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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Matou a família e foi à escola? O medo de jovens como contraponto da “juvenização” do mundo


Tâmara de Oliveira – UFS/PIBID (MEC/CAPES)
Depois de morto, Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini (13 anos) virou rapidamente uma espécie de celebridade internacional macabra: “matou a família e foi à escola”. Se tivesse ido ao cinema, como o rapaz do filme de Júlio Bressane (1969), talvez não tivesse completado o massacre familiar com seu suicídio, porque, convenhamos, ver um filme costuma ser atividade bem mais vivificante do que frequentar a maioria das escolas Brasil afora.
Logo depois surgiu outra hipótese, na qual o suposto menino matador e suicida tranformava-se em vítima de armação dos mandantes do massacre. Sustentando-se em declarações de um coronel da PM, chefe da mãe assassinada, afirmando ter esta última descoberto que colegas policiais eram parte de quadrilhas de roubo a caixas eletrônicos, essa hipótese parece ter mexido imeditamente com os nervos da hierarquia da Polícia Militar: um dia depois o mesmo coronel assinou um termo na Corregedoria de sua corporação declarando não haver qualquer denúncia formalizada no batalhão que dirige (por livre e espontânea pressão?) e o Comando da PM declarou que um procedimento administrativo será instaurado para investigar as declarações supostamente “errôneas” do coronel.
E durante dois dias Marcelo voltou a ser preferencialmente o adolescente macabro, o jovem matador-suicida inspirado em vídeos games e/ou em serial killers norte-americanos, como “comprovariam” postagens suas em redes sociais e o depoimento à polícia de um amigo de escola com a mesma idade que ele. No dia 11 de agosto, todavia, entra em cena uma celebridade esquecida, o professor e médico legista alogoano que demonstrara o duplo assassinato de P. C. Farias e Suzana Marcolino, afirmando haver várias falhas e estranhezas nos procedimentos e conclusões dos peritos do caso e declarando categoricamente que Marcelo Pesseghini também foi assassinado porque a posição de seu corpo é incompatível com um suicídio.
Nesse imbróglio flutuante, desde que foi declarado pela Polícia Civil paulista como principal suspeito pela morte de seus pais, de sua avó, de sua tia- avó e de si mesmo, a imagem desse adolescente de 13 anos tem circulado pelo mundo em duas versões radicalmente opostas, algoz juvenil ou vítima inocente, ambas acionando representações sociais (Moscovici, 2004) cuja coerência se sustenta facilmente em estoques sociais de conhecimento (Berger/Luckmann) das sociedades contemporâneas em geral e/ou da brasileira em particular: o da violência juvenil (comumente articulado a representações de uma onipotência de velhas ou novas TICs veiculadoras de filmes, séries, jogos violentos e/ou da supostamente necessária redução da maioridade criminal); o da violência e/ou envolvimento crônico de nossas polícias com a corrupção e o crime.
O escritor e jornalista Carlos Heitor Cony afirmou no dia 11.08.2013, em coluna da Folha de São Paulo, que ambas as versões têm mais furos do que um queijo suiço. Do ponto de vista de uma investigação policial, concordo com ele – por enquanto. Mas gostaria de argumentar aqui que, do ponto de vista sociológico, a imagem de Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini oscila entre os dois pólos extremos de um mesmo horizonte simbólico sobre a juventude na modernidade: o do medo (“problema social”, ameaça de ruptura, desencadeamento potencial de um “pânico moral”) e o da esperança (pelas possibilidades de um futuro desejado – que o caráter transitório da juventude costuma encarnar na modernidade:
(...)A juventude, vista como categoria geracional que substitui a atual, aparece como retrato projetivo da sociedade. Nesse sentido, condensa as angústias, os medos assim como as esperanças, em relação às tendências sociais percebidas no presente e aos rumos que essas tendências imprimem para a conformação social futura.
A tematização da juventude pela ótica do “problema social” é histórica e já foi assinalada por muitos autores: a juventude só se torna objeto de atenção enquanto representa uma ameaça de ruptura com a continuidade social: ameaça para si própria ou para a sociedade. Seja porque o indivíduo jovem se desvia do seu caminho em direção à integração social — por problemas localizados no próprio indivíduo ou nas instituições encarregadas de sua socialização ou ainda por anomalia do próprio sistema social —, seja porque um grupo ou movimento juvenil propõem ou produz transformações na ordem social ou ainda porque uma geração ameaça romper com a transmissão da herança cultural. (Abramo, 1997, p. 28)

E ainda:
(...)Não é por acaso que a problematização é quase sempre então uma problematização moral: o foco real de preocupação é com a coesão moral da sociedade e com a integridade moral do indivíduo — do jovem como futuro membro da sociedade, integrado e funcional a ela. É nesse sentido também que na maior parte das vezes a problematização social da juventude é acompanhada do desencadeamento de uma espécie de “pânico moral” que condensa os medos e angústias relativos ao questionamento da ordem social como conjunto coeso de normas sociais. (Abramo, 1997 p.29)

Como algoz, a imagem de Marcelo Pesseghini nos re-apresenta (Jodelet, 2003) certas experiências sociais ameaçadoras: o da participação crescente de jovens em atividades do tráfico de drogas e a midiatização exaustiva de práticas transgressivas ou criminosas de quaisquer tipos protagonizadas por jovens. Como vítima, ele nos re-apresenta nossas experiências com a violência e o crime policiais – que nas manifestações de junho batizaram muitos das “nossas novas gerações” ruas afora, além de ter sido mais violenta ainda contra suas vítimas habituais: moradores de favelas, o pedreiro Amarildo, etc.).
No mesmo artigo já comentado aqui, o colunista da Folha diz que ambas as versões “servem para uma reflexão amarga sobre os tempos que vivemos” e que elas nos dão “motivos para duvidar dos valores da sociedade da qual fazemos parte” – exprimindo o potencial “pânico moral” que o caso Pesseghini contém. Mas, infletindo essa identificação entre imagem de algoz juvenil ou de vítima de policiais criminosos efetuada por Cony, pode-se pensar numa mediação entre ambas que seria estruturante das relações modernas entre adultos e jovens – o do controle dos jovens pelos adultos como meio de conciliação entre o medo e a esperança do futuro que a juventude representa na construção da modernidade:
Uma vez dotadas de especificidade própria, as fases da vida não se tornam apenas autônomas, umas em relação às outras. Permanecem interdependentes e mesmo hierarquizadas. Tal hierarquia constrói-se sobre a base de uma tensão, intrínseca à modernidade, entre uma orientação definida pela lógica da modernização (portanto, orientação para o futuro, através da afirmação conquistadora da renovação enquanto valor) e o fundamento normativo da ordem moderna, que afirma, ao contrário, a primazia do passado enquanto elemento de significação do futuro. Cabe ao passado, isto é à ordem social constituída, domesticar, sem destruir, os elementos de transformação e modernização inerentes à vida moderna. (Peralva, 1997, p. 18)

Ainda seguindo Peralva, para quem o controle dos jovens pelos adultos se conjuga como verbo domesticar, a história da sociologia da juventude foi marcada pelo binômio ordem social/socialização enquanto “categoria interpretativa central” (Peralva, 1997, p. 20). Na tradição funcionalista, onde a ordem social normativa seria concebida mais como um a priori do que como categoria de análise, isso desembocou na abordagem da juventude pela temática do desvio, nutrindo e nutrindo-se de representações sociais dos jovens como categoria social potencialmente resistente à ou carente de socialização, ou seja, como categoria problemática, vulnerável, amedrontadora.
Mas para essa autora, mesmo vertentes em ruptura com o funcionalismo – como a interacionista ou a classista – não fogem de um quadro analítico preso à oposição ordem/desvio. Seria apenas com a chamada corrente geracional, iniciada por K. Mannheim e retomada nos anos 1960 no bojo do engajamento político da juventude, que a sociologia entraria no domínio das representações sociais modernas em torno da esperança pelo suposto potencial inovador dos jovens: a juventude não é mais vista apenas como desviada ou vigiada “porque sua marginalidade inova e transforma” (Peralva, 1997, p. 20). Argumentando a partir de considerações do próprio arcabouço teórico geracional da sociologia de juventude, para a qual o potencial de inovação/transformação de uma nova geração depende do grau de tensão entre enteléquias (ordens de significados expressos por gerações diferentes), Peralva vai concluir que a aceleração das mudanças sociais nas últimas décadas tem dissolvido a oposição entre enteléquias e desorganizado o modelo ternário do ciclo de vida – estruturante da modernidade –, realçando os seguintes traços:
Embora nossa consciência dessas transformações seja ainda extremamente recente, já parece claro que o modelo educativo da socialização, co-fundador da ordem moderna, entrou em estado de obsolescência. Vários indícios apontam para um modo de ordenamento cultural que seria hoje, se recorrermos às categorias de Mead (1979), mais cofigurativo, no sentido de um aprendizado comum realizado pelos diferentes grupos etários face às injunções de um mundo que lhes aparece como fundamentalmente novo, do que pós-figurativo, como o foi o modelo da modernidade ocidental, pautado na transmissão da experiência passada como elemento de ordenação e domesticação do futuro, ou pré-figurativo como foi o modelo fundado nas utopias de que foi portadora a geração dos anos sessenta. (Peralva, 1997, p.23)

É nesse contexto que especialistas começam a utilizar uma noção, a de juvenização (Peralva, 1997) ou juvenilização (Rocha/Pereira, 2009) do mundo, contendo três condicionantes principais: a aceleração das mudanças sociais colocada anteriormente (com o futuro tornado presente e absorvendo o passado), a importância que adquiriram as TICs na dinâmica societal e a centralidade do consumo nas vidas contemporâneas. Para certos pesquisadores, como Rocha & Pereira (2009), analisando o que eles nomeiam de lógica cultural do consumo, com a juvenilização do mundo,
(...), a juventude passa a ser um valor agregado presente nos produtos – e absolutamente tudo que a ela se refere passa a ser, também, um produto. Os adultos já não apenas controlam, eles consomem a juventude.
Consumindo a juventude e seus estilos de vida, os pais se parecem cada vez mais com seus filhos, os avós com seus netos. Ainda que a alteridade se mantenha, já que a disputa pelo poder e pelo controle faz parte de toda dinâmica social, o que marca a relação entre as gerações já não é mais o conflito. O embate tão inspirador das forças antagônicas, que foram fundamentais para os movimentos políticos e culturais que conduziram os caminhos em décadas passadas, foi substituído pela tendência de aproximação entre as gerações. Se, antes, os adultos estabeleciam regras para a juventude, hoje ela é a regra. (Rocha/Pereira, 2009, p.100)
Para outros, como Abramo (1994, apud Peralva, 1997) e Peralva (1997), a juvenização assim inscide sobre o mundo social e sobre a sociologia da juventude:
O novo significado dos estudos sobre juventude emerge ao que parece desse conjunto de transformações. Enquanto o adulto vive ainda sob o impacto de um modelo de sociedade que se decompõe, o jovem já vive em um mundo radicalmente novo, cujas categorias de inteligibilidade ele ajuda a construir. Interrogar essas categorias permite não somente uma melhor compreensão do universo de referências de um grupo etário particular, mas também da nova sociedade transformada pela mutação. (Peralva, 1997, p. 23)
Mas é fundamental lembrar que essas mudanças em aceleração estonteante que teriam trazido a juvenização/juvenilização do mundo, não eliminaram o controle como representação conciliadora do binômio medo/esperança com que na modernidade representamos a juventude. Assim como não significam que estamos mais tolerantes em relação às idades, como afirma Peralva sustentando-se em Ghita Debert, porque na verdade o que se valoriza são estilos e valores de vida, eu acrescentaria estilos de consumo associados à juventude, não os jovens em sua concretude e diversidade. Apoiando-me em E. Rocha e C. Pereira,
[o]cupar um lugar no futuro insinua que a concepção de juventude não habita, pelo menos na perspectiva social, o presente. Como procuramos demonstrar, os jovens já não são mais crianças e nem ainda chegam a ser adultos; nessa transitoriedade, estão em eterno gerúndio, sempre iniciando, crescendo, aprendendo, concluindo. E, no gerúndio, as possibilidades de mudança de rumo são sempre abertas, permitindo desvios de percurso. Daí os perigos que representam para os adultos, que buscam segurança social a partir do controle que exercem sobre os jovens, mas daí também o fascínio, pois o jovem também é a ideia de poder levar uma vida nova ou a um futuro desejado. Assim sendo, a juventude passa a ser símbolo de um status social, ou melhor, de uma aura, uma simpatia pública, que estende o conjunto de valores presente na ideia de ser jovem para outras faixas etárias. (Rocha/Pereira, 2009, p. 98)

Um caso midiatizado como o da família de PMs massacrada mostra, por sua própria midiatização e repercussão, como uma certa representação do jovem como desviado em potencial mantém forte significação social. Ou seja, apesar de toda a chamada juvenização/juvenilização do mundo, jovens continuam sendo criminalizados muito facilmente – juristas brasileiros criticaram a rapidez com que os investigadores do caso tornaram pública a hipótese de um homicídio coletivo acompanhado de suicídio: nossas representações de medo da juventude, velhas como a modernidade, contribuíram com a facilidade da acusação quase imediata e amplamente midiatizada do adolescente.
Medo este que se exprime em representações sociais criminalizantes, reforçando o sentido securitário do tratamento da juventude – tratamento de “caso de polícia” para quem é jovem, pobre, escuro, habitante de periferia, mas que também pode ser exercido nos corpos de quem é jovem, rico ou bem remediado e mora em bairro “diferenciado, como vimos em junho na guerra entre balas de borracha/ gás lacrimogêneo contra o vinagre. Por outro lado, de um ponto de vista menos simbólico, ou seja, socioeconomicamente, os jovens, embora cada vez mais escolarizados, têm sido vítimas preferenciais do desemprego ou do trabalho precário em boa parte do mundo. Assim como, no Brasil, não só batem recordes nas estatísticas de morte violenta como têm composto um grupo crescente de jovens “nem-nem” (nem estudam, nem trabalham) – para não falar de parte de nossos jovens que se transformam em “soldados” de traficantes.
De tal sorte que a tal juvenilização do mundo não parece ser muito benéfica para os jovens de carne, osso, necessidades e aspirações desiguais e diferentes. Não é então por acaso que eles tenham protagonizado manifestações de protestos em várias partes do mundo, exprimindo sua diversidade e complexidade, mas revelando um mal-estar social generalizado e heterogêneo diante das consequências políticas, econômicas e simbólicas das aceleradas tranformações sociais das últimas décadas. Numa era de incertezas (Castel, 2009) será possível que a experiência dessas manifestações reacione a tensão entre enteléquias (Mannheim, 1990, apud Peralva, 1997) que, segundo os geracionistas, é fonte de inovação social? Esperemos e participemos, bucando mais diálogo do que tensão entre enteléquias diferentes.
O caso de Marcelo Pesseghini, entretanto, se se confirmar seu papel de algoz da família e de si mesmo, não indica razões de esperança. Pelo contrário, é caso com vocação para acionar as representações de medo da juventude que, no Brasil, articulam-se construtivamente à irracional e violenta proposta de redução da maioridade criminal. Por outro lado, se se confirmar que o massacre tem relação com uma quadrilha de roubos a caixas eletrônicos, estamos diante de mais uma expressão de que, em países como o Brasil, a violência e o crime policiais são uma das fontes das representações criminalizantes dos jovens.

REFERÊNCIAS CITADAS
ABRAMO, H. W. « Considerações sobre a tematização da juventude no Brasil”. In: Revista Brasileira de Educação. Mai/Jun/Jul/Ago 1997 N º 5 Set/Out/Nov/Dez 1997 N º 6 .
BERGER, P. & LUCKMANN, T. A construção social da realidade. Petrópolis, Editora Vozes, 1985.
CASTEL, R. La montée des incertitudes – travail, protections, statut de l’individu. Paris, Éditions du Seuil, 2009.
JODELET, D. « Répresentation sociale : phénomènes, concept et théorie. » IN : MOSCOVICI, S. (dir.). Psychologie sociale. Paris: PUF, 2003.
MOSCOVICI. S. Representações sociais. Investigações em psicologia social. Petrópolis, Editora Vozes, 2004.
PERALVA, A. « O jovem como modelo cultural. In: Revista Brasileira de Educação. Mai/Jun/Jul/Ago 1997 N º 5 Set/Out/Nov/Dez 1997 N º 6.

ROCHA, E. & PEREIRA, C. Juventude e consumo. Um estudo sobre a comunicação na cultura contemporânea. Rio de Janeiro, Mauad, 2009.

domingo, 10 de outubro de 2010

Dropes e representação social



Artur Perrusi

Jonatas olhou-me, com um olhar meio doido, e vaticinou:

_Artur, por que você não escreve dropes teóricos para o Cazzo?

Fiquei olhando meio assim clinicamente para Jonatas. Aprendi, com o tempo, que devemos encarar o alienado, manter o olho no olho, do contrário seu olhar nos submerge numa grande confusão. Posso dizer que me perdi, baixei a vista, já que fiquei confuso.

_Dropes?!
_Sim, dropes teóricos.

Por coincidência, tinha algumas balas no bolso. Mostrei-as e perguntei:

_Tipo assim?!
_Não, Artur, essas são jujubas. Mas jujubas teóricas são também interessantes.
_Jujubas ou dropes, afinal de contas?!
_Pode ser qualquer uma das duas, contanto que você volte a escrever no Cazzo, porra!

Notei que Jonatas estava se irritando com meu estado confusional. Contudo, insisti:

_Mas o que é mesmo jujuba teórica?
_Falei de dropes.
_Certo, certo – o que são “dropes teóricos”?
_Textos rápidos, Artur, reflexões pontuais, inquietações e intuições teóricas. Eu só quero que você escreva...
_É Cynthia, né?!
_Que é que tem Cynthia?
_Ela está fazendo pressão.
_Todo mundo quer que você escreva, Artur.
_E Cynthia adora chicletes. Vive com chicletes na boca. Fazer chiclete teórico é muito mais fácil, convenhamos.

Pensei em perguntar sobre chicletes teóricos; se não seriam melhores do que dropes; mas, desisti, diante do olhar enfurecido de meu amigo. Jonatas meneava a cabeça e deu um longo suspiro, embora tenha ficado mais calmo quando prometi que escreveria os “dropes teóricos”.

Contudo e todavia, não farei agora um drops teórico, apesar de todo esse preâmbulo. Cynthia pediu-me um texto sobre representação social. E ordens são ordens!

(aceitar uma ordem implica obediência. Se obedeço de bom grado, provavelmente, estou julgando que a ordem é legítima. No fundo, adapto-me a uma relação de dominação. No tamborete do socioanalista, pergunto um tanto cabisbaixo: a adaptação revela uma adesão à dominação?)

Eu me encho, jogo o tamborete na cabeça do socioanalista e começo a escrever.


quinta-feira, 6 de maio de 2010

Animus meminisse horret: um diálogo com o Refutador, um demônio de asas de pterodáctilo e ossos ocos


Uma das manifestações do Refutador...

Artur Perrusi

Num dia chuvoso, faz muito tempo, entreguei um trabalho de mestrado à prestigiosa professora Silke Weber. Tinha como tema a teoria das representações sociais. Suava frio porque, num gesto demente, arriscara demais na feitura do texto.

Não me lembro mais da avaliação silkeana. Sei que fiquei um tempinho na frente da porta de sua sala e, minutos depois, escutei gargalhadas inenarráveis. Suspirei, respirei fundo e fui recolher meus cacos.

Muito tempo depois, publiquei o troço, já recauchutado, na revista Caos, da graduação de Ciências Sociais, aqui da UFPB.

Reedito, agora, no Que Cazzo. Bora ver o que acontece. Talvez, Cynthia tenha uma síncope ou exploda a hérnia estrangulada de Jonatas. Enfim, não desejo mal a ninguém.

Lá vai: