quinta-feira, 17 de junho de 2010

Vida e Obra de Tom Bottomore


Tom Bottomore e William Outhwaite

Por William Outhwaite - Professor de Sociologia da Universidade de Newcastle, Inglaterra.

Artigo originalmente publicado em Idéias, Campinas, 5 (1) , pp. 155-72, jan/jun 1998. Agradecemos a Ricardo Antunes a permissão de reproduzí-lo no Cazzo.

Tom Bottomore, que faleceu em fins de 1992 aos 72 anos de idade, era um dos sociólogos britânicos mais conhecidos e admirados. Seus diversos livros foram lidos por todos, de especialistas a estudantes de primeiro ano, como um guia infalivelmente confiável para a disciplina e sobre a bibliografia relevante. Ele trouxe para a Sociologia britânica a preocupação com a teoria social - especialmente, mas de forma alguma exclusivamente, marxista - e com o que veio a ser chamado de Terceiro Mundo. Colocou em prática sua abordagem internacional, em muitos anos de trabalho paciente, no desenvolvimento da Associação Internacional de Sociologia, da qual foi presidente de 1978 a 1982.

Nascido em 1920, Tom Bottomore foi educado na cidade inglesa de Nottingham, onde se interessou pelo socialismo como um possível remédio contra a pobreza das comunidades mineiras de carvão, a depressão econômica e o surgimento do fascismo. Foi membro do Partido Comunista por um breve período e, em consequência disso, a este expert em pensamento social norte-americano nunca foi legalmente permitido visitar os Estados Unidos (ele viajou para lá ocasionalmente enquanto morava no Canadá, mas se recusava a completar os questionários especiais requeridos pelas autoridades americanas com a finalidade, como ele certa vez colocou, "de me espionar").

Estudando economia enquanto engajado no serviço de guerra em Londres, Tom Bottomore foi designado para trabalhar no serviço de administração militar britânico na Viena do pós-guerra, cidade da qual ele veio a gostar muito e onde trabalhou na produção de estatísticas econômicas. De volta ao Reino Unido, estudou Sociologia na London School of Economics com o sociólogo evolucionista Morris Ginsberg, defendendo uma tese sobre teorias do progresso. Passagens do seu diário datando desta época mostram que tinha poucas ilusões a respeito do Estalinismo, mas que também estava impaciente com o anticomunismo radical de alguns dos professores da LSE: "Eu cheguei à conclusão de que muitos daqueles que gritam mais alto contra o comunismo estariam entre os primeiros a se acomodar a ele e a buscar posições na hierarquia" [1]. Ele não levava muito a sério Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, de George Orwell, publicado em 1948: "Dêem-me críticas sérias acerca do sistema soviético a qualquer hora". Também é dele a piada imortal que diz que, embora seja possível construir o socialismo em um país, é aconselhável morar fora dele enquanto o processo estiver em curso.


Um comentário:

Tâmara disse...

Eu li esse post hoje, 18 de junho, pela manhã. A's 17:00 mais ou menos, conectando-me para ter noti'cias da Copa, fiquei sabendo que Saramago morreu. Um na sociologia, outro na literatura, duas pessoas que envelheceram e morreram sem vergonha de seu humanismo de esquerda. Sinto-me o'rfã, de alguma forma. Que feliz-triste coincidência a do Cazzo: falar de um quando o outro estava morrendo serenamente ao lado de seu amor. Abraço.