A metodologia não se interessa apenas pelas concepções de realidade social (a ontologia social), mas também pela forma como esta realidade é conceituada (em parte, o papel da teoria) e como pode ser conhecida (papel da epistemologia). Como nem sempre os cientistas sociais têm uma ontologia explícita ou mesmo num nível consciente, reflexões teóricas e epistemológicas podem ajudar a esclarecer pressupostos ontológicos. Na verdade, é muito freqüente a negação de uma dimensão ontológica por parte de alguns autores. Muitos chegam a afirmar que as questões ontológicas são muito “abstratas” e não levam a lugar algum: é como se os que se preocupassem com isso estivessem no meio de uma luta quixotesca contra quimeras. Em casos como este, a ontologia deve ser inferida, em grande medida, de posições teóricas e epistemológicas.
Se a ontologia tem como questão principal “o que é isso?”, a epistemologia procura responder a pergunta “como posso conhecer isso?”. O problema é que para responder a segunda pergunta, o pesquisador deve ter alguma concepção, por minimalista que seja, do que é a realidade que busca conhecer. Assim, por ex., uma epistemologia empiricista radical, que defende que a verdade só pode ser alcançada por meio da observação empírica, tende a pressupor que a realidade consiste apenas de objetos observáveis, todo o resto sendo “apenas nomes”. Dado que tudo o que é observável são objetos singulares, atômicos, surge aí uma afinidade com uma ontologia nominalista nas ciências sociais. No outro lado do espectro (e existem muitas posições intermediárias), os racionalistas, ao defenderem que a razão é um caminho seguro para a construção do conhecimento, podem atribuir um status de realidade a coisas não observáveis, como essências (númenos) por trás de aparências (fenômenos), embora os autores difiram acerca da possibilidade de se conhecer essências – o que significa que uma ontologia semelhante pode vir acompanhada posições epistemológicas distintas. Neste sentido ainda que não exista uma relação mecânica e direta entre posições ontológicas e epistemológicas, algumas posições se excluem mutuamente, e qualquer autor que faça uso de proposições conflitantes mostrará essas contradições em sua teoria.
Cynthia Hamlin
3 comentários:
Cynthia,
Acho que não entendi direito a relação entre a epistemologia empiricista e a ontologia nominalista. Isso porque, acho eu, não compreendi o que querem dizer os nominalistas ao afirmar que as coletividades não passam de "nomes" (também não entendi as aspas).
Fiquei confuso com a relação entre empirismo (empiricismo?) e nominalismo, pois levou-me a concluir que, para os nominalistas, apenas as "motivações, razões e objetivos" individuais podem ser empiricamente conhecidos.
Algumas dúvidas decorrem desta conclusão - sinta-se à vontade para ignorá-las se eu estiver adiantando assunto da disciplina ou abusando da sua boa-vontade:
1. Qual é o argumento da ontologia nominalista que fundamenta o individualismo metodológico?
2. Os nominalistas utilizam o conceito de estrutura?
3. Qual é a ontologia subjacente à epistemologia empiricista?
4. Como é possível verificar empiricamente uma motivação?
Grato.
Lucas,
Acho que a melhor forma de responder suas perguntas seria desenvolver esses argumentos em um post. Assim que tiver uma folga, faço isso.
Cynthia
Ok. Obrigado.
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