quinta-feira, 13 de setembro de 2007

O que é Metodologia (I)

Metodologia pode ser definido como a avaliação crítica de todas as etapas envolvidas na produção do conhecimento científico. Deve ser diferenciada dos métodos e técnicas de pesquisa, que são uma espécie de tecnologia da pesquisa, um conjunto de normas, procedimentos, técnicas e instrumentos a serem utilizados na coleta e análise dos dados. Seria possível uma reflexão metodológica sobre métodos e técnicas de pesquisa? Será que aí as duas atividades se confundiriam? A resposta é “não”.

Uma analogia pode ser útil aqui. Podemos pensar nos métodos e técnicas como uma espécie de engenharia da pesquisa, pois é a partir deles que determinamos como devemos proceder, que tipo de “material” utilizar etc. Neste sentido, métodos e técnicas têm um valor normativo, isto é, dizem respeito ao “dever ser”: devemos optar pela enquete em vez da observação participante se queremos atingir um alto grau de generalidade em nossa pesquisa; pelo uso de documentos históricos em vez da observação direta se os sujeitos da nossa pesquisa já morreram etc.Já a metodologia não tem um valor normativo, mas descritivo: ela se refere ao que os pesquisadores realmente fazem (ou fizeram) em suas pesquisas, não àquilo que deveriam fazer. Claro que isso tem um impacto normativo na medida em que as reflexões metodológicas acabam por guiar a prática de pesquisa, mas não da mesma forma que os métodos e técnicas.

Poderíamos pensar nos metodólogos não como engenheiros, mas como “trabalhadores dos subterrâneos” da produção do conhecimento. Ao refletir sobre, por ex., a opção de um pesquisador pela enquete, o que interessa à metodologia é o que está por trás da importância atribuída à generalização: que concepção de sociedade (ou que ontologia social) possibilita a busca pela generalização? Que concepção de conhecimento (ou que epistemologia) está em jogo quando se tem preocupações desse tipo? Que tipos de teoria social informam uma análise de dados generalizáveis? Como essas questões sugerem, a metodologia tem relações com a ontologia, com a epistemologia e com a teoria.


Cynthia Hamlin

4 comentários:

Anônimo disse...

Hummm....
Vale leitora de psicologia??
ha ha
Acompanharei, Cy.
Bsos

frassinetts disse...

muito interessante... fico aliviada após saber do que se trata a disciplina "metodologia científica", pois antes achei que ela se assemelhasse a "metodologia do trabalho científico", que, aproveitando o meio não acadêmico, posso dizer que é um saco (apesar de saber que é necessária)...! aquelas regras infinitas da abnt, etc.
Mas o estudo dos métodos de pesquisa científica me parece ser muito mais agradável! uma dúvida: os métodos a serem estudados serão sobre pesquisa de campo em geral, não havendo distinção da sociologia
x antropologia?

Le Cazzo disse...

Meninas,

Vale leitoras (e leitores) de psicologia, de sociologia, de antropologia, política, história, filosofia e qualquer coisa associada às ciências sociais. Isso porque estaremos lidando com questões relativas ao conhecimento científico.

E, não, Paula, metodologia das ciências sociais não tem uma relação direta com metodologia do trabalho científico. Enquanto esta última lida com as normas ditadas pela academia sobre como produzir um trabalho acadêmico (como fazer citações, referências bibliográficas etc), a metodologia das ciências sociais procura investigar quais as diferentes concepções de ciência de diferentes tradições (e de diferentes autores), as relações entre ciências sociais e ciências naturais, como as teorias são construídas a partir dessas concepções, se as ciências sociais devem se preocupar em explicar (causalmente) ou em compreender (introspectivamente) os fenômenos sociais e por aí vai.

Nossa ênfase será nos autores clássicos da sociologia: Marx, Weber e Durkheim (Marx era sociólogo?? E Weber?), mas o tipo de questão que estaremos investigando é geral o bastante para se aplicar às diferentes disciplinas das ciências sociais.

Cynthia

Le Cazzo disse...

Ah! Inicialmente, faremos algumas leituras de cunho mais filosófico, relativas às bases do pensamento científico (aquilo que chamamos, em Introdução, de Revolução Científica). Dentre eles, Descartes, Locke e Kant. E também alguns filósofos da ciência, como Popper e Kuhn.