"Lasciate ogni speranza, voi ch'entrate": Isso é um blog de teoria e de metodologia das ciências sociais
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
Desmistificando o Espaço dos Museus: O Clube Social da Unidade de Vizinhança
Convite aberto
Olá,
Somos um grupo de artistas de Brasília interessados em experimentar relações entre arte e espaços de arte, relações com a cidade, com as pessoas, com o objeto público, com a expansão do termo “artista”, entre outras coisas. No dia 9 de setembro, iremos abrir a exposição “Vizi – Clube Social da Unidade de Vizinhança”, no Museu Murillo La Greca, em Recife, como parte do Projeto Amplificadores.
Nossa proposta de exposição faz referência direta ao Clube homônimo, concebido por Lúcio Costa no projeto original de Brasília com a intenção de facilitar a interação entre os moradores de uma determinada região. Inicialmente, pensamos em envolver apenas a comunidade circunvizinha ao Museu Murillo La Greca. Com o amadurecimento da idéia, no entanto, percebemos que os laços de vizinhança na contemporaneidade iriam para além da vizinhança geográfica, abrangendo por afinidade, indiretamente, nossos amigos e conhecidos em Recife, e os amigos dos amigos, e assim sucessivamente.
Assim, inspirados na teoria dos “seis graus de separação”, estamos convidando você a participar conosco da exposição, associando-se ao nosso Clube Social da Unidade de Vizinhança. Como essa associação ocorrerá? De forma muito íntima: pedimos que você escolha de um a três objetos pessoais que considere de importância e valor sentimental inestimáveis e que possa(m) permanecer em exposição no Museu durante 1 mês.
Poderíamos discorrer longamente sobre a questão simbólica que existe em torno da idéia tradicional de Museu como espaço sacralizado e que resguarda valores relacionados a objetos do passado, mas não é esse nosso objetivo no momento. Queremos partir de uma abordagem mais intuitiva: o que você levaria para um museu para ficar em exposição?
Entre os dias 4 e 6 de setembro (quinta e sexta durante todo o dia; sábado, pela manhã) estaremos no Museu Murillo La Greca para receber os objetos e conhecer suas histórias, além de tirar um retrato de cada participante do "Clube" (se possível, leve uma fotografia 3x4).
Na abertura da exposição, dia 9 de setembro, a partir das 18hs30 iremos realizar um grande Baile comemorando a exposição. Desde já, você está convidada a ir e a convidar outros possíveis sócios de nosso Clube, formando uma grande rede social articulada.
Gisel Azevedo - Krishna Passos - Maicyra Leão
Clube Unidade Social de Vizinhança
o Museu Murillo La Greca fica na Rua Leonardo Bezerra Cavalcanti 366, Bairro Parnamirim. Telefone: 3232 4276.
O Projeto:
Vizi:Clube Social da Unidade de Vizinhança
-Um pensamento sobre articulação entre cidades, vontades e anseios de proximidade.
-Em cada íntimo, a desconfiança de um afeto intenso por Recife.
-Uma proximidade velada entre a construção utópica candanga e a proliferação contemporânea do contexto artístico pernambucano.
Em Brasília, do centro do avião para o norte e o sul, as Asas, ou zonas residenciais: Asa Norte e Asa Sul. Cada Asa tem um conjunto de Superquadras. Uma Superquadra são onze blocos de apartamentos, em edifícios geralmente de seis andares, de uma área de 300m2 rodeada por vinte metros de área verde. Quatro Superquadras compõem uma Unidade de Vizinhança; e cada Unidade pressupõe uma autonomia própria de serviços locais e geracionais. A saber: o jardim de infância, a escola-classe, a escola-parque, a igreja, o Clube de Vizinhança, o posto de saúde, a biblioteca, o cinema e o comércio local com padaria, farmácia e banca de jornal.
O Clube de Vizinhança é parte do projeto original de Lúcio Costa e buscava promover a interação entre os moradores da região de uma “Unidade de Vizinhança”. A primeira unidade foi criada em 1961, entre as superquadras 108/109 sul.
Em 2008, seguimos de Brasília rumo a Recife norteados pelo ímpeto de estabelecer conexões entre a vizinhança unitária-individual e uma rede-clube-universal. Navegamos através de seis graus de separação entre conhecidos e desconhecidos que ofertaram suas intimidades através de objetos afetivos a serem exibidos e compartilhados num outro tempo/espaço, museológico e público.
Transbordamos as fronteiras de uma vizinhança geográfica para alçar vôos expandidos na contemporaneidade, onde as vizinhanças ocorrem para além da matéria física, do estar encostado parede a parede. Nossas moradas ligaram-se por afinidades e cumplicidades, num anseio de tornar público o “acervo” de nossos próprios esquecimentos e lembranças.
Em seu silêncio, cada sócio-membro dessa rede realizou uma escolha: qual o objeto de seu afeto se tornaria “acervo público” do Clube. Objetos e histórias contadas, coletadas e colecionadas numa trama de infindáveis possibilidades de articulação. Uma alternativa de auto-curadoria informal, de todos os membros, não necessariamente “artistas”, organizada por princípios colaborativos na arte e na co-existência diária, a exemplo de experiências realizadas pelo grupo, em Brasília, como a Residência-Exposição Galeria Cohab e o Projeto Fora do Eixo.
Assim, convidamos à desmistificação do espaço do Museu como habitat de relíquias exclusivas, sob a luz do objeto caseiro e das intimidades de nossas escolhas, que se fazem força circulante enquanto rede-vizinhança-social de propositores e participantes. Aproveitamos o contexto museológico para fazer reverberar a percepção para além do tropeço cotidiano, aproximando a relação entre o escondido e o exposto, o desnudar-se. Sorrateiramente, abrimos baús de Passados e suspendemos sobre pedestais micro-importâncias veladas, retiradas as poeiras e acúmulos do tempo, realçando sujeitos e subjetividades a seis graus de separação.
Dessa forma, a idéia de obra processual constituída através da relação entre os sócios e seus objetos reivindica uma situação em que a obra experimenta outras possibilidades de comunicação com a instituição museológica e expositiva, colocando o acaso e a imprevisibilidade como matéria-prima para a criação artística. Compomos um ambiente de coletividades tornadas cúmplices por arranjos e combinações, orientados por sua vez pelo instante do contato. Ambiente aberto ao seu próprio objeto de vizinhança.
Seja sócio de nosso clube agora mesmo! Pergunte-se como.
Gisel Azevedo - Krishna Passos - Maicyra Leão
Contato: giselazevedo@hotmail.com
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