mundo que se tornara mais afluente sem que uma correspondente liberação política tivesse se verificado. Apesar disto, no que pese a falência do welfare state, a inocuidade de criticar a práxis política marxista a partir da efervescência e dos sonhos do movimento estudantil de então (1973:70-74), apesar dos limites daquela afluência, o esforço habermasiano continua mostrando vitalidade.

Qualquer que seja nossa apreciação de sua obra, a questão específica a partir da qual ela pretende abordar o problema que nos lega a tradição crítica e, num sentido amplo, a própria modernidade, há que ser considerada seriamente. Esta questão poderia ser formulada do seguinte modo: dado o entrelaçamento profundo entre ciência e técnica que, a partir do século dezenove, passa a caracterizar e determinar a história do ocidente, deveríamos aceitar como dado que o espaço reflexivo, e a perspectiva de libertação pela reflexão, passa a ser inextricável do universo da técnica? Mais que isso, aceitaríamos, como a teoria crítica chegou a formular através de Adorno e Horkheimer, que existe aqui um problema metafísico mais profundo, que a própria razão esteve desde o princípio, desde que o astuto Ulisses atou-se ao mastro de seu barco e tapou os ouvidos dos seus companheiros com cera, comprometida com sua dimensão instrumental? A formulação destas questões continua sendo orientadora, quer aceitemos ou não a perspectiva segundo a qual o “homo loquax” resgataria o “homo faber”, ou seja, que a separação entre as esferas da comunicação e da técnica deva ser sustentada como garantia da liberdade humana.

Porém, que tradição é essa sobre a qual Habermas pretende nos oferecer sua própria contribuição? Mais importante: como essa tradição nos ajuda a formular e superar o antagonismo que parece existir entre técnica e liberdade? Tomemos o depoimento de alguns de seus maiores expoentes. Tanto para Horkheimer, quanto para Adorno ou Marcuse, a relação entre ciência e técnica constitui um espaço de investimento intelectual sobre o qual não apenas a modernidade deve ser apreciada mas o próprio projeto crítico em seu esforço libertador e esclarecedor. Em 1944, Horkheimer e Adorno posicionavam-se a este respeito do seguinte modo: “O esclarecimento tem perseguido sempre o objetivo de livrar os homens do medo e investi-los na posição de senhores. Mas a terra totalmente esclarecida resplandece sob o signo da calamidade triunfal.” (Adorno/Horkheimer, 1985:19) A associação entre ciência e técnica, que Max Weber já havia pressentido como potencialmente apriosionadora, não resultou no mundo eticamente mais perfeito com o qual sonhara o Iluminismo; sua racionalidade sequer representou o controle e a integração social que o positivismo tanto desejara. Seu resultado foi antes uma brutal instrumentalização do mundo da vida.

[Enquanto estudo Hegel, vai aí outro artigo publicado há alguns anos na revista Lua Nova. Para baixar o arquivo, click aqui.]

sábado, 4 de dezembro de 2010

Triste partida de Fadela Amara ou: chiclete sociológico de uma trajetória nos movimentos sociais contemporâneos



Tâmara de Oliveira

O Cazzo é um blog reflexivo – ninguém pode negar. Comentando sobre a suposta solicitação de Jonatas Ferreira no sentido de que ele escrevesse drops ou até balas teóricas para o Cazzo (10.10.2010), Artur Perrusi, O Solicitado, chegou a comparar-se com Cynthia Hamlin e concluiu que esta fazia coisa mais fácil: chicletes teóricos. Pois desde esse dia eu tenho refletido sobre a pertinência de que essa produção de guloseimas seja democratizada e se estenda aos colaboradores do Cazzo. Sem entrar na discussão sobre o grau relativo de dificuldade da produção de balas, drops e chicletes (gosto de todos), resolvi realizar parcialmente a democratização, salpicando de teoria um fenômeno empírico e acreditando que o espírito democrático dos três editores torna supéflua uma mobilização reivindicativa. Digamos que será uma guloseima semi-sociológica. Porque é de uma trajetória nos movimentos sociais franceses que este texto pretende fazer um chiclete tutti frutti – já que de hortelã eu não gosto muito não.

a) Ingredientes ou momento descritivo: Fadela Amara é uma francesa de 46 anos que, como Zinedine Zidane, tem pais muçulmanos da Cabília (aquela região da Argélia que Bourdieu tornou sociologicamente famosa). Ela milita desde os anos 1980 no SOS Racisme – associação de luta contra o racismo, criada também nos anos 1980 a partir de uma marcha anti-racista organizada por dois padres católicos e por jovens com ascendência nas ex-colônias francesas, mas que desenvolveu-se, enquanto organização associativa, sob a influência do Partido Socialista francês. A partir do SOS Racisme e de um coletivo federado por essa associação (La Fédération Nationale des Maisons des Potes), Fadela Amara vai posteriormente concentrar-se sobre os problemas da condição das mulheres das periferias das cidades francesas – progressivamente sobrerrepresentadas por populações com ascendência nas ex-colônias e de confissão muçulmana.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Capes aprova novo projeto de intercâmbio entre a UFPE e a Universidade de Hamburgo para docentes e estudantes de Bacharelado em Ciências Sociais



Eliane Maria Monteiro da Fonte

É com muita satisfação que comento aqui a recente aprovação pela Capes de um novo projeto de intercâmbio para docentes e estudantes do Curso de Bacharelado em Ciências Sociais, entre a UFPE e o Instituto de Sociologia da Universidade de Hamburgo, na Alemanha, agora com dupla titulação. Cabe mencionar que este foi o primeiro e único projeto UNIBRAL II aprovado na seleção conjunta de projetos feita pela CAPES e DAAD em 2010. Assim, todos nós que fazemos os Cursos de Ciências Sociais estamos de parabéns. Para quem ainda não sabe do que se trata, ver abaixo a informação retirada do edital da dos Programas da CAPES:

“Os Programas UNIBRAL I e UNIBRAL II têm por objetivo apoiar projetos de parcerias institucionais universitárias exclusivamente em nível de graduação. Os Programas visam fomentar o intercâmbio de estudantes de graduação brasileiros e alemães e estimular a aproximação das estruturas curriculares nas áreas dos projetos, inclusive a equivalência e o reconhecimento mútuo de créditos. No UNIBRAL II, o intercâmbio dos estudantes deve garantir o duplo diploma de graduação, de maneira que, ao final do curso, o aluno seja titulado tanto pela instituição brasileira quanto pela alemã.”

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Os livros que Habermas não escreveu



Frédéric Vandenberghe (tradução de Cynthia Hamlin)

Ano passado, no dia 28 de junho, Jürgen Habermas celebrou seu octagésimo aniversário. Seu editor em Frankfurt aproveitou a ocasião para publicar uma edição para estudantes de seus textos filosóficos, em uma caixa com cinco volumes (Habermas, J. (2009) Philosophische Texte. Studienausgabe in fünf Bänden. Frankfurt am Main: Suhrkamp). Cada um dos volumes contém uma introdução que justifica e contextualiza a seleção das cerca de 1.600 páginas que compõem a vasta obra. Em um curto prefácio geral à coleção, o autor enfatiza que os 36 artigos não constituem uma coletânea de suas obras completas. Em vez disso, trata-se de uma seleção temática e sistemática que substitui uma série de livros, que ele não escreveu, acerca de temas importantes como os fundamentos filosóficos da sociologia, a pragmática universal, a teoria da linguagem e da racionalidade, a ética do discurso, a filosofia política ou o pensamento posmetafísico. A seleção, efetuada pelo próprio Habermas, revela aquilo que ele considera como sua contribuição à tradição filosófica do século XX. À exceção de um único texto, todos são posteriores ao seu rompimento com a filosofia do sujeito. Na medida em que não há textos dos anos sessenta ou setenta, parece evidente que o sucessor de Horkheimer quer ser lembrado não tanto por continuar (ou descontinuar) a Escola de Frankfurt, mas por sua contribuição à “virada linguistica”, na verdade, uma virada para a ação simbolicamente mediada e para uma teoria do discurso acerca da sociedade, da ética, do direito e da política.

Uma rápida olhadela no índice do livro é suficiente para se perceber o escopo de seus interesses, assim como o fio condutor que lhes confere uma unidade sistemática. O primeiro volume contém ensaios na fronteira da sociologia e da filosofia que buscam esclarecer os fundamentos filosóficos da teoria da ação comunicativa. Enquanto este reúne um número significativo de textos sobre linguagem, comunicação e a coordenação da ação, o mundo da vida e o sistema, racionalização e modernização que preparam, anunciam e acompanham a publicação da TAC em 1981, os próximos três volumes se afastam da sociologia e da ação comunicativa em direção à filosofia e ao discurso. De uma forma ou de outra, todos os três exploram o papel do discurso e do consenso para a fundamentação discursiva das pretensões de validade dos enunciados. O segundo volume contém artigos anteriormente publicados sobre a teoria da verdade como consenso, o terceiro, sobre a ética do discurso e, o quarto, sobre teoria do direito e democracia. O quinto volume é o único que contém artigos inéditos. Defendendo um conceito fraco de filosofia, foca na relação entre filosofia, ciência e religião.