quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Monopólio da Violência

Por Artur Perrusi. Roubado daqui.


Faz pouco, indignei-me com o que aconteceu na Cracolândia, aquele “tratamento” baseado na dor e no sofrimento; agora, a violência cometida em Pinheirinhos. Como estou viajando, não tenho tempo de comentar as conexões entre tais acontecimentos. Assim, recomendo a leitura desse texto (aqui).
Ao mesmo tempo, houve violência contra estudantes no Piauí e no Recife (aqui) – na terrinha, o “tratamento” dado aos estudantes foi realizado por um governo dito de centro-esquerda.

O monopólio da violência, paradigma do Estado Moderno, está sendo utilizado pela direita e pela esquerda. Nesse caso, o uso da violência é “técnico”, pois está embutido numa “formalidade jurídica”. O uso legal, assim, é neutro, porque elimina qualquer julgamento de valor; com isso, cria um permanente problema de legitimidade. É a imposição racionalizada da força (a razão pura da violência) , independentemente do regime de governo (sim, estamos numa democracia — diante de um cassetete, a democracia é “formal”). E o mais paradoxal é sua legalização jurídica, defendida como “direito” pelos governantes. É o direito da violência, cuja vítima não vale nada – há uma indiferença total quanto às consequências do uso do monopólio da violência do Estado. Não há espaço para perguntas banais: quem são as pessoas? Qual é a alternativa à violência? O que fazer com as vítimas? Elas não valem o sacrifício. Pode parecer um paradoxo, mas revela a violência que funda o Estado de Direito Moderno.

Numa sociedade desigual, como a brasileira, a violência é banalizada e se legitima na naturalização da desigualdade (já, já descobrirão o “gene” da pobreza). Quanto mais desigual uma sociedade, mais as possibilidades de autoritarismo atualizam-se no cotidiano. O apoio substancial da população paulistana às ações de limpeza social da Cracolândia é uma manifestação, ainda localizada e dirigida à ralé, dos monstros que habitam nossa “democracia liberal”.

26 comentários:

Cynthia disse...

E roubei o comentário de Tâmara também :)

Artur,

Encontrei num dos autores que estou lendo agora (sobre gangues e bandos de jovens na América Latina, sob uma perspectiva das desigualdades/segregação/violência como marcas da democracia liberal), palavras muito melhores do que eu poderia escrever para participar da indignação (minoritária, mas ainda viva):

” (…), cette violence est due en premier lieu à tous ceux qui, de leur bureau de ministre, de directeur de l’urbanisme ou d’une banque interaméricaine décident, jour après jour, de découper les villes en se réservant les meilleures parts, celles d’où sont exclues les anciennes classes populaires, prolétarisées et précarisées à l’extrême, déblayées au bulldozer des quartiers à la réhabilitation rentable. Main basse sur la ville. On voit ça partout, mais c’est dans les pays du Sud que les villes ont développé une telle aptitude au démantèlement territorial(…) La métropole latino-américaine est le Léviathan du XXI siècle. Elle effraie même ceux qu’elle attire.(…)On préfère géneralement n’y rien comprendre et s’en remettre aux forces de police pour ramener un semblant d’ordre, ils chasseront la racaille, les commerçants baisserons leurs rideaux de fer, la nuit passera en silence. Nous n’aurons rien gagné en termes de paix, mais qui croit encore que l’on peut gagner une telle bataille?…” – Yves Pedrazzini. In: Mohammed/Mucchielli (2007, p. 303).

Beijão

Anônimo disse...

que cazzo, heim, caladinhos até agora? o silêncio desses acadêmicos, desses resignados, ora por um medo hierárquico e/ou pior ainda por desinteresse e falta de informação, traduz bem a consciência política “””tão grande””” de vocês, comparável como a de um usuário de transporte coletivo que fica na "parada" esperando seu ônibus enquanto acontece em plena avenida e na sua frente um protesto que cobra melhorias no serviço e é contra o aumento das tarifas.
Assim como um usuário nada alfabetizado (politicamente) vocês apenas observam de longe, e o mínimo que poderiam fazer - uma nota em repudio mostrando a mínima sensibilização - não se fez.
Com a exceção do Arthur P. que apesar de breve criticou os monstruosos fatos, mas como dito logo no inicio do post esse texto foi roubado, logico, não poderia ter surgido dessas joias acadêmicas.

Cynthia disse...

Caro anônimo,

Não entendi. Artur não é parte do Cazzo? Somos obrigados a nos manifestarmos sobre tudo?

Por que você mesm@ não submeteu um texto ao Cazzo? O espaço está sempre aberto a contribuições de qualidade.

Anônimo disse...

Só ficou mais que claro que as suas demandas nesse blog são apenas acadêmicas, o calor dos fatos truculentos ocorridos nos protestos recentes em recife, não te toca.

Anônimo disse...

le pardon.

Ana Carla de Sa disse...

Nossa, que agressivo meu car@ anônimo?!!

Nao sou acadêmica e visito o Cazzo na perspectiva de ler conteúdos inteligentes, bem pensados, fundamentados e relevantes sobre diversos assuntos.

Ao ler seu comentário, porém, fiquei com a impressão de que estava num blog panfletário qualquer... o que não é, obviamente, o caso do Cazzo!!

Artur, muito importante os argumentos sobre a legitimidade jurídica do uso da violência pelo Estado e lamentável a aprovação dos paulistanos à ação higienista na cracolândia. Todavia, nao podemos esquecer que a população e os governantes em SP estão no mesmo diapasão, afinal o mesmo grupo político está no poder há muitos anos por aqui.
Já em PE, penso que há uma reação popular diferente. Penso, pois nao estou aí...

Cynthia disse...

Bem, não sei o que você entende por "apenas acadêmicas". Se tiver interesse em procurar, vai encontrar uma série de posicionamentos políticos sociologicamente embasados neste blog (sim, sociologia é o foco do blog).

Creio, entretanto, que, como intelectuais, temos o direito de escolhermos a quais deles gostaríamos de dedicar o nosso já escasso tempo a fim de produzirmos reflexões minimamente fundamentadas, não?

Aliás, como trabalhadores que somos, também temos o direito a férias - férias essas que vêm sendo sistematicamente usadas para lidar com questões "meramente acadêmicas" a fim de que pessoas politizadas como você possam produzir suas próprias opiniões.

Que tal começar por um debate mais produtivo?

Anônimo disse...

Vamos tentar...

Os ilustres intelectuais devem ter total liberdade para escolherem os assuntos de seu interesse. Porém, isso não os isenta de terem uma posição omissa, conservadora. Eu vejo da seguinte forma: Estudantes, em grande parte universitários, foram recentemente agredidos com intensa truculência pela polícia militar de pernambuco. Alguns foram detidos, outros perseguidos, uns fichados em quartéis e outros "apenas" agredidos durante os protestos.A principal causa da perseguição foi exercer a liberdade de expressão e o direito de protesto. Essa perseguição acarretou na invasão do campus da ufpe. Quando a pm-pe atirou bombas de efeito moral e disparou balas de borracha contra os estudantes, já espremidos e destroçados, abrigados na fdr. Eu acredito, não sei vocês, que é de se esperar o mínimo de reação dos intelectuais que supostamente estão preocupados com a ordem social. Principalmente, quando eles são funcionários da universidade agredida. Isso pode ser uma carta, uma frase, uma presença... Sei lá... Solidariedade, saca?! Os estudantes não são tão metódicos e exigentes quanto o cnpq. Queríamos que os intelectuais do centro de filosofia e ciências humanas se manifestassem. Não queríamos que a crítica deles se ressumissem à sala de aula ou a correção de nossas provas. E não há férias nesse mundo que justifique a omissão.Os estudantes também estavam de férias. E enquanto se garante a nossa "liberdade" nas burocracias universitárias, nós garantimos a nossa liberdade nas ruas, com o nosso sangue e suor.

wellthon disse...

Bem... parece que aqui se tornou meio que uma ouvidoria incentivado pelo texto de Perucci.

Como eu já havia dito para alguns professores, no momento em que o "estado democrático" aperta e pessoas, independentes de serem alunos da UFPE, sofrem agressões e humilhações por lutarem por seus direitos de protestos e contestação de desigualdade vistas por todos (exceto por nossa querida mídia) me vem a lembrança de pessoas que estão lá em cima, em status bem diferentes dos demais mas que presumivelmente compreendem e apoiam a causa. Falando por mim, após notas de apoio de médicos, professores de direito, advogados da OAB, e até Cardinot (sim Cardinot fez uma matéria emocionante sobre democracia e nossos protestos), parei novamente e me perguntei... "Peraí onde estão os teóricos, e intelectuais "orgânicos" que de certo modo construiu e constrói tudo isso? Aqui da cidade cujo a Sociologia/Antropologia tem tanta história?.
Ai pensei, no meu vício pernambucano provinciano, estamos no maio de 68 do século XXI? Cujo estudantes vão as ruas na França, e os muros das cidades se enchem de frases como: "Morte aos sociólogos" mas nesse caso seria: "Onde estão os sociólogos?".
Ter um governo de "esquerda" não deve nos isentar de críticas a serem feitas, aliás acho que essa foi uma das lições que aprendi na sociologia.



Abraços,
Wellthon

Leonardo Lima disse...

Que tal começar a assinar seu nome antes de postar qualquer crítica, dúvida ou contribuição, hein caro Anônimo?

Sim, porque até onde sei o Cazzo é um espaço extremamente democrático...ao contrário da "realidade aí fora", aqui não é preciso usar qualquer máscara para se expressar...

Anônimo disse...

Leonardo Lima,

Eu não tenho que compartilhar desse seu "até onde eu sei". Eu não entendi o tom do seu comentário sobre as máscaras. Pode me ajudar?

Jonatas disse...

Wellthon,

Pelo que me lembro ofereci a você a oportunidade de escrever um texto sobre as violências que sofreram, sobre suas reivindicações, dificuldades, eventuais obstáculos e apoios que vêm encontrando em sua luta. Foi-nos enviado um texto que focava no silêncio do Reitor da UFPE a respeito desses eventos. Achei o texto desfocado daquilo que acredito ser o seu objetivo, e um ataque pessoal que eu, como coordenador de pós-graduação, não poderia subescrever. O espaço para falar sobre sua interpretação dos eventos recentes continuava e continua aberto - inclusive, dentro de tal contexto, falar da omissão de professores e de nossas lideranças institucionais. Apesar da agressividade e do tom desses últimos comentários, o espaço está aberto - assim como necessariamente aberto o espaço para diálogo com os autores que publicam nesse blog.

Você ficou de me enviar um texto com esse formato, mas não o fez, o que é um direito seu. Entendo que o Cazzo é mesmo um espaço de reflexão teórica e metodológtica e que essas coisas não estão dissociadas da política. Mas não somos consciência política do mundo, embora, na medida em que achamos uma questão justa, e um texto bem construído, dispormo-nos a publicar material de outras pessoas. (A propósito: já pedimos a alguns autores, que publicaram no Cazzo, que melhorassem em algum aspecto seus textos antes de os publicar: o que não gerou nenhum sentimento de ofensa; ouso dizer que tenha gerado até textos melhores).

No mais, o blogspot admite a construção de blogs melhores e mais corretos politicamente que o nosso.

Por último: talvez você não saiba quantos assuntos que julgamos importantes não podemos discutir aqui por uma questão prática: por ter que ler e orientar teses dissertações, monografias, aprontar relatórios, prestar contas, envolver-me com o funcionamento de uma burocracia sem a qual nosso programa de Pós e o DCS não andariam.

Jonatas

Cynthia disse...

Caros anônimo e Wellthon,

Fico me perguntando se o que vocês estão chamando de manifestação de solidariedade significa a adesão ampla e irrestrita a um documento que chegou ao meu email e que, até onde pude compreender, resumia-se num ataque à reitoria. (Que fique claro: não tenho problemas em criticar a reitoria, o que já fiz aqui mais de uma vez, mas de forma minimamente responsável, com base em informações relevantes e sem ataques pessoais a quem quer que seja. Cardinot não é exatamente meu modelo de intelectual orgânico).

Dadas as manifestações por escrito dos estudantes de ciências sociais, uma "notinha de solidariedade" exigiria muito mais do que uma simples referência aos fatos ou uma defesa (à qual, aliás, subscrevo) como a efetuada pelos professores da FDR.

E aproveito para colocar uma pergunta: interromper a orientação de uma tese para intervir junto a colegas no sentido de controlar a ação da polícia conta como solidariedade? Deve contar, não é, pois essa não é a primeira vez que os estudantes de ciências sociais me pedem para mediar conflitos com a polícia. Portanto, meus caros, a carapuça não me serve.

Continuo me dando o direito de usar este espaço (sim, acadêmico) para só escrever sobre aquilo que eu possa justificar. Quando isso não for possível, me dou o direito de reproduzir textos como o de Artur (aliás, agora, professor de sociologia do DCS, como nós).

Por fim, concordo com Leonardo: embora raramente tenha me furtado a responder questões postadas anonimamente, não mais farei isso quando o que estiver em jogo forem ataques pessoais.

Abçs

Anônimo disse...

Não entendo porque um ataque à reitoria seja algo tão precipitado. Entendo como um procedimento lógico, independente do conteúdo da carta formulada por alguns estudantes ou até da existência da mesma. Nós que estamos preocupados com a liberdade de expressão(com ou sem máscaras)deveríamos zelar pela a integridade e autonomia da universidade. Eu acho que qualquer sujeito com o mínimo de compreensão sobre essas duas condições necessárias entende de forma rápida(e não arbitrária ou precipitada) que a invasão de um campus universitário, com o objetivo de perseguir estudantes que protestavam de forma pacífica, é um atentado gravíssimo.É um desrespeito explícito do governo do estado à Universidade. Consequentemente é um desrespeito explícito a comunidade acadêmica(professores,alunos, funcionários, anônimos...). Não acredito que tanto tempo seja necessário para se indignar. Dessa forma, não ficarei chocado se o PPGS estiver emitindo por esses dias algo sobre o maio de 68, mais no futuro talvez saía algo sobre as diretas já, num futuro mais distante poderemos escutar algo sobre Pinheirinhos. Não se trata de adesão ampla a uma carta. Se trata da completa ausência de posicionamento, chega a ser engraçado tentar localizar a discussão em cima de uma carta determinada. Não acredito que o posicionamento dos professores esteja restrito a essa possibilidade. O querido Cardinot não é modelo de intelectual orgânico para o cfch inteiro, daí a surpresa diante de sua posição, principalmente quando contrastada com a dos professores.

Os fatos não esperam as teses. Se podemos responder provas sobre as questões mais subjetivas em duas horas, acredito que os professores possam escrever algo de qualidade(dentro das limitações de tempo, e da urgência necessária ao repúdio da violência) em uma semana. Até porque da mesma forma que nada é totalmente conhecido, nada é totalmente novo. Então para se escrever "uma notinha de solidariedade"(por incrível que pareça é algo que pode salvar vidas, resguardar direitos, prevenir abusos, em certas circunstâncias, muito mais do que uma tese) não é um obstáculo tão relevante o necessário rigor científico. Acho que você pode se arriscar um pouco diante de uma causa tão justa, próxima(?) e flagrante. Quando Zizek foi à Wall Street ele não tava preocupado com a organização impecável de suas ideias, ali o que pulsava mais forte era a impossibilidade, enquanto sujeito preocupado com a ordem social, de ignorar aquele fato. Será que todos os discursos de Satre em Sorbonne foram obras preciosas? Foram menos importantes por isso? Não.

Anônimo disse...

Depois que você não estava lá para mediar os conflitos com a polícia, acarretando numa grande quantidade de abusos, acredito que os estudantes tenham superado essa esquisita dependência. Fico me perguntando porque isso aconteceu. E espero que isso não se repita. Chegar a ser vergonhoso que os estudantes passem por isso, porque na maioria são pessoas que tem muito mais experiência de protestos do que você. Talvez a áurea de autoridade(existente muito mais na cabeça dele do que na sua) tenha ofuscado a autonomia dos alunos, eles ficaram limitados diante de tanta pompa( existente muito mais na cabeça deles do que na sua). Não responderei sua pergunta sobre a tese, fico com medo, pq não sei a importância que vc atribui a isso. Não sei se é possível algum paradigma de comparação.
Não queremos colocar carapuças. É justamente o contrário.

Respeito seu direito de gozar de forma acadêmica do seu espaço acadêmico. De fato, esse não é o canal para termos esse tipo de discussão. É um problemático um blog de objetivo específico servir para essa discussão. Pouco tem a ver. Isso é por conta da precariedade de comunicação entre as cúpulas da torre de marfim e os estudantes(em sua maioria dispersos e indiferentes). Aqui foi a possibilidade de se falar publicamente sobre o assunto tentando acessar os professores, alguns assíduos frequentadores e escritores desse blog.

É uma pena você concordar com Leonardo. Em nenhum momento tive como objetivo ataques pessoais, peço desculpas se isso aconteceu. É bom respeitar o anonimato. Por vezes é uma garantia de liberdade. Espero que não tenha sido sugerido que o anonimato foi usado para se disparar ataques pessoais, não chegou nem perto disso. Outras razões são mais relevantes do que esse equívoco.

Por fim, espero que se sedimente nas cabeças dos estudantes que autonomia universitária começa na sala de aula. E que os interesses dos professores não são os mesmos dos alunos, muitas vezes são conflitantes. Falta muita coragem e audácia. Por isso estamos discutindo no que cazzo(algo absurdo não é?).


Abraços.

Anônimo disse...

É impressionante a falta de compromisso social dos que se dizem "cientistas socias", sociólogos".. As agressões sofridas nos protestos não só por estudantes, mas pela população em geral é só mais um exemplo de um estado conservador que tem usado como estratégia de desenvolvimento coisinhas como Suape, remoção de pessoas de seus lugares de origem como aconteceu no Pina, por exemplo além de outras atrocidades que muitos estão fechando os olhos e se fazendo de "mortos" com tudo isso. Enfim, vcs não se posicionam em relação a nada que possa lhes comprometer,assim vejo, e ai, não estou ofedendo, só dizendo algo que é real...
Outro exemplo: Um professor da universidade está sendo acusado de estupro, e poucos se manifestaram, ninguém disse uma palavra, houve um ato e dois ou três professores do departamento apareceram...Vcs são omissos e isso é uma verdade..
Críticas sociológicas e acadêmicas sabem fazer mas interligar a sociologia à sua realidade concreta e atual não fazem.
Assim como o "anônimo", acredito que nesses """vários""" momentos em que por ventura @s estudantes pediram a sua ajuda deve ter sido pro acreditar na sua capacidade de ser solidária em junto com eles/elas resolver conflitos com a policia...Se vc acredita que isso já foi sulficiente como apoio, tudo bem, direito seu...
Espero que quem lhe pediu apoio não o faça mais, inclusive por que, claramente vc passou na "cara" todo esse apoio.
É isso, sem ofensas e agressões.
Só colocando os pingos nos "i".

Ana Carla de Sa disse...

Gente,
estou impressionada com a extensão dessa discussão!!

Para quem está fora da UFPE, como eu, isso nao faz o menor sentido e, por essa razão vou expor meu ponto de vista.

Até onde eu sei a decisão de criar um blog é pessoal e no caso do cazzo não me parece diferente. Se este blog é uma decisão de pessoas que são da mesma profissão e trabalham na mesma instituição (UFPE), penso que é apenas uma contingência. Poderiam ser de sociólogos (como eu) que trabalham em diferentes empresas/instituições e, inclusive, cidades ou países distintos.

Além disso, até onde pude perceber,os responsáveis pelo blog não reivindicam nas suas postagens e neste espaço de forma geral a sua condição de professores da UFPE. Fazem uso sim do seu instrumental profissional para promover discussões teóricas nas suas respectivas áreas de interesse e atuação.

Portanto, parece meio descabida essa cobrança dos alunos a respeito de um posicionamento "solidário" às causas - legítimas - atualmente encampadas pelos estudantes.

Além do mais, o Cazzo não é um veículo de mídia ou instituição que precisa tratar de todos os acontecimentos na sociedade e os blogueiros-professores estão em período de férias. Somente por essas razões é descabida essa cobrança toda!

#prontofalei

Anônimo disse...

Vê-se que não é fácil justificar-se diante de quem, afinal, foi "detido", "perseguido" ou "fichado em quartel". Afinal todos devem àqueles que derramam seu sangue e suor nas ruas em proveito da liberdade de todos. Falar mais o quê, se eles estão do lado da "verdade"?

Anônimo disse...

Mas, Ana Carla de Sá, aí está a "cachaça" do sociólogo ou cientista social de uma maneira geral: encontrar sentido no sem-sentido! De repente, não mais que de repente... Eis que... meu corpo...

Leonardo Lima disse...

Anônimo

Só para deixar claro: usei a palavra máscara no sentido literal mesmo, tal como definido pelo Houaiss: "peça com que se cobre parcial ou totalmente o rosto para ocultar a própria identidade".

Como você pode ver, o que falei tão somente se referia àquilo que foi feito por diversos estudantes durante os protestos ocorridos no Recife, seguindo o exemplo do grupo Anonymus.

Reconheço o uso legítimo dessa estratégia no caso em questão, mas aqui, no Cazzo, certamente isto é totalmente desnecessário e até mesmo injustificável. Como disse, este é um espaço democrático, onde quaisquer opiniões minimamente fundamentadas são publicadas pelo seus "administradores", desde que não sejam ofensivas a outrem ou possuam qualquer caráter preconceituoso. E ainda que um "ai" ofensivo ou que denegrisse fosse dito, porventura, contra as pessoas que são responsáveis por este blog, estou certo que nenhuma vingança ou ato punitivo maquiavélico, a curto ou longo prazo, seria posto em ação contra você, caso houvesse se identificado.

Sinceramente, nunca poderia esperar que uma simples palavra usada por mim, creio que de modo bem claro e sem qualquer tipo de indireta, pudesse levar a uma busca delirante por pelos em casca de ovo, como me pareceu de sua parte, caro Anônimo...

Josias de Paula Jr. disse...

O monopólio da violência é coextensivo ao estado moderno. Em teoria, tanto o liberalismo quanto o comunismo (marxiano) estão atentos para essa realidade e tentam contorná-la. Mas, no caso da esquerda, a prática é outra, ou seja, há um fascínio pelo estatal. O estado, sob a esquerda, se empodera, se agiganta, se fortalece. E, onde há estado forte há força contra a sociedade. A desconfiança liberal em relação ao estado é bastante salutar. Mas, liberalismo no Brasil é sinônimo de algo diabólico... Então segue a roda da política girada ora pela nossa esquerda - misto de festiva, corporativa e estatizante -, ora pelos nossos falsos liberais - em geral canalhas que se associam com a corrupção governamental para conseguir monopólios, subsídios e outro métodos de privilégios no mercado. Assim, se entendermos que a violência nunca acabará (salvo se recairmos na ilusão utópica anarquista - seja à la Proudhon, seja à la Marx), a questão de seu monopólio gira em torno ao tamanho e limites do estado.

Tâmara disse...

Josias,
Permito-me discordar, em parte, de você. A parte refere-se à desconfiança liberal em relaçao ao estado. Ela parece-me mais estratégica do que substantiva. Penso aqui na inesquecível Tatcher e sua violência contra mineiros britânicos; penso na ação e discurso do primeiro ministro inglês sobre as revoltas jovens; penso nas tensões crônicas do liberalismo norte-americano; penso no governo liberal de Sarkozy e nas características de sua polícia, etc.
Enfim, penso que nossos liberais (brasileiros) não são os únicos falsos...A lógica securitária tem aproximado governos de direita e de esquerda por esse mundo de meu deus, num círculo vicioso que só aumenta as diversas formas de violência societal, sob uma ordem globalizada que busca enfrentar o aumento das desigualdades sociais através do medo e da força.
E não esqueçamos que os princípios hegemônicos de reprodução social, apesar de sua falência concreta, continuam sob o comando de máximas ultraliberais. As mesmas máximas que levaram o mundo das finanças à falência que, de tão liberal, recuperou-se usando e abusando dos estados que eles tanto desconfiam...Abraço

Anônimo disse...

Sei lá, acho (corrijam-me os doutos no assunto) que eram os escolásticos que diante de um problema ou dificuldade propunham uma distinção. Amigo meu, por exemplo, era ultraliberal na educação e diálogo com seus filhos e extremamente conservador na condução financeira de seus negócios. Agora, se isso tem algo a ver com o que está em discussão...

Josias de Paula Jr. disse...

Tâmara, me ative ao Brasil por contingência. O liberalismo, faz algum tempo, está praticamente desaparecido no mundo. Antonio Candido, há alguns anos, disse que o socialismo é vitorioso mundialmente; se referia à série de conquistas dos trabalhadores, à proteção estatal (o welfare state) oferecida aos indivíduos (saúde, pensões, etc.), enfim à hegemonia das ideias que sustentam que o estado deve ser o contrabalanço das relações de mercado. Das pessoas e governos que você citou, apenas Tatcher era efetivamente liberal. No caso dos EUA e do escândalo financeiro, você mesma afirma que não há aí liberalismo algum. O fato de existir agentes econômicos privados não significa que há liberalismo... Pelo contrário, o que existe hoje é, como já disse, um grande conchavo entre elites burocrático-governamentais e grande corporações privadas (o mercado financeiro é assim, o de petróleo, o de armas, etc.). Tatcher, para o mal ou para o bem, não conseguiu desmontar o Estado Providência nem em 30% do que ela queria.
Por fim, não quero dizer que governos liberais não promovam a repressão policial. Como tinha afirmado, a violência nunca acabará e com ela a ação de polícia. O que quero levantar é: o monopólio da violência, a violência estatal é reduzido com a diminuição do estado? Dar mais poder ao estado - financiando inclusive os movimentos sociais, as ONG´s, os partidos - ajuda a combater a violência por ele praticada? O que podemos aprender com a crítica liberal.
Bom, é por aí que venho argumentando. Um forte abraço.

ps: Só para que o comentário de anônimo não lance alguma confusão, quando falo em liberalismo, falo em seu sentido clássico (sobretudo econômico e político), não no sentido mais "coloquial" de "pessoa com atos liberais" - aquela menos convencional, não formalista, etc.

Tâmara disse...

Josias,
Agora concordo em gênero e número. Abração

Anônimo disse...

Para mim, Josias, o Lim v(e), quando e->0, é zero. Lembrando que v(e) nos aponta a violência estatal "v" como uma função do tamanho do estado "e"... Além disso, só acredito em você porque acredito em Antônio Cândido, viu?

Brincadeiras à parte, prezado Josias, em que sentido clássico de liberalismo você se estriba, cabra, para afirmar, por exemplo, que "apenas Tatcher era efetivamente liberal"? Efetividade, para mim, significa ultrapassagem para o plano menos convencional, formalista, do comportamento dos atores sociais. Justamente o que você coloca de fora da discussão.

Abraço.