segunda-feira, 25 de abril de 2011

Hegel, os hegelianos e o Romantismo 5


o jovem Marx

Jonatas Ferreira

É comum que se fale acerca da disputa do legado hegeliano entre teóricos de orientação conservadora e progressista, de direita e de esquerda, que se segue à sua morte em 1831. O tamanho deste legado está intimamente ligado às intrepretações que procuraram corrigir ou completar o que seria um sentido geral da obra do grande filósofo. Kolakowski (1978, p. 81) se expressa a esse respeito do seguinte modo: “Em particular, não era absolutamente claro até que ponto o conservadorismo político de Hegel era a consequência natural de sua filosofia da história”. Consideremos, por exemplo, a contribuição de Cieszkowski a este debate, isto é, sua crítica de que, ao não se debruçar sobre o futuro, essa filosofia era necessariamente incompleta e a dialética se tornaria uma forma de buscar legitimar o status quo político alemão. O realismo metodológico hegeliano, ou seja, sua recusa em abrir sua filosofia a utopias ou a uma investigação de como o mundo deveria ser, seria uma postura muito conveniente, pragmática, algo esperado de um intelectual tão abertamente apoiado pelo estado prussiano. Quando da publicação da Filosofia do Direiro, o ministro da Cultura da Prússia, Karl zum Altenstein, o parabenizou da seguinte forma: “O senhor dá à filosofia a única e verdadeira postura em relação à realidade, e assim o senhor terá certamente sucesso em preservar seus ouvintes da presunção nociva que exclui o que existe sem o ter reconhecido e que, especialmente em relação ao Estado, gosta de criar arbitrariamente ideais sem sentido” (apud Safranski, 2010, p. 213). Hegel já criticara, por exemplo, o voluntarismo romântico, a sua não observância do movimento universal mediante o qual o Espírito se realizaria no mundo. O particular não pode pretender se impor sobre o universal, ele observaria, todo voluntarismo, subjetivismo, toda reivindicação de mudança radical na sociedade é uma forma de imaturidade. Essa máxima de apelo contemplativo explícito poderia ainda ser traduzida em sua versão panglossiana mais conhecida e que consta na Filosofia do Direito: “o racional é real; o real é racional”. E todo intelectual que concluiu acerca do tom conservador da obra de Hegel já citou – ou citará – essa frase, assim como se reportará à personagem de Voltaire para demonstrar alguma erudição em sua crítica ao pragmatismo hegeliano.

E por falar em erudição, nunca li Cieszkowski. Mas Kolakowski e Mclellan, que já o leram, são unânimes em afirmar que é precisamente ao elemento de voluntarismo, que Hegel condena no romantismo, que o velho conde polonês recorrerá para criticar a filosofia da história deste último, nos anos que se seguem à sua morte. “A filosofia deveria se tornar um ato da vontade em lugar de meramente reflexão e interpretação, e deveria se voltar para o futuro em lugar do passado. De acordo com Cieszkowski, o racionalismo hegeliano proibiu à filosofia considerar o que seria, e ordenou-a que se contentasse com o que tinha sido” (Ibid., p. 85).

O futuro, para ele, seria uma síntese que o sistema hegeliano não estaria disposto a realizar: entre um corpo reabilitado e o espírito cristão, entre subjetividade e natureza, entre pensamento e ação, liberdade e necessidade, Deus e o mundo (Ibid. p. 86). Chamamos particularmente atenção à síntese entre pensamento e ação, uma ideia que pode ser remontada ao pensamento de Fichte, em seu desejo de encontrar um elemento essencial que ultrapassasse as antinomias do pensamento kantiano, e que será importante também no pensamento marxista. E, assim, para Kolakowski, Cieszkowski “desempenhou um papel essencial na pré-história do marxismo ao expressar em linguagem hegeliana e no contexto dos debates hegelianos a ideia da futura identificação (não meramente reconciliação) da atividade intelectual e prática social. Foi desta semente que a escatologia marxista cresceu” (Ibid. 88; Cf McLellan, 1969, p. 22). É já em nome de uma filosofia da ação que ele fala – e o faz a partir de uma influência fundamental ao romantismo de Jena.
La futura función de la filosofía era “la de convertirse en una en una filosofía práctica, o, más bien, em uma filosofía de la actividad práctica, de la 'práxis', ejerceiendo uma influencia directa sobre la vida social y desarollando el futuro en el campo de la actividad concreta”. Según Cieszkowski, esto significaría que la historia futura sería una historia de actos y no de hechos. Aquí Cieszkowski, como los jóvenes hegelianos posteriores a él, está más cerca de Fichte que de Hegel. Fichte oponía constantemente el pensamiento, concebido por él como voluntad em acción, a la realidad presente, y consideraba que la principal misón del pensamiento era la de determinar el futuro” (Mclellan, 1969, p. 23).

De um modo geral, a esquerda hegeliana não podia admitir que a negatividade, elemento estruturante da própria dialética, pudesse ser cancelada segundo conveniências de legitimação de um regime político particular. A esse respeito, Feuerbach, por exemplo, escreve nas páginas iniciais de Princípios da filosofia do futuro: "A filosofia hegeliana foi síntese arbitrária de diversos sistemas existentes, de insuficiências - se força positiva, porque sem negatividade absoluta. Só quem tem a coragem de ser absolutamente negativo tem a força de criar a novidade" (2002, p. 14). No fundo, há algo de potencialmente niilista na negatividade dialética, ou seja, na ideia de um espírito que se desenvolve sob as bases de sua própria auto-crítica e auto-destruição (kolakowski, 1978, p. 81). Hegel estava atento a esse inconveniente quando rejeitou o que ele chamou de “mau infinito” na filosofia romântica, ou seja, um desejo de plena produtividade, uma estética que se recusava a ideia de uma realização última do ser humano, uma catarse final da história da humanidade. Já nos referimos a essa atitude no que ela significa para a subjetividade romântica: uma inquietação que não pode ser mitigada, um reconhecimento de si como excesso, indeterminação. Creio que o embate de Hegel com o romantismo de Jena, e posteriormente dos hegelianos de esquerda com a obra do grande mestre, traduz uma tema fundamental que nos lega a filosofia do século XIX: numa sociedade de mudança constante, de "progresso "constante, se quiserem, a ideia de realização pleno do potencial humano surge como forma de nos assegurar dos riscos do niilismo. Sem esse horizonte, nenhuma história vivida teria valor - diante do fato de que tudo que existe "mereceria morrer", estaria fadado a destruição. Hegel estava bastante consciente destes riscos quando criticava a ironia romântica, seu subjetivismo que não encontra um valor fundamental em nada que existe, seu gozo abstrato e, afinal, masturbatório: donde sua crítica a Schelling e a Friedrich Schlegel. Esse era um dos lados da questão. Os hegelianos de esquerda, mais românticos, ou menos avisados que o velho mestre, não aceitam, por outro lado, os compromissos políticos que a ideia de fim da história, de realização do espírito implicavam, sobretudo quando, para Hegel, esses resultados finais pareciam estar tão à mão. (Bom, depois de falar sobre prazeres masturbatórios, imaginação romântica, essa última frase pode dar margem a alguns equívocos.)

Os hegelianos de esquerda também se afastaram paulatinamente da ideia de mediação, ou seja, do movimento dialético que torna a contradição, não uma contradição absoluta, mas que determina sempre uma zona de negociação onde o conflito é minimizado. Mclellan (1969, p. 31) fala a esse respeito da seguinte maneira: “en realidad, los jóvenes hegelianos transformaran gradualmente la dialéctiva de Hegel, en la que el concepto de mediación era esencial, por otra que sostenia que la mediación era anatema. En su controversia con Leo, Ruge ya hablaba de una 'negación absoluta', una expresión que Hegel ajamás habría empleado en aquel contexto”. Mas sem a ideia de mediação o que é a dialética? Sem a continuidade histórica que essa noção assegura, como o hegelianismo se protegeria do voluntarismo que ele tanto condenou? Influenciado por Feuerbach, o jovem Marx criticaria tal noção do seguinte modo:
“É a história do marido e da mulher que discutem e do médico que queria fazer-se de mediador entre eles, tendo, em seguida, a mulher que interpor-se entre o médico e o seu marido, e o marido, de interpor-se entre sua mulher e o médico. É como o leão que, no Sonho de uma noite de verão, exclama: 'eu sou um leão e eu não sou um leão, sou Snug'. Do mesmo modo, cada extremo é aqui tanto o leão da oposição como o Snug da mediação. Quando um dos extremos exclama: 'agora eu sou meio termo', os outros dois não devem tocar nele, mas eles têm apenas o direito de lutar contra aquele que era um extremo no momento anterior. Como se vê, é uma sociedade cujo coração é batalhador, mas que tem muito medo de arranhões para se bater realmente” (Marx apud Frederico, 2009, p. 63).

E é precisamente por não não aceitar tal ideia que Marx, na Crítica à Filosofia do Dierito de Hegel, criticará de uma forma radical a noção hegelana de Estado como espaço político de realização do universal, da razão. Para Marx, o Estado é a sociedade civil alienada de si, o particularismo de certos grupos sendo imposto como universalidade. Os pressupostos epistemológicos dessa recusa, todavia, já haviam sido dados pela filosofia de Feuerbach, que o jovem Marx aceita: "Um ser real não pode se automediar, pois isso, como pregava Feuerbach, implica sua abstração e alienação. Seguindo esse raciocínio, Marx suprime a mediação, enrijece a noção de ser, só admitindo oposição entre seres de diferentes espécies. A verdadeira oposição deveria fundar-se na indiferente desigualdade ontológica" (Frederico, 2009, p. 62). Mas é ao próprio conceito de alienação, com o qual comecei essa série interrompida de posts, que gostaria de voltar, isto é, a esse espaço crítico tornado filosófico pelo romantismo, mas também a ideias e esperanças a ele associadas, como o desejo de que, mesmo num mundo brutal, ainda restaria ao ser humano lutar pela sua autorealização, autoreconhecimento. E isso demandará mais um post: sobre Feuerbach e o jovem Marx.

24 comentários:

Franzé Matos disse...
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Le Cazzo disse...

Caro Franzé,

Acabei de enviar uma resposta longa para o blogger, mas ela se perdeu. Tentarei então um resumo, agradecendo de partida sua crítica.

Bem, sabemos que o espírito só se realiza na particularidade e através da particularidade e da contigência. Sabemos também que o espírito e a dialética necessitam de um elemento de negatividade para funcionarem. Que essa negatividade precise de um ponto de chegada, um telos, também me parece igualmente claro, pois de outro modo teríamos o tal mau infinito de que ele fala nos ensaios estético - creio que mais particularmente no texto sobre poesia, mas posso estar enganado. Há uma perspectiva escatológica que orienta a filosofia da história de Hegel, a perspectiva de um mundo onde o espírito esteja realizado ou não? Sem essa perspectiva cairíamos, da perspectiva de Hegel, no niilismo, num mundo sem sentido porque sem telos. Deste modo afirmar que a necessidade só se estabelece a posteriori é apenas uma ênfase possível - alguns jovens hegelianos afirmavam a existência de Hegel esotérico que estaria mais próximo dessa perspectiva, mas lendo a tal crítica ao romantismo poderemos afirmar que há razões suficientes para que alguns outros hegelianos possam criticar-lhe um formalismo abstrato. Hegel foi acusado de formalista e foi acusado de panteísta na mesma época. É curioso e diz talvez da envergadura de seu gênio - se me fosse permitida tal palavra para quem a despresava tanto.

Uma outra coisa. Reconheço que minha série de textos precisa de uma reflexão sobre a Fenomenologia do Espírito - tanto é que deixei uma brecha proposital entre o terceiro e o quinto posts desta série. Farei isso quando transformar esses rascunhos em um texto acadêmico.

E, por último, tão importante quanto entender a contribuição hegeliana é para mim compreender a sua recepção. Dessa perspectiva, não interessa tanto que Cieszkowski fosse ingênuo em suas especulações. Ele é importante para entendermos essa recepção, assim como Feuerbach é importante pelo motivo oposto - entender o empirismo incompatível com tal tipo de especulação.

A respota anterior era mais completa e cuidadosa. Resgatei o que pude torcendo para que agora o blogger aceite. Obrigado. Jonatas

Le Cazzo disse...

Dessa vez, foi. Abraço, Jonatas

Franzé Matos disse...

Fico feliz com esse diálogo e digo que compreendo que se baseastes realmente na recepção hegeliana em suas mútiplas correntes. De fato Hegel, encharcado do pensamento de sua época, põe a liberdade como o thelos histórico. Entretanto, esse thelos nao é ingênuo, formal, abstrato e determinante (no sentido de privação de liberdade, ou algo semelhante a determinismo). Isso porque, a história se configura através da analogia da helicoidal negativa (esse palavrão absurdo, quer dizer que a história não é nenhum círculo cerrado nela mesma, manifestando a liberdade, nem, muito menos, uma linha reta, com um fim pré-estabelecido: a liberdade, mas uma interpretação histórica onde momentos de maior e menor liberdade aparecem (shine, fenômeno) temporalmente determinados. É possível regressão na liberdade em momentos específicos, com um thelos a priori e pan-histórico isso seria estramemente complicado. A contra-reforma é interpretada por Hegel como um retrocesso nos avanços necessários para ampliação da liberdade naquele momento. Só que esse retrocesso, como momento de negativo, produz uma exponenciação dos efeitos da mudança para um novo momento, ou figura do espírito, esses efeitos são a frivolidade e o tédio que acompanham esses retrocessos, tentativas de fixidez. Além disso, cabe ressaltar a posição absoluta da subjetividade que possui em si mesmo o limite, por ser projeto, por ser incondicionado, e por ser incodicionado é o ir além sempre de si mesmo, ir além de toda limitação ( pag 40 fenomenologia do espírito, 2002). Esse incondicionamento ontológico da subjetividade em Hegel expressa o grau máximo de dilaceramento e não-determinismo da substância que é sujeito. Só a subjetividade é que exprime a máxima libedade desse espírito, se o homem não age, não a thelos possível que o faça agir. Relembrando a filosofia da história, os grandes humanos, os "homens históricos", são aqueles que movidos por suas paixões (dada a preponderencia absoluta da subjetividade e individualismo na mordernidade)realizam atos que confluem para a mudança de paradigmas. Então, inclusive esse thelos te q ser efetivado a cada tempo histórico, pois a história não marcha sem percalços para a liberdade e nem sem o advento da liberdade incodicionada da subjetividade individual. Os efetiso desse thelos possível, liberdade como fim está mais o motor imóvel de aristóteles, para onde todos as coisas tendem por uam espécie de amor a perfeição daquele ent, pura forma sem matéria. Se o homem possui em si seu próprio limite, sendo o ir além do limitado o motor q deve nortear sua vida, logo a buildung do homem deve ser norteado pelo seu princípio mais caro a liberdade.

Franzé Matos disse...

Concordo plenamente contigo quando diz que se não houvesse thelos, mas nos moldes que tentei fracamente expor, se cairia num mal infinito. Relembrando os 3 silogismos de ser nada e vir-a-ser da enciclopédia a parte formalista poderia ser criticada com a importânca do vir-a-ser, e a crítica panteísta pode ser retrucada com o universal abastrato carente de efetivação que é o ser e o nada, que confere lógicas primordiais, mas não deterministas, da efetivação desse si. Quanto a perspectiva escatológica, tenho minhas partindo dos mesmos silogismos, a substância só se torna sujeito quando se efetiva, aliena no espaço originando a natureza, e no tempo originando a cultura, esta formada pelas configurações ontológicos das subjetividades em relação. Não faz sentido pensar em fim último para o homem dado que todo limite lhe pertence. Se mesmo na consciencia finita o vir-a-ser, o efetivar-se é fundamental para expressão ontológica de sua essÊncia não tenho como um momento tão prodigioso em que eu possa estacionar, pois se estaciono me nego, pois como diz Spinoza negação é uma determinação, se me determino nego a minha condição de incondicionado. Abraços

Cynthia disse...

Olha quem apareceu por aqui, meu filósofo favorito!

Franzé Matos disse...

Quem é seu filósofo favorito? Hegel ou Marx? Pois, francisco -> abismos... > filósofo

Vi o blog por causa do Facebook, aí tem Jonatas escrevendo sobre Hegel, Marx e afins senti saudosismo das aulas de sua cadeira de filosofia: metodologia das ciências sociais e vim pertubar por aqui também,com meus comentários sem revisão e super apressados, haha. Como tens passado?

Le Cazzo disse...

Eita, Franzé!

Perdi novamente a resposta que lhe dava - apesar de Cynthia haver me explicado que deveria salvar respostas grandes.

Resumo. A helicoidal é aberta ou apesar de seu caracóis ela retorna a si, se reconhece?... Você acredita mesmo que um pensador com a agenda religiosa que Hegel tinha não estaria falando de uma História (com agá maiúsculo) onde o espírito divino, de pura potência, que se aliena na totalidade do existente, para volta a si reconhecido e realizado? Escatologia não pode ser aberta. E é claro que o ser humano, como mais alta realização do Espírito, haveria sarar de suas antinomias, de sua condição de ser indireto. Na verdade o cosmos todo estaria divinizado... Acho que Marcia Gonçalves diz algo parecido... E quando falo ser humano falo Humanidade. Sem a promessa de harmonização final do universal e do particular, do contingente e do eterno, o que pode Hegel contra o niilismo que ronda a dialética? Acho que a ideia de uma subjetividade aberta, de uma poiesis indeterminada é mais romântica que hegeliana. Mas posso estar enganado.

Quanto à sua referência à Enciclopédia. Meu investimento não irá até lá. Ficarei com o Hegel dos ensaios estéticos, da Filosofia Real, do Sistema da Vida Ética e da Fenomenologia. O Hegel de Jena. E olhe que já é um trabalho... Abraço, Jonatas

Franzé Matos disse...

De fato é uma ótima hipótese, com grande chance de acerto, a de eu estar redondamente enganado fazendo uma leitura que dá pouco valor ao papel da religião em Hegel. Infelizmente essa hipótese está completamente alicerçada na minha leitura atéia e cética, que, por ser a que mais condiz com minhas próprias realidades, torna-se meu parâmetro hermeneutico de compreensão. Dar trabalho e Hegel = sinônimos, como sei. Fico no aguardo dos próximos textos para continuarmos os diálogos. Até e um abraço. Franzé.

Le Cazzo disse...

E obrigado, mais uma vez, pela ajuda. Abraço, Jonatas

Le Cazzo disse...

Voltei a ler os comentários, as provocações de Franzé me entusiasmaram. Há uma penca de erros em minhas respostas que dá inté vergonha - e não posso editar. Duas principais: em minha primeira resposta: "necessitam de um elemento de negatividade para funcionarem". Ai! "para funcionar", se faz favor. "para volta a si reconhecido e realizado?" Ai! Por favoire: "volta a si reconhecido e realizado". Até. Jonatas

Anônimo disse...

Professor Jonatas, teu post é muito interessante e próximo ao que venho trabalhando ultimamente - a questão do messianismo em teoria. É interessante notar como a partir de Hegel - um autor que julgo teleológico, cuja lógica (a dialética) é uma lógica providencial, "formal", já que opera para além das lutas e tensões concretas - emerge o voluntarismo marxista. Suspeito que por trás dessa "convsersão" concorram dois fatores: 1 - Como Derrida, mas ao mesmo tempo de um modo distinto dele, tendo a pensar que um pensamento crítico radical implica uma dimensão messiânica; doutra feita - e para usar a expressão de Gabriel Cohn, restaria a crítica e resignação; e acrescento: um destino trágico. 2 - o messianismo parece requerer ações, uma prática, daqueles que esperam a concretização da justiça. Quando não há tal prática, apenas a espera (e pensemos no exemplo da Segunda Internacional...), o pensamento perde a radicalidade.
Quanto ao debate com Franzé, já adiantei minha opinião. Julgo a concepção de história de Hegel, inclusive, semelhante a de Santo Agostinho.
Abraços!
Josias.

Le Cazzo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Le Cazzo disse...

(EDITEI O MEU COMENTÁRIO ANTERIOR; MUITOS ERROS DE PORTUGUÊS)

Josilhas, o resumo da estória – pois estou postando essa resposta já pela terceira vez. A dialética se realiza através do conflito. É preciso não cair no extremo oposto de ver apenas formalismo em Hegel. Acho os cuidados dele a esse respeito extremamente pertinentes. Como poderemos encontrar um sentido nos desastres nossos de todo dia, nos conflitos que fizeram e fazem naufragar impérios, culturas, vidas para fazer surgir outros impérios, outras vidas e culturas? No fundo, a cultura ocidental ainda gira em torno da questão da teodicéia, mesmo hoje: como o sofrimento, a tragédia humana podem fazer sentido. Você me dirá, como bom Nietzscheano e farrista que é, a vida tem sentido em si própria, não precisa de sentido último, de valor acima de todos os valores que não seja o próprio excesso de viver. Hegel via aqui niilismo. Nossa cultura é profundamente monoteísta, o que podemos fazer?

Feuerbach, no imediatismo de seu empirismo, poderia também ser objeto do mesmo tipo de crítica que Hegel já fazia aos românticos – e F não contava com o arsenal filosófico que o bigodudo conseguiu mobilizar, anos depois. Em todo caso, ele influenciou o jovem Marx que só voltou a Hegel (à dialética que realiza um fim último) quando envelheceu. É coisa de velho desconfiar dos prazeres da vida como fim último que justifiquem a existência. Ao escrever as Teses sobre Feuerbach, Marx não escutava mais Jimmy Hendrix, já não fazia serenata com Xiló, já não comia comida típica na Cidade Universitária, e não se embriagava escutando Adilson Ramos. Passou a procurar um sentido último para a existência também, passou a ver no empirismo de F. um compromisso com o status quo, compromisso que nenhuma utopia poderia disfarçar. Passou a querer produzir mudança a partir da realidade dada, a ser realista. Quase que descobre essa estória de traço...

E quando sentamos para conversar e estudar sobre tudo isso - convite tantas vezes feito e nunca aceito? Abraço, Jonatas

Anônimo disse...

Não sei se terei tanta capacidade de síntese e conseguirei me explicar.
1. A dialética implica conflito, claro. Mas do que falo é sobre o estatuto da ação em teorias teleológicas. A ação aqui é "livre" para realizar o fim último - no caso de Hegel, a realização do espírito (liberdade). Isso não se dá apenas com Hegel. Já no Manifesto, camarada, Marx fala e pensa numa dialética histórica e, se julgava necessário a mobilização das pessoas para instituir a sociedade sem exploração via revolução, é fato que para ele tal ação estava inscrita no devir histórico, logo não é um gesto livre.
2. Quando falei da semelhança que vejo entre Hegel e Santo Agostinho, é porque considero a "astúcia da razão" um elemento eminentemente providencial. Segue uma passagem em que aparece bem nítida a distinção de planos existente entre o âmbito das ações concretas, das paixões; e o âmbito (primordial) da Ideia: "Não é a Ideia geral que se envolve em oposição e luta expondo-se ao perigo, ela permanece no segundo plano, intocada e incólume. Isto pode ser chamado astúcia da razão - porque deixa as paixões trabalharem por si, enquanto através do qual ele se desenvolve paga o preço e sofre a perda". (p. 82). Essa é a tônica da lógica teleológica... Bom, essas palavras me soam bem semelhantes àquela explicação de Agostinho sobre o papel da providência e dos homens na história... 3. Com Corbisier, acho que o absoluto em Hegel é a laicização da concepção cristã; 4. Sobre a cilada do "fim da história" (e eu não estou aqui a dar ouvido a Fukuyama) - em que o marxismo também caiu - fico com Châtelet: "A humanidade continuará
"devindo"; porém no seio do Estado mundial, ela não "evoluirá"
mais, no sentido de que não criará mais nada de novo, estará em
plena positividade e viverá numa sociedade integralmente transparente.
O que será essa existência, é igualmente impossível imaginar."
Josias.

Anônimo disse...

Quanto ao convite para trabalharmos juntos, deixe de onda. Você sabe que ele foi aceito de pronto. O problema é que sou um professor doutorando sem licença para desenvolver a tese, uma espécie de pária pós-moderno... E nem as farras me socorrem mais, já que o colasterol e o ácido úrico me tiraram de combate, praticamente. Continuo achando que tem-se aqui uma interessantíssima agenda de pesquisa. Abraço!

Le Cazzo disse...

Bueno,

termos importantes da discussão foram puxados por você e Franzé. Grande parte de suas considerações faz parte do corpus argumentativo dos jovens hegelianos, como já havia falado. Eu só não quero simplificar demais as coisas, pois creio que o que eu chamava acima de cuidados hegelianos fazem um sentido danado, ainda hoje. Embora reconheça escatologia etc. Vou reler o Sistema da Vida Ética e o Filosofia Real e Concluir a leitura da Filosofia do Espírito para ter uma visão ao menos do Hegel de Jena - embora esse não seja exatamente o alvo consagrado das críticas que você faz. Mas minha compulsão é imensa: comecei a folhear a Filosofia do Direito, ontem - cópia do emprestada do amigo Heraldo a quem devo esse e outros favores.

Franzé Matos disse...

Olá josias entendo o que quis dizer com a aproximação entre Hegel e Santo Agostinho, mas acho que esqueces de um passo fundamental, o nascimento da subjetividade e a sua centralidade progressiva, que tem seu ápice em Hegel. O absoluto só enquanto se manifesta, manifestando-se no espaço acarreta o vorhandeheit ( ser simplesmente dado) de heidegger, mas a máxima liberdade e máxima diferença de seu conteudo, logo da exteriozação e efetivação só se dá na medida em surge a subjetividade, pois é nela que reside o próprio incodicionamento como essência. Tendo para manifestar a plenitude da mesma ir sempre além dela (de si) em cada ato possível. A força de uma subjetividade é medida pela capacidade de sua exteriorização. Então a liberdade não pode ser entendida apenas como fim último, mas primordio ontologico da subjetividade, que quando se determina tenta estacionar em algum, recebe angustia como prêmio. Assim, a astúcia antes de ser providência pura e simplesmente deve ser reinterpretada pelo viés da subjetividade, que para Hegel é o que inaugura o pensamento moderno e é sua mais importante conquista. Logo, a liberdade não se efetiva pela força da providência, mas pela exteriorzação de consciência individuais que formaram e reformaram a temporalidade do espirto enquanto cultura. É interessante observar que deus poderoso seria esse que precisa se alienar como ser simplesmente dado e como consciencia finita para manfiestar sua liberdade como thelos, é uma contradição de termos, logo nunca é tão fácil uma interpretação definitiva. E que deus cristão seria esse que confere um logos a psoteriori a phisys, e que só intervém na realidade a partir de atos individuais e historcidade, corrupção e geração de essências materiais. Quanto ao fim da história acho que isso é está claramente posto na fenomelogia do espírito de hegel, hegel se intitula o filósofo do que é do que está dado, remomontando progressivamente o seu processo de constituição. Logo, filosofia apra ele não deveria voltar para o futuro como pura possibilidade carente de efetivação, mas para o presente, trazendo sistematicidade e cientifidade para o real efeitvo (wirklichkeit). Assim, hegel diz que a história ali termina, pq, segundo ele, ele conseguiu uma forma de interpretação dos tempos passados até o presente dele, sendo este o ultimo possivel de se fazer filosofia. O resto é campo do possível, do futuro cabe a outros filosofos escrever o resto da história.

Franzé Matos disse...

Jonatas,
A edição que pegastes da filosofia do direito é a nova tradução de paulo meneses? Se não for, tenho ela aqui onde podes comparar termos divergentes. Tenho em alemão também se interessar.

Abraços

Anônimo disse...

A foto acima do texto seria do Prof. Artur?

Cynthia disse...

Iiih, anônimo, você tá por fora. Artur não é o fofo do Cazzo por nada...

Le Cazzo disse...

Cacildis (eu quis dizer "porra", mas sou muito reprimido; recorri ao velho Mussum)! Harpo Marx (o jovem Marx) é a cara de Artur mesmo, anonim@! Boa essa! Não havia reparado. Rsrs.

Franzé,

A cópia que tenho é assinada por um tal Guillermo Federico Hégel (uma edição de 1944 da Editorial Claridad (???)) emprestada por Heraldo Socto (esse, sim, tido e havido como o fofo do ppgs, como me disse ontem uma aluna). Não sei se é boa a tradução. A introdução é de um tal Carlo Marx (pensei que os Marx Brothers eram apenas 5).

E agradeço muitíssimo a sua oferta. Sério. Deixe passar essa tormenta (tenho três ensaios para terminar nos próximos dois meses) que eu vou incomodar vossa mercê. Talvez possamos conversar mais detidamente sobre essa estória toda (e convidar esse tal Josias de Paula, que é uma mala sem alça, mas é uma criatura inteligente) para o papo. Envie-me, por favor, um email para que eu possa entrar em contato com você por esses dias. Abraço, Jonatas

Cynthia disse...

Pronto: vai começar a ciumeira de novo.

Le Cazzo disse...

O comentário original de Franzé, que originou essa troca extremamente produtiva de percepções,impressões - ao menos para mim - foi eliminado do blog. O comentário teria sido excluído pelo "administrador do blog", segundo afirma mensagem automaticamente gerada pelo blogger. Bem, não o foi por mim. Estou certo de que Cynthia também não o fez e Artur não aparece por essas banda faz tempo - claro, ele também não faria algo parecido. Não sei o que houve, mas lamento Franzé e lamento leitores. Jonatas