domingo, 2 de maio de 2010

O Romantismo e Ciências Sociais 12: Estranho, Esquisito, Canhestro (v. 2.1)



Jonatas Ferreira

Conclui o último post com a seguinte afirmação:
“A língua é nossa questão, estamos sempre retornando à sua infância. É precisamente a possibilidade de dizer “eu” que nos capacita a operar uma separação entre língua e discurso, entre o que está dado e o modo como podemos nos envolver com o que está dado. E isso é apenas uma outra forma de afirmar nossa pobreza, precariedade ontológica; porém agora tudo isso é tomado como base do pensar o mundo de maneira radical. Como em Marx, a nossa nudez é a base para se ter esperanças em uma experiência radicalmente trágica da vida”.

Falávamos ali de um tipo de vida em que os objetos, as vivências perdem seu sentido e a possibilidade de se converterem em experiência. Gostaria de dar prosseguimento àquelas considerações discutindo um tipo particular de vivência, aquilo que Freud chama de estranheza, um sentimento de horror, de inquietude, em que o familiar nos aparece como o mais remoto e o mais distante se nos apresenta como o mais íntimo. Aquilo que chamei de experiência radicalmente trágica da vida ganha cores particulares a partir da reflexão freudiana. Gostaria de seguir essa trilha, portanto.


10 comentários:

Anônimo disse...

O Homem de Areia me lembra alguém, mas não sei quem. Aquele nariz aquilino, aquela barbicha, aqueles olhos terríveis...

Le Cazzo disse...

Ih! Agora a chamada para o lançamento do livro de Fréderic desapareceu... Está cada vez mais estranho. Jonatas

Cynthia disse...

Desapareceu por obra e graça da minha vontade subjetiva sobre o mundo real. Onde Id estava, Ego está, recalcando a estranheza do mundo com a ajuda de Superego.

Se bem que eu juro que Id não teve culpa daquela esquisitice...

Le Cazzo disse...

E quem chega agora no pedaço, terá uma dificuldade entender do que se trata. Artur, ao que parece, tem uma candidata à culpa da coisa toda. Você nem precisava ter assumido a culpa deste último ato. Jonatas

Cynthia disse...

Nada mais natural, em se tratando de um post sobre o Estranho. Mas em consideração aos nossos leitores abrirei uma exceção e publicarei nossa correspondência íntima e privada a fim de revelar o fim de um mistério que durou o dia todo:

Em 04/05/2010 06:54, Cynthia Hamlin escreveu:

Meninos, alguém de vocês duplicou o post sobre o lançamento do livro do Frédéric no Cazzo?

Unheimlich!

C.

Em 04/05/2010 08:23, Artur Perrusi escreveu:

Eu, não. Só vi agora o livro. Legal, né?! Ele podia nos enviar uns de brinde, hein?! Bjs e abs

Em 04/05/2010 09:05, ferreirajonatas escreveu:

Vi agora, eu não. Não foi você, Cynthia? Canhestro. Jonatas

Em 04/05/2010 16:26, Artur Perrusi escreveu:

Temos a resposta do mistério: se não fui eu, nem Jonatas, só pode ter sido... Silke. Sim, tenho certeza de que foi Silke.

Em 04/05/2010 18:45:58, ferreirajonatas escreveu:

E a propaganda agora desapareceu. Quem foi? Cynthia? Pode ter sido Silke também. Jonatas

Eu ainda acho que isso foi coisa de Artur, mas... De qualquer forma, agora podemos voltar a falar de Freud.

Raíza Cavalcanti disse...

Gostei do protagonismo de Olímpia nesse texto. Em Freud ela nem aparece - coitada - e eu a achei tão interessante. Eu também a vi como o duplo de Natanael naquele conto - como algo em que ele projetava todos os seus delírios e desejos de forma ampla e inconteste, diferente de como era com Clara (a noiva real que o tolhia). Adorei o texto... uma ótima complementação da aula (que também foi ótima).
Abraços,
Raíza

Le Cazzo disse...

Gracias, Raíza.

Acho que ainda vou fazer uma versão 3.0 do texto e explorar essa estória melhor. Abração, Jonatas

Raíza Cavalcanti disse...

Faça mesmo! Irei esperar por essa versão 3.0 ansiosa... rsrsrs

Beijos,
Raíza

Cynthia disse...

Jonatas,

lembro de você ter dito a mim e a Heraldo que tinha terminado de ler Orestes e que ficou impressionado com o surgimento de Apolo como um Deus ex-machina. Não sei se você chegou a Orestes via Freud (Moisés e o Monoteísmo) mas, se não foi, dê uma olhada no segundo cap. do Making Sex, de Thomas Laqueur: Apolo amarra as pontas soltas da estória ao reiterar a ausência de qualquer princípio gerador na mãe e no mito do pai como fundador da civilização. A mãe é, portanto, uma estranha.

Interessante pensar que o cômico, em Freud, apresenta o mesmo de princípio de retorno do recalcado...

Seria Freud tragicômico?

Le Cazzo disse...

Cynthia,

Cheguei a Orestes através do ensaio de Agamben sobre Pobreza e Experiência, de Benjamin. A uma dada altura da glosa agambeninana, ele fala de algo familiar ao leitor do II Excurso da Dialética do Esclarecimento. Você haverá de se lembrar desse excurso sobre Sade, Nietzsche. A razão moderna não permite um conhecimento estruturado a partir do sentimento, Horkheimer e Adorno afirmam. A apatia é a verdade da razão em Kant, Nietzsche, Sade, nos negócios nos campos de concentração etc. Essa razão sistêmica, universal e vazia.

Agamben, por seu turno, voltemos a ele, fala de uma dimensão fundamental da experiência e do conhecimento tradicionais que é "um aprender somente através de e após o sofrimento". Neste contexto, ele cita Orestes como ilustração de defesa dessa dimensão anti-moderna do aprendizado. Fui atrás desse menino bom - você, como feminista, teria pano para as mangas. Mas acho que Agamben, talvez, teria um exemplo melhor do que Orestes. Creio que a tragédia Agamenon, de Ésquilo, é muito melhor para falar do pathei mathos, ou seja, desse saber após e através do sofrimento, do que Orestes. O coro desta tragédia está a todo momento falando disso e eu acrescentei no post uma das várias passagens em que podemos constatá-lo, não sei se você viu. Acerca de Agamenon, caso você não tenha lido, digo-lhe: trata-se de algo de uma beleza poética incrível (estimulado, vou ler as outras duas tragédias de Ésquilo sobre os dramas de Agamenon, Electra, Clitemnestra, Orestes).

Sobre a segunda parte de sua pergunta, vou dar uma olhada nas minhas notas de Lacqueur. Agora mesmo estou dando uma lida em Moisés e o Monoteísmo. Falo mais depois. Beijo, Jonatas