Jonatas Ferreira
Por tudo quanto foi
exposto, a linguagem é um ponto crucial de nossas preocupações teóricas.
Trata-se, antes de tudo, de uma reflexão sobre o lugar da fala diante da
emergência de uma nova geração de medicamentos psicoativos e de terapêuticas, a
estes estreitamente associados, que propõem um tratamento do mal-estar
contemporâneo em que a importância da fala é posta em questão. É preciso,
todavia, entender que essa forma de abordar o sofrimento deve ser entendida como
fortemente discursiva. Como entender essa proposição aparentemente
contraditória? Se recorrermos mais uma vez ao que aqui chamamos de tradição
trágica para interpretarmos essa dificuldade, constataremos ali um diagnóstico das
sociedades contemporâneas que indica o empobrecimento da linguagem por um certo
positivismo científico, empenhado em eliminar toda discussão semântica como um
empecilho à plena universalização de um conhecimento objetivo[1]. É
esta visão, este discurso, que prevalece hoje quando a psiquiatria busca reduzir
o sofrimento a efeitos passíveis de serem tratados de modo objetivo. É necessário
que reportemos a tendência contemporânea à medicalização, de um modo geral, e a
tendência ao consumo de antidepressivos, ansiolíticos etc., a este movimento
mais amplo que é produzido pela ciência moderna. E, assim, perguntamos: que discurso
temos diante de nós?