terça-feira, 25 de setembro de 2007

Marx no País da Piada Pronta ou: de Onde vêm as Hipóteses?



Tomo emprestado ao humorista da Folha de S. Paulo, o Macaco Simão, a expressão que ele inventou para se referir ao Brasil: o “país da piada pronta”. E o que isso tem a ver com Marx? Já explico.

Pode-se dizer que há dois Marx. De um lado, o inspirador da “ditadura do proletariado”. Este, por causa do fracasso que foi a experiência socialista, faleceu. Mas há um outro Marx, o autor de um instrumental sociológico para se estudar as sociedades capitalistas. Esse Marx entrou na UTI em boa parte do mundo acadêmico, mas não exalou o último suspiro. De vez em quando, tem uma recuperação. A minha hipótese é a de que, aqui pelo Brasil, ainda tem muito futuro pela frente.

Pensador do século XIX, Marx foi contemporâneo da revolução industrial na Inglaterra vitoriana, onde crianças de 12 anos chegavam a trabalhar 14 horas por dia em sinistras fábricas e no fundo de minas de carvão. É a realidade retratada em romances como o Oliver Twist de Charles Dickens. Pois bem. Ao longo dos séculos XIX e XX, essa realidade foi mitigada nos países capitalistas centrais por reformas que frearam a voracidade do capital e puseram determinados bens ao abrigo da pura exploração econômica. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a saúde e a educação, que se tornaram, pelo menos no que têm de básico, serviços públicos assegurados pelo Estado ao conjunto da população. Já aqui...

Tranqüilize-se o enfastiado leitor domingueiro. Não vou falar das indecentes filas do SUS ou das escolas públicas para onde nem os militantes de esquerda mandam seus filhos. Tudo isso é óbvio e batido. Quero falar de outro fenômeno: a escancarada mercantilização da saúde e da educação para quem pode pagar por esses serviços no Brasil. É aqui onde entra o Marx sociólogo.

Esse Marx ressuscitou na minha frente um dia desses, enquanto eu olhava um out-door e tive o que os sociólogos chamam de insight! Era um grupo de jovens alegres e remexendo-se como se estivessem dançando, não faltando uma gostosinha com os braços estendidos para o público e as mãozinhas dobradas para dentro como se estivesse chamando. Lembram aquele comercial da Caixa ─ “Vem pra Caixa você também”? Pois a moça era o retrato da exclamação final: “Vem!” Parecia a propaganda de um show dessa sociedade de festa permanente em que nos tornamos, menos o comercial de uma instituição de ensino superior. Pois era!

O insight virou hipótese. Ou melhor, remeteu-me a uma hipótese de Marx sobre o processo geral de mercantilização que se verifica nas sociedades capitalistas, onde “todas as atividades até então consideradas dignas de veneração e respeito” são despojadas de sua “auréola”, como está escrito no Manifesto Comunista. Relembrando uma bela expressão que o escritor Marshall Berman usou como título de um livro famoso, Tudo que é sólido desmancha no ar. Com a hipótese na cabeça, comecei a olhar ao redor.

Foi quando notei um segundo out-door, onde havia também um bando de pessoas felizes. Mas não saltitavam, não eram jovens e estavam vestidos com uma espécie de bata, tendo na cabeça uma espécie de touca. Parecia um time de padeiros fazendo um comercial de macarrão. Mas a bata não era branca, era esverdeada. Foi só chegando perto que notei que era um grupo de médicos fazendo propaganda de um hospital!

Aí não parei mais. Comecei a observar comercias de televisão vendendo saúde e educação, bens que, noutras terras, estão protegidos da fantasia despudorada do mundo da publicidade. Uma faculdade, para tirar “clientes” dos concorrentes, anuncia a gratuidade na inscrição ao vestibular para alunos de outras escolas. Num hospital, um casal dá entrada sorrindo, como se estivesse se hospedando num hotel em Fernando de Noronha... E por aí vai.

E foi assim que, de pérola em pérola, cheguei a uma fórmula similar à do Macaco Simão: o Brasil é o país do marxismo pronto!


Luciano Oliveira (Professor do Departamento de Ciências Sociais da UFPE)

7 comentários:

Lucas disse...

É realmente triste...

Ótimo texto, professor. Muito obrigado.

Esperamos mais contribuições.

Anônimo disse...

Professor Luciano:

Ótimo "insight"! De fato, é inevitável a relação entre a venda publicitária da educação e da saúde - serviços tão fundamentais ao homem - através de tão frívolas imagens e o despojamento de todo resquício de respeito e/veneração às instituições e costumes tradicionais trazido pela burguesia capitalista - e tão bem descrita por Marx no Manifesto.

No entanto, vemos também e mais uma vez, como é complicada para a perspectiva marxista a apreciação da publicidade - ou desta, digamos, representação simbólica das relações de produções. O que pode passar despercebido é como aquele tipo de apelo é percebido DE FATO! Não acredito que o sentimento de indignação frente à frivolidade dedicada à imagem da prestação de serviços médico e educacional seja exclusiva de pessoas como nós, que temos o privilégio de contar com uma boa educação acadêmica. Daí porque a análise da produção publicitária, assim como a de toda avalanche "simbólica" de desde o fim dos 60, é também tão cara ao marxismo...

Por fim, uma publicidade mais "sisuda" ou discreta de uma faculdade ou mesmo universidade, por exemplo, não garante que os futuros membros do corpo discente não venham a tratar a instituição e a sua educação com grande descaso e inacreditáveis doses de estupidez. Acho que bem sabemos disso...

Enfim, não sei se me fiz entender. Mas, é por aí.

Todo meu respeito e admiração. Abraço!

Mariana Trajano
PPGS - UFPE

Unknown disse...

Caro amigo Luciano Oliveira.

Nos EUA a comercialização da medicina e da educação é muito mais intensamente mercadológica do que aqui-em-nós.

Nós temos uma tendência de demonizar a nossa mídia, que aqui haveria muito mais promiscuidade do que na mídia estrangeira e em especial na publicidade. Vemos anúncios estrangeiros com um personagem tendo ereção e elevando o New Zaitug. Jornal é um meio responsável, sério e sisudo, não?

Depende da demanda do público consumidor de um jornal, de um serviço médico e de uma escola. Tem pesquisas em que os alunos universitários apresentam que desejam em primeiro lugar que um professor seja divertido e em nono lugar que tenha conhecimento da matéria que leciona.

A demanda de alguns segmentos de alunos é por uma educação "divertida". Você dá entender que deveria haver uma publicidade que enaltecesse elevados valores para atrair consumidores, digo alunos, para uma faculdade, talvez valores marxista. Como seria? Alunos fazendo Extensão Obreira numa pobre favela? Aluno com cara de sono e feliz, atrás de um computador, anunciando que ganhou um prêmio internacional? Ou afirmando que em cada disciplina lêem e resenham um livro por semana?

Parece que "nossos" alunos não valorizariam estes valores, não? Logo o publicitário procura atender a identidade do seu público alvo. Sei que um marxista poderá dizer que a publicidade deveria educar as massas. Como aqueles anúncios educativos da "cortina de ferro", o que eu mais gosto é um chinês da guerra da Coréia: "se você não pode matar uma americano, mate uma barata".

Edgar Morin compararia a publicidade capitalista a uma sedutora "pin up" e a comunista-marxista a uma castradora governanta. Lendo as cartas entre Marx e Engels não consigo perceber Marx endossando persecução ou permissividade... Mas...

Tive um sonho em que num dia de intensa chuva recifense, eu acompanhava meu amigo Luciano pelas ruas inundadas para comprar pão para fazer um sanduichada a ser devorada por uma turba de amigos famintos. Ocorre um clarão azul esverdeado e Marx, sim o barbudo, é abduzido para dentro do carro. Ouvindo nossa conversa sobre out-doors, Marx não demonstra um espanto marxista, nem repete a sua frase poética: poxa, tudo que era sólido se dasmanchou no ar.

Ele fica é exultante e autoritariamente exige que Luciano se cale. E como se visse um dinossauro no Jurasiky parque exclama, a subsunção do homem a mercadoria ocorreu mais brilhantemente e universalmente do que minha teoria previa. Até na educação e na saúde pública... Magnífico! Avançamos para a superação dialética do capitalismo ao socialismo. Que estupendos out doors. Ah! Desculpe camarada Luciano, o que é mesmo que você dizia? Zsss zss zsss

Creio que Marx não se espantaria com as publicidades, ele em certa medida as previu. Adoro você meu amigo Luciano por que ainda se indigna e não é marxista...

Dirceu Tavares ex-marxista-boy

Unknown disse...

Caro amigo Luciano Oliveira.

Nos EUA a comercialização da medicina e da educação é muito mais intensamente mercadológica do que aqui-em-nós.

Nós temos uma tendência de demonizar a nossa mídia, que aqui haveria muito mais promiscuidade do que na mídia estrangeira e em especial na publicidade. Vemos anúncios estrangeiros com um personagem tendo ereção e elevando o New Zaitug. Jornal é um meio responsável, sério e sisudo, não?

Depende da demanda do público consumidor de um jornal, de um serviço médico e de uma escola. Tem pesquisas em que os alunos universitários apresentam que desejam em primeiro lugar que um professor seja divertido e em nono lugar que tenha conhecimento da matéria que leciona.

A demanda de alguns segmentos de alunos é por uma educação "divertida". Você dá entender que deveria haver uma publicidade que enaltecesse elevados valores para atrair consumidores, digo alunos, para uma faculdade, talvez valores marxista. Como seria? Alunos fazendo Extensão Obreira numa pobre favela? Aluno com cara de sono e feliz, atrás de um computador, anunciando que ganhou um prêmio internacional? Ou afirmando que em cada disciplina lêem e resenham um livro por semana?

Parece que "nossos" alunos não valorizariam estes valores, não? Logo o publicitário procura atender a identidade do seu público alvo. Sei que um marxista poderá dizer que a publicidade deveria educar as massas. Como aqueles anúncios educativos da "cortina de ferro", o que eu mais gosto é um chinês da guerra da Coréia: "se você não pode matar uma americano, mate uma barata".

Edgar Morin compararia a publicidade capitalista a uma sedutora "pin up" e a comunista-marxista a uma castradora governanta. Lendo as cartas entre Marx e Engels não consigo perceber Marx endossando persecução ou permissividade... Mas...

Tive um sonho em que num dia de intensa chuva recifense, eu acompanhava meu amigo Luciano pelas ruas inundadas para comprar pão para fazer um sanduichada a ser devorada por uma turba de amigos famintos. Ocorre um clarão azul esverdeado e Marx, sim o barbudo, é abduzido para dentro do carro. Ouvindo nossa conversa sobre out-doors, Marx não demonstra um espanto marxista, nem repete a sua frase poética: poxa, tudo que era sólido se dasmanchou no ar.

Ele fica é exultante e autoritariamente exige que Luciano se cale. E como se visse um dinossauro no Jurasiky parque exclama, a subsunção do homem a mercadoria ocorreu mais brilhantemente e universalmente do que minha teoria previa. Até na educação e na saúde pública... Magnífico! Avançamos para a superação dialética do capitalismo ao socialismo. Que estupendos out doors. Ah! Desculpe camarada Luciano, o que é mesmo que você dizia? Zsss zss zsss

Creio que Marx não se espantaria com as publicidades, ele em certa medida as previu. Adoro você meu amigo Luciano por que ainda se indigna e não é marxista...

Unknown disse...

Caro amigo Luciano Oliveira.

Nos EUA a comercialização da medicina e da educação é muito mais intensamente mercadológica do que aqui-em-nós.

Nós temos uma tendência de demonizar a nossa mídia, que aqui haveria muito mais promiscuidade do que na mídia estrangeira e em especial na publicidade. Vemos anúncios estrangeiros com um personagem tendo ereção e elevando o New Zaitug. Jornal é um meio responsável, sério e sisudo, não?

Depende da demanda do público consumidor de um jornal, de um serviço médico e de uma escola. Tem pesquisas em que os alunos universitários apresentam que desejam em primeiro lugar que um professor seja divertido e em nono lugar que tenha conhecimento da matéria que leciona.

A demanda de alguns segmentos de alunos é por uma educação "divertida". Você dá entender que deveria haver uma publicidade que enaltecesse elevados valores para atrair consumidores, digo alunos, para uma faculdade, talvez valores marxista. Como seria? Alunos fazendo Extensão Obreira numa pobre favela? Aluno com cara de sono e feliz, atrás de um computador, anunciando que ganhou um prêmio internacional? Ou afirmando que em cada disciplina lêem e resenham um livro por semana?

Parece que "nossos" alunos não valorizariam estes valores, não? Logo o publicitário procura atender a identidade do seu público alvo. Sei que um marxista poderá dizer que a publicidade deveria educar as massas. Como aqueles anúncios educativos da "cortina de ferro", o que eu mais gosto é um chinês da guerra da Coréia: "se você não pode matar uma americano, mate uma barata".

Edgar Morin compararia a publicidade capitalista a uma sedutora "pin up" e a comunista-marxista a uma castradora governanta. Lendo as cartas entre Marx e Engels não consigo perceber Marx endossando persecução ou permissividade... Mas...

Tive um sonho em que num dia de intensa chuva recifense, eu acompanhava meu amigo Luciano pelas ruas inundadas para comprar pão para fazer um sanduichada a ser devorada por uma turba de amigos famintos. Ocorre um clarão azul esverdeado e Marx, sim o barbudo, é abduzido para dentro do carro. Ouvindo nossa conversa sobre out-doors, Marx não demonstra um espanto marxista, nem repete a sua frase poética: poxa, tudo que era sólido se dasmanchou no ar.

Ele fica é exultante e autoritariamente exige que Luciano se cale. E como se visse um dinossauro no Jurasiky parque exclama, a subsunção do homem a mercadoria ocorreu mais brilhantemente e universalmente do que minha teoria previa. Até na educação e na saúde pública... Magnífico! Avançamos para a superação dialética do capitalismo ao socialismo. Que estupendos out doors. Ah! Desculpe camarada Luciano, o que é mesmo que você dizia? Zsss zss zsss

Creio que Marx não se espantaria com as publicidades, ele em certa medida as previu. Adoro você meu amigo Luciano por que ainda se indigna e não é marxista...

Unknown disse...

Caro amigo Luciano Oliveira.

Nos EUA a comercialização da medicina e da educação é muito mais intensamente mercadológica do que aqui-em-nós.

Nós temos uma tendência de demonizar a nossa mídia, que aqui haveria muito mais promiscuidade do que na mídia estrangeira e em especial na publicidade. Vemos anúncios estrangeiros com um personagem tendo ereção e elevando o New Zaitug. Jornal é um meio responsável, sério e sisudo, não?

Depende da demanda do público consumidor de um jornal, de um serviço médico e de uma escola. Tem pesquisas em que os alunos universitários apresentam que desejam em primeiro lugar que um professor seja divertido e em nono lugar que tenha conhecimento da matéria que leciona.

A demanda de alguns segmentos de alunos é por uma educação "divertida". Você dá entender que deveria haver uma publicidade que enaltecesse elevados valores para atrair consumidores, digo alunos, para uma faculdade, talvez valores marxista. Como seria? Alunos fazendo Extensão Obreira numa pobre favela? Aluno com cara de sono e feliz, atrás de um computador, anunciando que ganhou um prêmio internacional? Ou afirmando que em cada disciplina lêem e resenham um livro por semana?

Parece que "nossos" alunos não valorizariam estes valores, não? Logo o publicitário procura atender a identidade do seu público alvo. Sei que um marxista poderá dizer que a publicidade deveria educar as massas. Como aqueles anúncios educativos da "cortina de ferro", o que eu mais gosto é um chinês da guerra da Coréia: "se você não pode matar uma americano, mate uma barata".

Edgar Morin compararia a publicidade capitalista a uma sedutora "pin up" e a comunista-marxista a uma castradora governanta. Lendo as cartas entre Marx e Engels não consigo perceber Marx endossando persecução ou permissividade... Mas...

Tive um sonho em que num dia de intensa chuva recifense, eu acompanhava meu amigo Luciano pelas ruas inundadas para comprar pão para fazer um sanduichada a ser devorada por uma turba de amigos famintos. Ocorre um clarão azul esverdeado e Marx, sim o barbudo, é abduzido para dentro do carro. Ouvindo nossa conversa sobre out-doors, Marx não demonstra um espanto marxista, nem repete a sua frase poética: poxa, tudo que era sólido se dasmanchou no ar.

Ele fica é exultante e autoritariamente exige que Luciano se cale. E como se visse um dinossauro no Jurasiky parque exclama, a subsunção do homem a mercadoria ocorreu mais brilhantemente e universalmente do que minha teoria previa. Até na educação e na saúde pública... Magnífico! Avançamos para a superação dialética do capitalismo ao socialismo. Que estupendos out doors. Ah! Desculpe camarada Luciano, o que é mesmo que você dizia? Zsss zss zsss

Creio que Marx não se espantaria com as publicidades, ele em certa medida as previu. Adoro você meu amigo Luciano por que ainda se indigna e não é marxista...

Anônimo disse...

Faz hoje (mais) um ano!

Porquê tantas repetições... e nenhum "follow up"? Foi o fim do mundo?