domingo, 23 de maio de 2010

A arte da entrevista

Faz tempo que Jonatas e eu planejamos uma entrevista com Robert Brym, sociólogo da Universidade de Toronto. Hoje, finalmente, Bob e eu iniciamos a entrevista via Skype, mas, por razões alheias à nossa vontade, tivemos que interrompê-la. Isso me fez pensar nas dificuldades envolvidas em uma boa entrevista sociológica, especialmente as de ordem metodológica. Sabemos o quão importante é fazer o entrevistando se sentir à vontade para externar seus pontos de vista, evitar constrangê-lo com questões com as quais não se sente confortável, criarmos um clima de empatia que nos permita nos colocarmos em seu lugar, não impormos nossas próprias categorias de análise etc. Mas isso certamente é mais fácil de falar do que de fazer. Alguns entrevistandos são notadamente resistentes em fornecer as informações que nos interessam, tendem à aquiescência para criar um clima amigável ou para dar a impressão de que têm uma visão semelhante à do especialista que o está entrevistando, evitam questões de ordem afetiva ou emocional, dentre outros problemas comuns. Entrevistar é uma arte complexa. A fim de ilustrar a importância da sensibilidade do entrevistador para lidar adequadamente com essas questões, segue uma das melhores entrevistas que vi nos últimos tempos. É comovente a forma como o entrevistando abre seu coração ao final. Abaixo, a tradução - bastante livre devido à complexidade do tema.

Cynthia Hamlin



Entrevistador: Animal, o que o faz verdadeiramente feliz?
Animal: Jogo!
Entrevistador: Jogo?
Animal: Jogo!
Entrevistador: Animal?
Animal: Sim?
Entrevistador: Aaahn... eu estou aqui.
Animal: Ah! Oooooooi!
Entrevistador: Oi, Animal.
Animal: Oi. Bateria, bateria, bateria!
Entrevistador: Quando eu disser uma palavra...
Animal: Sim!
Entrevistador: ... e ela lhe lembrar algo...
Animal: Sim!
Entrevistador: ... você diz o que é.
Animal: Sim, sim, sim!
Entrevistador: Está pronto?
Animal: ...
Entrevistador: Animal?
Animal: Aaahn? Sim!
Entrevistador: Você vai dizer a primeira coisa que lhe vem à cabeça.
Animal: Oi!
Entrevistador: Oi?
Animal: Oi. Bateria, bateria, bateria!
Entrevistador: Ok. Vamos falar de outra coisa...
Animal: Coelhinho.
Entrevistador: Você gosta de coelhinhos?
Animal: Gosta de coelhinho. Gosta de coelhinho.
Entrevistador: Você tem um coelhinho?
Animal: Não, eu não tenho coelhinho.
Entrevistador: Você gostaria de ter um coelhinho?
Animal: Gosta de coelhinho.
Entrevistador: Um coelhinho grande?
Animal: Coelhinho pequeno.
Entrevistador: Um coelhinho pequeno?
Animal: Por favor?

22 comentários:

Le Cazzo disse...

A gente se mata de trabalhar e ela dedica a vida a popularizar a visão de mundo de Animal... Jonatas

Cynthia disse...

Jonatas, o que o faz verdadeiramente feliz? Abra seu coração para nós, beibi.

Pedro Marques disse...

Prefiro o Cookie Monster.

Le Cazzo disse...

Bem, transformei essa questão fundamental da existência humana em enquete, Cynthia. E com a opção "Monstro do biscoito", Pedro. Jonatas

Cynthia disse...

Jonatas,

questões existenciais tão profundas dificilmente podem ser adequadamente tratadas por meio de enquetes. Ao contrário da entrevista mencionada, onde o entrevistador não apenas trouxe à consciência o amor de Animal pelos coelhinhos e seu desejo (consciente?) de ter um, as categorias da enquete são excessivamente rígidas.

Veja, por exemplo, a primeira opção (aulas de metodologia científica). Tenho certeza de que, dependendo de qual de nós dois está ministrando metodologia, ou a categoria entra como uma de suas preocupações últimas (definidas como aquelas absolutamente necessárias para uma definição positiva de autoestima), ou nem sequer figura entre as possibilidades. (A modéstia me impede de dizer em que caso a categoria se aplica de forma legítima).

Tem ainda o problema da dificuldade na construção das próprias categorias. Veja o caso do monstro do biscoito: para aqueles que, como você, acompanhava o monstro do biscoito em Vila Sésamo, os Muppets serão provavelmente desconsiderados. Já para aqueles que, como Pedro, o acompanhavam nos Muppets, pode ser que o que realmente conte seja a "muppeticidade" do monstro do biscoito (isto é, que de um ponto de vista ontológico a identidade seja enfatizada em detrimento da diferença). Talvez isso não se aplique a Pedro, que comparou o monstro do biscoito a Animal, mas temos aí uma possibilidade lógica que não pode ser ignorada na construção das categorias utilizadas como alternativas da enquete.

Em resumo, eu acredito que a única utilidade das enquetes é mostrar regularidades que podem apontar para a existência de determinados mecanismos causais que jamais podem ser explicadas por meio das próprias enquetes (que o nosso querido Josè Carlos Wanderley não me ouça). Nada substitui uma boa entrevista em profundidade, como a ilustrada no post: depois de lê-la, tive a impressão de compreender Animal profundamente.

Le Cazzo disse...

Sim, mas você já votou? Jonatas

verí disse...

KKKKKKKKKKKK... adoreeeeeeiiii!!!!! e, dependendo da metodologia, eu to aqui pensando que ultimamente eu talvez goste mais de coelhinhos pequenos e bateria... kkkkk...

ps: o jonatas é um péssimo entrevistando e não quis nos dizer o que realmente lhe faz mais feliz...

Ester disse...

Eu tendo a concordar com Cynthia... Estive esboçando um questionário para uma pesquisa da disciplina de métodos quantitativos e cada pergunta que eu colocava e determinava as respostas/opções que os entrevistados deveriam "escolher", me deixava frustrada pensando na multiplicidade de respostas que obteríamos se podéssemos fazer entrevistas em profundidade, mas... Vou voltar as minhas correlações que tenho prova de SPSS amnhã! ui

Cynthia disse...

Já votei, Jonatas.

Veri, sua dissertação é um caso especialmente rico para demonstrar a possibilidade de se aprofundar a compreensão das contradições que aparecem nas respostas da enquete por meio de entrevistas. Acabo de conversar com Remo sobre seu caso e depois converso com você.

Ester, isso pode ser minimizado por meio de uma pesquisa exploratória e/ou pela leitura de pesquisas anteriores. Mas as perspectivas realmente novas serão sempre limitadas nessas abordagens. Se esse tema lhe interessa, veja os trabalhos de Tony Lawson sobre explicações contrastivas e demi-regularidades. Creio que postei algo sobre isso aqui no Cazzo.

beijos

Pedro Marques disse...

Na verdade eu prefiro o Caco cantando músicas tristes: http://www.myspace.com/sadkermit

Maldita miss piggy :(

Cynthia disse...

Afff, Pedro! Caco é muito emo! Eu acho que só você e Miss Piggy preferem ele a Animal. Credo!

Pedro Marques disse...

O Caco é o UNDERDOG dos Muppets. Aquele que sempre gostou da garota mimada da turma, mas apesar da constante rejeição, persistia. Quase um Cirilo do Carossel. Ele é o personagem mais FOR REAL de todos os Muppets.

Cynthia disse...

Pedro,

Você sabe que a memória é sempre imperfeita e que o tempo é seu maior inimigo. Já faz muuuuuitos anos que assisti o Muppet Show, mas, pelo que me lembro, era Miss Piggy quem vivia atrás do Caco. Este vivia em cima do muro, apavorado com as investidas dela, mas incapaz de se definir. Ao que tudo indica, recentemente virou emo - um final trágico e previsível para uma criatura emocionalmente comprometida e de gosto musical duvidoso.

Já Animal é um sujeito bem-resolvido. Veja, no vídeo paródico de Bohemian Rhapsody, como ele resolve bem suas questões de ordem afetiva: Grita pela mãe (Mommaaaaa! Momma?) e, quando se dá conta de que ela não vem, lembra-se do pai (Dadda?), larga tudo e vai à sua procura. Ao contrário de Caco, Animal reformula seus desejos com base no princípio de realidade.

E por falar em princípio de realidade, estou começando a suspeitar de que Artur e Jonatas vão me expulsar do blog se eu continuar com esse papo animalesco. Você não faz ideia de como esses dois são castradores. Um horror.

Luciano Oliveira disse...

Vou tentar ver se acerto de novo como inserir um comentário no blog. Se der certo, farei um comentário sobre essa questão de entrevista, sobre a qual tenho uma experiência que sempre conto aos meus alunos.

Luciano Oliveira disse...

Foi assim.
Há muitos anos atrás, aprendiz de sociólogo com a cara e a coragem, porque vinha de uma área que não tinha nada a ver, fui fazer minha pesquisa de campo. Era em postos policiais de periferia, e a intenção era ver como a polícia atuava resolvendo os casos que lá chegavam. Era uma atividade, apesar de legítima, ilegal, porque a polícia não é poder judiciário e, como dizem os juristas, não tem o poder de "judicere", isto é, dizer o direito. Pois bem. Cheguei, me apresentei, fui bem recebido e comecei a ver como as coisas funcionavam. Tudo mais ou menos dependia do humor do policial que recebia a queixa. Uns tratavam bem as pobres pessoas, outras nem desviavam o olhar do jornal que estava lendo... Tinha de tudo. E eles "julgavam" tudo, desde ofensas morais, que eram crimes de ação privada, até lesões corporais, furto etc., que eram crimes de ação pública. Pois eu via tudo isso mas, neófito e portanto bobo, tinha o fetiche da entrevista e dos questionário. E um belo dia, para dar estatuto "científico" às minhas observações, pedi uma entrevista ao comissário que chefiava o posto. Minha primeira pergunta gerou a resposta que me fez desconfiar de questionários até hoje. Eu, feio um idiota, perguntei qual era a atitude do policial ao receber a queixa. Pergunta idiota porque eu estava cansado de ver como as coisas se passavam. A sua resposta me estonteou: ele meio que se empertigou, e como quem tivesse dando uma lição que aprendeu na academia de polícia, e também provavelmente querendo mostrar a mim, estudante de direito, que também conhecia ciência jurídica, a resposta que ele deu foi: "Primeiro tem que verificar se é crime de ação pública ou de ação privada"... Caí das nuvens. (Mas, segundo Machado, é sempre melhor cair das nuvens do que de um terceiro andar...) Fiquei escutando aquele lero-lero incrível e, chegando em casa, joguei fora a ficha de entrevista que tinha preparado e nunca mais entrevistei ninguém. Simplesmente chegava, me integravaao ambiente e começa a observar, "sistematicamente", o que me interessava ver. Chegava em casa e, com tudo fresquinho ainda na cabeça, escrevia, escrevia, escrevia no meu "caderno de campo" tudo que tinha retido. Foi assim, na porrada, que descobri e pratiquei a técnica tipicamente antropológica da observação. Depois, na hora de escrevera dissertação, é que descobri essas coisas todas. (Como o célebre personagem de Molière, descohbri que fazia "prosa" sem o saber...) E desde então dou muito pouca, muito pouca importância mesmo a entrevistas, questionários, essas coisas. Repetindo o que disse Cynthia, Zé Carlos que não me ouça...

Luciano

Ester disse...

Ah, mas eu concordo com Luciano!Mesmo já tendo afirmado aqui mesmo qnto me frustram os questionários, ainda há o espanto com as respostas dos entrevistados!! Parece que eles fazem e pensam uma coisa, mas quando vão elaborar discursivamente suas práticas têm que encaixar no "bem visto ou correto" ou ainda o que acham q queremos ouvir...Essas coisas que todo mundo que já fez pesquisa de campo sabe. Mas como nem sempre dá para ver o que pesquisamos - e fazer descrições etnográficas - estou aqui com uma idéia p resolver esse meu problema...
ah, Cynthia vou ler o material que vc sugeriu. Obrigada!

Cynthia disse...

Lulu,

Eu tive uma experiência semelhante numa pesquisa de campo que durou quase dois anos. Éramos uma equipe de 3 pessoas: uma socióloga, uma psicóloga e um psicólogo social e pesquisávamos matrifocalidade em uma comunidade de baixa renda em Recife. Reformulando em termos mais contemporâneos, nosso problema principal era compreender a centralidade da maternidade para a construção da identidade das mulheres naquela comunidade, ou por que elas tinham tantos filhos. Uma de nossas entrevistandas era uma jovem mãe de 3 filhos que tinha cerca de 20 anos. Em diversas entrevistas, conversas informais etc. ela fazia questão de enfatizar como a maternidade era central em sua vida, como seus três filhinhos eram a realização de todos os seus sonhos, como ela amava suas crianças, que não trocaria aquela vida por nada etc. Apesar do discurso consistente ao longo desses dois anos, chamava-nos atenção a forma como ela parecia ignorar sistematicamente a presença das crianças nas diversas tardes que passamos em sua casa e a rispidez ocasional com que as tratava. Líamos e relíamos nossas entrevistas com ela e nada parecia indicar inconsistência em seu discurso verbal. Até que resolvemos usar uma técnica diferente para coleta de dados: o psicodrama. Na situação encenada, pedimos que ela representasse a si mesma em uma atividade cotidiana: a lavagem de roupa no tanque comunitário da comunidade, quando, segundo ela, sua filha de quatro anos sempre a acompanhava. A psicóloga da equipe representou o papel da menina e fingia brincar com a água, puxava a roupa da mãe dizendo que queria ir para casa e outras coisas que uma criança dessa idade faria. Para nossa surpresa, essa mãe parece ter incorporado a ira de Jeová e partiu com tudo para cima da “menina”. Nossa colega levou uma surra tão horrorosa diante do nosso olhar atônito que, em determinado momento, pensamos em abortar a encenação. Foi uma das experiências mais impressionantes de minha carreira profissional. Mas, ao contrario de você, não jogamos fora as entrevistas: elas acabaram servindo como um material riquíssimo para compreendermos as representações daquelas mulheres sobre a maternidade, a distância entre o que elas consideravam um padrão ideal e sua realidade cotidiana e, obviamente, o grau de frustração dessas mulheres em relação às suas vidas.

Eu acho que a mesma coisa pode ser feita em relação a diversas técnicas de pesquisa, inclusive o questionário. Às vezes precisamos de um instrumento que permita uma comparação relativamente direta entre as pessoas estudadas, de forma a identificarmos padrões que podem apontar para algo importante. Acho que o fundamental é não perdermos aquilo que Bourdieu chama de “vigilância epistemológica” e estarmos atentos ao alcance e limitações de cada técnica que são, no fim das contas, meras ferramentas para a construção e interpretação de fatos que nunca falam por si. Nem mesmo quando construídos por meio da observação sistemática.

Tâmara disse...

Cynthia,
Seu comenta'rio foi muito bom para fazer um balanço dos anteriores. E para que eu maturasse a idéia que tinha sobre eles.
Desde que li o de Luciano que fiquei matutando, matutando com algum incômodo, uma impressão de haver um privilégio às técnicas de observação direta,quando na verdade elas também colocam problemas metolo'gicos. Afinal de contas, o que vemos, ouvimos, sentimos em campo não é uma garantia tão garantida assim. A esse respeito, tenho uma amiga psico'loga social que me disse coisas muito interessantes sobre certos experimentos, sobre a relação entre representações e percepção espacial no trânsito. Sem falar que, depois de observar anotando ou filmando, ainda tem a mediação da descrição escrita, quando o pesquisador seleciona notas, imagens e declarações significativas...Tudo isso implicando em limitações da técnica.
De formas que a vigilância epistemolo'gica de que falava o outro e fala você, parece-me sintetizar as preocupações de todo mundo. Palmas para Animal! Palmas para seu entrevistador!
Isso não é um desprezo da observação. Usei-a em pesquisa e consegui bons resultados. Principalmente porque eu também trabalhei com entrevistas e, como em sua pesquisa com as psico'logas, comparar a distância entre intenção e gesto é um bom programa para abordar certos sujeitos de pesquisa. Abraço.

Luciano Oliveira disse...

Cynthia e Tâmara (por falar nisso, mande-me seu e-mail, Tâmara!)

Odeio escrever nessa telinha miudinha. Melhor era o tempo em que não sabia e me refugiava nisso.
Na verdade estamos todos às voltas com a seguinte questão: o conhecimento é possível? Essa coisa vem dos gregos e nunca será resolvida. Contento-me com a grosseria de Engels: a prova da existência do pudim, faz-se comendo-o...
Brincadeira de banda, acho, sim, que existe um tipo de conhecimento que é mais confiável do que o do senso-comum, ao qual podemos ter acesso mediante certas precauções sobre a "neutralidade axiológica" de Weber, Merton e Cia. Qualquer fedelho de Ciências Sociais vai logo dizendo: "mas professor, o senhor acredita na neutralidade?"...
Quando isso acontece, faço sempre uma brincadeira. Digamos que são 10 e 15 da manhã, e que a aula vai até às 11. Aí eu, muito sério, digo mais ou menos o seguinte: "o assunto é muito complicado e precisaríamos de muito tempo para debatê-lo. Mas como já são onze horas, a gente deixa para a próxima vez..."
Todo mundo se entreolha intrigado, porque são apenas 10:15. Eu pergunto: o que foi? E eles respondem: mas prfessor, ainda são 10:15...
Aí é a minha vitória! Eu sorrio e pergunto: ah, então vocês acham que a verdade existe?
A risada geralmente é geral!
Eu sei (afinal, também li Foucault...) que tudo isso é invenção. Inclusive as horas. Mas desde que estejamos de acordo sobre o fato de que um ponteiro menor significa as horas (também inventadas...), e o maior, os minutos, podemos, sim, ter acesso a uma verdade que é inetrsubjetivamente (affe! tá parecendo o chato do Habermas...)compartilhada - e quem não aceitar, é doido (que é tembém outra invenção...)
Voltando ao assunto do início, eu acho que entrevistas são muito problemáticas porque eles são, em si, uma interação social nova! Querer, com elas, recuperar uma interação que se passou, que não é mais, é muito complicado. Nesse sentido, e já que se falou em "vigilância epistemológia", acho que aquele texto de Bourdieu, "A Opinião Pública não Existe", é básico e obrigatório parq que estejamos conscientes dos riscos dessa metodologia.
Os fenomenólogos estão certos:não há nada fora do "vivido". Mas esse vivido pode ser um preconceito filho da puta que outra "vivência" pode pôr a nu.
Ai, acho que falei demais!

Inté,

Lulu/Cibalena

Tâmara disse...

Eita, rapaz! Como você fez para perder meu e-mail? Vou mandar uma mensagem para você daqui a pouco.
No mais, pensando também no chato do Habermas (embora eu não o ache assim tão chato), acho que temos a possibilidade de um consenso - o consenso Lulu/Cibalena na era dos blogs: é comentando que a gente se entende. Ou não, como diria Campos de Carvalho. Abraço.

Cynthia disse...

Lulu,

supor que a entrevista é mais problemática do que a observação direta à distância por que a primeira se baseia em uma "reconstrução" da situação original" (ou "uma interação social nova") é supor que não há mediação na observação. Eu acredito que não apenas há, como a mediação em questão peca por se basear muito mais nas categorias do pesquisador do que nas o grupo estudado (não é esse o problema colocado por Peter Winch em sua "ideia de uma ciência social"?).

Quanto às pesquisas de opinião (as enquetes, de forma geral), eu concordo com Bourdieu (e com Adorno, antes dele) de que a opinião dos sujeitos individuais não reflete necessariamente a estrutura social, que é, como já dizia o velho Durkheim, mais do que a soma das consciências individuais.

Mas, Lulu, reconhecer as limitações de cada técnica não significa recusá-las como inócuas, não é? E aqui uma confissão: sou absolutamente terrível em entrevistas em profundidade. Daí minha enorme admiração por quem consegue fazer os entrevistandos voluntariamente oferecerem informações relevantes. Do ponto de vista da técnica, isso, para mim, é um mistério insondável.

Cynthia disse...

Jonatas,

Estou ansiosa para ver o que você vai fazer com o resultado de sua enquete "de profundis".