quarta-feira, 7 de abril de 2010

Susan Pinker



Há cerca de um mês, Artur publicou um texto delicioso sobre os embustes de certas vertentes da economia e da psicologia que, sob o manto de uma suposta neutralidade científica, geram posições normativas as mais absurdas e fazem o gosto da grande mídia ao promover explicações fáceis para fenômenos complexos (leia aqui). De um ponto de vista metodológico, esses alvos são tão fáceis de serem atacados que dá até um certo enfado falar sobre eles. Especialistas em formigas e cupins explicando comportamentos humanos relativos a sexo, religião e guerras (Edward O. Wilson, da sociobiologia); economistas utilizando comportamentos típicos do mercado econômico para explicar as escolhas matrimoniais das mulheres (Gary Becker); zoólogos evolucionistas que concebem os genes como uma espécie de "homunculus oeconomicus", verdadeiras máquinas de cálculos dotadas não apenas de razão, mas de racionalidade instrumental (Richard Dawkins). Talvez isso explique a opção de Artur por uma abordagem humorística que expõe o ridículo dessas teorias (apesar da paixonite dele pelo suspeitíssimo Daniel Dannett). Mas de um ponto de vista político, econômico e social a questão é séria e, dependendo do lado em que se está, o enfado acaba sendo substituído por indignação. Foi isso que senti quando terminei de ler a “entrevista” com a psicóloga evolucionista (ou evolucionária) Susan Pinker, publicada pela Falha, digo, Folha de São Paulo domingo passado. Seguem meus comentários indignados.

Cynthia



8 comentários:

Leonardo disse...

Hahahahahaha
É rir pra não chorar com umas opiniões dessas...

Patrícia disse...

É surpreendente esse tipo de comentário.Logo agora que estava procurando texto sobre gênero para minha monografia me deparo com um absurdo desse tipo.Fiquei até reflexiva e indaguei: O que podemos esperar de pior depois disso? Só mesmo se as feministas convictas se declararem agora ex-feministas.

Cynthia disse...

Cara Patrícia,

Tem pior, sim. Tem Camille Paglia.

Pedro Eduardo disse...

Essa "dissecação" do texto foi ótima!
Acho que vou imprimi-lo para mostrar todas a vezes que, em rodas de amigos,
alguém vem com qualquer estudo que aponta as desigualdades como naturais.

Brincadeiras a parte, um comentário:

- Ela fala que os homens são mais dispostos a reivindicar aumento salarial.
Mas (por experiência própria e estudos) é notável que muitas vezes em que uma mulher aumenta a voz no trabalho
é sinônimo de falta de controle emocional...

Artur disse...

Hehe... gostei do "texto delicioso". Eu me senti um doce de goiaba.

Muito bons os comentário sobre e contra o "reducionismo" (uso um eufemismo qualquer) de Susan Pinker.

Como vc disse, o problema não é apenas teórico e acadêmico, é fundamentalmente político. Fico tb espantado com o desprezo desse pessoal pela ciência social. É como se não existisse.

Sabe dizer se ela é parente de Steven Pinker, psicólogo cognitivo, que tem vários livros traduzidos no Brasil?

De fato, eu gosto muito de Dennett, mesmo discordando bastante do cabra. Embora, no campo da biologia evolutiva, defenda posições parecidas com a de Dawkins, Dennett é mais interessante.

Seu livro sobre religião ("quebrando o encanto") é bem mais sutil do que o de Dawkins ('Deus é um delírio"), embora, sendo eu um ateu cercado por carolas por todos os lados, gosto do radicalismo de Dawkins. Mas, entre Dawkins e Stephen Jay Gould, gosto mais do último (ao contrário do velho Gadie).

Recomendo três livros de Dennett:

A perigosa ideia de Darwin
Brainstorms
A estratégia do interprete

Cynthia disse...

Arture, você é um doce, só não sei se de goiaba.

Você acertou na mosca: a questão fundamental é o reducionismo. Na verdade eu até tinha intenção de argumentar por aí, mas deu preguiça (depois que Jonatas trouxe o espírito de Macunaíma para este blog, a coisa anda meio devagar). E o pior é que este reducionismo se dá não por alguma convicção ontológica ou epistemológica coerente, mas por pura má vontade e ignorância em relação ao que é produzido pelas ciências sociais.

No caso da Susan Pinker (sim, ela é irmã do Steven - que é melhor do que ela) fica clara a ignorância em relação à maioria das questões sociológicas e econômicas a que ela se refere, por exemplo, a flexibilização do trabalho ou as diferenças entre "escolhas" em países como a Holanda, cujo Estado de bem-estar social ainda funciona, e o resto do mundo, onde "optar" por trabalhar em meio-período é a diferença entre ter ou não um emprego.

Mas outro ponto que eu deveria ter desenvolvido e a preguiça não deixou foi que a tendência contrária também é complicada: isso que eu chamo de colonização do sexo pelo gênero, onde tudo passa a ser construto social.

Eu acho que existem autores extremamente interessantes que conseguem fazer a ponte entre as ciências biológicas e as ciências sociais sem incorrer em nenhum desses erros, caso de Stephen Jay Gould, que vc menciona, Oliver Sacks, o neurologista, e Anne Fausto-Sterling, a bióloga feminista (embora Fausto-Sterling às vezes escorregue para o que eu acredito ser um construtivismo exagerado). E os dois primeiros fazem isso em obras de divulgação científica, o que é ainda mais difícil.

Gadiel é fã de Dawkins??? Pra que você me diz essas coisas?

Cynthia disse...

PS.

CADE MEU MR. DARCY????

Artur disse...

Certo, certo, vc venceu. Colocarei Mr Darcy no blog para o seu gáudio.