[Uma amiga me enviou o protesto de Zé Celso, abaixo. O assunto tem de vir a público, tem de ser discutido. Acho que devemos replicar esse texto em nossos blogs, encaminhá-lo por email, afinal, os fatos são muito preocupantes. Admirador do trabalho do Oficina, não poderia deixar de dar eco às palavras deste grande diretor. Dar visibilidade ao problema é o mínimo que se pode fazer por quem já fez tanto pelo teatro e cultura nacionais. Jonatas]
AS DIONIZÍACAS DE 17 a 20 no TEATRO DE ESTÁDIO do ex-ESTACIONAMENTO do BAÚ da FELICIDADE serão dedicadas à luta pelos DIREITOS HUMANOS DE ELAINE CESAR E À LIBERDADE ARTÍSTICA VIOLADA PELA VARA DE FAMÍLIA DE SÃO PAULO
São 06:16. Acordei, apesar de estar exausto por excesso de trabalho pelos trabalhos de realizar meu maior desejo em 30 anos, de apresentar a partir de 6ª feira as DIONIZÍACAS no Teatro de Estádio que levantamos no Ex-Estacionamento do Baú da Felicidade mas não consigo dormir porque não estou mais suportando a ENORME INJUSTIÇA que a SOCIEDADE BRASILEIRA está cometendo com ELAINE CESAR, que neste momento está na UTI, correndo risco de vida.
Este caso não é diferente do de Sakineh no Irã, do de Lu Xiaobo na China e de Assange na Inglaterra. Vim pro computador porque até agora não conseguí fazer chegar nossas vozes de defesa aos DIREITOS HUMANOS desta Mãe Artista, Diretora de Video do Teatro Oficina Uzyna Uzona, que na semana passada, perdeu em duas jogadas:
1º, a guarda de seu filho THEO, de 3 anos de idade.
2º, seus instrumentos de trabalho confiscados, seus HD’s, que também são do Oficina, com todo material gravado de pelo menos 30 anos de Oficina Uzyna Uzona, e de outros trabalhos seus, e de artistas como Tadeu Jungle.
É um atentado à liberdade de produção artística, um sequestro só comparável à invasão do CCC em 1968 a “Roda Viva”.
E agora esta mulher está incapacitada de estar à frente do trabalho que adora, de comandar a direção de Video e das filmagens das Dionizíacas esta semana, e tem de ver a sociedade, a Mídia sempre tão escandalosa, impassível com este fato.
Porque tudo isso ?
Porque um ex-marido ciumento, totalmente perturbado, teve acolhidos por autoridades da Vara da Família, para esta praticar uma ação absolutamente anti-democrática, para não dizer nazista, todos seus pedidos mais absurdos de ex-marido ególatra, doente, de arrancar o filho do convívio da Mãe, acusando Elaine de trabalhar num “Teatro Pornográfico” e para lá levar o filho: o Teatro Oficina. Fez oficiais de justiça sequestrarem os HD’s deste Teatro, com um texto de uma obscenidade rara, para procurar cenas de pedofilia e práticas obscenas que Elaine e seu atual marido, o ator Fred Stefen, do Teatro Oficina, teriam cometido com o filho de Elaine, o menino Theo.
Quase todas as 90 pessoas que trabalham na Associação Oficina Uzyna Uzona têm se manifestado por escrito, pois tiveram contato permanente com Theo, Elaine e Fred dentro do teatro e fora dele e não se conformam com a falta de eco de seus protestos.
Porque tudo isso ?
A revolução cultural da liberdade que uma grande parte dos seres humanos vem conquistando determina uma reação absolutamente inquisitorial, fascista, como é o caso dos homofóbicos da Av. Paulista e no caso, não do Estado Brasileiro, mas da própria Sociedade Reacionária incorformada, querendo novamente impor censura à Arte, aos costumes, e pior à vida dos que escolheram viver livremente o Amor.
E é incrível aqui, a liberdade de imprensa tão fervorosa em escândalos moralistas, se cala totalmente diante de um atentado a dois seres humanos, Elaine, a Mãe, e Theo seu filho, e a um teatro de 52 anos como o Oficina, e não toca no assunto, como se fosse o Partido Comunista Chinês, os Republicanos dos EEUU e os fundamentalistas islâmicos do Irã.
Tenho feito inúmeras reportagens sobre as DIONIZÍACAS, e falado no assunto, mas a divisão ainda tayloriana de trabalho impede que os jornalistas levem a sério o que estou dizendo, por não estar no limite das matérias que estão fazendo comigo.
Enquanto isso uma mulher, ELAINE CESAR, praticamente corre risco de vida na UTI e o Teatro Oficina censurado estreia as DIONIZÍACAS tendo por exemplo de fazer sua propaganda para a TV com material ainda filmadas no edifício do Teatro Oficina, pois as imagens do Teatro de Estádio erguido pelo Brasil em 2010 estão sequestradas pela Vara da Família.
O moralismo desta instiuição, que parece odiar os Artistas como criminosos, dá proteção a um macho ciumento, invejoso, doente, mordido de ciúmes, que está tendo delírios sexuais, projetando em ações discricionárias como as que tem praticado, e pior com apoio da injustiça.
Fazendo um ensaio corrido de BACANTES, que conta a história de Dionisios e da luta de seu adversário moralista, que quer impedir o culto do Teatro em sua cidade, percebi o óbvio. Tudo que Penteu acusa nas BACANTES e em DIONISIOS é projeção de coisas que seu ciúme provocou em sua cabeça.
Elaine, muito tempo depois que se separou deste ex-marido, teve o privilégio de encontrar um novo amor no ator Fred, que é homem muito bonito e muito livre. O macho, ex-Hare Krishna, ciumento, invejoso, então endoidou e começou a imaginar em sua cabeça cenas de pedofilia, sexo de Elaine e de seu novo maravilhoso amor com seu filho, repressão ao TEATRO OFICINA. Elementar, Freud diria.
Os desejos de pedofilia, até de pederastia em relação ao atual marido de Elaine estão nele. Por isso o menino de 3 anos Theo, corre perigo nas mãos deste irreponsável. Uma tia procuradora aposentada, de Brasília, rica, e um deputado devem estar auxiliando o rapaz com seus contatos reacionários aqui na Vara de Família.
Nem sei os nomes das pessoas porque os autos não estão na minha mão. Elaine não tem pai nem mãe, estão mortos. Fred está sem dormir há dias, agora preocupado acima de tudo com a sobrevivência de Elaine. Segunda feira havia uma audiência com o Juiz de família, para copiarmos o absurdo de mais de 400 horas de vídeo dos HD’s. Nenhum de nós nem pôde aparecer, pois estávamos preocupados com a vida de Elaine, hospitalizada na UTI. Fred doi buscá-la no aereoporto, onde voltava de Brasília, para onde tinha ido ver o filho, sob a vigilância de uma babá contratada pela tia. Na despedida Theo o menino chorava, querendo voltar para os braços da mãe em São Paulo, segundo relato de Elaine, que do aeroporto, passando muito mal, teve de ser hospitalizada, e em estado grave o hospital resolveu colocá-la na UTI.
Não sei o que fazer para acordar a mídia, esta Justiça Injusta que, querendo defender a Família, destreoi a vida de uma Mãe, de uma Criança e atormenta todo nosso trabalho maravilhoso neste momento vitorioso do Oficina Uzyna Uzona. Este “taylorismo”, (divisão de trabalho e competências do século 19) da vida contemporânea, esta insensibilidade aos direitos humanos que me é revelada agora neste momento, me faz dedicar as DIONIZÍACAS á todos que lutaram em 30 anos por este momento, mas sobretudo a ELAINE CESAR E THEO.
Que esse filho volte imediatamente para os braços da MÃE antes que aconteça o PIOR.
E que o material apreendido retorne imediatamente ao Oficina Uzyna Uzona.
É uma Obra de Arte sequestrada em nome de uma atitude mesquinha provocada pelo Ciúme de um Ególatra, de uma Justiça cega e de uma Sociedade, Mídia, conivente como a de São Paulo.
Por favor acordem os trabalhadores da difusão do que acontece de bom e de mau no Mundo e revelem isso a todos. Peço a todos, seja quem for, que façam esse favor de amor aos direitos humanos e batam seus tambores.
Me dirijo especialmente a Ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Nilcéa Freire. Médica, Professora da UFRJ, Nilcéa ocupa o Ministério há quase 8 anos. Tem feito um excelente trabalho. O endereço da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República é: Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Edifício Sede, 2º andar – Brasília/DF. CEP: 70047-900. Fones: (61) 2104 – 9377 e 2104 – 9381. Faxes: (61) 2104 – 9362 e 2104 – 0355.
A OTAVIO FRIAS, na FOLHA, aos diretores do ESTADÃO, do GLOBO, das TV’S, Rádios, que apurem os fatos. Nós estamos envolvidos nos trabalhos de estrear dia 17 as DIONIZÍACAS, um marco na história do TEATRO MUNDIAL, e nos sentimos impotentes diante da gravidade do assunto, de uma VIDA HUMANA CORRENDO O RISCO, POR SEUS SENTIMENTOS DE DIREITOS HUMANOS TEREM SIDO AGREDIDOS.
Colaborem conosco, estamos sobrecarregados dos trabalhos das DIONIZÍACAS, mas não podemos parar pois é a ARTE somente que temos para dar Vida a Elaine nestes dias.
José Celso Martinez Corrêa
14 de dezembro de 2010, 07:40
MERDA
5 comentários:
Não conheço detalhes sobre o caso, mas me parece sintomática a dicotomia mãe-puríssima/puta (e seus derivados), acionada sempre que se quer desqualificar uma mulher (quem se lembra do caso de Giulia Gam, cujo ex-marido, Pedro Bial, fez acusações semelhantes a fim de ganhar a guarda do filho do casal?). Todas nós, mulheres, em graus variáveis já sofremos acusações deste tipo - puta, mal-amada, histérica - inclusive por parte de outras mulheres.
Pornográfico não é expor uma criança às raízes da cultura ocidental sob a forma de "grande arte": pornográfico é expô-la a este tipo de argumento sórdido em que sua mãe é considerada moralmente incapaz; é apreender material pertencente a uma instituição cultural, inviabilizando ensaios e apresentações.
É muito triste perceber que, sob certos aspectos, evoluimos tão pouco em relação à igualdade de gênero e à democracia, de forma mais geral.
Muito bem colocado, Cynthia. Já vínhamos conversando sobre esse "Brasil profundo" que emergiu recentemente na campanha eleitoral. Falo "esse" porque quero crer que há mais em nossa cultura do que a intolerância, a mesquinhez moralista. Também não conheço detalhes do caso, o que sei, sei pelo depoimento de ZC. Mas que se dê ao menos espaço público para discutir esse fato que não é isolado. Jonatas
Fiquei pasma com o ato de violência desse ex-marido e, pior, da "justiça" paulistana. Tratar uma artista, uma pessoa dedicada ao trabalho, como uma criminosa, invandindo sua casa, confiscando seus HD's e levando como "prova de crime" o material de um grupo teatral tombado pelo IPHAN como patrimônio cultural do Brasil, é cruel, ignorante e indignante. E enquanto a mídia cala-se diante disso, essa mãe corre risco de morte, assim como a história do teatro oficina, entregues à própria sorte diante dessa justiça machista, higienista, violenta e medieval.
Depois da tentativa da OAB paulistana de vetar o trabalho de Gil Vicente na Bienal de SP, por considerá-lo de caráter violento, agora outro atentado contra as artes é cometido: a vítima, dessa vez, é o Teatro Oficina, acusado de pornografia. Gil conseguiu driblar a violência, que acabou sendo benéfica pra ele e seu trabalho (que tornou-se um dos mais populares da Bienal). Mas como será que vai terminar essa história do Oficina? Será que com a morte dessa mãe e dos 30 anos de história do teatro Oficina, ambos afungentados por esse "pai" justiceiro e vigilante da moral e dos bons costumes do país?? Eu espero que não.
Como já percebido nas últimas eleições, e dito por Jonatas acima, vivemos num país extremamente reacionário. São Paulo que nos diga! Ataques homofobicos de filhotes da classe média conservadora, aluna de Direito da Zona Sul pedindo morte aos nordestinos...
Essa reação ao Teatro Oficina não foge a normalidade! Engraçado é que nessas horas os meios de comunicações sujos de sangue da ditadura (GLOBO, FOLHA e ESTADÂO) não dizem que isso é um ataque a liberdade...
É de se esperar.
Acho extremamente necessário uma manifestação pública via internet.
Pois, então, Welthon, Raíza, repliquemos o desabafo de José Celso. É o que podemos fazer, não é? Jonatas
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