terça-feira, 1 de maio de 2012

Como sobreviver a uma tese de doutorado

Raewyn Connell, professora de sociologia da Universidade de Sidney, Austrália, mais conhecida no Brasil por seus estudos sobre masculinidades
Cynthia Hamlin

Passei o feriadão (que ainda não acabou!) dividida entre a correção de teses e dissertações e a edição de uma entrevista com Raewyn Connell que eu e Frédéric Vandenberghe fizemos no final do ano passado. Entre uma coisa e outra, encontrei um artigo da própria Connell intitulado "Como orientar um PhD".

Embora antigo (de 1985), o artigo continua atual. Acredito, entretanto, que ele pode ser mais útil aos próprios doutorandos (e, em certa medida, mestrandos), do que aos orientadores. O texto traz algumas ideias simples, mas que tendem a ser esquecidas no calor das crises ocasionais. Cito dois trechos, escolhidos relativamente ao acaso:

A tese não deve ser um trabalho sem falhas ou definitivo. Trata-se de um treinamento para a pesquisa. É uma obra-prima no antigo sentido das guildas, do trabalho cuidadoso que mostra que o aprendiz está agora qualificado para exercer um ofício. Teses de doutorado sempre têm um escopo limitado e sempre têm erros e julgamentos equivocados. [...] A questão não é produzir a pesquisa perfeita, mas produzir uma pesquisa que seja adequada, em qualidade e quantidade, para justificar o título de doutor. (p. 38)
Decidir sobre o problema da pesquisa pode levar uma quantidade de tempo surpreendente. Frequentemente, isso toma todo o primeiro ano do doutorado; algumas vezes, as redefinições ocorrem como próprio cerne do projeto. Pode ser muito desconcertante para aqueles estudantes que, depois de seis meses lendo em todas as direções, sentem como se não tivessem chegado a lugar algum e que estão desperdiçando seu tempo e o dinheiro público. (p. 39)
 
Trata-se de um verdadeiro "ansiolítico textual" que ajuda a manter os nervos sob controle naqueles momentos de crise acadêmica que todos aqueles que já passamos por um doutoramento conhecemos bem. Mas também deixa claro que a melhor prevenção para a ansiedade é o trabalho constante e regular.

Abaixo, a referência completa do artigo e o link para o site de onde ele pode ser baixado:

Connell, Raewyn. How to supervise a PhD. Vestes: Australian Universities Review, 1985, vol. 28 no. 2, 38-41.



3 comentários:

Tâmara disse...

Muito bem pensado, Cynthia, postar essa entrevista. Lembrei do meu orientador, perguntando-me o que havia de original em minha tese (assim que entreguei o material de minha pré-análise dos dados empíricos). A sorte é que eu já era professora, não ia me abalar com uma pergunta dessas: abri um sorriso e respondi que meu objetivo era fazer um trabalho coerente entre definição do problema, pesquisa empírica e diálogo teórico. Acho que ele estava testando minha maturidade, à francesa: sorriu também, como que tranquilizado com minha resposta. Mas, mesmo quando já somos professores, caímos nessas crises de dissertação e tese. É sempre bom ter um artigo como esses na cabeceira da cama. Beijão

Cynthia disse...

A entrevista ainda está no forno, Tâmara, e diz respeito à trajetória intelectual da Connell: de seus estudos sobre classe, gênero, educação, masculinidades e, mais recentemente, o que ela chama de "Teorias do Sul" e que poderia ser classificado sob a égide de teoria pós-colonial. Foi um bate-papo muito interessante que, esperamos, será publicado em breve.

Quanto às agruras do doutorado, confesso que passei por raríssimas crises e de duração muito limitada, mas sou capaz de reconhecer muitas das preocupações que a Connell menciona em seu artigo.

Bjs

Anônimo disse...

Adorei!!