Mostrando postagens com marcador Teoricismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Teoricismo. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

“O Fetichismo do Conceito” de Luís de Gusmão: notas de leitura





 
Luciano Oliveira

Uma amiga enviou-me faz algum tempo uma matéria de jornal sobre o livro do professor Gusmão da UNB. Confessava que o que ele dizia sobre Habermas a fez “rir um pouco” e adiantava a impressão de que, pelo tom polêmico do autor, podia tratar-se de “mais um desses tipos em busca de sucesso por meio de provocações exageradas”. A leitura da matéria despertou minha atenção e rapidamente adquiri o livro – que li com atenção e prazer, mas também com divergências importantes. Interessei-me pelo livro porque, como examinador de dissertações e teses, identifiquei-me com algo que dizia Gusmão na matéria citada: “É praticamente impossível defender um mestrado ou doutorado sem apresentar questões teóricas, cobrança dispensável e funesta”. Achei “funesta” um tanto exagerado, mas tendi a concordar em grande medida com o “dispensável”. De fato, participando há anos de bancas, já partilhei idêntico sentimento. Exemplo: um mestrando que examinei certa vez, aluno excelente e dedicado, tinha adotado como seu “marco teórico” a (para mim) impenetrável análise do discurso francesa. Metade do trabalho era um capítulo teórico para levar à conclusão, na outra metade, de que Getúlio Vargas tinha um discurso... paternalista! Na ocasião ocorreu-me uma brincadeira que expus com toda seriedade: mas como Hannah Arendt teria chegado à conclusão de que Hitler tinha um discurso totalitário sem ter lido Pêcheux?...

O livro de Gusmão adota um tom provocativo bem maior do que o meu. O que ele diz sobre autores como Habermas – que qualifica de “entediante pastor de almas” (p. 111) – e Bourdieu – que define como “o narodinick [sic] universitário” (p. 107) – beira o desrespeito. Tais diatribes dão algum suporte à suspeita de minha amiga. Digo algum porque o livro de Gusmão longe está de ser apenas um arrasa-quarteirão. Mas ele se compraz em bater com tal furor os usos e costumes vigentes na academia brasileira que a suspeita de “provocações exageradas” de certa forma se confirma. Isso dito, adianto que O Fetichismo do Conceito é um livro bem vindo pelas provocações (desta vez sem aspas) que faz, devendo ser lido e meditado nos nossos departamentos de ciências sociais com seus cacoetes exageradamente “teoricistas” – para falar como o autor, com quem concordo neste particular.