sexta-feira, 11 de março de 2011

Ressonâncias involuntárias do jasmim: movimentos no oriente médio como quadro de interpretação do ocidente e de um punhado de chineses



Tâmara de Oliveira

«Com que roupa eu vou/ao samba que você me convidou ?» Não conheço o professor Robert Brym, mas, lendo seu texto postado no Cazzo sobre os movimentos insurreicionais árabes que têm abalado gregos e troianos mundo a fora, comecei a cantorolar esse samba de Noel Rosa, como se Brym fosse um velho companheiro de cervejas sociológicas fazendo um convite tentador a uma amiga em plena crise hepática ! É verdade, caro cazziano, essas cervejas singulares, se consumidas excessivamente, provocam secreção demasiada de uma bílis simbólica, numa tentativa desesperada da imaginação sociológica para digerir excessos e conseguir uma interpretação validável (ou não) de fenômenos sociais. Deixando bem claro, minha crise hepático-sociológica não foi provocada pelo texto de Robert Brym. Pelo contrário, ele foi o detonador de minha lenta convalescência – ainda não concluída, previno ao leitor potencial. O problema é que eu já ando bebendo muita cerveja da sociologia dos movimentos sociais, embriagando-me com a profusão de conceitos e siglas em torno de suas dimensões simbólicas.

Por outro lado, estando num país (França) que colonizou e/ou mantém relações fortes e complicadíssimas com muitos dos países árabes em movimento, eu já andava tonta « de alegria e preguiça » de « ler tanta notícia » : Ben Ali (Babá) e seus quarenta ladrões caíram na Tunísia, levando consigo a ministra francesa das relações exteriores (a tal ministra teve a idéia genial de passar o natal em Túnis em plena insurreição, sem que se saiba direito quem pagou suas despesas, para fechar negócios familiares ilegais com um próximo do clã Ben Ali) ; o exército abandonou o presidente egípcio e o Maior Barraco do Mohammed Hosni teve seus dias contados ; a Líbia amanhece pegando fogo ; Yémen, Jordânia, Argélia, Marrocos e etc. também mobilizam-se contra seus regimes ; pequena aglomeração de chineses ( ?!) responde a um apelo internáutico de dissidentes afirmando que « a China também plecisa de uma levolução zasmim », mas são rapidamente desmobilizados pela polícia…

Minha cabeça ficava girando em torno dos conceitos, das notícias e das questões levantadas no texto, sem conseguir ir além de interrogações exclamativas : « primavera de Praga árabe » ?!; « revolução francesa do oriente médio » com un punhado de chineses no meio ?!; « twitter revolutions»?! Finalmente, retomei cuidadosamente o texto de Robert Brym, onde ele põe em questão a interpretação que mídias norte-americanas importantes estão dando das mobilizações nos países árabes, ao definirem esses fenômenos como « twitter revolutions », ou seja, como movimentos revolucionários propelidos pelas redes sociais da internet.

O fundamento de sua crítica sustenta-se num eminente representante da sociologia norte-americana dos movimentos sociais, D. McAdam – considerado fonte original da renovação teórica da sub-disciplina nos EUA, através de uma abordagem sintética e aberta à dimensão simbólica da ação coletiva protestatária ; essa teoria define-se como modelo do processo político integrado ou PPI:
(…), il propose un schéma qui, pour rendre compte de l’émergence d’un mouvement social, fait sa place aux processus macro-socioéconomiques, à l’expansion des opportunités politiques, à ce qu’il nomme la « force des organisations indigènes », mais aussi à un processus de « libération cognitive » décrit comme un intermédiaire nécessaire entre les variables structurelles – socioéconomiques, politiques et organisationnelles – et l’action (Contamin, 2010, pp. 60/61).
A evolução desse modelo teria se beneficiado inclusive da corrente européia chamada Novos Movimentos Sociais, em sua busca de como desigualdades estruturais são subjetivamente interiorizadas e podem tornar-se objeto de mobilizações concretas(Contamin, 2010, p. 57). Além disso, forjou o conceito de quadro (frame) como um dos instrumentos de apreensão e análise das representações construídas na dinâmica dos movimentos sociais :

On le doit initialement à Batson [1954] qui affirme que chaque interaction suppose de ceux qui y participent des « cadres interprétatifs » par lesquels ils définissent comment les actions et les paroles des autres doivent être comprises. Il est ensuite introduit en sociologie par Goffman pour rendre compte des « schémas d’interprétation » qui permettent à des individus de « localiser, percevoir, identifier et étiqueter » des événements dans leur espace quotidien et le monde en général, et qui contribuent à les guider dans leurs actions et dans leurs interactions [Goffman, 1991, p. 21]. Il est finalement importé dans un cadre macrosociologique, d’abord pour étudier les processus de cadrage médiatique [Tuchman, 1973], ensuite pour travailler plus spécifiquement sur la façon dons les médias « cadrent » les mouvements sociaux [Gitlin, 1980…] et, enfin, pour rendre compte de la manière dont les acteurs des mouvements sociaux eux-mêmes « cadrent » leurs propres activités [Gamson, Fireman, Rytina, 1982 ; Snow et al, 1986 ; Benford, Snow, 2000]. (Contamin, 2010, p. 57)
Referenciando-se explicitamente em McAdam, Robert Brym propõe que se considere as novas TICs como um fator adjuvante desses movimentos, enquanto instrumento de propagação das percepções dos atores sobre as condições estruturais e as possibilidades de ação, mas não como variável determinante de seu surgimento nem, sobretudo, de seu êxito. Segundo seu texto, são certas condições estruturais da vida – a pobreza, o desemprego e a mobilidade social descendente que caracterizam socioeconomicamente esses países – o que propaga esses movimentos. No que diz respeito especificamente à « liberação cognitiva » de que fala McAdam e que se refere aos quadros interpretativos das mobilizações, para Brym, mais determinantes são os laços sociais fortes e anteriores entre ativistas concretos e potenciais, já que a intensificação e o êxito de um movimento exigem sacrifícios dificilmente assumidos por pessoas cujos laços são fracos – como no caso do Twitter e similares. Reforçando seu argumento, Robert Brym coloca o exemplo do Facebook que, embora diferentemente do Twitter seja caracterizado por laços entre pessoas que já se conhecem, também não consegue ser um meio muito eficaz de intensificação de ações coletivas, se estas solicitam muito dos participantes.

Mas há uma articulação feita por Robert Brym entre os movimentos árabes e a historicidade dos movimentos sociais que parece-me ainda mais significativa para entender sua discordância para com a definição de « twitter revolutions ». Trata-se da aproximação entre os movimentos da classe trabalhadora no século XIX e o que acontece agora no oriente médio, ou seja, a relação entre o aumento da alfabetização de populações desfavorecidas objetiva e/ou simbolicamente e a maior circulação de idéias protestárias e reivindicativas, como fundamento do surgimento de movimentos sociais exitosos. Com efeito, embora os países árabes em movimento tenham diferenças importantes entre si, em geral eles são marcados pela crescente escolarização formal de uma juventude que sofre particularmente de desemprego estrutural e de relações de submissão clientelista para sobreviver sob regimes políticos autoritários, corruptos e/ou tribais, mas que se distancia da memória histórica do islã político fundamentalista.

Assim, citando membros das mesmas associações, cooperativas, fraternidades, dormitórios de colégio, igrejas, mesquitas e vizinhanças, como os verdadeiros sustentáculos dos movimentos em questão, Brym nos revela o que as mídias que ele critica dificulta enxergar : o mundo árabe não é o que, principalmente depois do 11 de Setembro, estamos acostumados a representar com o auxílio mais do que construtivo dessas mesmas mídias. Com efeito, se de uma hora para outra podemos nos surpreender com expressões como « revolução francesa » ou « primavera de Praga » do oriente médio, é porque estamos presos a representações sociais bem ancoradas que nos informam que o mundo árabe é um « outro essencial », um mundo anti-moderno e substancialmente produtor de terrorismo religioso fundamentalista. Em tal contexto simbólico, a realidade mesma dos movimentos árabes apresenta-se como problema para a estabilidade de nossa realidade social subjetiva (Berger/Luckmann, 1996). Como solucioná-lo ? Seguindo esses autores (Berger/Luckmann, 1996), logo que uma experiência contraria nossas definições habituais, um dos mecanismos simbólicos possíveis para estabilizar nossa realidade social subjetiva assim problematizada, é adaptar essas definições para incluir a experiência contrastante.

Apropriando-me de um trecho específico do texto de Brym [facts suggest that it was not American inventions (Twitter, Facebook, the Internet itself) that propelled the pro-democracy movement in the Middle East and North Africa], eu diria então que a definição “twitter revolutions” funciona perfeitamente como um mecanismo desse tipo. Melhor dizendo, ao sugerirem insistentemente que esses movimentos foram propalados por invenções norte-americanas (Twitter, Facebook e Internet em geral), ao nomearem esses fenômenos como “twitter revolutions”, as mídias postas em questão por Brym estariam incluindo a experiência dos movimentos insurreicionais árabes no que pode ser um elemento do núcleo central de suas representações (Abric, 1994) sobre a democracia: esta é uma propriedade ocidental, logo, não seriam as sociedades árabes que criariam demandas democráticas, mas a tecnologia ocidental que, globalizando-se, é potencialmente capaz de civilizar até terroristas barbudos filhos de Alá.
Confortadas subjetivamente com essa adaptação, essas mídias podem continuar deixando de lado, em sua definição, o que elas já costumavam deixar: o enfraquecimento de movimentos e organizações pró-democráticas no oriente médio nos anos 1970, o concomitante crescimento do fundamentalismo islâmico, assim como os regimes autoritários e corruputos sustentados aparentemente para combater esse fundamentalismo, são parte da dinâmica geopolítica desde a Guerra Fria e foram co-produzidos pelo ocidente-maravilha; o mundo árabe, como qualquer outro, também é dinâmico e atravessado por diversidade sócio-cultural, econômica e política e são essa diversidade e essa dinâmica que devem ser investigadas antes de tudo para se compreender os movimentos insurreicionais atuais. Eis, ao meu ver, a grande lição que o professor Brym nos dá, utilizando a contribuição do modelo do processo político integrado (PPI) para comentar a(s) revolução(s) do jasmim.

Esse modelo teórico é uma referência sine qua non para todos os que se consagram ao estudo das ações coletivas e movimentos sociais na contemporaneidade, mas não sem críticas. Autores franceses que eu costumo chamar de “mais ou menos bourdieusianos” por exemplo, criticam em geral a manutenção dos viéses estruturalista e estratégico-racionalista das teorias que deram base ao PPI. No que diz respeito particularmente aos instrumentos do PPI para a apreensão das representações sociais em jogo nas mobilizações e movimentos, ou seja, quanto à noção de quadros (frames) de interpretação, vejamos ainda o que diz J.-G. Contamin :
Ces critiques se concentrent sur le biais stratégiste de cette perspective et lui reprochent tout à la fois de sous-estimer, de surestimer et de mal estimer la capacité de réflexion des acteurs engagés. Il s’agit notamment de s’interroger sur le rapport entre processus de cadrage et idéologies, et sur les processus de réception, d’appropriation et d’alignement des cadres d’une mobilisation. (2010, p. 70)
Mas este não é o momento para discutir essas críticas. Prefiro então explorar livremente um termo recorrente do PPI, porque ele tem sido parte de minha reflexão sobre esses fenômenos. Esse termo é ressonância, concebe-se como condição de êxito de um movimento e refere-se à convergência entre as atividades militantes de enquadramento interpretativo (framing) da situação detonadora de um movimento e, o terreno cultural onde este acontece:
Elle depend d’abord de la crédibilité du cadrage auprès d’une population donnée (cohérence de celui-ci, crédibilité de ceux qui en sont les porteurs) et, ensuite, de la saillance des problèmes pris en compte, de leur proximité avec la vie quotidienne et de leur adéquation avec les mythes essentiels de la population-cible. (Contamin, 2010, p. 58)

Tentando concluir minha cerveja sociológica para além dos limites estruturalistas e, principalmente, estratégico-racionalistas que o modelo do processo político integrado parece manter, eu citaria duas ressonâncias involuntárias do jasmim em movimento. Por um lado, os movimentos nos países árabes ressoam velhas representações de um « outro oriental inferior e perigoso», reduzindo-os às potencialidades das novas tecnologias « ocidentais » de comunicação e informação (redução contra a qual Robert Brym se coloca em seu post).

Essas representações não são inocentes em seu « esquecimento » da história do mundo árabo-muçulmano, do papel fundamental desse mundo na conservação/transmissão do patrimônio filosófico grego, numa época em que a europa medieval comprazia-se em esconder, queimar, em suma reprimir a sobrevivência desse patrimônio que terminou transformando-se numa das bases da chamada civilização « ocidental » moderna. Em outras palavras, o « outro oriental », assim como « o outro » que foi colonizado e/ou escravizado nas Américas, África e Ásia, não são outros, não são exteriores ao processo civililizatório, mas parte integrante desse processo. E a persistência de esquemas de classificação que distinguem um « ocidente » do resto do mundo é uma das fontes da monstruosa e assustadora xenofobia que atualmente volta à ordem do dia em vários países europeus, como na França, onde enquetes, embora enviesadas e demasiadamente antecipadas, apresentaram a candidata à presidência da república do Front National (extrema direita) em primeiro lugar nas intenções de voto. Eis uma ressonância dolorosamente negativa desses fenômenos.

Por outro lado, vejam mais uma ressonância involuntária que me vem à cabeça : os países árabes em movimento ressoam certas condições sócio-econômicas e políticas que são globais e que podem dar luz ao punhado de chineses no meio do jasmim árabe, como indica o seguinte slogan proposto via Internet pelos chineses dissidentes vivendo no estrangeiro : « nós queremos trabalho, moradia e um sistema equitável ». Eis uma ressonância prazeirozamente positiva, embora suas consequências não possam ser previstas agora, que mantém a vontade de beber cervejas sociais e sociológicas.

BIBLIOGRAFIA

ABRIC, J.-C. Pratiques sociales et représentations. Paris : PUF, 1994.
BERGER, P./LUCKMANN, T. La construction sociale de la réalité. Paris : Masson/Armand Colin, 1996.
BRYM, R. « Twitter Revolutions ? ». Que cazzo é esse ?!!, 18 de fevereiro de 2011 [on ligne]. http://quecazzo.blogspot.com/
CONTAMIN, J.-G. « Carages et luttes de sens ». In : FILLIEULE, O. /AGRIKOLIANSKY, É . /SOMMIER, I. (orgs.). Penser les mouvements sociaux – conflits sociaus et contestations dans les sociétés contemporaines. Paris : La Découverte, 2010.
FILLIEULE, O. « Tombeau pur Charles Tilly ». In : FILLIEULE, O. /AGRIKOLIANSKY, É . /SOMMIER, I. (orgs.). Penser les mouvements sociaux – conflits sociaus et contestations dans les sociétés contemporaines. Paris : La Découverte, 2010.
NEVEU, E. Sociologie des mouvements sociaux. Paris : La Découverte, 2003.
VOEGTLI, M. “Quatre pattes oui, deux pattes, non! L’identité collective comme mode d’analyse des entreprises de mouvement social ». In : FILLIEULE, O. /AGRIKOLIANSKY, É . /SOMMIER, I. (orgs.). Penser les mouvements sociaux – conflits sociaus et contestations dans les sociétés contemporaines. Paris : La Découverte, 2010.

5 comentários:

Tâmara disse...

Resolvi fazer eu mesma um comenta'rio, porque preciso corrigir uma falha no texto: eu falo o tempo todo em oriente médio, mas esses movimentos são também da A'frica do Norte (Tuni'sia, Egito, Li'bia,etc.) - como o professor Brym sinaliza sempre em seu texto. Essa minha falha deve ter relação com certas identificações teimosas: oriente médio = a'rabe = muçulmano...

Cynthia disse...

Tâmara,

ainda não tive tempo de ler seu artigo e o Bob já me pediu para fazer um resumo para ele. Esse fim de semana não rola, mas assim que tiver um tempinho faço isso e coloco vcs em contato, se for o caso.

Beijão

Alyson Thiago disse...

Primeiro, tenho feito o possível para acompanhar o blog. Tarefa árdua, mas prazerosa, por conta do amplo arquivo que vocês já construíram. Para quem se interessa por teoria social, o Cazzo é uma ferramenta valiosa, um achado. Parabéns pelo trabalho! Vamos ao comentário sobre o texto em questão.:

Além da dimensão, digamos, etnocêntrica presente nos argumentos e análises que pretendem alçar as redes sociais – invenções e contribuições ocidentais à civilização – como propaladoras das revoltas árabes recentes, em claro objetivo de reafirmar a superioridade moral e política do Ocidente e as representações sociais ocidentais em relação ao “outro oriental”, como bem assinalou a autora, há um outro tipo de análise no qual essa mesma superioridade é também afirmada. Mas dessa vez, a meu ver, num corte classista. O tipo de análise a que me refiro é difundido sobretudo por jornalistas e comentaristas políticos em geral. Trata-se da idéia de que, em última análise, aquelas revoltas são única e exclusivamente causadas e motivadas por alguma situação de crise ou estagnação econômica. Dessa forma, as insurreições populares seriam, sob essa ótica, mais revoltas econômicas do que propriamente revoltas políticas.

Qual o problema aqui? Para estes analistas, pouco importa se nesses países vigoram regimes de exceção, ditaduras, governo corruptos, autoritários e oligárquicos. O cerne da revolta e sublevação popular é sempre da ordem da privação dos recursos e condições necessárias a sobrevivência física estrita e imediata. As classes populares pensam com o estômago, é este órgão e não o cérebro ou o coração o que unicamente move e mobiliza os mais pobres contra a ordem social e política vigente. Nesse tipo de discurso, ressoa uma espécie de animalização ou subhumanização de certas classes sociais desqualificadas, a priori, em seu protagonismo político à medida em que elas são reduzidas ao um status onde tudo o que importa é a mera sobrevivência, a mera vida. Ora, assim elas não fariam parte do âmbito propriamente humano, os da linguagem e da cultura,mas encontrar-se-iam antes presos ao reino da natureza, da urgência imediata. São, na melhor das hipóteses, os ”animais laborans”, para usar a expressão de Hannah Arendt.

Exigências por liberdade, igualdade política, maior participação, dignidade, sentir-se incluído e reconhecido dentro da sociedade, nada disto, em última análise, faria parte do universo moral dos mais pobres ou de seu horizonte político. Os ideais e práticas identificados com a democracia, à justiça e à boa vida seriam, segundo esse ponto de vista, acessíveis unicamente pela elite liberal – leia-se as classes empresariais ou aquelas intimamente ligadas a elas -, pelos que tem berço, educados nas escolas e faculdades do Ocidente. Assim, não somente a reprodução de uma dominação de classe, fundamentada nessa hierarquia moral, é assegurada, mas o monopólio das fontes de poder nas mãos de uns poucos, o que se contrabalanceado poderia proporcionar meios práticos para a desconstrução dessa hierarquia..

Portanto, se o Estado garante a sobrevivência estrita, então de nada influi a inexistência de eleições, o grau reduzido de participação, a restrição de direitos, a desigualdade, os abusos e mandos do poder político. Esse tipo de discurso pode ser capaz de justificar e legitimar os mais odiosos e autoritários regimes políticos e medidas governamentais tutelares e heterônomas.

Tâmara disse...

Cynthia,
C'est la classe: você fazendo resumo de texto meu para o professor Brym! Mas não quero abusar de sua gentileza, faça-o apenas quando puder.

Acabei de ver um filme agora que achei super, mas super adequado mesmo para o momento europeu, na linha do que penso. Não tem pretensões cinematogra'ficas grandes, é apenas uma comédia deliciosa com mais uma atriz que foi descoberta por Abdellatif Kechiche (Sarah Forrestier, que acabou de ganha o César de melhor atriz). O filme chama-se "Le nom des gens" (diretor: Michel Leclerc) e conta a histo'ria de uma moça que se chama Bahia Benmahoud. A cada vez que ela diz que se chama Bahia, o interlocutor pergunta simpaticamente se ela "a des origines brésiliennes", mas fica decepcionado quando ela diz que sua origem é argelina... Recomendo. Grande beijo.

Tâmara disse...

Alyson,
Fico satisfeiti'ssima por ter provocado sua reflexão longa e séria.
A linha de seu comenta'rio faz-me lembrar algo que sempre me incomodava quando comecei a ver TV na França: o Brasil aparecia sempre por suas favelas, a complexidade dos "não ocidentais" (porque para eles no's também não somos ocidentais) é um tabu reconfortante...Mas temos isso internamente: penso no senso comum do sul/sudeste sobre o "nordeste-urgente". Abraço