Tâmara de Oliveira
Aqui e acolá andava assistindo a pedaços de partidas do campeonato mundial de handball porque, como os rapazes franceses são excelentes nisso, a televisão daqui tem coberto bem os jogos. Eu os estava vivendo como uma espécie de madeleine de Proust, mas duplamente negativa. Primeiramente porque eu estava contemplando os jogos e não praticando um ato que acionava uma revivência. E mais uma vez negativa porque o que eu revivia era ruim : voltava às aulas de educação física de minha adolescência, às insuportáveis partidas de handball que os professores obrigavam-me a participar.
Aqui e acolá andava assistindo a pedaços de partidas do campeonato mundial de handball porque, como os rapazes franceses são excelentes nisso, a televisão daqui tem coberto bem os jogos. Eu os estava vivendo como uma espécie de madeleine de Proust, mas duplamente negativa. Primeiramente porque eu estava contemplando os jogos e não praticando um ato que acionava uma revivência. E mais uma vez negativa porque o que eu revivia era ruim : voltava às aulas de educação física de minha adolescência, às insuportáveis partidas de handball que os professores obrigavam-me a participar.
Eu ali figurava como a pata de plantão (não nada bem, nem anda bem, nem voa bem), aquela que nenhum time queria porque faria a alegria de qualquer adversário. Meu medo da bola só era superado pelo medo das colegas que, apito soado, viravam guerreiras monstruosas, dessas que não hesitariam : devorariam meu corpo magro, pequeno e desajeitado para recuperarem a bola. Cautelosa, eu evitava a tal da bola e passava a partida grudada ao árbitro (o professor), esperando que ele recuperasse o bom-senso e acabasse com aquela carnificina. E normalmente ele acabava, melhor dizendo, terminava por entender que o melhor era substituir a pata por alguém menos morto em campo. Para mim, handball era isso : minha luta silenciosa contra o professor de educação física, até que ele renunciasse a me impor aquele jogo que me apavorava e paralizava.
Mas ontem, quando pela primeira vez vi uma partida desde seu início (entre a França e a Islândia), foi outro silêncio que chamou minha atenção. Começemos pelo começo : não saberia explicar bem porque, vai ver é um ridículo componente nacionalista de minhas representações sociais (Moscovici, 2004) ou apenas uma boa ocasião para avaliar as qualidades estéticas dos jogadores, mas adoro assistir à execução dos hinos e presto atenção à reação de cada jogador durante esse momento solene.
O primeiro hino foi o da Islândia – que nunca tinha ouvido, já que a Islândia não costuma participar de copas do mundo de futebol. Sem entender nada daquela língua escandinava, meus ouvidos concentraram-se em sua musicalidade e meus olhos, é claro, nos islandeses ali presentes. A musicalidade remeteu-me a uma representação de Estado-nação absolutista, anterior às grandes revoluções fundadoras ou consolidadoras da modernidade, embora a Islândia seja representada como país ocidental perfeitamente avançado (tão avançado que foi o primeiro a falir com a crise econômico-financeira de 2008) e, historicamente, tenha se constituído como Estado livre munido de um parlamento já no século X (precisaria verificar melhor essas e as seguintes informações históricas, mas deixo isso para o leitor menos preguiçoso do que eu). Só que, ainda segundo essas informações históricas meio fluidas, no século XIII a Islândia foi submetida à monarquia norueguesa e, do século XIV até 1944, esteve sob dominação da monarquia dinamarquesa. Não poderia dizer agora se seu hino nacional ainda é fruto da longa dominação monárquica por seus primos escandinavos, mas sua musicalidade remeteu-me a essa representação : música lenta, nobiliárquica e sóbria (para não dizer fria, como a terra de gelo que dá nome ao país), evocando algum velho déspota que, no melhor dos casos, fosse esclarecido.
E os meninos islandeses só faziam reforçar a representação de que eu estava diante de simbólica ação coletiva de uma comunidade (no sentido tönniesiano) : abraçados uns aos outros, como que desenhavam uma imagem holística de sociedade; cantando em uníssono, concentrada e virilmente seu hino, pareciam materializar um espírito de corpo (Blumer, 1951, apud Voegtli, 2010), manifestar uma dessas efervescências coletivas que Durkheim tanto cultivava e que Blumer, segundo Voegtli, entenderia como um dispositivo cerimonial de sensibilização ao coletivo, de reforço do sentimento de pertencimento a um grupo :
(…)Todos esses momentos são dispositivos onde é reafirmada a unidade do coletivo, onde são exprimidas as relações com os aliados e adversários, onde se efetuam sob uma outra forma a socialização e o vínculo ao grupo.
(…)Para Blumer, o espírito de corpo se desenvolve a três níveis : o desenvolvimento das relações de dentro e de fora ao grupo, inicialmente ; o desenvolvimento de uma camaradagem (fellowship) informal, em seguida ; os comportamentos cerimoniais formais, finalmente.
(…)Entre os ‘dispositivos de sensibilização’, pode-se por exemplo realçar o papel da música,(…) – Voegtli, 2010, p. 218.
Ou, em outros termos mas sob a mesma perspectiva, como se cantar o hino nacional fosse um trabalho político e estratégico de construção e demonstração identitária :
(…)O trabalho identitário assim apreendido no seio de um coletivo visa tornar claro processos de vinculação ao grupo e mediações que vem nutrir essa vinculação. Mas ele também se refere aos laços entre um empreendimento de movimento social e seus aliados e adversários. Neste sentido, a identidade coletiva pode ser estrategicamente mobilizada na luta política. – Voegtli, 2010, p. 219)
Espero que algum leitor tenha notado o termo « empreendimento de movimento social ». Pois é, os autores citados refletem as identidades coletivas sob o prisma dos movimentos sociais, enquanto eu estou falando de uma partida de handball ! Mas muitos dos componentes de um movimento social (constituição de um coletivo ; causa ; adversário ; luta) estão presentes numa competição esportiva. E, quando se trata de competição entre equipes nacionais, as representações dos Estados-nação manifestam-se como identidades coletivas em luta regulamentada, cuja causa é a vitória no jogo. Sendo assim, abuso da licença poético-sociológica, dizendo que a execução dos hinos nacionais pode ser aqui entendida como o dispositivo cerimonial da manifestação dessas identidades coletivas em luta esportiva.
Ora, considerando que a imagem da Islândia (até há pouco decantada como baluarte de um modelo escandinavo que continuava dando certo), tem afundado com seu triste papel na crise econômica que o mundo globalizado vive desde 2008, e que ela detém o vice-campeonato mundial de handball mas sua equipe não vinha muito bem no atual campeonato, quem haveria de se surpreender com aquela dramática exibição da unidade do povo islandês, ali representada por um grupo de jovens varões lutando contra os favoritos para chegar à semi-final ? Eu, não ! Pensando bem – se bem que só pensei alguma coisa depois que a execução do hino francês apresentou-me um problema, no sentido definido por Berger e Luckmann (1996) –, a musicalidade do hino islandês, aos meus ouvidos retrógrada, caia como uma luva sobre um dispositivo de demonstração de um espírito de corpo.
Foi então que surgiu a ruptura inevitável : olha A Marselhesa aí, gente ! Musicalmente vibrante e popular, letra revolucionária e violenta :
-Allons enfants de la Patrie
Le jour de gloire est arrivé !
Contre nous de la tyrannie
L'étendard sanglant est levé
L'étendard sanglant est levé
Entendez-vous dans nos campagnes
Mugir ces féroces soldats?
Ils viennent jusque dans vos bras.
Égorger vos fils, vos compagnes!
-Aux armes citoyens
Formez vos bataillons
Marchons, marchons
Qu'un sang impur
Abreuve nos sillons E por aí vai…
Le jour de gloire est arrivé !
Contre nous de la tyrannie
L'étendard sanglant est levé
L'étendard sanglant est levé
Entendez-vous dans nos campagnes
Mugir ces féroces soldats?
Ils viennent jusque dans vos bras.
Égorger vos fils, vos compagnes!
-Aux armes citoyens
Formez vos bataillons
Marchons, marchons
Qu'un sang impur
Abreuve nos sillons E por aí vai…
Abro parênteses : como ela é sanguinária, essa Marselhesa, pelo menos aos ouvidos e olhos de quem aprendeu desde criancinha a cantar que seu país é « deitado eternamente em berço esplêndido/Ao som do mar e à luz do céu profundo », parecendo gostar muito de rede e de água de coco…Isso remeteu-me a um artigo de Marilena Chauí (1994), no qual nossa filósofa coloca a influência da Marselhesa nos hinos de Estados-nação construídos durante o século XIX e afirma que essa influência não se manifesta no hino brasileiro, contemplativo e naturalizante, avesso às lutas sociais…Fecho parênteses.
Comecei então a olhar o time francês e o contraste era evidente: seus membros pareciam representar o conceito de sociedade de Tönnies : ninguém abraçava ninguém, como se mostrassem que estavam em associação voluntária e racional de indivíduos autônomos e, como se exibir uma imagem holística pudesse ferir seus próprios princípios de associação. Mas foi quando a câmera começou a destacar individualmente os jogadores que tudo foi ficando estranho para mim ou, para falar como Berger e Luckmann (1996), foi então que um problema para a estabilidade de minha realidade social subjetiva foi desenhando-se : alguns jogadores cantavam, outros não ; dois dos jogadores que não cantavam apresentavam visivelmente um ar de tristeza, enquanto os outros não-cantantes apresentavam expressões tão impenetravelmente graves que seria impossível decidir se aquilo era respeito por um hino que entretanto eles não cantavam, expressão estratégica de distância para com esse hino ou a mesma tristeza dos dois outros, só que em forma atenuada ; e, golpe final, todos os jogadores franceses que não cantavam a Marselhesa tinham pele negra, enquanto todos os jogadores franceses com pele branca, cantavam-na !
Vou primeiro relativizar meu estranhamento : não é de hoje que sei que jogadores franceses de futebol são criticados porque vários não cantam a Marselhesa. E conheço um caso em que um não-cantante, nascido na Nova Caledônia (ex-colônia e hoje legalmente Território de Ultra-Mar Francês), assumiu publicamente o caráter político identitário de seu ato, motivado por sentir-se mais pertencente ao seu território do que à França. Outras vezes também a Marselhesa tem sido vaiada por expectadores do próprio país. A extrema direita francesa costuma apropriar-se desses acontecimentos para « denunciar » que eles provam que os « imigrantes de enésima geração » não querem integrar-se à Doce França. Recentemente, discordando dessas interpretações estrategicamente trabalhadas pela extrema direita (e atualmente também pela dita direita moderada), Michel Platini afirmou que no tempo dele muita gente já não cantava o hino, mas que isso não incomodava ninguém, ou, dizendo em meus termos, não era entendido como prova de não integração de quem quer que seja.
Pode-se supor então que a Marselhesa dos estádios vem sendo cada vez mais politizada, exprimindo progressivamente o estado da arte das interpretações em luta sobre as relações entre « franceses de cepa » e « franceses de origem » (com ascendência imigrante das ex-colônias). Sobre isso, remeto o leitor a um texto meu publicado aqui no Cazzo em 30.11.2009 e intitulado O que Zinedine Zidane e Gilberto Gil têm em comum. Simplificando bastante, poderia dizer que, se até o início dos anos 1980, a politização da Marselhesa era diretamente política, envolvendo as relações entre os cidadãos e os símbolos do Estado-nação, foi nessa própria década que essa politização começou a ser mediada progressivamente pelas tensões sociais etnicizadas.
Em 1980, por exemplo, houve o episódio Aux armes et caetera, protagonizado pelo iconoclasta de carteirinha Serge Gainsbourg que, selecionando alguns versos da Marselhesa, compôs um reggae com músicos de Bob Marley. Seu show foi “ocupado” por parachutistas nacionalistas e aposentados, alguns jornalistas atacaram Gainsbourg, mas o governo não interferiu publicamente e seu disco foi um grande sucesso junto às faixas etárias jovens, urbanas e anti-racistas da França. Ora, já à época, não faltou quem apontasse o pequeno judeu ofensor dos brios nacionais. De lá para cá, o silêncio de alguns ou muitos jogadores de futebol e as vaias eventuais de espectadores à execução do hino nos estádios, têm sido interpretados num intervalo entre os seguintes extremos: as equipes e os estádios são cheios de não-franceses que denigrem os brios nacionais; a politização das reações à Marselhesa é a expressão de uma xenofobia progressivamente manipulada pelo governo e mídias franceses.
Mas eu nunca tinha visto uma divisão tão visível entre cantantes e não-cantantes, por cor de pele ! E isso no handball, esporte que não tem a mesma significação no que diz respeito às representações da identidade nacional, mas no qual a França é hoje a melhor do mundo. Sem contar que havia ainda aquela tristeza na expressão de dois dos não-cantantes, aquela gravidade impenetrável na expressão dos outros não-cantantes…O que foi aquilo ?! Evidentemente, como estou mergulhada na literatura sociológica sobre os movimentos sociais, disse-me imediatamente : isso é um belíssimo exemplo da diversidade, flexibilidade e criatividade potencial dos dispositivos de ação protestatária. A beleza, para mim, estava na relação de contraponto entre a música e o silêncio, naquela aparente oposição muda à demonstração de uma identidade coletiva, paradoxalmente musicada pelo próprio objeto da oposição – a Marselhesa, símbolo da identidade nacional francesa.
Porque, se é verdade que não se pode reduzir a progressiva politização da execução da Marselhesa em estádios à manipulação xenofóbica de governo e mídas (embora estas sejam reais), não se poder minimizar sociologicamente a crise do modelo assimilicionista francês de integração nacional, a confrontação decepcionante que os atores sociais experimentam entre os ideais de integração e a realidade factual (Habermas, 1999), construindo cotidianamente um problema social sobre as relações entre « franceses de cepa » e « franceses de origem ». Hélas, apesar desse contexto sócio-político, dos movimentos, contra-movimentos, associações, ações coletivas ou institucionais que dinamizam essa problemática concretamente, a verdade é que eu não posso dizer de que é expressão aquilo que eu vi – com esses olhos que a terra há de comer !
As noções de dispositivos de sensibilização coletiva, de espírito de corpo, de trabalho identitário, etc., são resultantes de pesquisas empíricas, enquanto meu olhar está delimitado pela imagem fugidia da transmissão televisiva de uma partida de handball. Minha imaginação sociológica orientou meus sentidos à percepção daquela divisão por cor de pele e traçou relações possíveis, mediadas pelo que conheço e experimento do contexto sócio-político francês, assim como pelo que tenho aprendido com a sociologia dos movimentos sociais na contemporaneidade – sobretudo aquela de inspiração bourdieusiana, articulada a certas aquisições das escolas norte-americanas sobre os movimentos sociais (Fillieule, 2010), mas que pode admitir inclusive certas aquisições de seus adversários da chamada teoria dos novos movimentos sociais (Voegtli, 2010 ; Neveu, 2005).
Para analisar sociologicamente aquele fenômeno, várias dimensões deveriam ser observadas, colhidas, relacionadas, entre os atores sociais (os jogadores), as organizações onde eles atuam (equipe nacional, federação de handball, etc.) e suas articulações recíprocas. Antes de qualquer coisa, seria necessário ver as partidas anteriores e posteriores para verificar se o mesmo episódio acontece, se o que eu vi não foi apenas uma coincidência momentânea, transformada por minhas próprias representações das tensões sócio-políticas na França contemporânea. Neste sentido, as motivações dos jogadores silenciosos são um elemento sine qua non para que se possa vislumbrar a possibilidade de que o que vi foi uma ação protestatária. Com efeito, mesmo considerando pesquisas já realizadas indicando que jovens franceses com ascendência nas ex-colônias têm menor sentimento de identidade nacional do que os outros, aquele silêncio pode significar simplesmente que aqueles jogadores não cantam a Marselhesa porque, individualmente, não foram socializados sob uma forte dose de dispositivos de nacionalidade e, o treinador, a equipe técnica e a federação, não têm o hino como um enjeu importante para a consolidação do grupo. Em outros termos, seria necessário explorar a episódio, usando o recurso analítico denominado frames da ação:
A consideração dos comportamentos cognitivos e discursivos da ação coletiva, tem-se traduzido desde os anos 1980 pelo recurso à categoria dos ‘enquadramentos’ (frames). Goffman entendia isso, antes de tudo, como o funcionamento de esquemas interpretativos, geralmente implícitos, que permitem a todo momento responder ao ‘O que está acontecendo?’ Os promotores norte-americanos da noção […] retomam essa noção para ver como as atividades de ‘enquadramento’ (framing), de definição de situação, constróem experiências como problemáticas, formalizam soluções, persuadem sobre a pertinência de uma ação coletiva, enfim, produzem significações dentro e para a ação.
(…)Os ganhos dessas pesquisas são muito apreciáveis. Elas reintroduzem na análise o que o objetivismo da mobilisação dos recursos tinha deixado na sombra : as crenças, o fato de que as pessoas que se investem numa mobilização não cessam de produzir justificações e interpretações. Elas esclarecem os processos de recrutamento e influência(…) – Neveu, 2005, p. 102.
Articulado às motivação e representações dos atores, um elemento importante para que uma ação seja analisada como protestatária e coletiva, é sua significação para o que é externo ao grupo, sua repercussão social que, sobretudo na contemporaneidade, passa pela análise da apropriação/repercussão midiática desses fenômenos :
A análise das representações e das crenças nas mobilizações passa também pela análise do principal forum onde elas são colocadas em cena : as mídias. Estas não são apenas um suporte sobre o qual se projetam os discursos mobilizados, eles são parte das interações do movimento social – Neveu, 2005, p. 102.
Eu não pude fazer um real levantamento, mas, a priori, parece até que só aqui em casa nós vimos aquela divisão entre canto e silêncio por cor de pele. Os narradores do jogo não disseram nada ; os jornais do outro dia detalharam a partida mas, até onde li, ninguém referiu-se àquilo. Dir-se-ia, parafraseando Baudrillard, que « la guerre de la Marseillaise n’a pas eu lieu »…Será que se fosse numa partida de futebol, as mídias e os telespectadores também não teriam visto nada ? Acho difícil, dado que este assunto da Marselhesa já é problema social no futebol francês. Em todo o caso, a imaginação continua uma fonte fudamental de percepção, reflexão e conhecimento sociológicos. A propósito : a França ganhou facilmente a partida.
BIBLIOGRAFIA
BERGER, P. / LUCKMANN, T. La construction sociale de la réalité. Paris: Masson/Armand Colin, 1996.
CHAUÍ, M. Raízes Teológicas do Populismo no Brasil : Teocracia dos Dominantes, Messianismo dos Dominados, in : Anos 90 – Política e Sociedade no Brasil. São Paulo : Brasiliense, 1994.
FILLIEULE, O. Introduction. In : FILLIEULE/AGRIKOLIANSKY/SOMMIER (orgs.) Penser les mouvements sociaux – conflits sociaux et contestation dans les sociétés contemporaines. Paris : La Découverte, 2010.
HABERMAS, Jürgen - Droit et Démocratie . Paris : Gallimard, 1999
MOSCOVICI, S. Representações sociais – investigações em psicologia social. Petrópolis: Vozes. 2004.
NEVEU, E. Sociologie des mouvements sociaux. Paris : La Découverte, 2005.
VOEGTLI, M. « Quatre pattes, oui, deux pattes, non ! » L’identité collective comme mode d’analyse des entreprises de mouvement social. In : FILLIEULE/AGRIKOLIANSKY/SOMMIER (orgs.) Penser les mouvements sociaux – conflits sociaux et contestation dans les sociétés contemporaines. Paris : La Découverte, 2010.