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terça-feira, 1 de junho de 2010

Consumo de Psicofármacos e Cuidado Consigo (Rasunho sem conclusão)



Erliane Miranda e Jonatas Ferreira

Em um sentido amplo, a psicofarmacologia é quase tão antiga quanto a humanidade. 3.000 anos antes de Cristo, os sumérios já plantavam papoulas das quais extraiam um suco apropriadamente chamado de “sortudo” ou “feliz”, “uma indicação de que eles conheciam bem a ação do ópio, sua capacidade de despertar um humor luminoso, eufórico” (Spiegel, 2003, p. 28)1. No primeiro século da era cristã, Galeno analisou, em seu Corpus Hippocraticum, suas propriedades analgésicas e soporíferas, recomendando moderação no seu uso. Todos já lemos acerca das experiências psíquicas que artistas como Baudelaire, Nerval, Thomas de Quincey, entre tantos outros, tiveram com essa mesma substância, ou com sua versão atenuada, isto é, com o láudano. Esse tipo de consideração poderia ser estendida para considerarmos o consumo do haxixe, ayahuasca e tantas outras substâncias psicoativas em várias culturas e períodos históricos. A associação entre farmacologia e psiquiatria, no entanto, é algo bem mais recente, o que parece óbvio, posto que a moderna psiquiatria não chega a ter dois séculos de existência. Desde seus primórdios, já no século XIX, essa ciência dispunha de sua lista de medicamentos a serem administrados a pacientes mentais: ópio, evidentemente, beladona, mandrágora eram as principais drogas administradas (p. 34). O desenvolvimento de uma farmacologia, ou seja, do estudo químico-farmacêutico sistemático, preocupado em vincular o uso do medicamento às grandes transformações da medicina do século XIX, ocorreu com a instituição de práticas médicas que passaram a corresponder a uma medicina hospitalar e ao desenvolvimento da anatomoclínica, seguido do estabelecimento da medicina laboratorial, através do “desenvolvimento dos programas ligados à patologia celular, fisiopatologia e etiologia, que procuravam apoiar a medicina nas ciências físico-químicas e biológicas modernas” (Dias, 2003, p. 41-46). De qualquer modo, a psiquiatria do século XX parece ter se acautelado contra o risco de dependência que o uso de narcóticos e hipnóticos implicava.