terça-feira, 31 de agosto de 2010

Pressa, ansiedade e culpa na experiência social do tempo: a teoria crítica guerreando contra as estruturas temporais aceleradas



Tâmara de Oliveira

Outro dia eu e Cynthia trocávamos comentários bem-humorados no Cazzo sobre minha falta de tempo para escrever um novo texto, devido ao verão no sul da França. Ela chegou a fazer a proposta de uma troca: eu iria cultivar o inverno recifense e seu tubarão de estimação; ela viria cultivar o verão provençal e vigiar as abelhas de meu jardim. Achei graça na proposta de Cynthia: bestinha essa moça, querendo se liberar do ritmo de trabalho em Recife para se apropriar da recuperação do tempo de viver que esse verão por aqui tem me trazido. Todavia, mas, porém, entretanto… por trás da graça havia um mal-estar em mim; tanto é assim que me apressei a dizer a Cynthia e a todos os leitores potenciais do Cazzo que minha vida aqui tem bem mais problemas do que o da invasão ocasional de abelhas – e é verdade. Mas verdades mais fundas começaram a se agitar em minha cabeça com essa brincadeira da troca.

Ficava pensando nos problemas departamentais para cuja solução eu não contribuirei por enquanto, em meus colegas que continuam enfrentando cotidianamente os data-capes, qualis e currículos lattes da vida, nos estudantes que precisaram mudar de orientador por causa de meu afastamento, enquanto eu interajo com o tempo de verão quase como se fosse a personificação do ideal moderno de indivíduo autônomo: sem hora para acordar, prolongando o rosé gelado e a conversa calorosa com amigos, escolhendo lugares lindíssimos para passear (mas fugindo dos ditames da indústria turística), decidindo quando e como vou iniciar a elaboração de um programa de extensão e pesquisa para o próximo ano e, cúmulo da liberdade temporal, podendo passar dias inteiros mergulhada num bom romance – como quando eu era criancinha lá em Itabaiana.


sábado, 28 de agosto de 2010

Solidariedade



Rafael Ferreira, aluno do Curso de Ciências Sociais da UFPE, contraiu um tipo raro de Leptospirose está precisando de doadores de sangue com urgência.

Para doar sangue de qualquer tipo, compareça ao Hemope - próximo ao Hospital da Restauração - e registre sua doação para Rafael Figueiroa Ferreira, que se encontra internado na UTI do Hospital das Clínicas.

Núcleo Interdisciplinar de Estudos em Diversidade Sexual, Gênero e Direitos Humanos da UFRN



Para quem estiver em Natal e quiser conferir...

(Clique na imagem para ampliá-la)

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Curiosidades de um forasteiro


Dante no Exílio. Obra de Domenico Petarlini. Circa 1860.

Pedro Lincoln C. L. de Mattos (Professor do Departamento de Ciências Administrativas da UFPE)

Foi uma situação inusitada e um diálogo mais ainda. Cá estava ele, sete séculos após sua tumultuada passagem pela Itália medieval. Apesar de ser apenas uma figura meio diáfana na tela de meu notebook, pude reconhecê-lo pelas longas vestes, o nariz adunco e o gorro florentino, ainda hoje rid... digo, gracioso. Montava guarda junto àquele blog, não sei se para prestigiá-lo ou se para assegurar a autoria do famoso dístico que lhe fora tão caro: "Lasciate ogni speranza, voi ch'entrate".

- Senhor Alagherii, sou um forasteiro, de passagem por esses sítios, cujo endereço me foi dado por amigos. Vejo que aqui se reúnem virtualmente pessoas interessadas em teoria e metodologia das ciências sociais. Fiquei levemente chocado com a referência ao famoso pórtico, idéia sua. (Não disse a ele, é claro, mas tinha também receio que, ao lado do papa Bonifacius VIII, posto por Dante no primeiro e mal-habitado destino do após-morte, eu me deparasse com um sucessor mais recente, Benedictus...). Devo realmente abandonar toda esperança ao adentrar esse campo acadêmico?

- Primeiro, podes chamar-me mesmo de Alighieri, já que meu amigo Giovanni Boccaccio, deixou meu nome assim para a posteridade. És, então, um forasteiro por esses sítios da sociologia? Isso me lembra meus longos anos de exílio em Roma... De onde vens?

- Sim, sou da área de administração – declarei, com certo receio de reação negativa dele, que era um nobre, filósofo e poeta; também não me ocorria que tivesse posto no Céu alguém da minha área. – Mas administração tem se esforçado por caracterizar-se como campo de interesse interdisciplinar, por isso tenho colegas da sociologia das organizações, da antropologia, da psicologia social...


terça-feira, 24 de agosto de 2010

Trilha sonora da vida acadêmica

Informação utilíssima que recebi por e-mail e que compartilho com @s leitor@s do Cazzo. Como se pode ver, as coisas sempre podem piorar... Ou não!


www.totalleh.com - click to visit

Bolsista de Iniciação Científica. Escuta MPB. A vida é maravilhosa.


domingo, 22 de agosto de 2010

A Democracia Internética




Fernando da Mota Lima

Embora há muito desejasse expressar pública e livremente minha opinião, somente agora, graças à generosa acolhida de dois ou três editores de blogues, posso fazê-lo com alguma regularidade. O fato cuja manifestação individual represento é uma das muitas consequências da democratização gerada pela internet. Durante muito tempo o exercício da opinião pública, também do debate e do confronto ideológico, foi privilégio dos poucos que praticavam o jornalismo impresso. Essa restrição tinha a virtude de funcionar como conduto seletivo. Apesar dos desníveis e privilégios de praxe, a hegemonia ou o prestígio da opinião refletia, no geral, os méritos e virtudes dos autores. Ficando no exemplo do Brasil, foi assim que se consolidou uma tradição de excelência na crítica de rodapé testemunhada por gente como Alceu Amoroso Lima, Mário de Andrade, Sérgio Buarque de Holanda, Álvaro Lins, Otto Maria Carpeaux, Antonio Candido e muitos outros.

O advento da televisão, que logo se tornaria veículo de comunicação supremo, notadamente num pais ainda assolado pelo analfabetismo, não abalou de imediato esse quadro. Pelo contrário, no curso dos anos 1950 e 1960 emergiram figuras que muitas vezes ditavam os padrões de opinião cultural: Millôr Fernandes e Nelson Rodrigues, estes vieram antes, Paulo Francis, Glauber Rocha, Merquior, Sérgio Augusto, José Lino Grunewald, Ruy Castro, O Pasquim, e o ainda onipresente Otto Maria Carpeaux pairando acima de todos com sua erudição estonteante. Mas logo a massificação provocada pela televisão acelerou-se, fruto imediato do capitalismo imposto pela ditadura, e logo em seguida a privatização do exercício do jornalismo. Noutras palavras, salvo as exceções de praxe, o exercício do jornalismo tornou-se direito e privilégio dos diplomados em jornalismo. Um dos problemas decorrentes da restrição imposta por essa lei corporativa reside no fato de que muita gente de talento comprovado, quando não superior, é impedida de escrever, de opinar em termos correspondentes ao do jornalista de ofício simplesmente por não ter um diploma. Ensinei sociologia da comunicação durante muitos anos na Universidade Federal de Pernambuco a alunos incapazes de escrever um parágrafo correto e legível. Mas um dia punham o diploma debaixo do braço e através de muitas vias, não poucas tortas, acabavam ditando opinião na mídia.

Por fim sobreveio a internet, a mais extraordinária revolução já ocorrida na história da comunicação humana. Sua força de difusão e desestabilização dos controles tradicionais é tão extraordinária que está arruinando jornais e veículos impressos de grande poder, assim como símbolos de autoridade intelectual, política, religiosa, moral... No caso, falar em revolução não é banalizar um termo já tão banalizado e desacreditado na história humana. A internet gerou condições objetivas para a generalização de processos democráticos sem precedentes. Como tudo, há aí muito de bom e de ruim, se me perdoam o lugar comum. Ressaltarei apenas uns poucos pontos que me parecem importantes.

Sartre observou certa vez que estávamos vivendo numa época em que se sabia de tudo, ou em que já não era possível esconder mais nada. E notem que o disse antes da internet. O que dizer hoje? De fato, hoje sabemos de tudo, pelo menos teoricamente. Escrevo nestes termos por considerar que é impossível um indivíduo saber de tudo. Mais grave ainda, há muitos que preferem não saber sequer o pouco que poderiam, pois acomodam-se na estupidez que tudo ignora e assim tudo aceita e todas as noites dormem em paz o sono alienado do gado tangido pelos donos da vida, como há muito dizia Mário de Andrade.

Outra coisa: a universalização da democracia midiática produziu inevitavelmente a babel das opiniões e dos costumes. Hoje todo mundo tem umas e outros e todos se sentem investidos do direito de exercê-los. Nada contra, pois continuo acreditando que a democracia é o menor dos males e o mundo, salvo o engano renitente dos otimistas, que não passam de pessimistas mal informados, é um mal sem conserto. Tudo que podemos e devemos fazer é torná-lo menos ruim.

A universalização da democracia internética, e portanto da opinião, acaba convertendo o cenário cultural num vale-tudo, ou terra de ninguém. Se todos têm direito à opinião, logo parece justo que todos opinem e todas as opiniões valham a mesma moeda. É aí que o cano estoura e a água suja, também a limpa, vaza por todos os espaços, que vão do megashow à universidade, dos salões supostamente educados ao bate-boca de botequim. Um pouco dessa água vaza, por exemplo, nas páginas do Cazzo, que ocasionalmente abriga artigos que assino. Mesmo eu, que raramente me pronuncio sobre temas polêmicos em tom idem, já saí de roupa suja na página de comentários onde o leitor exerce seu direito de opinar.

O livre exercício da opinião, que em princípio anula o princípio da autoridade, induz muitos ingênuos a suporem que agora fazemos o que queremos e pensamos o que nos convém. Os donos da vida, à falta de expressão menos imprópria, são os primeiros a difundir essa ilusão lucrativa para o balanço das suas empresas e a elevação das ações que negociam no mercado financeiro. Não se enganem. O espectro da informação, do intercâmbio e da circulação de ideias e mudanças sem dúvida alargou-se de modo inusitado, já o observei. Daí a concluir que agora somos todos iguais e que tudo vale tudo no reino da desigualdade e do privilégio, daí a passada é bem mais longa que a perna. É ilusório, por exemplo, supor que as figuras de autoridade social e cultural foram abolidas. O que mudou foi seu modo de ação, que foi despersonalizado. É isso o que explica a perda de poder das figuras de autoridade tradicionais como os pais e professores, além das prescrições antes impostas por instituições como a religião, a tradição, os agentes diferenciados pela idade ou o saber reconhecido dentro de determinados grupos. Reafirmo: não se iludam, pois a autoridade e seus artifícios de controle e poder mudaram de mão e de forma, mas continuam sendo autoridade, controle e poder. O problema é que se tornaram quase sempre invisíveis. Nessa medida, torna-se bem mais difícil identificá-la, a autoridade, para assim melhor combatê-la. Fomos liberados da autoridade doméstica e escolar, mas caímos nas mãos invisíveis e muito mais nefastas do publicitário e do formador de opinião, do pastor de auditório e do especialista armado com uma máquina de calcular.

Na babel em que vivemos e passamos a atuar culturalmente, o nó cego está na opinião relativa às artes e às ciências humanas. Como no caso somos sujeito e objeto, todo mundo sente-se à vontade para opinar sobre tudo. Explicando melhor, o objeto de saber do psicólogo, do sociólogo etc, é parte íntima e corrente da nossa experiência social. É por isso que todo mundo supostamente tem opinião pronta sobre qualquer questão religiosa, moral, estética... Não raro, um simples exame demonstra que muitas dessas opiniões não passam de preconceito grosseiro ou crendice assimilada de modo inconsciente no meio em que nos formamos. Uma das funções do saber crítico compreendido em sentido amplo é precisamente partir da varredura dessa névoa de lugares comuns que embaçam nossa percepção da realidade. O exemplo mais antigo e notório dessa saudável pedagogia é a chamada maiêutica socrática. Noutros termos, era o procedimento dialético adotado por Sócrates nos lugares públicos de Atenas onde sem reservas abordava alguém com quem iniciava um processo de perguntas e respostas que ia gradualmente expondo, sob a pele da suposta opinião refletida, os preconceitos e ideias feitas que entulham nossa consciência da realidade. Mas isso foi há muito, muito tempo e já não se punem seres perigosos como Sócrates com uma dose letal de cicuta. Saltando de volta para o presente, o limite irônico da nossa liberdade está no fato de repetirmos o publicitário que nos ensina a dizer: seja você mesmo, beba coca-cola.

No reino da democracia internética, todo mundo tem opinião ou assim supõe e assim se sente prontamente qualificado para exercê-la. É a nossa babel cultural, como antes salientei. Se Deus, segundo a tradição bíblica, não criou uma linguagem universal passível de forjar a concordância substantiva entre os seres humanos, o que dizer de mim? Diante disso, prefiro humildemente rematar o artigo propondo algumas perguntas cuja resposta deixo a critério do leitor. Quem discordaria de mim se eu afirmasse que Pelé é o melhor jogador de futebol do mundo? Quem afirmaria que a seleção brasileira tem algum perna de pau, mesmo quando a seleção é desclassificada? E mais: quantas pedras cairão sobre a minha cabeça se eu afirmar que Wave, Águas de Março ou Corcovado valem todo o rock do mundo? O que dirão certos leitores se eu disser que esse ruído repetitivo e grosseiro que sou forçado a ouvir nas rádios, ruas, supermercados etc nada tem a ver com música? O que dirá o leitor apaixonado por Paulo Coelho se eu disser que perto de Machado de Assis ele é apenas um escrevinhador de livros baratos que logo desaparecerão como desapareceram tantos best-sellers celebrados pela mídia, o mercado e o público desprovido de cultura literária? Pedras e tijoladas para a redação, por favor.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A dor do outro distante: notas para uma agenda de pesquisa



Gabriel Peters
(Doutorando - Iuperj)

Os processos contemporâneos de globalização levaram a transformações profundas nos modos pelos quais as práticas humanas são coletivamente organizadas e subjetivamente vivenciadas no tempo e no espaço. Fortemente baseadas em tecnologias de transporte de bens e pessoas, bem como de produção e difusão de ideias e informações, as relações sociais atuais não estão mais, como é óbvio, circunscritas a situações de co-presença física, mas envolvem redes hipercomplexas de indivíduos e coletividades espacialmente distantes e culturalmente heterogêneos. De que maneiras esta “compressão espaço-temporal” (Harvey, 2001: 257) da existência em sociedade transformou as noções de responsabilidade moral com base nas quais os atores contemporâneos (especialmente as mulheres e homens “comuns”, se me permitem a frouxidão sociológica do adjetivo) intervêm em seus ambientes societários?

Um exame dos dilemas da responsabilidade moral na era da globalização (novo pedido de desculpas, desta feita pela grandiloquência) passa necessariamente por uma análise sociopsicológica das “implicações morais da distância” (Ginzburg, 2001: 199). Como a proximidade e a distância geográficas afetam o senso de responsabilidade moral exercido pelos agentes? Os efeitos da imediatez e da longinquidade espaciais sobre os “sentimentos morais” dos atores podem ser magnificados ou, ao contrário, contrabalançados pela influência de outras variáveis, tais como um sentido subjetivo de proximidade ou distância social (cultural, étnica, geracional, etc.)? Em nenhum cenário tais questões parecem ser tão dramatizadas quanto naqueles em que os indivíduos são colocados, de algum modo, “diante da dor dos outros”, na expressão de Susan Sontag (2003).

O estudo de nossas reações psicológicas e práticas ao sofrimento de outras pessoas atravessa a história da filosofia moral – como ilustram os escritos de Aristóteles sobre a compaixão ou a teoria da simpatia de Adam Smith. Ainda que esta venerável história inclua, desde o seu o início, algumas discussões reveladoras acerca da significação moral da proximidade e da distância, o tema só veio à tona com força recentemente (e compreensivelmente). Alguns dos primeiros a discuti-lo foram o filósofo Hans Jonas em O princípio responsabilidade (2006) e o (famosíssimo) sociólogo Zygmunt Bauman em Modernidade e Holocausto (1998), ambos avançando a tese da existência de um hiato, na modernidade, entre a imensa ampliação do alcance espaço-temporal das ações humanas, de um lado, e a persistência de uma sensibilidade moral ainda largamente focada nos contextos mais imediatos da proximidade e da co-presença física, de outro. As conclusões de ambos apontavam para o fato de que a maior parte das orientações éticas legadas por nosso passado estavam fundadas sobre um modelo de conduta com efeitos restritos em termos de tempo, espaço e ambiente sociocultural, sendo, assim, insuficientes ante a enorme expansão da influência causal das intervenções humanas sobre os mundos natural e social na era da ação à distância tecnologicamente mediada.

Um dos problemas que avultam a partir do momento em que se pensa a pertinência sociológica e ético-política das reflexões de Bauman e Jonas para o mundo contemporâneo está relacionado ao extraordinário incremento hodierno na produção e difusão de registros visuais e textuais do sofrimento, em particular através da televisão e da Internet. O que muda com a avalanche de notícias internacionais circulando na midiápolis global, as quais parecem oferecer, como nunca antes, a possibilidade de que seus consumidores se percebam como parte de um “único mundo”? A difusão ainda mais recente de tecnologias de gravação e transmissão de conteúdo simbólico (imagens em particular) para além dos órgãos convencionais de comunicação também torna possível uma multiplicação correlata de documentos icônicos e narrativos de acontecimentos de importância política ou humanitária os quais, de outro modo, permaneceriam invisíveis, seja em virtude do desinteresse da mídia, seja em virtude da existência de mecanismos tradicionais de censura (veja-se, por exemplo, as imagens documentais, feitas in loco e transmitidas por meios de comunicação mundo afora, dos protestos de monges budistas em Mianmar [2007] ou de oposicionistas no Irã, após a reeleição de Ahmadinejad [2009]). Outrora, a distância espacial significava necessariamente invisibilidade, ausência do campo de percepção. Mas o que ocorre numa situação em que, como diz Jean-Luc Godard, torna-se possível assistir ao que não se vê?


quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Hermenêutica dos metarrefrões microtonais polissemióticos



Estou sem palavras. Talvez quando conseguir parar de rir...

Cynthia

domingo, 15 de agosto de 2010

Volta a Marx


* Jacques Lautman (Professeur émérite des universités; ex-diretor de ciência humanas do CNRS-Paris; ex-director do doutorado em sociologia da Université Aix-Marxeille I)
* Texto escrito para a conferência Diálogos Sociológicos (promovido pelo Departamento de Ciências Sociais da UFS), traduzido por Tâmara de Oliveira e originalmente publicado pela revista do Núcleo de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais da UFS (TOMO, n° 12, Jan./Jun. 2008)



Quando eu era um jovem professor da Universidade de Nanterre, mais ou menos em 1975, a força de Marx no mundo universitário era-me ilustrada por um estudante que me colocava regularmente a mesma questão: “qual a posição de Marx sobre isso?” Mas depois da queda do muro de Berlim, o interesse por Marx quase desapareceu – erroneamente, direi eu. Gostaria de lhes mostrar porque é preciso sempre reler pelo menos o Manifesto do Partido Comunista de 1848 (MARX, 1999), o primeiro livro de O Capital (MARX, 1999), que na verdade são três, e os textos históricos – principalmente o 18 Brumário de Louis Bonaparte (MARX, 2001). Não sou um especialista em estudos marxianos e nunca me interessei muito em saber se os manuscritos de juventude já continham todo o Marx ou se, pelo contrário, eles ainda estavam muito próximos do idealismo hegeliano. Isso quer dizer que eu quase não vou abordar o Marx filósofo do materialismo dialético. Além disso, também não vou instruí-los muito sobre o Marx economista. Com efeito, os próprios economistas de orientação marxista renunciaram há muito à oposição entre uma ciência econômica estritamente marxista e a ciência econômica dominante. A propósito, Joan Robson (1959), inglesa, disse de uma maneira definitiva que a medida do verdadeiro valor do trabalho é uma falsa pista (“red herring”). Vou me concentrar então sobre o Marx historiador-sociólogo e profeta revolucionário.