Artur Perrusi
Jonatas olhou-me, com um olhar meio doido, e vaticinou:
_Artur, por que você não escreve dropes teóricos para o Cazzo?
Fiquei olhando meio assim clinicamente para Jonatas. Aprendi, com o tempo, que devemos encarar o alienado, manter o olho no olho, do contrário seu olhar nos submerge numa grande confusão. Posso dizer que me perdi, baixei a vista, já que fiquei confuso.
_Dropes?!
_Sim, dropes teóricos.
Por coincidência, tinha algumas balas no bolso. Mostrei-as e perguntei:
_Tipo assim?!
_Não, Artur, essas são jujubas. Mas jujubas teóricas são também interessantes.
_Jujubas ou dropes, afinal de contas?!
_Pode ser qualquer uma das duas, contanto que você volte a escrever no Cazzo, porra!
Notei que Jonatas estava se irritando com meu estado confusional. Contudo, insisti:
_Mas o que é mesmo jujuba teórica?
_Falei de dropes.
_Certo, certo – o que são “dropes teóricos”?
_Textos rápidos, Artur, reflexões pontuais, inquietações e intuições teóricas. Eu só quero que você escreva...
_É Cynthia, né?!
_Que é que tem Cynthia?
_Ela está fazendo pressão.
_Todo mundo quer que você escreva, Artur.
_E Cynthia adora chicletes. Vive com chicletes na boca. Fazer chiclete teórico é muito mais fácil, convenhamos.
Pensei em perguntar sobre chicletes teóricos; se não seriam melhores do que dropes; mas, desisti, diante do olhar enfurecido de meu amigo. Jonatas meneava a cabeça e deu um longo suspiro, embora tenha ficado mais calmo quando prometi que escreveria os “dropes teóricos”.
Contudo e todavia, não farei agora um drops teórico, apesar de todo esse preâmbulo. Cynthia pediu-me um texto sobre representação social. E ordens são ordens!
(aceitar uma ordem implica obediência. Se obedeço de bom grado, provavelmente, estou julgando que a ordem é legítima. No fundo, adapto-me a uma relação de dominação. No tamborete do socioanalista, pergunto um tanto cabisbaixo: a adaptação revela uma adesão à dominação?)
Eu me encho, jogo o tamborete na cabeça do socioanalista e começo a escrever.
Bem... er ... não farei propriamente uma digressão teórica sobre a noção de representação social. Quem quiser um maior aprofundamento, remeto ao meu livro, cujo tema principal é justamente sobre o assunto: Imagens da Loucura (1995) -- não, não é um romance de terror, embora pareça, algumas vezes. Farei, assim, observações despretensiosas, defendendo inclusive um uso pragmático da noção, já que não serei fidedigno ao uso canônico do conceito. Justifico até minha postura, pois a noção de representação social é um tanto polissêmica, apresentando vários tipos de apreensão teórica. Posso, por exemplo, flexionar o conceito a ponto de identificá-lo a noções como visões de mundo, ideologia, imagens, opiniões... Frequentemente, uso o conceito no sentido geral de representação ou de ideia, como um conteúdo concreto apreendido pelos sentidos, pela imaginação, pela memória ou pelo pensamento.
A última vez que utilizei o conceito de representação social foi quando analisava sua pertinência para o estudo de processos de identificação (no caso específico, no estudo de identidades profissionais). Inferi que tais processos implicam elaborações representacionais.
(não justificarei minha inferência. Algumas vezes, a gente está tomando uma cervejinha, e pumba!, se não descobrimos a senha do mundo, algo parecido surge, de repente, na mente da pessoa. Não discuto revelações, em suma)
A identidade envolve algum tipo de representação. Como a identidade é uma "construção social", pode-se perfeitamente imaginar que se constitui através de representações partilhadas por várias pessoas que fazem parte de um determinado grupo e, sendo partilhadas, são coletivas ou sociais; mas, essa premissa não é propriamente definidora do conceito de representação social...
O conceito de representação social possui um parentesco pronunciado com o de representação coletiva, elaborado por Durkheim. Pode-se dizer que o primeiro é o segundo... sem holismo. Além do que, com o uso e a operacionalização, o conceito de representação social teve um aprofundamento teórico sistemático. A noção durkheimiana implica, por causa de sua natureza holística, postular que a sociedade é um sujeito sui generis que produz pensamentos coletivos, cuja substância não é redutível ao pensamento individual. Exceto numa forma estenográfica, não é plausível imaginar uma sociedade que pensa ― definitivamente, quem pensa são os indivíduos, o que não impede que os conteúdos do seu pensamento sejam sociais. Portanto, irredutível ao individual seria a representação coletiva, justamente por ser social. Por que social? Ora, porque a representação significa um tipo de conhecimento do real partilhado por uma comunidade de indivíduos ― conhecimento que se constrói, assim, de forma coletiva. Contudo, parece-nos que o conceito de representação coletiva procura apreender formas sociais de representação semelhantes ao mito, isto é, procura discernir a formação de um imaginário, de formações ideativas mais estruturais, mais inseridas na constituição simbólica de uma sociedade. Não que a representação social não possa ser concebida desse modo (o estudo de Shurmans (1990) parece seguir essa direção ), mas geralmente encontram-se, no seu estudo, conteúdos mais superficiais e transitórios, muitas vezes esgotados no próprio contexto de sua formação e existência. O objetivo de Durkheim (1994) parece ter sido o de estudar modelos cognitivos de longo alcance (Goldhagen, 1997), enquanto o de Moscovici (1978), ao menos inicialmente, foi o de apreender determinadas formações ideativas, muito parecidas com a noção de "universo de opiniões" (Moliner, 1996), num determinado contexto social. Por isso, talvez, a preocupação deste último na formação de consenso em torno de determinados objetos sociais (psicanálise, doença...).
Ao extirpar o holismo da noção durkheimiana, a teoria da representação social permitiu a entrada em cena dos indivíduos socializados, portadores de experiências baseadas nas interações sociais. O foco passa a ser o indivíduo em interação com outros indivíduos a partir da rede de significações construída em torno de objetos sociais relevantes. Constrói-se, assim, um conhecimento que é eminentemente social, pois construído e partilhado por meio das interações sociais entre indivíduos. Pela representação, o indivíduo toma posição em relação a um objeto social. A tomada de posição regula, de alguma maneira, as interações que o objeto suscita ― por isso, a representação pode ser considerada como um princípio gerador de tomada de posição e, consequentemente, como reguladora e organizadora de interações sociais. Percebemos, aqui, que o controle do objeto por parte dos indivíduos é essencial à constituição da representação ― controlar a representação do objeto tem como consequência o controle do próprio objeto. Sendo relevante, o objeto faz parte do dia-a-dia dos indivíduos (experiência comum) e, por isso, fator importante para a formação do grupo. Ele é, desse modo, um problema identitário que precisa ser resolvido para o bem da comunidade. Daí a necessidade do controle, pois há sempre o perigo de que a inadequação do objeto em relação às crenças dos indivíduos torne-se uma querela identitária e uma causa de desestabilização do grupo.
Controlar o objeto significa classificá-lo, ordenando-o num sistema estável e seguro de categorias cognitivas. Os psicólogos sociais chamam essa ordenação simbólica de processo de categorização. A categorização não é processo fácil, pois os objetos sociais são polimorfos, podendo ser apreendidos por várias maneiras diferentes. Há a necessidade, para a comunicação social, de um controle da indeterminação inerente aos sentidos do objeto. Assim, reconhece-se o objeto, dando-lhe um valor que o torne pertinente à comunidade de indivíduos. Categorizar tem o sentido, com efeito, de valorizar. O objeto é uma categoria de valor e, como tal, precisa ser reconhecido por meio da representação, logo, pelo grupo. Com isso, reduz-se e se controla a complexidade do objeto, permitindo o seu reconhecimento. E, como reconhecer produz também conhecimento, ocorre uma integração do aprendizado, no qual o objeto é inserido, numa cadeia associativa com outros objetos. O conhecimento pode assim ser estendido a todos os outros objetos sociais que são manipulados pelos indivíduos do grupo, tornando-se uma orientação de conduta. Consequentemente, seguindo o fio da meada, pode-se argumentar que a representação induz a criação de regras e normas de comportamento social ― ela ordena o mundo.
(Cynthia, assim, é uma representação, pois ordena o mundo – caio no chão, após uma crise convulsiva de risos)
Mas, sendo social o objeto, ele pode ser partilhado por vários grupos diferentes, tomando sentidos diferentes e mesmo antagônicos. A formação de representações sociais tornar-se-ia, dessa forma, um conflito simbólico entre vários grupos sociais, seja na luta pelo monopólio representacional do objeto, seja na procura de uma legitimidade social para a apropriação simbólica do mesmo. Em vista disso, no estudo das representações sociais, é importante a percepção do que está em jogo na emergência da representação ou, deslocando a discussão para o problema da identidade, é necessário sempre revelar os problemas de identificação que estão embutidos na formação representacional. Subentende-se aqui que o grupo organiza-se em função de objetivos individuais ― afinal, o grupo é formado por indivíduos ― diretamente relacionados ao objeto da representação, justamente por possuir com este uma relação umbilical. Ao relacionar objetivos individuais com objetos sociais, a representação social faz a ponte psicossocial entre a esfera individual e a social. A centralidade do objeto em relação à formação da representação social é estrutural a tal ponto que, se um determinado grupo possui uma relação apenas conjuntural com um determinado objeto, provavelmente não será capaz de produzir representações sociais a respeito do mesmo. Não tendo importância identitária, o objeto não sofrerá interpelações simbólicas por parte dos indivíduos que possam estruturar representações sociais. Por isso, a representação social cumpre uma função na construção identitária e na reprodução da coesão social ― fato este, inclusive, bastante enfatizado por Durkheim, quando pensava a representação coletiva como uma espécie de "cimento social". Cada indivíduo, portanto, define sua identidade em função das representações do grupo, reforçando a afirmação desse grupo enquanto entidade social. Contribuindo na formação de identidades individuais, as representações sociais contribuem para a coesão dos grupos sociais.
Por tudo isso, a representação social recobre três campos: a) campo do conhecimento, pois produz um saber prático que tem, lembrando Durkheim, um caráter necessário, portanto, nessa acepção, "verdadeiro"; b) campo do valor, pois as representações ordenam moralmente o mundo, estando seu lado moral indissociável do seu lado cognitivo; c) campo da ação, pois a representação orienta a conduta, podendo ser percebida como um instrumento de ação. Recobrindo assim a cognição, a valoração e a ação, até por causa do caráter amplo que possui esse recobrimento, a representação social apresenta cinco características principais: a) objetal, porque sempre representação de um objeto; b) imagética e ideativa, possuindo a propriedade de tornar permutável o sensível e a idéia, a percepção e o conceito; c) um caráter simbólico e significante; d) um caráter construtivo; e) um caráter autônomo e criativo e, enfim, f) um caráter social (Jodelet, 1986: 478). Pode-se deduzir dessas cinco características uma dupla articulação lógica: uma lógica cognitiva (as três primeiras características) e uma social (as três últimas) -- nem sempre há simetria entre as duas lógicas, pois se requer uma estabilidade permanente entre o indivíduo e o grupo, entre a identidade individual e as crenças partilhadas pelo grupo, o que muitas vezes não acontece.
Diante dessa complexidade, geralmente o pesquisador toma dois caminhos: ou analisa o processo de formação das representações ou estuda o resultado desse mesmo processo: as representações já estabelecidas. Inclusive, essas duas posturas levam a duas atitudes de pesquisa: ou se tenta apreender os processos pelos quais as representações foram produzidas ou se faz uma cartografia de representações já estabelecidas num determinado grupo. Tais posturas e atitudes precisam, outrossim, respeitar a seguinte intuição: existe uma pluralidade de processos e de mecanismos que aparecem na tomada de posição de um indivíduo. Inclusive, sua inserção num determinado campo social pode determinar a natureza da sua tomada de posição, isto é, seus princípios organizadores diferem segundo o contexto social ― nesse sentido, percebemos a afinidade conceitual entre representação social e formas identitárias.
Resumindo:
haverá formação de representações quando, por razões estruturais ou conjunturais, um grupo de indivíduos confrontar-se com um objeto polimorfo, cuja necessidade de controlá-lo torna-se uma questão de identidade e de coesão social. Quando o controle desse objeto constitui um desafio para diversos grupos sociais ou segmentos de um grupo mais amplo. Quando um grupo não está submetido a uma instância de regulação e de controle definindo um sistema ortodoxo em relação ao objeto (Moliner, 1996: 48) .
Pois é...
Referências
- DURKHEIM, E. Les formes élémentaires de la vie religieuse. 3º edição, Paris: PUF/Quadrige, 1994.
- GOLDHAGEN, Daniel Jonah. Os carrascos voluntários de Hitler: o povo alemão e o holocausto. São Paulo: Companhia das Letras, 1997
- JODELET, Denise. La representación social: fenómenos, concepto y teoria. In: - MOSCOVICI, S. Psicologia Social. p.474, Buenos Aires: Paidos, 1986.
- MOLINER, Pascal. Images et représentations sociales: de la théorie dês représentations à l'étude des images sociales. Grenoble: PUG, 1996
- MOSCOVICI, Serge. A Representação Social da Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
- PERRUSI, Artur. Imagens da Loucura: representação social da doença mental na psiquiatria. São Paulo: Cortez, 1995.
- SCHURMANS, Marie-Noëlle. Maladie Mentale et Sens Commun. Paris: PUF, 1998
26 comentários:
E eu nem sabia que estava com essa bola toda.
Vc manda!
Bem, fiz o que ordenou, um post sobre representação social, etc e tal. Futuramente, farei tb dropes teóricos ou jujubas, que são mais simpáticas e gostosas, convenhamos.
Dr. Simão Bacamarte, quer dizer, General.
Com que então os dropes teóricos são ideia minha... Lembrou-me Ariano, que de vez em quando descobre uma piada que lhe atribuem e que ele não conhecia. Ele diz que adota tantas quantas sejam boas. Do mesmo modo, ganharei fama por sua Fantástica Fábrica de Caramelos. Manda bala. Abraço, Jonatas
Porque não tem uma foto dos donos do blog?
A Bela e as Feras? Não, não suportaria essa comparação. O meio acadêmico impõe limites.
Car@ Anônim@,
Por puro respeito aos nossos leitores. Somos todos incrivelmente feios. Além disso, achamos que essa coisa de corpo não tem nada a ver e estamos treinando para virar puro espírito. Por enquanto, Artur é quem está mais avançado: algumas vezes ele incorpora um espírito demoníaco chamado Refutador; outras, incorpora o espírito de porco. Mas, no fundo, no fundo, é uma boa alma.
Arture, amore, nem te agradeci pelo post. Valeu mesmo. E aproveitando sua boa vontade: para uma monografia de final de curso sobre representações sociais do aborto, você acha adequado o uso de grupos focais ou seria melhor simplesmente algumas entrevistas em profundidade?
O que é isso professora! Com todo respeito, uma foto da senhorita deixaria o "Que Cazzo é esse!" mais bonito. Sem dúvida. Quanto aos rapazes, creio que opiniões femininas seriam mais... apropriadas. Tou brincando. Ao contrário da pessoa que postou a questão, creio que a decisão de colocar - ou não - fotos é bem pessoal e envolve muitas razões a se considerar. Mas, penso que umas caricaturas ficariam engraçadinhas. É pena que eu não desenhe tão bem quanto gostaria.
Caro Renan,
Obrigada pela gentileza, mas, brincadeiras à parte, eu imagino que a pergunta do anônimo tenha mais a ver com a vontade de atribuir um rosto aos nossos escritos.
Nós simplesmente não temos uma foto de nós três, nem nunca pensamos sobre o assunto, nem sei se isso é realmente importante. A ideia da caricatura pode ser divertida, mas, ai... que trabalho! E, eu sei, eu sei, o Cazzo anda meio feioso, mas pelo menos está mais legível. Talvez esteja na hora de profissionalizarmos mais isso aqui e prometo que vamos pensar no assunto.
E agora uma pergunta de interesse sociológico. Fora a preocupação evidente em demonstrar respeito, o que faz você se referir a uma mulher como "senhorita"?
Quanto à minha opção de não colocar foto minha no blog é por pura modéstia - diante do claro favoritismo que o Pai Celestial (essa campanha presidencial ainda há de me matar) teve comigo quando me comparo com Artur. Jonatas
Posso colocar a foto de Brad Pitt? É que somos parecidos -- a altura é a mesma. Inclusive, meu apelido na UFPB é Brad Perrusi ou Artur Pitt, como queiram.
Sociologia de comer? idéia magnífica. A Emilía(aquela do Monteiro Lobato) uma vez inventou livros pães . Mas, sem dúvida, drops, balas e jujubas são muuuito mais interessantes...E como diria Guimarães ( o Rosa): Pão ou pães é questão de..." blog de ciências socias.
retribuindo a visita e igualmente satisfeita Jonatas
Ficamos felizes também de ver você por aqui, Verônica - eu, Cynthia e Benjamin Button. Ainda mais citando Guimarães Rosa de quem gosto tanto... Abraço, Jonatas
Cara Cynthia, entendo 'senhorita' como tratamento respeitoso a mulher solteira.
Caro Renan,
Sem desconsiderar sua abordagem extremamente gentil, me permita convidá-lo a uma reflexão (desculpe, mas é vício de profissão): não lhe parece estranho que o status de uma mulher seja conferido pela relação que ela mantém com um homem, e não pelo fato de ser dona de si? É o que aquela senhora, Simone de Beauvoir, chamava de "o segundo sexo", aquele que é definido a partir de um sexo supostamente neutro e universal e que se manifesta na nossa linguagem cotidiana por um termo que não permite inflexão (senhor).
Ultimamente tem acontecido algo curioso entre meus alunos. Diversas vezes eles têm se referido a mim em sala de aula como "a senhora" e, imediatamente, se corrigem, constrangidos - "opa, desculpe! A senhora, não!". Como sempre aconteceu em situações em que não cabia interromper o pensamento para questionar isso, deixei pra lá.
Mas confesso que tenho ficado com uma pulga atrás da orelha. Acho que, em parte, existe uma certa dúvida em relação ao grau de formalidade apropriado para uma sala de aula, mas, em parte, me parece que a questão é outra: é como se o "senhora" fosse reservado a mulheres "velhas", sendo, portanto, ofensivo. Não é a dúvida, propriamente, que me surpreende - pois imagino que alguns alunos dos meus colegas do sexo masculino devem passar pelas mesmas dúvidas em relação ao tratamento mais ou menos formal - mas o constrangimento que se segue ao uso do "senhora". Parece-me que a velhice, para uma mulher, é algo constrangedor.
Pessoalmente, exceto em relações em que eu ache importante manter uma certa distância profissional (especialmente diante da pouca profissionalização dos nossos serviços), prefiro ser tratada por você. Mas acho curiosa essa resistência ao uso formal do "senhora" pelos significados implícitos que ele carrega.
Talvez por essa razão as pessoas de língua inglesa tenham abolido a distinção entre "Mrs." (para mulheres casadas) e "Miss" (para mulheres solteiras) e adotado o neutro "Ms." - independente de geração. Não lhe parece mais simpático?
Abçs
Cara Cynthia,
Pessoalmente também prefiro o 'você'. As pessoas esquecem que esse pronome de tratamento vem de 'vossa mercê', que era utilizado quando a pessoa não tinha lá essa intimidade para tratar o interlocutor como 'tu'. Enfim, só para dizer que o medo de parecer mal educado já foi compensado com o 'avô' de 'você', mais ou menos da mesma forma que usei o 'senhorita' em vez do ‘você’.
Hoje parece que formas como ‘senhor’ e ‘senhorita’ soam velhas. Talvez pelo fato de não sermos formais, e até gosto disto. Por outro lado - e para mostrar que não só lá um sujeito muito seguro quanto a essas questões, em inglês – língua utilizada no teu exemplo - gosto de ouvir ‘Sir’ e ‘Madam’. Soa velho, né? Mas acho bonitinho.rs
Mas, de vez em quando gosto de quando as palavras dizem mais. E então poderia utilizar 'senhor', senhorita', também para marcar o ‘marital status’ das pessoas. Mas penso que isso é mais adequado para se narrar, falar sobre alguém e quando o tal ‘status’ importa para o assunto em questão.
Ah! Um álibi, ainda que frágil. Tratei os professores como 'rapazes', enquanto poderia ter usado 'senhores'. Confesso que pensei ligeiramente sobre isso enquanto escrevia e, ainda que não soubesse da vida deles, imaginei que fossem solteiros. Como mais um dado, registro que também tenho por eles grande respeito. A fragilidade do meu álibi vem do fato de que, após abrir o Houaiss como quem apela para um advogado, li - decepcionado: “Rapaz: Homem adulto, mas ainda jovem". É. O Houaiss parece trazer as diferenças de gênero que você pretende evidenciar. E eu, inocente, imaginando dispensar a todos um tratamento igualitário. Mas, como assim? Na minha cabeça o fiz. O dicionário é que não condiz com meu esquema de pensamento não oficial! Sim, minha consciência não pesará em razão daquele dicionário traidor.
Por fim, informo que costumo resolver tudo isso perguntando como o interlocutor prefere ser chamado. Esta é mesma estratégia adotada para casos em que não se sabe a pronúncia correta do nome do interlocutor, conforme a etiqueta. Logicamente, por conta do tipo de contato poupei vocês da pergunta. E a reposta acabou incluindo esse conjunto de normas, que pelo visto vai render ainda mais análise sociológica.
Um abraço,
"O dicionário é que não condiz com meu esquema de pensamento não oficial! Sim, minha consciência não pesará em razão daquele dicionário traidor."
Haha! Então, tá.
Muito apropriado para um texto sobre representações sociais. Vou lhe poupar do discurso - embora não resista a insistir que a diferença entre o tratamento formal para homens e mulheres é que o masculino é definido por ele mesmo. Não existe "senhorito", existe?
E, Renan, na boa... "senhorita" é o fim da picada! Pior do que isso, só o incrivelmente paternalista e condescendente "minha filha"... Pensando bem, tem pior: "filhinha". Dá vontade de dar um sopapo na fuça do infeliz que me chama assim.
Abçs
Que conversa surrealista do cão! Jonatas
Jonatas, meu filho, você está atrapalhando minhas reflexões sociológicas. Olha a censura!
Te Deum laudamus: te Dominum confitemur.Te æternum Patrem omnis terra veneratur...
Jonatas
"Tu Patris sempiternus es Filius, Tu, ad liberandum suscepturus hominem, non horruisti Virginis uterum."
Artur é casado, eu digo logo...
Bem lembrado, Izabella. Portanto, só quem pode chamar ele por apelidos carinhosos é Enaide e as amigas de muuuuuuuito tempo. Sorry, meninas. Sorry, Izabella.
;)
Só não podem me chamar de Bubu, pois é um apelido sagrado de mãe...
Valei-me, Santa Jocasta!
Cynthia, sorry para Renan que agora terá que mudar o pronome de tratamento que ele usa para Artur :b
Haha! Na mosca, Izabella.
Postar um comentário