terça-feira, 24 de julho de 2012

"Pouca saúde e muita saúva, os males [da universidade] são"...



Por Tâmara de Oliveira

(Este texto é a introdução de uma participação em mesa redonda sobre o Slow Science e o produtivismo, organizada pelo Comitê Local de Greve da Universidade Federal de Sergipe)


Durante aquela hora, eu vira e descobrira o eterno segredo de qualquer grande arte e, mesmo, para dizer a verdade, de qualquer produção humana: a concentração, a reunião de todas as forças, de todos os sentidos, a faculdade de se abstrair do mundo, que é própria a todos os artistas. Eu aprendera alguma coisa para a vida. (Stefan Zweig, sobre uma hora passada com Auguste Rodin, em seu atelier. In: O Mundo de Ontem).

Começo com nosso herói sem caráter, Macunaíma, que, em meio às suas batalhas contra o gigante Piamã, gostava de sentenciar ironicamente o Brasil com a frase que (quase) parafraseei acima. A saúva de Macunaíma remete-me à Formiga de La Fontaine, aquela que ordenava sua vida calculadamente, trabalhando sem parar no presente com a ilusão de não morrer no futuro. E que, desprezando sarcasticamente o gênero de vida de uma Cigarra dedicada o tempo inteiro à arte de cantar, recusou-lhe ajuda em tempos difíceis. Sou dos que sempre simpatizam com a Cigarra; não por compaixão porque ela sofre de frio e morrerá fatalmente no inverno, mas porque não viveu trabalhando sem parar, carregando um peso maior do que ela sobre as costas – ao contrário da Formiga, esta trabalhadora que, de tão voraz e calculista, acabou desenvolvendo amargura contra o canto e a dança, contra o prazer de viver e apreciar a beleza do mundo e da vida.

A Cigarra e a Formiga é uma fábula do século XVII, ou seja, ela é filha dileta de seu tempo, aqueles primeiros do longo processo de modernização, os mesmos que, para o sociólogo Max Weber (2004), estão na origem de uma ética do trabalho produtor de riquezas materiais como valor em si e, do predomínio de uma racionalidade fundada no cálculo racional de meios úteis para a obtenção de fins perseguidos. Valores estes que tendem a opor radicalmente trabalho (domínio da economia, da produção/circulação de bens materiais) e arte (domínio da criatividade, da produção/circulação de bens
anímicos); valores estes articulados a um modo de conhecer e agir sobre o mundo através de uma linguagem científica quantitativa ou quantitativada. A ciência, tal qual a conhecemos, a partir da qual as universidades de hoje consolidaram-se, também é filha desse longo processo:
A ciência apresenta-se como um instrumento básico para a ruptura com o passado, como meio fundamental para fazer do presente a eterna construção do futuro; em suma, ela teria como pressuposto o de ser útil ao progresso da humanidade. Assim, entre a ciência e as necessidades modernas estabelece-se um vínculo íntimo e ideal de meio e fim, que tem sua fonte histórica no antropocentrismo da Europa renascentista (século XVI). Este vínculo significa que a ciência é parte constituinte da oposição tradição/modernidade, que ela se define como parte ativa desse presente aberto ao futuro que caracterizaria a sociedade moderna. (OLIVEIRA, 2006, p. 92).
De lá pra cá, muitas foram e são as tensões entre trabalho e arte, quantidade e qualidade – no próprio mundo do trabalho material (Marx, 2004), no mundo da arte e no mundo científico (Coutrot, 2009). A arte e suas cigarras perderam a ambivalente proteção aristocrática, mas ganharam autonomia de campo (Bourdieu, 1989) adquiriram direito de cidade, embora muitas vezes denunciado por sua transformação em indústria cultural (Adorno/Horkheimer, 1985), ou sua colonização pelo subsistema mercado (Habermas, 1997) – em outros termos, pelo mundo das mercadorias. No que diz respeito à ciência, instalada desde sua origem como meio racional para o fim de eterno progresso da modernidade, estamos vivendo um momento crítico dessas tensões. Um universitário de Bruxelas que tem se destacado como ativista (Gosselain, 2011), afirma que há mais ou menos vinte anos o termo SLOW SCIENCE é evocado aqui e acolá para por em questão um modelo de ensino e de pesquisa que, fincando raízes antes de tudo no domínio das ciências da vida e da natureza em países anglofônicos (Gosselain, 2010) disseminou-se mundo afora entre os anos 1990 e 2000 – globalizou-se.

Lendo inúmeras manifestações reivindicando-se direta ou indiretamente de SLOW SCIENCE, fiquei pensando que a Formiga de La Fontaine tem uma descendente contemporânea que, tendo podido aproveitar a democratização do ensino superior (crescente, sobretudo, a partir dos anos 1960, 1970, 1980), ascendeu muito socialmente: virou professora-pesquisadora-publicante. O seu trabalho, dito “calculado racionalmente”, consiste em: competir ferozmente por editais de pesquisa e até de extensão; preencher formulários de projetos online inspirados em videogames; orientar um monte de estudantes na graduação e na pós; correr entre mega-congressos ou entre seminários discretos de grupos de pesquisa; fazer malabarismos entre reuniões, relatórios, pareceres, prestações de contas e até pesquisa de preços para material de pesquisa; e, acima de tudo, cumprir quotas de artigos a serem publicados em periódicos bem classificados – sem esquecer de verificar regularmente a dança misteriosa das classificações oficiais, pois, entre o prelo e a publicação do artigo, o periódico pode ter perdido conceito ou ter simplesmente sumido do qualis...

Ah, sim!, há também as aulas....ufa! O que fazer com a formação de estudantes em universidades cada vez maiores? Ora, o jeito é inseri-los desde cedo nessa máquina compressora: selecionar para nossos grupos ou laboratórios de pesquisa aqueles que, desde as primeiras aulas na graduação, revelem-se motivados e possuidores de “capabilidades” cognitivas e competitivas razoáveis para entrarem na corrida de obstáculos; glups!, quero dizer, na carreira acadêmica. O resto..., bem, aqueles que não manifestam potencial para a competição e a performance acadêmicas, estão de qualquer forma condenados ao abandono dos estudos ou a diplomas baratos – talvez úteis para batalhar um empreguinho no mundo profano de bens e serviços extra acadêmicos. Para que nos preocuparmos com eles?

E, se o professor-pesquisador-publicante trabalhar numa universidade cuja expansão deu-se a toque de caixa, através de um projeto com verbas e data pré-definidas para terminar, como é o caso de nosso REUNI, a gente não tem mais dúvidas de que se trata de um descendente da Formiga de La Fontaine, daquela saúva que, segundo nosso Macunaíma (preguiçoso, mas bom entendedor das coisas) é um dos males do Brasil – e do mundo, eu acrescentaria. Com efeito, vemo-lo cotidianamente carregando pesos quase mais pesados do que ele dentro de mochilas e pastas (data-show, netbook, tablets, DVDs.), todos esses objetos das novas tecnologias de comunicação e informação, porque as instalações universitárias são tão precárias que essa Formiga contemporânea não deve esperar que o Datashow e o notebook do auditório estejam funcionando. Sem falar nos panes de sistema ou até da prosaica eletricidade...Ah! É sempre bom também levar papel higiênico para o trabalho.

O termo SLOW SCIENCE quer dizer em bom português ciência lenta. Provavelmente é por isso que Macunaíma passou por minha cabeça, quando percebi que, em vários dos trabalhos que estudei para preparar minha fala aqui (Coutrot, 2009; Barnier, 2009; Candau, 2011; Gousselain, 2011), há um referência ao “pesquisador preguiçoso”: aquele que publica pouco ou nada (em periódicos com conceito relevante); aquele sem uma agenda que não se sabe como comporta tanta atividade! Lembram-se da primeira frase do bebé Macunaíma? “Ái, que preguiiiiça....”

Pois é, de meu ponto de vista, o que há de comum nas diversas manifestações do SLOW SCIENCE (há outras designações, como por exemplo LA DÉSEXCELLENCE da Universidade Livre de Bruxelas) é uma reivindicação historicamente recorrente na modernidade, qual seja, a do direito à preguiça – como a do genro de Marx, outrora. Porque a preguiça gosta de tempo lento e tempo lento é necessário ao exercício da criatividade, da descoberta, da transmissão, da necessidade e do prazer de fazer bem feito. Ora, e nisto são uníssonos todos os da nebulosa SLOW SCIENCE, a ciência, a pesquisa, a formação (o ensino), a articulação entre elas e a sociedade que a financia (a extensão), precisam da criatividade, do prazer de fazer bem feito e da cooperação – todas estas qualidades que a Formiga de La Fontaine não costuma cultivar. O crescimento da reivindicação por slow science significaria que suas descendentes estão enfim se rebelando contra a sina sarcástica, amarga e destrutiva de sua mãe ancestral?

Referências Bibliográficas

ADORNO, T. / HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985.
BARNIER, F. A pesquisa universitária avaliada...para o desprezo da ciência. In: http://quecazzo.blogspot.com.br/2010_01_01_archive.html, dez. 2009
BOURDIEU, P. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: DIFEL, 1989. CANDAU, J. Apel pour um mouvement slow Science. In: http://slowscience.fr/
COUTROT, L. Avaliação em ciências sociais: você disse quantificar? In: http://quecazzo.blogspot.com.br/2010_01_01_archive.html , dez, 2009
GOUSSELAIN, O. P. Slow Science – La Désexcellence. In: http://www.pauljorion.com/blog/ , agosto 2011.
HABERMAS, J. Dorit et démocratie. Paris: Gallimard, 1992.
MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficos. Sâo Paulo: Boitempo Editorial, 2004.
OLIVEIRA, T. Porque ensinar os clássicos ou: tradição, modernidade e ciência, substantivos da sociologia. IN: Cadernos UFS – ciências sociais. Vol VIII, fasc. 5. São Cirstóvão: Editora da UFS, 2006.
WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. Sâo Paulo: Companhia das Letras, 2004.

21 comentários:

Giulia disse...

Acompanho o blog há algum tempo e sou fã confessa! O seu texto é muito interessante, Tâmara! E veio em um momento bastante oportuno. No inicio desse mês quatro docentes pediram desligamento do Programa de Pós-Graduação em História da UFPB; no documento divulgado, as justificativas estão baseadas na situação analisada em seu texto: a dicotomia quantidade versus qualidade, especialmente na construção do saber na área das ciências humanas. Trata-se da defesa de uma ciência sui generis que só se realiza em proximidade com a arte e a filosofia; da defesa de condições adequadas para a realização de um trabalho sério e de qualidade; da (re)afirmação de um compromisso com o ensino, em primeiro lugar. (O documento pode ser lido aqui: http://sindiproladuel.org.br/?p=863)

Tâmara disse...

Giulia,
Eu também sou fã do Cazzo. E fico muito contente por você ter achado meu texto interessante e oportuno.
Eu citei esse documento dos professores da UFPB (um dos quais foi meu contemporâneo em Campina Grande), no texto que pretendo publicar em revista cujo conceito não interessa, porque o importante, principalmente neste caso, é tornar público o que precisa ser discutido - e não pontuar currículo.
Mas vou aqui ponderar sobre o que você fala das ciências humanas: elas são sui generis, sim, mas as ciências ditas "duras" também estão sofrendo com esse modelo (há inúmeros relatórios de cientistas naturais que o contestam também e enumeram os desgates dele sobre o fazer ciência). No debate que se seguiu às falas da mesa redonda, professores das "exatas" não estavam menos sensíveis a esses problemas do que os das ciências humanas. Aliás, segundo um professor da universidade livre de bruxelas, o termo slow science começou a ser evocado há mais ou menos vinte anos, em países anglofônicos e por professores/pesquisadores das ciências naturais. A socióloga Laurence Coutrot, por exemplo, num artigo postado aqui no Cazzo em 2009, apoia-se sobretudo em estudos críticos de pesquisadores das ciências naturais, para tecer sua crítica analítica ao modelo bibliométrico de avaliação da produção científica.
E obrigada pelo comentário.

wellthon disse...

Muito bom o texto Tamara. Recentemente discuti com Cynthia sobre isso. Desde que entrei na graduação era claro que eu deveria me preocupar com determinadas coisas no meu curriculo para não ser cuspido pela pequena abertura de oportunidades que haviam para o curso de CS. Faça inglês, faça francês, leia, fiche, participe de seminários, publique, organize, para lutar e entrar numa pesquisa, para conseguir uma bolsa ali, aqui e ter como se manter...
Enquanto muitos alunos criticam essa perspectivas me parece claro que ela apenas logra naqueles que tem posição social que os permitem a isso. Os que precisam ralar, ou entram no jogo ou provavelmente não se formam. Desses que entram no jogo, são apontados pelos os que estão fora "produtivista, se rende ao sistema".
Pelo visto entre briga de elefantes que se ferra é realmente o capim. E o capim, ai o capim...

Aliás ótimo texto! Tava com saudades de ler aqui ;D

Péricles Andrade disse...

Tive o prazer de assistir a palestra da profa. Tâmara que originou neste texto. Infelizmente não foi possível participar do debate. Havia uma reunião marcada para o momento do debate. Além da produção científica, nossas rotinas acadêmicas não estão nada slow. Em visita a UFPE recentemente ouvi algo significativo de um professor a quem muito admiro muito sobre os demais colegas de trabalho: praticamente não nos vemos mais, não há tempo. Conheço bem a trajetória recente da professora Tâmara, pois há três anos somos colegas de Departamento. É interessante como o que está posto é, de fato, coerente com seus posicionamentos acadêmicos. Em nossas conversas de corredores, nos encontros para tomar cerveja ("ninguém faz amigo tomando leite")temos discutido sobre a esquizofrenia que tem tomando o universo acadêmico. Acho que para além da auto-análise estamos fazendo uma sociologia relacional. Comecei, inclusive, a elaborar um manual de como incrementar o curriculo lattes. Seria um artigo com o título "quem não lattes não morde". Apresento algumas estratégias de como se tornar um pesquisador produtivo: publicar junto com os orientandos, fazer inscrição de trabalho em eventos juntos com os orientados, obrigar os alunos a fazerem citações dos nossos textos, publicar os mesmos textos em lugares diferentes... e por aí vai. Não falta criatividade... Confesso que ainda não tive coragem de finalizar o texto e publicá-lo. Não estamos falando de agentes distantes, mas de nós mesmos. Obviamente cabe duas estratégias no campo científico. Adotar o senso prático ou subvertê-lo. Tâmara optou pela segunda. Não é um caminho fácil! Ainda estou em dúvida, embora também tenha uma visão crítica quanto as estratégias de sobrevivência e ascensão na esfera intelectual.

Unknown disse...

Essa discussão me lembra algumas reflexões que venho tendo sobre isso. Muitas vezes acaba-se invertendo as coisas, os meios viram fins em si mesmos. Para que serve publicar artigos e apresentar trabalhos em congressos? Acredito eu é fazer circular ideias e trocar experiências, mas muitas vezes o objetivo principal acaba sendo mesmo cumprir metas de produção e encher linguiça latteana. Congressos e periódicos que deveriam ser meios de disseminação e intercâmbio de conhecimento, tornam-se fim em si mesmos. E no final, na maioria das vezes quem lê o q vc publica são somente aqueles que estudam na msm sub sub área de sua pesquisa.

A bolsa acaba sendo a mesma coisa. não raro eu vejo colegas e amigos com a mão na cabeça pq a bolsa está prestes a acabar, e aí o que fazer da vida? alias há vida depois da pós? rsrs Para os que terminam o mestrado, mts emendam com o doutorado. Não que eu seja contra faze-lo, mas uma coisa é quando isso acontece por que pessoa assim planeja, outra é pq são 4 anos de bolsa garantida. E sim, já vi muita gente comentando que esse fato pesa e muito. Para os que terminam o doc, resta ligar o taximetro e ir pra debaixo do chicote de alguma faculdade particular, ou tentar um pos doc, ou rezar pra abrir seleção em alguma instituição pública. No final das contas fazemos pos para sermos melhores profissionais mas ironicamente a dinâmica do mercado de trabalho é muito diferente da academia, e no final só conseguimos emprego na própria academia. O problema é que as vagas abertas são em número muito menor que o de doutores formados.

Mas a finalidade de uma pos graduação stricto sensu é esta, não é? Formar professores de ensino superior e pesquisadores. Formar pesquisadores não duvido, ao menos na PPGS temos tres disciplinas obrigatórias de médotos de pesquisa. Agora formação de professores é o calo das pós no Brasil, pelo o que já andei lendo e vendo. Ao menos na UFPE, nenhuma das pos da área de CS - Sociologia, Antropologia e Ciencia Política - discute didática do ensino superior, proposta pedagógica e etc, ao menos não consta na grade de disciplinas. No máximo temos o estágio docência, em que vamos pra sala de aula e vemos a coisa "na tora", se o professor for bom e prezar pela didática, ótimo, se não, paciência (isso qnd não larga o estagiário na sala e n aparece mais). Mas em ambos os casos não há uma discussão sobre a formação do professor universitário. Na realidade a maioria dos profs aprendeu a lecionar na prática tb. Não a toa é facil encontrar em qualquer universidade excelentes pesquisadores, porém professores com uma didática mais eficiente que soníferos poderosos. Enfim teria mais coisas a falar, mas já me alonguei d+ e o sono impede de continuar.

Cynthia disse...

Discussão complicada essa, que às vezes pode degenerar numa crítica excessivamente ampla das normas que regulam o trabalho acadêmico. Concordo com o "unknown" aí de cima que o problema é quando os meios viram fim em si mesmos. Acrescentaria a isso que as exigências devem ser acompanhadas de condições de trabalho que garantam minimamente o que se espera de nós.

É com base nessa noção de meios como fins que lamento ver alun@s de graduação preocupad@s em publicar, organizar eventos e participar de congressos apenas para rechear seus currículos. Mas isso não significa que as pessoas não devam aproveitar essas coisas para efetivamente construírem conhecimento, trocar experiências etc. É tudo uma questão de bom-senso e isso se aplica a estudantes e professores.

Na área de teoria, por exemplo, é difícil produzir trabalhos em co-autoria com estudantes, especialmente de graduação; mas existem outras áreas em que isso não apenas é possível, mas contribui enormemente para o processo de aprendizagem. Neste sentido, admiro muito o trabalho que alguns colegas fazem com alun@s de graduação, onde a divisão do trabalho possibilita que cada um trabalhe em seu nível e efetivamente contribua para a produção de conhecimento. Ignorar isso é usar de uma lógica tão perversa quanto a do simples "publish or perish".

E, Péricles, se entendi bem, seu artigo é uma crítica irônica a esta lógica. Como já coloquei por aqui diversas vezes, tenho muito receio do uso da ironia como estratégia política. Em certos casos, creio que o melhor é tentar fixar ao máximo os significados.

No mais... ai, que preguiça!

Tâmara disse...

Primeiro, Péricles e Cynthia:
Pois é, Péricles, como tomar cerveja pode ser criativo, né? Você toca num ponto muito importante: somos nós que sustentamos esses critérios quantitativistas e imediatistas; não podemos responsabilizar apenas os burocratas de profissão (nem os "malvados" das ciências "duras" que nos teriam imposto seu modelo), já que assumimos cargos de poder na formulação dos indicadores da produção científica.
Mas também tenho a preocupação de Cynthia, qual seja a de que a crítica não jogue fora a água suja com o bebê. Quando pedi desligamento, dois colegas disseram-me estar tentados e eu fiquei meio apavorada: não! Se as pessoas angustiadas abandonarem todas o barco da pós-graduação, ficarão apenas os que incorporaram o modelo a tal ponto que falam dele como se tivesse mais natureza do que a lei da gravidade (porque esta, nós desafiamos todo dia nos aviões).
Eu saí porque também tinha problemas em minha vida pessoal (aliás, com os critérios de produtividade que temos, é praticamente proibido ter problemas pessoais: a gente perde tempo na corrida!) Além disso, não tenho muito interesse em centralizar minha carreira na formação de mestres e doutores (menos ainda com os prazos atuais, onde ficamos muitas vezes entre a cruz e a caldeirinha: aprovar trabalhos ruins para não perder vagas, bolsas e conceito na coleta Capes, ou aprová-los - de preferência com conceito A - e ficarmos com a sensação de trabalho mal feito,de impostura intelectual e científica).
Mas falarei mais na próxima resposta: a Welton e Unknown...

Tâmara disse...

Welton e Unknown:
Welton,
Fico feliz quando você gosta do que escrevo, porque você é leitor interessado e muito interessante. Obrigada.
Você e Unknown trazem aspectos do problema que são importantíssimos: as articulações entre esse modelo de produção/avaliação, a transmissão dos saberes (ensino) e as desigualdades das condições da competição acadêmica.
Essas dimensões devem ser analisadas saindo-se da dimensão interna do problemas e dirigindo-se às tendências societais estruturantes - onde o mundo científico e universitário aparece como campo relacional do que Sennet chama de cultura do novo capitalismo e de sua burocoracia MP3 (ou iPod). Em meu texto longo (procurando publicação impressa, de preferência em revista conceito Z), tento fazer isso. E mais tarde (à noite ou amanhã de manhã)voltarei a essa resposta, prometo: é que meu pai ligou convidando-me para jogar conversa fora. Resolvi ganhar meu dia com ele. Abraço

Péricles Andrade disse...

Prezada Cynthia,
fiz apenas um ensaio. Tenho relutado em tornar público o texto. Entretanto, as vezes nos deparamos que estratégias tão absurdas e desonestas que ficamos indignados. Só para citar um exemplo, recebemos na Editora uma proposta de publicação de uma obra. Depois descobrimos que a orientadora exigiu que seu nome fosse posto como co-autora. Isso não significa uma descrença na produtividade. Não acredito que devemos implodir o sistema da pós-graduação. Porém, penso que podemos fazer com um mínimo de ética acadêmica. Mas, minha cara Cynthia (esse sentimento é verdadeiro e não "ironia") fique tranquila vou abandonar a ironia. Sei muito bem que a ironia pode trazer reações adversas. Minha ironia custou meses de tensões departamentais. Tâmara bem sabe do que estou escrevendo. Ainda bem que estamos em paz.

Grande abraço

Cynthia disse...

Oi, Péricles,

Eu tendo a acreditar que uma pessoa que faz esse tipo de exigência o faz por uma questão de caráter, não simplesmente de conjuntura: se a conjuntura fosse outra, a falta de ética se manifestaria de outra forma. Mas eu acho que não dá para tomar esse tipo de comportamento como norma; pelo menos não é isso que vejo no meu cotidiano. Aliás, essas coisas só nos chocam porque (ainda) são a exceção, você não acha?

Quanto à ironia, acho que algumas pessoas conseguem fazer bom uso dela, mas parte do problema é que ela depende muito mais de quem interpreta do que de quem a profere. Dependendo do tema em questão, não sei se vale a pena...

Grande abraço

PS. E @ filhot@ nov@?

Tâmara disse...

Welton e Unknown,
Continuo devendo respostas mais decentes a vocês. Mas, como ontem passei o dia dedicada a ternas conversas entre pai e filha, terminei perdendo o capítulo das negociações de greve e agora preciso correr à UFS: termos assembleia. Veja como estamos: um dia de dedicação familiar e o mundo parece escapulir da gente!
Até assim que eu puder, abraço

Tâmara disse...

Welton,
Se bem entendi (em sua pressa, algumas de suas frases estão mal formuladas), você está trazendo uma pitada de Bourdieu e Passeron para a confeitaria La cigale et la fourmi: enjeux de distinção de classes na possibilidade de crítica “ao sistema”. Pois uso o próprio Bourdieu para analisar criticamente seu argumento: os campos têm autonomia relativa, pois seus bens materiais e simbólicos são diferentes entre si. Não acredito que apenas os que têm posição social desfavorecida entram no jogo: todos os que querem seguir a carreira acadêmica têm que enfrentá-lo – positiva ou negativamente. E, se formar, amigo, em sentido estrito, ter um diploma de graduação, não tem que necessariamente entrar nesse jogo – a graduação é um diploma cada vez mais massificado. O que fazer com ele, são outros quinhentos: quem não desenvolve capital intelectual para a competição acadêmica, terá diplomas baratos e inflacionados no mercado de trabalho. E estes, os sem capital intelectual, em geral são filhos de classes sociais desfavorecidas e, assim, simplesmente têm baixíssimas suas chances de entrada na competição acadêmica – para seguir carreira. Penso que os enjeux de classe entre estudantes de graduação funcionam aqui, não na possibilidade de lograr a crítica ao sistema. Agora, há outras classificações hierárquicas internas ao campo do conhecimento: esse modelo imediatista, flexível e competitivo no sentido empresarial (sentido que impregnou também o campo científico), produz maior complexidade entre os “distingués” (consagrados academicamente, “produtivos”) e os que, inferindo a partir de Sennet e não de Bourdieu, chamaria de “isolados” (“os improdutivos” – não necessariamente os que não trabalham, mas os que, por razões variadas, estão fora das redes de produtividade desenfreada e bibliométrica). Aproveito para lembrar de uma coisa: há gente decente e gente indecente tanto entre os produtivos quanto entre os improdutivos. Por enquanto, é o que consigo refletir sobre seu comentário. Obrigada de novo. Abraço.

Tâmara disse...

Unknown,
Você toca em aspectos tão cruciais e complicados que me deixa tonta: um blog não tem espaço suficiente para uma discussão sobre isso tudo e nem eu tenho competência para isso. Mas tentemos enumerá-los e pensar numa articulação entre eles: meios que viram fins em si – na produção acadêmica; relação entre formação acadêmica e mercado de trabalho; o ensino enquanto problema: eu diria que, como os meios de publicação e de redes têm virado fins em si, não há tempo para se pensar o ensino seriamente – a transmissão de saberes é cada vez mais substituída pela cooptação de habilidades cognitivas e competitivas dos estudantes que as têm e, como você bem diz, para empregos na própria carreira acadêmica – que nunca serão em número suficiente. Daí o descompasso entre diplomas e mercado de trabalho: os que conseguem entrar no jogo acadêmico vão competir cada vez mais e, os que têm diplomas baratos de graduação sabem que aquilo vale pouco ou quase nada, mas não podem deixar de ter um diplominha. Parece que a universidade massificada distingue-se em dois grandes caminhos: o da “excelência” acadêmica, movido sob o modelo do que muitos economistas e sociólogos estudam como “economia do conhecimento” (produzindo patentes e produtos a serem valorizados sob o modo do capital financeiro – daí a fúria publicista, quantitativista e imediatista que resulta em financiamentos); o dos diplomas inflacionados, baratos, que criam a ilusão de inserção num mercado de trabalho com desemprego estrutural. Há um terceiro caminho (que expansões a toque de caixa como o REUNI potencializam): o do abandono dos estudos, pelos estudantes que adquirem acesso à universidade, mas não têm meios materiais e cognitivos para acompanhar os cursos. Para mim, quanto mais racional e flexível esse modelo de universidade quer se dizer, mais irracional, inflexível e desastroso ele fica. Todavia, o mal-estar difuso que essa greve tem permitido aflorar pode se transformar em alguma coisa de novo, mesmo porque tem havido protesto sobre esse modelo de produtividade científica em vários países. Que os deuses e demônios assim queiram. Obrigada pelo comentário mais do que pertinente. Abraço.

well disse...

Sem dúvida. Há gente decente e indecente em todo canto, rs. Vou escrever com mais calma...rs. Falando sou ainda pior.


Tamara, eu realmente concordo com a noção de disputa dentro do próprio campos, mas atrelo isso entre os alunos de classes menos desfavorecidas uma pressão maior. Essa pressão maior é para a subsistência, como também um outro colega comentou acima, basta ver os desesperados na graduação quando a bolsa PIBIC acaba. Obviamente que todos tem suas necessidades básicas a serem supridas, e todo mundo acha massa ter o próprio dinheiro. Mas acontece que as situações de automanutenção dos alunos, ao meu ver, não podem ser vistas como iguais. Certo dia presenciei um problema em um grupo de alunos do 1º período, um desfalque na apresentação de um seminário que todos estavam se esforçando. A razão para o desfalque era a falta de dinheiro para passagem de um aluno.
Vejo muitos colegas reclamarem da bolsa, ou lutar para ter uma bolsa, mas muitas vezes elas servem apenas para pagar a gasolina do carro ou tomar uma cerva. Nossa cidade é a mais desigual do Brasil, segundo estudos, e é interessante ver em nosso curso isso aparecer de modo muito forte.

Portanto a lógica de disputa para uma carreira acadêmica entre classes diferentes são igualmente aplicadas, entretanto o impacto dela diverge.

Obrigado pelos elogios Tamara.
Abraços!
Ah espero ter escrito de boa. rs. sdds

Anônimo disse...

Espinhosa é a questão da avaliação de desempenho ou do mérito. Particularmente, não penso que o problema esteja na bibliometria ou no padrão quantitativo das ferramentas colocadas à disposição dos tomadores de decisão. Elas entregam aquilo que prometem. O resto (não vai aqui nenhum sentido pejorativo, advirto) é sociologia, antropologia, política, história, psicologia (e por aí vai) e não (?) matemática. Aliás, suspeito que nenhum gestor de RH aconselha a contratação de ninguém olhando apenas o “curriculum vitae” do candidato.
E la nave va...

Anônimo disse...

Lembro de um professor que dizia: "se além de propiciar um meio de sustento o que eu te ensinar puder servir para algo mais..."

Tâmara disse...

Anônimo(a),
Também acho que o problema não é a bibliometria, mas os comos, os porquês e as consequências de seu uso. Sugiro um artigo de Laurence Coutrot (cujo extrato foi publicado no Cazzo mas que precisa ser lido inteiro)em Quaderni di Sociologia. Reproduzo duas afirmações sintéticas: o método da bibliometria é o do poste de luz: procura-se a moeda embaixo do poste, não porque se sabe que ela caiu ali, mas porque ali está iluminado; e: um piano não foi inventado para ser tocado com os pés. Coutrot fez um levantamento cuidadoso de instrumentos bibliométricos e das críticas que as maiores associações internacionais de matemáticos e estatísticos fizeram (assim como pesquisadores da informática, da biologia, etc.). Sem contar que alguns formuladores desses instrumentos também apontam para suas falhas.
Agora, concordo que nenhum gerente de RH contrata apenas por medições bibliométricas. Isso demonstra um dos desastres da bibliometria: ela fundamenta a avaliação continuada que vivemos sob pressão angustiante e destrutitiva no mundo da ciência e do ensino, mas está em descompasso com as necessidades do mundo do trabalho.
Paradoxalmente, a bibliometria possui afinidades eletivas com o modo de funcionamento da nova organização do trabalho: imediatista, flexível e a serviço da valorização do capital - sob o modo do capital financeiro.
Meu texto inteiro, longo demais para um blog, tenta fazer essas articulações; estou tentando uma revista conceito Z para publicá-lo.
Quanto ao seu segundo comentário, se esse professor ainda não se aposentou, deve estar muito angustiado: não só o que a gente ensina está em descompasso com o encontro de um meio de sustento, como tem nos dado a sensação de não servir para mais nada. Mas ainda acredito na possibilidade das cigarras.
Obrigada pelos comentários. Abraço

Anônimo disse...

Nunca mais tive notícias de meu professor, Tâmara. Porém, é como se tivesse assistido a suas aulas, ontem: "...a maioria dos estudantes entra na universidade com uma ideia de ciência muito, digamos, romântica...". Agora acho que finalmente compreendi um pouco melhor aquele contexto - era uma formiguinha dando aulas para um monte de cigarras! Quase posso adivinhar, também, o que poderia nos dizer a respeito de teorias, métodos ou ferramentas:
"Não é porque uma teoria, ou método, ou ferramenta são falhos que devem ser abandonados."
Obrigado pela sugestão de leitura. Espero que publique logo o seu artigo.

Tâmara disse...

Anônimo,
Eu não me acho muito romântica, não, em minha visão de ciência e avaliação da produção científica. Mas acredito, mesmo, que entre um modelo de produção e avaliação inspirados no funcionamento de uma empresa contemporânea e um modelo romântico, há um grande intervalo onde podemos vislumbrar caminhos que não nos adoeçam tanto e sejam mais racionais. Quando uso a fábula de La Fontaine, não estou pensando na cigarra como um bicho que vive para o prazer: ela tem seu ciclo de vida, como nós o nosso e as formigas o delas. Apenas não acho que seja inevitável que as atividades humanas sejam completamente subsumidas pela lógica da quantidade, da competição, do consumo descartável e da correria desenfreada. E, como tratamos do domínio do conhecimento e de sua transmissão, essa correria desenfreada tem consequências muito desastrosas. Ou seja, não estou aqui(nem ninguém da nebulosa slow science) defendendo o fim da avaliação da produçaõ científica, mas da mudança do modelo. Em nome inclusive da racionalidade moderna. Outro dia li um artigo de um médico-pesquisador de um hospital de Paris que contestava esse mesmo modelo em defesa do positivismo! Do jeito que está sendo manipulada, a bibliometria é um modo irracional, perverso e desastroso de avaliação.
Mudando de assunto, vou lhe confessar uma coisa: sou sempre a favor do anonimato porque acho que ele oferece espaço a quem está tímido para se identificar mas tem o que dizer (como é o seu caso), mas, para mim pessoalmente, quando dialogo com um anônimo, há sempre uma sensação esquista. Parece que estou falando com ninguém. E isso me lembra Ulisses, aquela astúcia onomástica que ele usa não lembro mais contra que tipo de monstro mitológico. Talvez eu deva admitir que acredito demais nas identidades, embora não goste delas. Sendo assim, obrigada mais uma vez por seus comentários.

Anônimo disse...

Amurabi disse...

Sempre que vejo este tipo de discussão me recordo de enésimas situações, uma em particular, em 2009 quando começava o meu doutorado no Recife ocorreu o CISO, e recordo-me de olhar os anais do evento, ou melhor, a programação dos GTs, e para minha surpresa em um dos GTs havia 12 trabalhos cuja coordenadora era co-autora. Ora, na minha compreensão nem na perspectiva mais produtivista isso seria motivo de orgulho, pois para mim, ao menos, isso demonstra bem mais um vexame público que expõe os rumos duvidosos que a produção científica tem tomado no Brasil, na área de ciências sociais em particular que conheço mais de perto.
Acho que o problema não é o "produtivismo em si", a adoção das "técnicas" ironicamente citadas por Péricles não é fruto automático do "produtivismo" que a CAPES exige, pois, como disse certa vez uma colega minha da UFAL "A CAPES não inventou a falta de caráter, apenas passou a qualificá-la".
O efeito mais devastador que o "produtivismo" tem realizado diz respeito a mudança do pesquisador do livro para o pesquisador do paper, como colocou Marilena Chauí, com todas as implicações que isso abarca.
No final das contas para ambos os extremos, ou seja, para aqueles que produzem por meios duvidosos e colocam a culpa na "pressão produtivista", ou para aqueles que não produzem nada e dizem que o fazem porque são "contra o produtivismo", o que acho bem questionável também, creio que ainda vale a máxima que ouvia quando criança: "desculpa de menino amarelo é comer barro".
Abraços para todas e todos.

Tâmara disse...

Amurabi,
Vou aproveitar a sábia declaração de sua colega da UFAL para lembrar da imaginação sociológica segundo W. Mills, ou seja, da articulação entre problemas pessoais e estruturas sociais. O caráter pode ser um bom critério para a classificação dos meninos amarelos produtivistas e improdutivistas, mas há que se pensar nos modelos institucionais de dentro e de fora da universidade, também. A transformação do pesquisador do livro para o do paper, insere-se numa reestruturação do modelo de produção/avaliação fundados numa competição acelerada e quantitativista com profundas afinidades e articulações com o modelo atual de acumulação econômica – por sua vez, orientados por modelos econométricos com pouquíssima relação com a economia real, com a contribuição construtiva de universitários que ganharam e ganham muito com isso e que mergulharam o mundo numa crise que já tem quatro anos e só faz se alastrar. Para além da naturalização de comportamentos amorais e imorais, esses modelos têm provocado desgastes na qualidade da pesquisa e da transmissão do conhecimento, bem como têm aumentado e tornado mais complexas as desigualdades sociais.
Logo, penso que precisamos refletir e agir sobre isso – articulando domínio do conhecimento e domínio da economia. No do conhecimento, porque se continuarem pensadas como suplementos de meras empresas em concorrência feroz, as universidades podem perder sua pertinência. Quanto à articulação com o da economia, vou usar aqui o que ainda estou lendo, o último livro de um filósofo ex-aluno de Derrida (Bernard Stiegler) que, em États de choc – Bêtise et savoir au XXI siècle, critica a ideia de universidade incondicional de seu mestre, usando bastante Marx, Adorno/Horkeimer, Marcuse e Habermas, para recolocar em seus termos a intoxicação da hegemonia de uma lógica econômico-financeira guerrreira e irracional no domínio do conhecimento e de sua transmissão, enfim, no domínio do tornar-se humano. Para Stiegler, então, repensar a educação em todos os seus níveis implica em renovar a crítica da economia, ou seja, em praticar e teorizar a economia política. Em suma, sem a ilusão de suprimir o mau-caratismo do mundo (acadêmico ou não), há que se pensar que quando as CAPES do mundo qualificam-no, é preciso buscar o verme que torna o menino amarelo e comedor de barro. Obrigada pelo comentário.