Jonatas Ferreira
Devo ao livro de John Caputo, Deconstruction in a Nutshell,
a constatação em alguma medida indireta de que existiria um vínculo teórico
entre Derrida e Levinas que nos remeteria diretamente ao tema do amor e da
ética no amor. Nunca havia pensado sobre a relevância da obra de Derrida
para pensar esse tema e, no entanto, após ler o livro de Caputo, essa
possibilidade pareceu-me muito atraente. Mas aqui cabe algum cuidado, para que, cumprindo o dever da gratidão, não procure validar minhas conclusões com a sombra da autoridade intelectual do filósofo e teólogo. De fato, suas considerações acerca de temas
como “comunidade”, “hospitalidade” e “identidade, tal como apresentados num capítulo central do Deconstruction in a Nutshel, parecem levar mais diretamente a discussões acerca de ética e
sociabilidade, ética e política de um ponto de vista amplo. Pouco autorizaria a
inferir dali algo sobre amor e, menos ainda, sobre amor romântico, como
pretendo. E, no entanto, o tema do amor como elemento ontológico, como possibilidade primeira da abertura para o outro está presente em todas estas outras formulações.
A explanação de linhas centrais do pensamento derridiano, realizada por Caputo, ao tratar de tais temas, cumpre a promessa de facilitar a leitura da obra deste autor que Cynthia Hamlin reputa como um dos mais chatos e abstrusos que já existiram – com tantos candidatos na sociologia, eu não sei o motivo de não privilegiarmos nossos próprios pares. De qualquer forma, Caputo faz um trabalho de mestre ao lançar luz sobre o gosto derridiano pelos paradoxos, pelas aporias. E o faz a partir da discussão de temas que interessariam, em princípio, bem mais à sociologia política do que parece contribuir para a discussão que pretendo trazer neste Cazzo.
Vejamos, pois, a partir de Caputo, o que Derrida tem a nos oferecer acerca de ideias
como comunidade, hospitalidade, identidade.
Para ele,
é preciso perceber que se vamos continuar mobilizando a ideia de comunidade em
nossas discussões políticas e éticas, é necessário atentarmos para a forma como essa ideia vem sendo elaborada no ocidente - e isso bem antes que Ernst Troeltsch a
definisse a partir da ideia de unidade sentimental, de herança comum de valores
compartilhados. Consideremos a esse respeito a oposição entre civilizados, e bárbaros, tão cara ao pensamento grego. Para Derrida, o próprio esclarecimento etimológico da palavra comunidade indica que no seio do comum - daquilo que nos permite falar
em uníssono, isto é, da «fusão» - pulsaria a beligerância, o
conflito, o agonismo. Os ecos mais
arcaicos desta palavra ofereceriam evidência para essa postulação:
«O que ele não gosta na palavra comunidade é sua conotação de "fusão" e "identificação". No final das consta, comunhão é uma palavra para uma formação militar e uma prima próxima da palavra "munição"; estar em comunhão é estar fortificado de todos os lados, construir uma "defesa" comum (munis), tal como uma muralha é posta em volta de uma cidade para manter um estranho ou estrangeiro do lado de fora» (Caputo, p. 108) [1].
Já aqui nos parece que a influência da ética levinasiana
se instaura poderosamente. A alteridade não é aquilo que eu devo procurar
extinguir, negar, mas aquele, ou aquela, que instaura a possibilidade de minha
própria existência. A radicalidade do pensamento derridiano nos remeteria, para
além do humanismo de Levinas, a suas meditações sobre a alteridade do animal,
de como ele se constituiu como o absolutamente outro no pensamento ocidental, e
ao mesmo tempo aquilo que resta por pensar, o desafio filosófico por
excelência. É a radicalidade da presença da alteridade, mesmo quando a
reprimimos, que se coloca como desafio para pensarmos processos identitários,
comunitários. Neste caso específico, ou seja, nas reflexões que ele oferece
em O animal que logo sou, para além das reflexões
foucaultianas e agambenianas sobre a centralidade do bios na
política e sociabilidade modernas, ou, mais amplamente, da política e cultura
ocidentais, o animal permanece como alteridade absoluta que nos acena e para o
qual nos fechamos. A região limítrofe em que o outro conclama meus próprios
processos identitários é a zona obscura onde Derrida propõe que pensemos[2].
]
A questão é: a deconstrução
não recusa a ideia de comunidade por identificar, no seio da vontade de fusão,
uma vontade de negação do outro, no seio da hospitalidade, a hostilidade, como se
tivéssemos aqui apenas um problema de higienização lógica. Trata-se antes de
entender que (i) o outro é o que há de mais bem-vindo (quem mais poderia sê-lo
senão o outro, a outra em sua alteridade?), mas é também o mais desafiador e
que (ii) a ideia de comunidade deveria estar aberta a essa evidência e dificuldade política. No caso
controvertido que nos traz Tiburi, trata-se para mim de poder discutir o
fascismo não como algo que não me diz respeito, algo que só se coloca nas
práticas alheias, mas antes que me envolve de modo radical.
Não se trata, é preciso dizer,
de capitular por princípio diante da outra pessoa, do outro grupo ideológico.
Tampouco de negá-la a priori. Não se trata de escamotear de algum
modo o conflito, mas antes encará-lo de frente. O outro em seu caráter
desafiador é, antes, a possibilidade de que continuemos vivos e de seguirmos
produzindo uma relação generosa com aquilo que nos mobiliza – o que no caso de
alguém que por princípio recusa o diálogo, convenhamos, é um desafio
incontornável, caso não percebamos que o fascismo nos diz respeito de modo mais
fundamental.
Assim, a reivindicão de Derrida no sentido de buscarmos uma “comunidade sem
comunidade” é, não apenas um desejo de postar seu pensamento em zonas de curto-circuito,
em paradoxos vazios, mas um compromisso ético e político. Por isso mesmo, ele
também procura sempre pensar as possibilidades abertas dentro, e não fora, da
sua tradição, ali mesmo onde a ideia de comunidade se abre como um problema. Por
isso mesmo as aporias do pensamento ocidental - as zonas limites do filosofar
em que identidade e alteridade se encontram em confronto - constituem seu locus privilegiado
de reflexão. Essas são zonas de “indecidibilidade”, campos em que toda decisão
carrega sempre consigo o fantasma daquilo que está sendo excluído. E isso nos dá uma ideia do motivo pelo qual o tema da
hospitalidade é também relevante neste contexto:
«Há uma "auto-limitação" essencial construída dentro da própria ideia de hospitalidade, que preserva a distância entre o si mesmo e o estrangeiro, entre entre possuir nossa propriedade e convidar o outro para dentro de nossa casa. Assim, há sempre um pouco de hostilidade em todo ato de hospedagem e hospitalidade, constituindo uma certa hostil/pitalidade”» (Caputo, p. 110).
Essa ambiguidade é um tema, como sabemos, também psicanalítico. Freud já
alertava acerca da agressividade que os gestos mais amorosos comportam, e
vice-versa: sempre que o ódio se instalar, sempre que a negação do outro se
fizer presente, é necessário que levemos em conta a possibilidade de fascínio
que esse outro exerce.
A relação identidade-alteridade, que afinal é também o que discutimos até aqui, é um tema fenomenológico clássico. A própria intencionalidade de nossos processos cognitivos, como propõe Husserl, requer e só se torna possível pela aceitação das demandas que a alteridade nos faz. Essa é, aliás, a forma como Levinas percebe a influência da fenomenologia husserliana e Heideggeriana em seu próprio pensamento – ou seja, neste sentido, a consciência não é o elemento fundante da fenomenologia, mas o desafio que a alteridade lhe lança. Heidegger, no entanto, para Levinas, é um pensador da casa, do próprio, da clareira, da lareira, da autenticidade. Derrida e Levinas, por outro lado, são pensadores do clamor ético do limite, do compromisso que sempre nos mobiliza eticamente em direção à alteridade, sem que nunca possamos atender a tal apelo de modo satisfatório.
E, no entanto, é preciso enfatizarmos isso
devidamente: «Quando eu digo "bemvindo(a)" para o(a) outro(a), "venha, cruze o meu umbral", eu não estou capitulando minha propriedadade ou identidade. Não me ponho na posição de khôra que dá boas-vindas a tudo como um receptáculo aberto. Se eu digo "Bem-vindo(a)!, não estou renunciando a meu domínio”. Dizer bem-vindo, portanto, não seria possível se realizássemos qualquer
sonhos místico de fusão com o outro, com a outra pessoa. E mais adiante nós lemos: «Como tudo o mais na deconstrução, a possibilidade da hospitalidade é sustentada por sua própria impossibilidade; hospitalidade realmente só se põe a caminho quando "experimentamos" (o que significa viajar ou atravessar) essa paralisia (a incapacidade de se movimentar)» (Caputo, p. 111). Essa impossibilidade parece-nos a forma
como o pensamento derridiano pensa a questão da transcendência, ou seja,
entendendo-a como algo finito, sem uma resolução absoluta, essencial. A
impossibilidade nos mobiliza aqui por que nela reconhecemos o trágico de nossa
precariedade ontológica.
Eu diria então que o verdadeiro gesto ético, o reconhecimento da
alteridade, só pode ser inaugurado quando tal impossibilidade nos coloca fora
do terreno das decisões automatizadas, quando o decidir é perturbador, quando
nossa identidade é posta em xeque nesta mesma decisão. Como tudo isso é
diferente da ideia liberal de uma comunidade fundada na tolerância mútua de
identidades auto-referentes! Etimologicamente, a palavra tolerar significa
suportar pacientemente a carga… Derrida, por outro lado, “quer distinguir uma identidade impermeável, homogênea, idêntica a si mesmo, de uma identidade que difere de si mesma» (Caputo, p. 114).
O
verdadeiro gesto ético só surge quando a face do outro, da outra, surge em sua
absoluta singularidade, quando as regras para julgá-lo, ou julgá-la, são
insuficientes. Orestes, por exemplo, diante da decisão de honrar os
compromissos com seu pai, ou com sua mãe, estava em uma tal situação. Ou, mais
propriamente ainda, poderíamos nos reportar aos apuros em que se mete Sancho
Pança ao ser colocado diante de uma decisão sobre a vida de alguém que, se
executado, morreria inocente; poupado, viveria na impunidade de seu delito. A
decisão sobre o indecidível na famosa passagem do Dom Quixote, tem
um sabor derridiano: Na dúvida, na impossibilidade de uma decisão logicamente
perfeita, Sancho pondera, deixe viver porque a vida de um ser humano, em sua
singularidade, é maior que o compromisso com qualquer compromisso com o rigor
lógico. A justiça, neste caso, não pode se abrigar na aplicação cega da lei. O
verdadeiro gesto ético, assim, abriga-se em nossa precariedade diante da outra
pessoa, de sua face. Estranho abrigo!
«”We” all require “culture”, but let us cultivate (colere) a culture of self-differentiation, of differing with itself, where “identity” is an effect of difference, rather than cultivating “colonies” (also from colere) of the same in a culture of identity which gathers itself to itself in common defence against the other” (Caputo p. 115).
Assim, também as considerações derridianas sobre a dádiva, que encontramos
em livros como Donner la mort, e que são uma parte importante de
sua ideia de justiça, funda-se no pressuposto de que o dom requer algo para
além de qualquer possibilidade de contra-dom, algo que “não pode ser
reapropriado”. O dom é aquilo que passa pela circularidade das trocas e que a
excede, que supõe um tempo circular – em que o dado deve retornar até o seu
doador - e que instala uma interrupção no seio desta circularidade. É isto que
nos indica as seguintes linhas de Donner le temps:
«La circularité ne devrait pas être nécessairement fuie ou condamnée, comme le serait une mauvaise repetition, un circle vicieux, un processus régressif ou sterile. Il faut, d’une certaine manière, bien sûr, habiter le cercle, tourner en lui, y vivre une fête de la pensée, et le don, le don de la pensée, n’y serait pas étranger» (Derrida, p. 20).
Algumas
linhas abaixo, no entanto, temos:
«Que partout où il y a du temps, partout où le temps domine ou conditionne l’expércience en general, partour où domine le temps comme cercle […], le don est impossible. Un don ne saurait être possible, il ne peut y avoir don qu’à l’instant où toute circulation aura été interrompu et à la condition de cet instant»[3] (Derrida, p. 21).
O que essas tensões implicam para pensarmos a ideia de justiça em Derrida
em oposição à estabilidade e automatismo da lei? «This “idea of justice” seems irreducible in its affirmative character, in
its demand of gift without exchange, without circulation, without recognition
of gratitude, without circularity, without circulation and without rules,
without reason and without rationality» (Caputo, p. 141). Para ele, uma dádiva que
é retribuída, ou que é reconhecida como tal, já anula a si mesma neste ato:
pois qual seria o dom, o sobrevalor, o excesso necessário de algo que é
reconhecido e, como tal, retribuído?
Há no pensamento francês uma tradição de
tentar pensar o lugar do excesso nas economias humanas. Isso é o que temos na
economia erótica de que nos fala Bataille, ou nas reflexões de Foucault sobre a
loucura, e é também o que se apresenta nesta ética do dom que nos propõe
Derrida. O que se espera da dádiva é que ela seja excessiva em relação à
racionalidade das trocas. Esse seria seu sentido ético, bem próximo ao erotismo
tal como concebido por Bataille. Uma relação amorosa reduzida a um contrato de
obrigações e contra-obrigações precisas perder-se-ia numa fria relação
contratual. «The gift “calls” upon an
expenditure without reserve, for a giving that wants no payback, for
distribution with no expectation of retribution, reciprocity, or
reappropriation». A ética do dom, assim, não pode buscar a soma zero da retribuição. Por isso
mesmo, a dádiva em si é impossível. Mas é a possibilidade dessa impossibilidade
que nos mobilizaria eticamente diante da presença do outro, da outra.
«The gift is our passion. “Economy”, on the other hand, denotes the domain of presences, of presents, of the commercial transactions, the reasonable rules, the law of customary exchanges, the plans and projects, the rites and rituals, of ordinary life and time» (Caputo, p. 145).
Derrida não quer negar a economia e as trocas proporcionais. Pelo
contrário, ele apenas entende que nossos próprios impulsos narcisistas, que
procuram afirmar o eu como destino de todos as nossas “despesas” (aqui no
sentido batailleano), que o retorno de nossos investimentos libidinais, só
fazem sentido diante de uma abertura fenomenológica que tem como fundamento a (im)possibilidade da dádiva, a presença do outro, da outra. Assim:
«Derrida thus points to a double injunctive, which is a bit of a double bind (that’s a surprise), both to give and to commerce, to love God and mammon. He is saying at one and the same time; (1) Give, but remember how to gift limits itself. Because there never is a gift (don), the gift is the impossible that we all desire; because it annuls itself the instant it would come to be, if it ever does, the gift is what we most want to make present. The gift is our passion and our longing, what we desire, what drives us mad with desire, and what drives us on» (Caputo, p. 147).
Neste ponto, podemos passar a tratar mais diretamente o tema sobre o qual
prometemos discorrer no começo deste texto. Som na caixa!
É em direção à ambivalência que há entre narcisismo e dádiva que
chamaríamos atenção, ou seja, à inexistência de uma «distinção clara entre
dádiva e economia», entre «narcisismo e não narcisismo, mas apenas certos
graus, gradações, ou economias do narcisismo”. É neste terreno precário,
indecidível, que a ideia de uma quase-identidade se torna possível como âmbito
de uma ética amorosa. Para Derrida, então, é necessário ver essas gradações que
tornam o amor-próprio «mais ou menos egoísta» (Caputo, p. 148).
«We are all more or less narcissistic, for that is what the agente/subject is. […] The agent, Aristotle and the medieval said, acts for its own good. If the agent expends all its energies on the other without return, that is after all what the agent wants, and that how the agent gets her kicks».
Desde Freud, sabemos que o narcisismo é um
investimento, uma estrutura, fundamental da psique humana: sem
ela, sem a descontinuidade que ela instaura (como diria Bataille) não seria
absolutamente possível qualquer amor, erotismo, qualquer impulso em direção ao
outro, à outra, qualquer excesso. Porém o que diz Derrida é mais radical, mais
lacaniano (mais levinasiano, certamente): sem o outro, a outra, mesmo o
narcisismo e o investimento numa economia da troca e da recuperação do
investimento seria impossível. Se é possível imputar à ideia de erotismo em
Bataille um desejo místico da continuidade, indiferenciação, entre os seres, um
desejo orgiástico, uma certa pulsão de morte, para Derrida é a partir da
constatação da existência paradoxal entre impulsos de continuidade e
descontinuidade – ou seja, entre um impulso generoso com respeito à alteridade,
por um lado, e nossa própria certificação na descontinuidade, na subjetividade
autodelimitada, nosso próprio «narcisismo ininterrupto», «pusilânime», por
outro - que devemos pensar nossa relação com a outra pessoa, ser. Essa relação
ficaria mais evidente se a definirmos como uma relação amorosa, isto é, como
investimento em direção à outra pessoa, a algo não dado, excessivo e, ao mesmo
tempo, em direção a algo que nos é o mais próximo.
Isso não significa, evidentemente, que consigamos nos manter dentro daquilo
que é nosso chamado apelo ético, embora mesmo ao negá-lo não consigamos deixar
de parar a sua pulsação. As frustrações amorosas promovidas por uma cultura
narcisista são uma evidência nessa direção. Não costumo citar Bauman, e não
gosto muito do Amor líquido, e pelo que saiba Bauman não está nem
um pouco preocupado com isso. Há ali, no entanto, uma observação que nos diz
respeito diretamente. A partir de Benedict Anderson e Richard Sennett, Bauman
fala da transformação de categorias políticas em psicológicas, da transmutação
da ideia de uma comunidade política para uma “comunidade imaginada” a partir
das emoções. Dada a estrutura deste texto, é preciso prevenirmos o leitor ou
leitora de que não pretendemos corroborar de modo inocente com esse tipo
de transmutação, ou seja, procurar um fundamento sentimental comunitário como
solução à dificuldade de discussão política do âmbito social.
Ocorre-nos,
entretanto, que uma hipertrofia da subjetividade, e de estruturas narcisistas
de reprodução da vida comunitária, parecem ocorrer precisamente quando a
subjetividade, quando o indivíduo narcisisticamente investido se apresenta como
uma impossibilidade. Ora, quem em sã consciência, poderia falar hoje da
viabilidade política, cultural, de um autocentramento subjetivo, tal como o
concebeu o pensamento liberal? É essa impossibilidade aliás que marca certa
angústia, nostalgia, que percebemos em obras como Corrosão do Caráter,
de Sennett, ou em toda a obra de Paul Virilio. E no entanto é o narcisismo radical de
um sujeito autocentrado que procura a todo custo maximizar o seu prazer, o
controle de seus investimentos eróticos como um todo, com que a sociedade do
consumo nos acena diuturnamente. Extenuamo-nos para realizar um gozo que não é
nosso, mas que afinal aparece como se fosse.
O outro lado deste impulso é algo paradoxal com respeito a este desejo de
retorno seguro de investimentos libidinais. O amor romântico parece também se
investir como desejo de encontrar unidade, consenso, coesão, precisamente
quando expectativas de construção política da comunidade se esvaem. O ponto
aqui que merece reflexão, naturalmente, é tanto a ideia de amor romântico que
temos em mente quanto a noção de comunidade em questão. Deve estar bastante
clara com respeito a esta última que a suposição de um consenso identitario
está longe daquilo que temos em mente. A nostalgia baumaniana, sennettiana e
viriliana, portanto, não nos dizem diretamente respeito.
Com respeito ao amor
romântico, prosseguiremos o nosso texto através do auxílio de Levinas, que
acreditamos, como Caputo, constituir uma referência fundamental para entender a
ética derridiana. Para tal, nos valeremos das entrevistas que ele concede
no Ética e Infinito. Ali ele realiza um apanhado abrangente de sua
obra. Interessante perceber nessas entrevistas o caminho que Levinas faz ao
lado da fenomenologia de base ontológica de Martin Heidegger, e, a partir de
certo ponto, para fora da solidão da existência, do “há”, e em direção a uma
ética fundamentada no absoluto da alteridade – num certo gesto religioso que
comporta essa profissão de fé. Assim: «A solidão era um tema “existencialista”.
A existência descrevia-se na época como o despertar da solidão, ou como o
isolamento na angústia» (Levinas, p. 49). Os termos em que a diferenciação
levinasiana com respeito à fenomenologia de base “existencial” se anuncia, já
em De l’existance a l’existant, não deixa dúvidas sobre o seu
sentido, sua direção: trata-se aqui de uma ética do amor, não importa quão
desgastada essa palavra soe, com toda à sua carga de moderno subjetivismo.
«Desconfio da palavra “amor”, que está estragada, mas a responsabilidade por
outrem, o ser-para-o-outro, pareceu-me desde esta época parar o rumor anónimo e
insiginificativo do ser. É sob a forma de uma tal relação que me surgiu a
libertação do “há”» (Ibid.). Isto é, libertação com respeito ao
“há”, ao seu confinamento em algum modo narcisista.
Este outro que é o meu destino ético é alguém que eu conheço, mas que não
pode ser cingido em meu conhecer, antes o desafia. É preciso por certo conhecer
o outro, a outra, a quem se ama. No entanto, uma ética amorosa pararia cedo
demais, abortada, nestes limites. Toda tentativa de conhecer, mapear, de
desnudar o outro, a outra, é, para Levinas, uma tentativa também de dominá-lo,
de dominá-la: é necessário pois aceitar a irredutibilidade da outra pessoa aos
meus processos cognitivos. Nunca verdadeiramente saberemos onde o outro em sua
alteridade esteve, está, pretende estar… Segundo esta ética amorosa, a outra
pessoa é inesgotável; nada aqui pode anunciar, portanto, o conforto de uma
harmonia entre almas tal qual anunciado no Banquete, ou um retorno
a nossa essência. E se a alteridade marca assim os nossos processos
de identificação, amorosos, estaremos para sempre à deriva.
Levinas, assim, força seu caminho para os lados da fenomenologia e, nesse
gesto, influencia toda a aporética do pensamento derridiano – no que pese o
fato de Derrida postar o seu gesto ético no terreno indecidível entre o conhecer e
o abrir-se irredutivelmente, entre Deus e Mamon, entre a
dádiva absoluta e a troca econômica, como dissemos acima. Para Levinas (p. 53):
«O conhecimento mais audacioso e distante não nos põe em comunhão com o
verdadeiramente outro; não substitui a socialidade: é ainda uma solidão». O
gesto ético, dessa perspectiva, é também a aceitação de um tempo aberto em que
a outra pessoa pode “surpreender” sempre. Dissemos “surpreender, e, todavia,
essa palavra ainda não é adequada, na medida em que ela se define como um certo
luto/júbilo da cognição: «O livro [Le temps et l’autre] mostra, em
primeiro lugar, na relação com o outro, estruturas que não se reduzem à
intencionalidade. Põem em dúvida a ideia husserliana de que a intencionalidade
representa a própria espiritualidade do espírito. E o livro procura compreender
o papel do tempo nesta relação: o tempo não é uma simples experiência da
duração, mas um dinamismo que nos leva para outro lado diferente das coisas que
possuímos» (ibid.). O desejo de posse, neste sentido, é um desejo de parar esse
tempo em que o outro pode não comparecer, pode não me atender, mas tal abertura
temporal é a única possibilidade de que a alteridade da outra pessoa continue
viva e inesgotável. Curioso como essa visão aparentemente idealizada do amor
pode afinal se apresentar como não idealista.
«Totalmente em
oposição ao conhecimento que é supressão da alteridade e que, no “saber
absoluto” de Hegel, celebra a “identidade do idêntico com o não-idêntico”, a
alteridade e a dualidade não desaparecem na relação amorosa. A ideia de um amor
que seria uma confusão entre dois seres é uma falsa ideia romântica. O patético
da relação erótica reside no facto de serem dois, e de o outro ser aí
absolutamente outro» (Levinas, p. 58).
Para quem pensa que o irracionalismo é a consequência necessária dessa
ética amorosa, Levinas esclarece: «O não-conhecer não deve aqui compreender-se
como uma privação do conhecimento. A imprevisibilidade só é a
forma da alteridade relativamente ao conhecimento. Para este, o outro é
essencialmente o que é imprevisível. Mas a alteridade, no eros, não
é sinónimo de imprevisibilidade. Não é como um malogro do saber que o amor é
amor» (Ibid.). É para além desse malogro que o gesto amoroso parece se colocar,
segundo essa perspectiva, ou seja, para além de uma fenomenologia que tenha
como base a consciência ou o ser. Por isso mesmo:
«O patético do
amor consiste […] numa dualidade insuperável entre os seres; é uma relação com
aquilo que se esquiva para sempre. A relação não neutraliza, ipso facto, a alteridade, mas
conserva-a» (Levinas, p. 59).
A relação ética e amorosa com a alteridade, seu aceno não narcisista, fica
patente ao adentramos o terreno sensual da carícia. A carícia pode obviamente
ser entendida como uma técnica de excitação da outra pessoa, certamente. Neste
sentido, ela é racionalizável, controlável, procura efeitos específicos,
sequências bem-sucedidas. Para Levinas, entretanto, o acariciar tem algo de
intrinsecamente nômade. A carícia desta perspectiva é algo essencialmente não
objetivável ou racionalizável: «Quem é acariciado não é, propriamente falando,
tocado. Não é o aveludado ou a tepidez desta mão dada no contacto, que a
carícia procura. É a procura da carícia que constitui a sua essência, pelo
facto de a carícia não saber o que procura. Este «não saber», este
desordenamento fundamental é-lhe essencial. É como um jogo com algo que se
esconde e um jogo absolutamente sem projecto nem plano, não como aquilo que
pode tornar-se nosso e nós, mas como qualquer coisa de outro, sempre outro,
sempre inacessível, sempre por chegar. E a carícia é a espera desse puro fruto,
sem conteúdo» (Levinas, p. 61).
Poderíamos pensar que na carícia me encontro postado diante da imanência do
outro, de sua presença irretorquível. Mas essa presença é em si uma abertura,
algo que só se oferece como esperança nas promessas vagas e sensuais do futuro.
A alteridade não está dada, e esse não estar dado é o que me impulsiona, o que
me comanda a ir também mais adiante, a estabelecer uma relação generosa, não
objetal comigo próprio, com a outra pessoa e com o tempo. Pelo fato de que a alteridade se oferece como abertura amorosa, sensual,
existencial, mantenho-me eu próprio aberto.
Este texto inicia discorrendo acerca de algumas dificuldades éticas em
torno do político e se desdobra em algumas considerações básicas sobre o amor.
Em si esse percurso é politicamente problemático. Toda comunidade afetiva como
base do político constitui um problema, uma ameaça a convicções verdadeiramente
democráticas. No entanto, essa conclusão não poderia estar mais distante da
perspectiva derrideana acerca do político, do ético ou do amor. Derrida, como
adverte Caputo, foi injustamente criticado como um teórico das reivindicações
nacionalistas na Europa. A ideia de comunidade afetiva como base emocional das
reivindicações nacionalistas não lhe poderia ser atribuída. Uma resposta a esse
tipo de acusação é dada pela própria ideia de “comunidade sem comunidade”, pelo
agonismo que lhe é essencial, tal como a esboçamos aqui. A tensão e a
contradição, a hostilidade e a hospitalidade, são elementos fundantes de uma
comunidade que em princípio estaria paradoxalmente aberta para o seu outro. São
também, obviamente, elementos vitais do amor.
Neste ponto, percebemos o quanto o problema de pensar a política a partir da ideia de uma comunidade afetiva, ou, mais precisamente, pensar o papel do afeto no estabelecimento de laços políticos, não parece ser exatamente um problema, como parece supor Zygmunt Bauman. O problema é a noção de afeto e comunidade que temos em mente. Pensemos num exemplo concreto, pensemos na base afetiva de lutas políticas como as diversas “ocupações” que prosperam hoje no Brasil. Parece-nos claro a reivindicação democrática, por exemplo, do Ocupe Estelita, de sua defesa de uma comunidade afetiva (cultural e historicamente determinada), para além da defesa de um patrimônio arquitetónico, da transitabilidade etc. O afeto não parece ali uma defesa retrógrada de um passado idealizado, de uma comunidade fechada à alteridade do futuro. Pelo contrário, em primeira instância, esse movimento requer uma redefinição da estrutura política e social de ocupação do espaço urbano que está em questão. Isso passa por questões como educação, enfrentamenteo da violência, democratização das decisões, entre muitas outras. A política, nesse contexto, pode ser afetiva sem ser retrógrada, conservadora. E vice-versa: o conservadorismo, autoritarismo, prosperam exatamente onde o afeto não é possível, onde o discurso de sabor tecnocrático esconde o interesse tacanha, a objetificação, redução da alteridade.
Neste ponto, percebemos o quanto o problema de pensar a política a partir da ideia de uma comunidade afetiva, ou, mais precisamente, pensar o papel do afeto no estabelecimento de laços políticos, não parece ser exatamente um problema, como parece supor Zygmunt Bauman. O problema é a noção de afeto e comunidade que temos em mente. Pensemos num exemplo concreto, pensemos na base afetiva de lutas políticas como as diversas “ocupações” que prosperam hoje no Brasil. Parece-nos claro a reivindicação democrática, por exemplo, do Ocupe Estelita, de sua defesa de uma comunidade afetiva (cultural e historicamente determinada), para além da defesa de um patrimônio arquitetónico, da transitabilidade etc. O afeto não parece ali uma defesa retrógrada de um passado idealizado, de uma comunidade fechada à alteridade do futuro. Pelo contrário, em primeira instância, esse movimento requer uma redefinição da estrutura política e social de ocupação do espaço urbano que está em questão. Isso passa por questões como educação, enfrentamenteo da violência, democratização das decisões, entre muitas outras. A política, nesse contexto, pode ser afetiva sem ser retrógrada, conservadora. E vice-versa: o conservadorismo, autoritarismo, prosperam exatamente onde o afeto não é possível, onde o discurso de sabor tecnocrático esconde o interesse tacanha, a objetificação, redução da alteridade.
As ponderações ética sobre o político, tal qual as expusemos acima, apenas
abriram espaço para reflexões mais específicas sobre ética no amor. Ocorrem-me
as dificuldades em que Feuerbach se mete ao tentar fazer algo numa mesma
direção ao pensar os seus Princípios para uma Filosofia do Futuro.
Afinal, esse amor pelo absoluto da alteridade seria apenas uma transmutação de
um sentimento religioso e, como tal, acena com as promessas da negatividade, do
curto-circuito que presença do outro proporciona – este certo “sentimento
oceânico” no qual gozamos negativamente, diria Freud. Ainda aqui estaríamos de
certo modo no terreno do narcisismo. Essa ética que se funda nas demandas da
alteridade poderia ser recriminada pelo uso de certos conceitos de sabor
religioso - conceitos judaicos, mais claramente. Isto ocorre, por exemplo,
quando constatamos que a alteridade se abre para nós, de acordo com tal
perspectiva, como uma promessa - uma promessa aberta,
sem telos, mas uma promessa. O mergulho no absoluto da alteridade
nos coloca diante de um tipo de messianismo sem Messias. O futuro nos chama - e
no entanto esse futuro é como um significante vazio, nada está propriamente lá,
nada está propriamente dado ou dito, mas sempre em processo de ser enunciado.
Rigorosamente, tanto Derrida quanto Levinas aceitam esse tipo de ponderação e
acreditam que o pensamento ocidental não pode negar a tradição religiosa dentro
da qual negocia sua existência (ver Caputo, caps. 5 e 6). Ajuda a entender o
que aqui está em jogo quando percebemos que essa promessa, esse “messianismo
sem Messias”, busca nos oferecer uma dimensão do político e do ético
radicalmente desessencializados e que, por isso mesmo, não pode recusar a sua
historicidade, o chão sobre o qual pode ou não se abrir. A fuga do
essencialismo é a forma como o ético e o político podem adquirir um apelo
francamente, radicalmente democrático. Mas é também a maneira como as promessas
do amor podem continuar vivas em nós.
[1] Parecem sensíveis as reverberações de influência schmittiana aqui: a soberania de uma comunidade se estabelece diante de um inimigo comum, de um grupo que de algum modo questiona a possibilidade de existência, de sobrevida, do que é comum. Quem esteja interessado na ideia de “democracia radical”, tal como postulado por Laclau e Mouffe, poderia considerar uma parada no teórico da deconstrução – e obviamente em Carl Schmitt.
[2] A esse respeito, ler, por exemplo, http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S0103-20702011000100010&lng=en&nrm=iso&tlng=pt; acessado em 05/01/2016.
[2] A esse respeito, ler, por exemplo, http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S0103-20702011000100010&lng=en&nrm=iso&tlng=pt; acessado em 05/01/2016.
[3] Ver http://revistacult.uol.com.br/home/2015/05/como-conversar-com-um-fascista/,
acessado em 03/01/2016.
[4] Parece
evidente a maneira como Derrida se coloca diante de uma tradição de pensar a
dádiva que encontra em Mauss seu ponto mais alto.”Bien que toutes les
anthropologies, voire métaphysiques du don, aient, à juste titre et avec raison, traite ensemble, comme un système, le do net la dette, le do net le cycle
de restitution, le do net l’emprunt, le do net le crédit, le do net le
contre-don, nous nous départissons
ici, de façon vive et tranchante, de cette tradition».
6 comentários:
E eu que nunca imaginei que Perfídia contivesse abstrusidade, canção tão familiar aos meus ouvidos na voz de uma tia querida de quem sempre sentirei saudade (também era especialista em Besame Mucho)...He, he, he. Só li uma vez seu texto e ele me coloca interrogações e/ou estranhamentos. Exemplos: a) relação entre a dádiva em Derrida e a dádiva em Mauss, porque me parece que a noção de excesso é presente nos dois, mas têm sentidos muito diferentes num e noutro, senão opostos, implicando numa ideia derridiana de dádiva que parece mais com o que Caillé & Co chamam de dom gratuito do que proprimente de dádiva maussiana (radicalmente relacional e com sentido em aberto); b) identificação entre Bauman, Sennet e Virilio numa nostalgia de uma comunidade como consenso identitário que me parece estranha ao pragmatismo de Sennet (conheço nada de Virilio e tenho restrições ao ensaísmo denuncista de Bauman); c) acho que entendo que você defende a impossibilidade da política fora dos afetos, mas desconfio que eu sempre entenderei melhor a perspectiva de Laclau/Mouffe do que a de Derrida. Talvez apenas porque precisasse conhecer Levinas para acompanhar a aproximação que você faz; sem isso, continuo desconfiada de que Derrida é menos relacional em suas categorias do que você parece interpretar. Enfim, são interrogações e estranhamentos que pedem outra leitura do texto e muita conversa, cuidando ponto a ponto de cada um. E cadê tempo? Talvez seja o dom impossível por excelência : dom de tempo não circular, como parece pretender Derrida. E parabéns pelo texto corajoso em articulações, mas confesso que, talvez como Cynthia, sinto uma agonia profunda quando leio argumentos como: «La circularité ne devrait pas être nécessairement fuie ou condamnée, comme le serait une mauvaise repetition, un circle vicieux, un processus régressif ou sterile. Il faut, d’une certaine manière, bien sûr, habiter le cercle, tourner en lui, y vivre une fête de la pensée, et le don, le don de la pensée, n’y serait pas étranger»[...] «Que partout où il y a du temps, partout où le temps domine ou conditionne l’expércience en general, partour où domine le temps comme cercle […], le don est impossible. Un don ne saurait être possible, il ne peut y avoir don qu’à l’instant où toute circulation aura été interrompu et à la condition de cet instant». Dá vontade de dizer: “fale como gente, Derrida! Pelo menos isso não é impossível.”
Tâmara, não estamos sozinhas nessa agonia profunda. Gadamer, tadinho, também se sentiu assim num debate com Derrida, que simplesmente se fechou ao diálogo. Aliás, sobre esse diálogo horroroso (ou seria duólogo?), existe um artigo muito interessante:
Swartz C and Cilliers P (2003) Dialogue disrupted: Derrida, Gadamer and the ethics of discussion. South African Journal of Philosophy 22(1): 1–19.
O que nos salva é que gente como Jonatas pode desenvolver as intuições e ideias desse povo e escrever algo belo e inspirador. Ufa!
Com sua companhia, Cynthia, e ainda por cima a de Gadamer, fico aliviada. Uma vez eu vi Derrida na TV francesa, rodeado por alunos e sendo entrevistado por um jornalista pouco instruído, é verdade, mas respeitoso. O ar de desprezo que Derrida dirigia ao jornalista era tamanho e a linguagem corporal dos alunos tão alegremente submissa ao desrespeito do mestre ao entrevistador que senti mais do que agonia: fiquei abusada de Derrida talvez pelo resto dos meus dias. Só Jonatas mesmo para conseguir que eu leia algo tendo Derrida como referência. Abraço grande.
Li uma crítica muito interessante sobre a ideia de amor subjacente ao pensamento derridiano. Kristeva, em Estórias de Amor. Mas é mais hermético, cifrado que tudo que Derrida escreveu. Por isso, não transcrevo aqui a passagem em questão, pra vocês darem uma olhada. Não gostaria de fomentar mais essa inimizade acadêmica... Rs.
Oi, Tâmara.
Obrigado pelos comentários.Sobre a abstrusão da prosa derridiana. Também não gosto dela e por vezes ela até me contamina quando tenho que falar das coisas dele - embora não veja nenhum mérito em falar difícil. Mas certos conceitos são realmente difíceis de ser expostos sem que digamos o oposto que queremos dizer: Heidegger, Derrida são autores que trabalharam questões limites na filosofia ocidental. Não é fácil fazer isso com o vocabulário com o qual fomos educados sem trair aquilo que se quer dizer. Hegel, sua prosa, é até hoje parada obrigatória. Gosto da pretensão derridiana de dizer um quase nada. Identifico-me com isso. E também gosto de quebra-cabeças. Sobre Sennett, estava me referindo ao Corrosão do Caráter. Acho que ali se namora com os bons e velhos tempos em que o sujeito trabalhador poderia planejar sua vida, dedicar-se à sua empresa etc. Mas posso estar enganado. Sobre Mauss e companhia, terás que esperar o artigo propriamente dito e não esse esboço tosco. Mas já agradeço pelas indicações.
Suas críticas são sempre bem-vindas. Obrigado pela paciência de ler esse texto algo obscuro (e que também brinca de esconde-esconde. rs)
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