sábado, 16 de janeiro de 2010

Avaliação em ciências sociais: você disse "quantificar"?



Laurence Coutrot

Obs.: Este texto é um extrato de artigo publicado por Laurence Coutrot nos Quaderni di Sociologia (n° 49, vol. LII, dezembro 2009. Coutrot é pesquisador do Centre Maurice Halbwachs/Centre Nationale de la Recherche Scientifique e da Ecole Normale Supérieure/Ecole de Hautes Études en Sciences Sociales.

Tradução para o português, mediante autorização do autor, de Tâmara de Oliveira.

O uso da bibliometria como instrumento de avaliação da pesquisa é um tema recorrente desde os anos 1960. Longe de se limitar a um simples problema técnico, a questão dos indicadores bibliométricos pode ser vista como instrumento numa luta de poder entre o corpo político e o mundo universitário. Esse conflito conheceu fases trágicas antes disso, durante a segunda guerra mundial, retornando com força há mais ou menos vinte anos. Estamos numa nova fase e o episódio de «quantofrenia» que a França vive atualmente é apenas um sintoma disso : a esperança de quantificar a produção científica e avaliar «objetivamente» sua qualidade graças a instrumentos bibliométricos também é recorrente. Considerando que a publicação é um traço essencial da atividade científica e que a «notoriedade», o fato de ser citado, é um indicador da «influência» de um autor, observa-se quem cita quem, quem é citado por quem e quantas vezes…Pode-se dessa forma calcular o «fator de impacto» de um autor, de um grupo de autores, de um laboratório, de uma instituição, etc. Enquanto se trata apenas de reparar as vedetes, esse método não põe nenhum problema: em geral, um pesquisador que recebeu o prêmio Nobel foi muito publicado e seus trabalhos foram frequentemente citados. Infelizmente, esses são casos raros, onde a medida bibliométrica é justa mas inútil: todo mundo sabe que a correlação entre a celebridade e o fato de ter recebido o prêmio Nobel (ou mesmo de ser suscetível de recebê-lo) é boa. O problema é mais delicado quando não se fala mais em celebridade mas em qualidade e que se pretende utilizar esse método para avaliar a qualidade de uma produção científica, quer se trate de instituições, de revistas ou de pesquisadores.


10 comentários:

Cynthia disse...

Tâmara,

muitíssimo oportuno esse artigo. Realmente os métodos de avaliação de universidades, cursos, periódicos, livros e pesquisadores é uma questão delicada que merece muita reflexão. A questão é especialmente delicada para nós que, além de seguirmos critérios fundamentalmente pensados para as ciências duras, estamos na periferia da produção científica mundial. É realmente complicado pensar em critérios de avaliação que reflitam a qualidade do que vem sendo produzido.

Obrigada pela contribuição.

Beijo.

Anônimo disse...

Cynthia,
Concordo em gênero e nu'mero e foi por isso que pedi a Laurence que cedesse esse artigo anali'tico, informativo e tão bem escrito para o Cazzo e que o traduzi com enorme prazer. Ou seja, minha contribuição foi positivamente interessada:aproveitar o espaço bacana de discussão que vocês sustentam para apresentar um tema que precisa ser bem pensado e conversado.
Aprecio especialmente a parte do artigo em que Laurence Coutrot passeia pelo mal-estar que a bibliometria tem gerado nas pro'prias "ciências duras", porque acho que isso revela bem o alcance do problema.
Coutrot fala em modelo "hit parade" de classificação. Quanto a mim, esse artigo remete-me ao que Sennet chama de burocracia MP3. Para ele, se uma nova burocracia é caracteri'stica efetiva apenas de setores de ponta da produção econômica, sua lo'gica subjetiva tem impregnado a maioria das atividades sociais institucionalizadas.
Ora, que aceitemos essa lo'gica como fatalidade é particularmente assustador nas ciências sociais. O nosso mundo fica demasiadamente bourdieusiano para o meu gosto. Com todo o respeito pela sociologia de Bourdieu que tenho, nunca suporto bem aquele tabuleiro de xadrez em que os agentes sociais são portadores de habitus para a reprodução dos campos. Não suporto isso muito bem nem teo'rica, nem metodolo'gica, nem existencialmente.
E ainda espero que vocês possam postar uma variação do mesmo tema que consegui para o Cazzo: um pequeno e muito sensi'vel texto de outra socio'loga francesa, Frederique Barnier. Tomara que esse mini-dossier sobre a avaliação do conhecimento cienti'fico, sob um olhar francês, estimule a reflexão dos leitores do blog.
Obrigada também por mais uma vez permitir que eu aproveite o espaço do Cazzo
Abração, Tâmara

Le Cazzo disse...

Faço eco ao comentário de Cynthia. Lembro de que os alunos do DCS da UFPE estiveram envolvidos em uma discussão sobre aspectos éticos do produtivismo o ano passado. Uma boa oportunidade de continuar a reflexão. Nosso agradecimento a Tâmara pelo trabalhão de traduzir o artigo de Coutrot. Jonatas

Anônimo disse...

Jonatas,
Agradeço seu agradecimento. Preciso contudo ser sincera: traduzir, para mim, nem é trabalhão nem trabalhinho, é puro prazer. So' fiz sociologia porque na época não sabia que minha paixão é traduzir. Não que eu faça isso bem, mas, mais vale um gosto do que dez mil réis. Abraço, Tâmara

Anônimo disse...

Alguém poderia me explicar que danado é isso que apareceu nos comenta'rios de uma postagem natalina do Cazzo e agora nessa? Agradeço antecipadamente qualquer esclarecimento. Tâmara

Cynthia disse...

Oi, Tâmara,

não faço idéia. Algo sobre gogo2sexplus28. Kinky!

Le Cazzo disse...

Olha para o outro lado e finge que não é com você. Jonatas

Anônimo disse...

E é comigo!? Valei-me Glorioso Antônio, nosso padroeiro! Invoco uma força maior porque acho que a orientação de Jonatas não é suficiente. Por conta do tom de azul que parece-me sinistro. Penso no polvo gigante de Victor Hugo. Tâmara

Cynthia disse...

Hahaha!

Cynthia disse...

Ah, Tâmara, manda o outro texto, sim! Isso me interessa muito.