"Lasciate ogni speranza, voi ch'entrate": Isso é um blog de teoria e de metodologia das ciências sociais
segunda-feira, 28 de abril de 2008
Feminismos e Identidades
A problematização da identidade no movimento feminista vem duas vertentes. A primeira, de um questionamento ao feminismo radical que, segundo algumas teóricas feministas, está assentado sobre uma premissa universalista a partir da qual as mulheres são generalizadas com base na experiência particular de mulheres brancas, de classe média e universitárias dos países do norte. Dessa forma, o feminismo estaria repetindo aquilo que ele mesmo criticou na teoria social clássica e na política, consideradas como androcêntricas, isto é, tomar uma referência particular para definir uma categoria universal. A outra vertente vem do questionamento da distinção sexo/gênero, a qual propõe que doravante nem existe o gênero nem o sexo, e que tratar as identidades a partir dessas categorias é reproduzir a determinação da política hegemônica da heterossexualidade como norma.
Ambas as vertentes têm gerado um grande e criativo debate no meio das feministas acadêmicas, sobretudo entre as anglo-saxãs. Como parte das questões levantadas, coloca-se o problema da unidade do movimento feminista e de sua legitimidade para, no primeiro caso, representar a diversidade mulheres e, no segundo, considerar o sexo das mulheres, portanto um sexo que não existe, como um elemento de identidade.
Para tratar desta questão, consideramos que é importante fazer uma diferenciação entre identidade política e identidade social, pois, além de não serem a mesma coisa, estão sempre em tensão. A identidade social das mulheres, entendida como uma categoria genérica que define o que são as mulheres, é estabelecida a partir de um poder hegemonizado pelos homens na produção do saber e na política. Essa identidade atribuída é reproduzida como uma dimensão das relações sociais de desigualdade presentes na vida social. A identidade política, por seu turno, é construída na luta e na organização de um movimento contra essa definição atribuída e contra os meios materiais e simbólicos que a estruturam.
O feminismo é um movimento político e um pensamento crítico que se forjou na luta para transformar as relações sociais de poder que determinam a desigualdade entre homens e mulheres. É partir do feminismo que se coloca a historicidade da questão das mulheres e a dominação sobre seus corpos como um elemento estruturante das relações sociais, já que o corpo constitui uma base material e concreta sobre o qual se exerce poder e se constrói políticas de controle e de repressão. Foi também a partir do feminismo que as questões ligadas à diferença e à desigualdade entre as mulheres foram colocadas.
A identidade política que caracteriza o feminismo não tem como objetivo reificar a identidade social que é tomada como base para construção do político. O político é lugar da transformação, e o fato de as mulheres se organizarem já altera a representação social dominante sobre as mulheres. Mas o movimento feminista não é um movimento de luta identitária: ele se identifica com a causa da emancipação, igualdade, libertação, seja lá a concepção adotada, das mulheres. Não há nem mesmo, nas diversas correntes, uma proposição na qual se possa identificar uma base de redefinição de uma identidade social particular. O que se busca é a construção de um campo comum de identificação de problemas. Além disso, falar em defesa da igualdade e emancipação das mulheres não significa falar em nome de todas as mulheres, mas falar para todas as mulheres. E também significa falar para todo mundo, colocando a identidade das mulheres como uma questão política.
(a ser editado)
Betânia Ávila (Pesquisadora do SOS Corpo: Instituto Feminista para a Democracia)
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4 comentários:
Que bom ler um texto seu aqui no CAZZO, Betânia. Espero que se torne uma colaboração regular. Jonatas
E antes que haja um mal entendido: percebo que a marca da cerveja que coloque no meu post é D'Ávila... Só depois de postá-lo foi que li o seu texto e percebi a enorme coincidência: seu sobrenome é Ávila... Mas não é o cão?! Foi o primeiro cartaz de cerveja que encontrei na Internet que explora o apelo erótico (para um público hetero, classe c e d etc etc). Jonatas
Jonatas, que analogia é esta. Já não basta as formas das garrafas na propaganda, e as boas que as servem, e agora ainda vem um trocadilho de sobrenomes. essa é uma analogia de alto risco....um abraço
Ih! Ela não acredita em coincidências... Mas foi. Não foi trocadilho, minha senhora - E eu só queria saber onde danado vendem a tal cerveja. Jonatas
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