segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Weber e os Valores



Há boatos de que amarelei. Ora, ora, como amarelei? Não tenho icterícia, nem sou descendente da dinastia Ming, convenhamos. A campanha difamatória revela que a pernambucanidade treme diante da presença tipicamente paraibana — eu nego!, como se diz por estas plagas, embora nunca se saiba bem o resultado da negação. Bem, de todo modo, eis aqui o meu primeiro texto no Cazzo.

Antes, contudo, um esclarecimento: atualmente, ofereço um curso sobre estratificação social e estrutura de classe para a turma de graduação em ciências sociais da UFPB . Estamos, nesse momento, dando uma revisada em Weber. Assim, aproveito esse espaço e discuto um pouco, na forma de uma resenha, o texto “O sentido da 'neutralidade axiológica' nas ciências sociológicas e econômicas", artigo encontrado no livro Sobre a teoria das ciências sociais (Lisboa, Presença, 1974, pp. 113 a 192). Utilizarei essa discussão inicial como plataforma para outros debates que envolvam a relação entre teoria e prática, verdade e valor... No fundo, ao longo dos textos, tentarei responder a seguinte indagação: é possível uma teoria crítica que aborde a emancipação humana sem postular a possibilidade de uma fundação racional dos valores? Nesse sentido, Weber é um bom ponto de partida, pois nega enfaticamente tal possibilidade.

Bem, sem maiores delongas, vamos lá:

Boa parte do texto weberiano — seguindo inclusive uma lógica que permeia todos os artigos do livro Sobre a teoria das ciências sociais — seria uma aplicação das conseqüências dos vetos de Hume (uma tradição seguida fielmente, nessa questão epistemológica, por Weber) a respeito da possibilidade de se encontrar uma fundação racional ou científica para as "aplicações práticas" (campo da ética), isto é, de inferir que das "questões práticas" podemos encontrar "verdades". No texto em questão, a tese da impossibilidade da ciência de inferir verdades dos "preceitos práticos" é aplicada na "deontologia" do professor universitário. De que forma? Ora, o professor universitário deve num curso universitário "afastar dentro do possível, numa lição, todas as questões práticas de valor" (pp., 368). Não afastar as "questões práticas de valor" significa admitir que, num curso universitário, devemos inflamar o nosso auditório com nossas opiniões pessoais — uma tática fácil que permite um reconhecimento fácil por parte de um auditório ávido de opiniões pessoais. Tais opiniões "pessoais" são baseadas em representações de mundo, isto é, em visões morais, culturais, políticas e estéticas e não em representações científicas do mundo, representações estas "objetivas", em suma: "verdadeiras". Assim, a verdade seria monopólio da ciência, pois esta teria uma fundação racional, ao contrário dos preceitos normativos e morais que não teriam uma capacidade de produzir "verdades".

Ao invés de discutirmos a complexidade dos vetos que Weber produz em relação à conduta do professor universitário, acreditamos que vale a pena discutir um pouco mais detidamente as premissas subjacentes (premissas, como foi dito, que balizam não só o artigo, mas toda a discussão do livro) à posição defendida no texto:

1. Há entre os julgamentos de fatos e os julgamentos de valor um abismo intransponível. Nesse abismo, não pode ser construído uma ponte pela ciência. Do ser ao dever-ser existe apenas uma solução de continuidade. A razão teórica não pode prolongar-se em "razão prática" — a validade de um imperativo prático e a validade de uma verdade de uma constatação empírica são duas validades completamente heterogêneas;
2. as representações científicas são objetivas, isto é, vale para todos os homens, inclusive também para os marcianos. Os enunciados científicos são universais; já os enunciados práticos são subjetivos. Na verdade, não haveria a possibilidade de uma outra razão autônoma como, por exemplo, a razão prática de Kant nem uma continuidade entre os julgamentos de fatos e os julgamentos de valores, como sempre quis o pensamento "positivista" francês" de Descarte até Durkheim;
3. a razão científica não pode fundar os preceitos éticos e práticos; pior ainda: não há, fora da razão cientifica, nenhuma forma de razão capaz de fundá-los. Assim, os julgamentos de valor possuem uma liberdade absoluta e dependem apenas do livre arbítrio do indivíduo, isto é, de sua liberdade de escolha: os julgamentos de valor dependem das decisões dos indivíduos (decidicionismo). Weber afirmaria, com isso, um relativismo nas questões práticas.

Para Weber, tais premissas não impedem, muito pelo contrário, o tratamento racional dos valores e dos julgamentos de valor, colocados como objetos de estudo das ciências empíricas. Podem-se estudar perfeitamente os efeitos dos processos axiológicos na conduta dos indivíduos. Os valores podem ser vistos como "fatos normativos" e, mesmo não justificando o que funda sua validade, podem ser estudados como "causas" do comportamento dos indivíduos. A ciência não pode justificar os fins, mas pode muito bem analisar os meios pelos quais atinge-se um fim — inclusive, pode ajudar uma discussão prática analisando os melhores meios para atingir um determinado fim. A ciência pode esclarecer a significação dos valores e os axiomas que dão base às questões práticas envolvidas, permitindo um melhor entendimento do que orienta, de forma geral, as práticas culturais — a ciência problematiza e não prescreve (Weber afirma, várias vezes no texto, a função de problematizar da ciência). A ciência, enfim, pode oferecer uma base (e isso não é pouco!) ou uma clareza para a escolha, permitindo também uma fundação mais segura à responsabilidade. A ciência pode esclarecer os julgamentos de valores em jogo, como também os próprios valores que os cientistas utilizam na produção científica, tornando transparente e "controlado" o jogo axiológico no qual estão submetidos. A universalidade dos enunciados descritivos (usando a linguagem weberiana) pode ajudar, embora não os funde, os enunciados prescritivos. Temos aqui (de uma forma resumida, é claro) uma argumentação impressionante que funda a diversidade cultural e o famoso "politeísmo dos valores".

Tais premissas não nos conduzem necessariamente a um pessimismo ou a uma epistemologia da suspeita; não, na verdade, pode nos levar até o multiculturalismo (não iremos discutir aqui tal questão), isto é, a uma apologética do "politeísmo dos valores". Contudo, com seu pessimismo habitual, Weber transforma o "politeísmo de valores" numa "guerra de deuses". Afirmar uma diversidade cultural e uma pluralidade de formas de vida não implica ainda a afirmação de um antagonismo irreconciliável entre os valores; pelo contrário, pode afirmar inclusive uma tolerância axiológica e um respeito profundo pela pluralidade. Assim, a premissa final para a transformação do "politeísmo de valores" numa "guerra dos deuses" seria a consideração de que os julgamentos de valor são antagônicos, isto é, a diversidade cultural é pensada enquanto conflito (Simmel?!). Os valores são fundados livremente, no sentido de que não possuem uma fundação racional, e tal liberdade cria uma pluralidade que não pode evitar o conflito, pois os valores vão se chocar entre si — a oposição entre a liberdade de cada valor expressa-se através do conflito e da concorrência entre os sistemas de valores. Weber passa do relativismo dos valores ao afrontamento dos sistemas axiológicos — no entanto, apesar do conflito, Weber jamais excluiu a resolução racional de um conflito axiológico. Um exemplo famoso é a contradição entre a ética da convicção e a ética responsabilidade em que Weber defende a possibilidade de uma reconciliação e uma complementaridade entre os dois sistemas de valores.

Assim, não causa surpresa a ojeriza de Weber pelos professores que tentam justificar suas visões de mundo via as representações científicas da realidade. Tais professores são pejorativamente chamados por Weber de "profetas". Ele afirma que existem palcos específicos para tais "profecias", a começar pelo palco político, no qual as visões políticas podem ser balizadas pelas visões de mundo de cada pessoa; na universidade, não haveria espaço para tais expressões, pois o meio acadêmico é o reino da razão científica, um mundo onde somente os meios podem ser justificados. Se Weber tem medo das conseqüências do "politeísmo de valores", entendido como uma "guerra dos deuses", pode-se imaginar seu receio de professores que, justamente, estimulam a propagação da "guerra dos deuses" no próprio seio da ciência empírica. Weber, no texto, discutirá inclusive "tecnicamente" todas as contradições de uma posição acadêmica que confunde julgamentos de fatos e julgamentos de valores.

Curiosamente, Weber debilita ou, simplesmente, elimina a razão prática para reforçar a posição acadêmica e de especialista dos cientistas. Reforça o distanciamento da universidade da vida prática e, principalmente, das discussões políticas. A ciência pode orientar, esclarecer, ajudar, iluminar as "aplicações práticas" da vida cotidiana, mas jamais poderá misturar-se ou mergulhar no caldeirão vivo das prescrições práticas, sob pena de perder a sua razão de ser.

Por fim, queremos salientar uma aparente contradição: Weber, em vários trabalhos, afirma claramente que há uma racionalidade baseada em valores (racionalidade axiológica). Ora, por que tal racionalidade não pode produzir verdades práticas? Por que somente a racionalidade científica tem esse poder? O que seria um tipo de racionalidade sem um tipo de verdade correspondente? Estamos diante de dois Weber? Como se pode eliminar a razão prática e, ao mesmo tempo, supor a existência de uma racionalidade axiológica?

Enfim, pretendo paulatinamente tentar responder a tais questões. Até lá.

Artur Perrusi

15 comentários:

Le Cazzo disse...

Ora, viva! Queria muito comentar o texto - que li com interesse. Mas estou meio afobado; fica pra depois. No entanto, não queria perder a oportunidade de dizer da satisfação de ver sua primeira contribuição neste Cazzo. Abraço.
JOnatas

Anônimo disse...

A honra é minha, velhão. Bora agora levar adiante esse projeto de "blog acadêmico", que é uma idéia que dará bolero. Por enquanto, ficarei nessa temática; depois, darei outros vôos. Quero retomar, com mais vagar, aquela nossa discussão sobre a "natureza" (interessa-me muito esse debate). Abração.

Anônimo disse...

Apenas um comentário, Artur. Weber também acredita que, em última instância, a universalidade da ciência é fundada em valores que não podem ser justificados cientificamente. Ou seja, embora seja possível chegar a postulados universalmente válidos, verdadeiros tanto "para um chinês, quanto para um europeu", a decisão de orientar a vida a partir dos valores pressupostos na racionalidade científica não pode ser legitimada cientificamente. E aqui Weber é bem diferente de Rickert (aquele moço historiador que nunca produziu uma gota de conhecimento historiográfico), que achava que a verdade da ciência seria um valor acima de todos os outros valores. Ao entender que a ciência é racional com relação a meios, é instrumental mesmo!, Weber infere que ela nunca vai poder ser a base da legitimação substantiva de uma visão de mundo - ou, ao menos, não deveria. Weber, se visto por esse ângulo, dá um passo muito importante para algumas críticas sobre a racionalidade científica que aparecerão com a Escola de Frankfurt. O que você acha? Jonatas

Anônimo disse...

Touché, velhão. Meu próximo texto, caso tenha fôlego para tematizar esse assunto, abordaria justamente essa questão, indo até mais longe (confesso que radicalizo a discussão): da posição de Weber, podemos inferir que a verdade é um valor, e como os valores não são fundados cientificamente ... (haveria aqui um namoro de Weber com o perspectivismo nietzschiano?)
A verdade (ou a ciência) não seria apenas fundada em valores, mas seria também um valor!

O que leva, afinal de contas, a razão cientítica a se tornar uma razão instrumental? E que tipo de raciocínio é esse que, primeiro, separa ciência e valor, gerando sua instrumentalidade, mas depois admite que a verdade (ou a ciência) é um valor que não pode ser justificado cientificamente? O fato de a ciência não "poder ser a base da legitimação substantiva de uma visão de mundo" levá-la-ia necessariamente à instrumentalidade?

Penso que tal posição pode levar até mesmo a uma descontrução da verdade como valor fundamental da ciência -- Rorty, por exemplo, além de julgar a verdade como um valor, prefere a solidariedade como valor balisador da ciência (a verdade sem poder?).

Por outro lado, como vc bem colocou em relação a Rickert, acho que existe uma brecha nesse argumento (não necessariamente weberiano). Admitindo a verdade como valor, podemos inferir outra linha de argumentação: seria possível defender que a verdade (ou a razão) é um valor que possui uma propriedade especial, a de julgar os outros valores? A verdade não seria um valor acima dos outros, mas sim o valor que fundaria a capacidade de julgar? Ou ainda: A razão fundaria a própria razão, sem cair em tautologias?

Bem, não quero me antecipar, irei bem devagarinho na argumentação, até porque a discussão não é fácil e não está muito clara na minha cabeça.

Anônimo disse...

..."as representações científicas são objetivas, isto é, vale para todos os homens, inclusive também para os marcianos."

Ufa! Ainda bem que as mulheres e as marcianas ficaram fora dessa!

Meninas (ops!), e não é que todas (ops, de novo!) nós acabamos influenciadas (tenham paciência - uma hora dessas eu aprendo a ser mais inclusiva com vocês) pelas preocupações de Roberto Mota com a racionalidade axiológica?

Cynthia

Le Cazzo disse...

Duas em uma:

Artur, eu acho que esse é o problema com a filosofia dos valores: afirmar que a verdade é apenas um valor é um gesto ambíguo, pois desqualifica a verdade e a pressupõe - pois afinal há de se supor precisamente a verdade de algo insólito: que a verdade seja valor. Heidegger diz que a verdade é aquilo que nos lança no mundo (é a nossa possibilidade mais fundamental). Isso, obviamente, não chega a ser uma resposta ao problema, pois implica uma outra meditação: entender nossa relação com a verdade. Mas afasta-nos do subjetivismo (só justificado pela suposição de um sujeito ou cultura anterior aos seus próprios engajamentos históricos) do qual parte a filosofia do valor.

Por não estar atento a isso (como liberal, Weber sequer se dá ao trabalho de pensar o sujeito como questão; a subjetividade é algo de certa forma apodítico para os liberais), Weber entende que a ciência é apenas um meio, posto que sua verdade já não ocupa um lugar fundante. Ora, isso é perfeitamente compatível com a idéia de uma ética científica que se priva de propor fins (em sala de aula). Weber não gosta do ideal de ciência objetiva do positivismo (seus compromissos com a tal jaula de ferro), mas não vê outra possibilidade de fazer ciência.

Segunda coisa: o liberalismo weberiano é masculino, mesmo. Ou temos alguma ilusão que quando ele fala de lideres carismáticos que nos livrarão de especialistas sem espírito, de burocratas cegos, ele estivesse falando do surgimento de uma mulher iluminada?... A correção política, neste caso, pode resultar em um anacronismo que nos impediria de perceber as limitações do pensamento sociológico clássico. Abraços, Jonatas

Anônimo disse...

Jonatas,

Concordo com você que a visão dos clássicos era masculinista, sim, mas discordo de que reproduzir a linguagem falogocêntrica deles seja oferecer uma descrição mais acurada e transparente em relação às suas limitações. Claro que é pouco provável que Weber tivesse mulheres em mente quando pensava em líderes carismáticos capazes de efetuar alguma mudança positiva. Meu problema é mais sutil: no caso em questão, está claro que Weber não se referia apenas a sujeitos masculinos, mas à humanidade como um todo. Não tenho dúvidas de que as mulheres também (talvez especialmente elas) estariam sujeitas aos ditames de uma razão científica, embora elas não fossem consideradas sujeitos deste tipo de razão. Em outras palavras, o uso da parte (homem) para se referir ao todo (humanidade) tem significados distintos nos clássicos e tais significados podem ficar muito mais claros se nós, contemporâneos, enfatizarmos tal distinção.

Dito isto, sou relativamente cética em relação ao poder de mudança do movimento de correção política na sociedade como um todo: acredito que os significados dos termos mudam com a mudança de contexto, mais do que o contrário. Por outro lado, acho que, como cientistas sociais e, mais ainda, como professores, devemos estar atentos ao problema da universalização de particulares, tanto por razões políticas, como por razões metodológicas/teóricas.

Isto me leva ao problema da neutralidade axiológica em Weber e sua insistência em se separar claramente as questões científicas das políticas. A separação humeana entre fato e valor (não se pode inferir proposições de valor- o que "deve ser" - de proposições de fato - o que é)adotada por Weber gera um problema no próprio nível da descrição, ou das proposições de fato. O que me dá uma idéia melhor dos fatos: uma proposição valorativamente "neutra" do tipo "seis milhões de judeus morreram durante a segunda guerra mundial" ou uma proposição carregada de valores como "seis milhões de judeus foram assassinados durante a segunda guerra mundial"?

Transpondo o problema para a linguagem dos clássicos: será que apresentar sua linguagem de forma "neutra", "fiel" ou o que quer que seja, oferece mais transparência em relação aos fatos? Duvido...

Beijos para os meus dois companheiros politicamente incorretos e metodologicamente equivocados!

Le Cazzo disse...

Vejamos se posso acompanhar sua sutileza sem me perder, Cynthia. De qualquer modo, tenho que reconhecer minhas limitações: sutil eu não sou.

Para mim, o liberalismo clássico é necessariamente masculinista - o liberalismo de Amartya Sen, por exemplo, é algo um pouco diferente neste aspecto. Sua (do liberalismo clássico) percepção da individualidade, autônoma, racional, antenada com o universal, reproduz compromissos históricos em cujo contexto as mulheres foram de fato excluídas.

Por isso, quando Weber diz que a verdade científica deve ser verdadeiro para um alemão ou para "um chinês", não faz muito sentido querer arrematar com um: "ou uma chinesa". Está fora do leque de preocupações de Weber. Não estou simplesmente dizendo que a idéia de carisma de Weber seja masculinista, como todo messianismo, mas que o substrato liberal que orienta a filosofia do valor, e de resto a vacilante metodologia weberiana, está profundamente comprometida com um ideal de universalidade que não abre espaço para a diferença de genêro ou outra qualquer.

Não creio que melhoremos a coisa quando consertamos isso. Nesse caso, não dá pra "concertar consertado".

Bom e tem também isso de discutir a influência de Hume em Kant. Mas isso me dá uma preguiça...

Beijos. JOnatas

Anônimo disse...

Tadinho de Artur, mal chegou e já pega a gente se engalfinhando. Ou será que é ele que anda semeando a cizânia entre nós, Jonfer? Artur, manifeste-se!

É o seguinte: claro que o sujeito do liberalismo clássico é masculino, eurocêntrico, branco etc etc. Eu iria até mais longe do que vc e diria, parafraseando uma figura que agora não lembro o nome, que o sujeito iluminista vestiu um par de calças que só vem tirando muito lentamente e nos últimos anos. Agora, acho inegável que este sujeito "universal" tem graus distintos de generalidade. Por ex., por que Weber usa o termo "até por um chinês", que devia ser o cúmulo do exótico para ele? Será que isto não significa uma abertura para um outro que não está claramente incluído na noção de "todos"? Arture, amore, e o seu marciano, significa o que? Um ser ainda mais exótico do que o chinês de Weber, uma abertura ainda maior para o outro? Neste caso, por que não romper de vez com o falocentrismo do sujeito liberal e, de quebra, chamar atenção para a invisibilidade das mulheres nas tradições clássicas?

Beijo, feioso (é Jonatas, Artur: você, vai depender da sua resposta).

Josias de Paula Jr. disse...

Esse comentário será breve e feito em condições precárias (um lan house barulhentíssima).
Penso que a discussão fundamental é a (im)possibilidade de separação entre fato e valor - a mais fundamental e a mais executada... A ambiguidade weberiana radica nesse aspecto. Como Cynthia já comentou, a imersão em valor tem implicação na própria descrição factual. Mas, gostaria de levantar duas lebres:
1. Quando Weber fala em verdade como valor, fala da verdade axiológica, a escolha subjetiva por um valor em detrimento de outro (igualdade por liberdade, por exemplo, como no caso do "socialismo clássico"); aqui é de "fins" que ele alude. No caso da verdade científica, trata-se de "meios" racionais, operados em função de uma apreenção factual. Bom, tal aspecto (de resto bastante conhecido por todos) nãoleva a discussão feita até aqui para um outro patamar? Por exemplo: a relação a valores pode ser efetuada objetivamente, racionalmente - sendo ela um "meio"?
2. Quanto ao caráter "particular" do discurso clássico (branco, masculino, europeu etc - feito em nome da universalidade),ele pode ser "superado"? Proportal "superação não é recair na mesma trama da noção de ideologia: um ponto privilegiado de onde é possível falar em nome da universalidade? Ou é apenas um chamamento a um conhecimento dialógico, um diálogo entre permanente entre diferenças? Se a resposta for encaminhada pela última opção, tem-se os motivos da ambiguidade de Webwe bastante evidenciados....
Oxalá consiga ter sido claro!
Abraço a todos.

Anônimo disse...

Oi, Josias,

Bom poder contar com as suas contribuições.

Fico pensando se não seria mais interessante retomar alguns pressupostos mais básicos à nossa discussão a fim de torná-la um pouco mais "democrática". Assim, por ex., qual a diferença entre racionalidade instrumental e racionalidade axiológica? Quais quais as dificuldades envolvidas nesta distinção? Partindo do comentário de Josias (e de Jonatas, acima), a ciência pode ser vista a partir de ambas: o fim da ciência (a verdade) pode ser visto como um valor (racionalidade axiológica), mas dado que a ciência é também é um meio para se chegar à verdade, é instrumental. O problema é: será que toda forma de racionalidade não seria axiológica? Qual o sentido da distinção efetuada por Weber?

Quanto ao segundo ponto levantado por Josias, eu não acredito que questionar a noção de universalismo implícita na linguagem dos clássicos significa necessariamente substituir uma forma de universalismo por outra, tão excludente quanto a primeira. Embora esta possibilidade exista, o próprio ato de questioná-la significa, para tomar emprestada uma expressão de Lévi-Strauss, uma "abertura para o outro", uma espécie de comprometimento com a revisão constante das nossas categorias. Em outras palavras, significa manter a idéia de universalidade, mas reconhecer seu caráter contingente e necessariamente aberto. É um grande passo em direção ao que você chama de um diálogo permanente entre as diferenças. Em todo caso, talvez esta questão seja um tanto marginal em relação ao problema proposto por Artur no post e desconfio que insistir neste ponto aqui e agora seria incorrer no esporte mais odiento da agenda politicamente correta: o patrulhamento ideológico.

Le Cazzo disse...

Bicho, vou cortar o ponto de Artur. No final do mês, vai ser aquele chororô...

Jonatas

Anônimo disse...

Tenham pena de mim! A semana está sendo pesada, pesadíssima. Inclusive, estive até aí na terrinha numa banca. Quando passar o rojão, oferecerei minha singela posição -- quem sabe transformando o comentário num novo texto, pois há muito assunto para abordar.

Jonatas, rapaz, não corte meu ponto, preciso desse dinheiro para sustentar a penca de filhos que atormenta minha vida.

Anônimo disse...

Artur, você devia adotar a estratégia de Jonatas: procura um filminho na internet e joga aqui. É super-prático e ainda garante o seu ponto no final do mês. Mas não diz a ele que eu contei, tá?

Josias, não conhecia o seu lado poeta. Estou impressionada. Impressionadíssima.

Beny Vendas disse...

Queria uma luz sobre o Texto o politeísmo de Valores na visão de Max Weber , não entendi este texto.
meu email
bene0303@hotmail.com