Tâmara de Oliveira
No dia 20 de junho de 2010, a Copa da África do Sul foi palco de um fato que eu, enquanto desconhecedora da história do futebol, penso ser inédito : todos os jogadores da equipe de França, em pleno campo de treinamento público, anunciaram que recusavam treinar por causa da exclusão oficial de um dos seus companheiros – o internacional e pouco tranquilo Nicolas Anelka – alegando que o procedimento de tal exclusão fôra incorreto. Segundo o documento dos grevistas ou amotinados (porque eles apresentaram um manifesto escrito !), a FFF (Federação Francesa de Futebol) excluiu o jogador fundamentando-se apenas em rumores das mídias, sem que a eles próprios, testemunhas da altercação verbal entre o treinador (Raymond Domenech) e Anelka, tivesse sido dado o direito de apresentar sua versão dos fatos. Nova revolução francesa ? Agora protagonizada pelos cidadãos-jogadores de um futebol milionário ?!!!
Tudo isso sendo apresentado ao vivo pelo Canal + ! Aquela rede televisiva francesa que sempre financia o cinema de vários países. Vimos estupefatos o capitão do time quase aos murros com o preparador físico, Domenech apartando esses dois galos de briga, o preparador físico jogar seu apito no gramado do campo enquanto ia embora, sendo logo acompanhado por um dirigente da FFF que declarou aos jornalistas que para ele bastava, sentia-se arrasado e que estava demitindo-se. Depois, após meia hora de conversa com os jogadores dentro do ônibus, Domenech aproximou-se dos jornalistas para ler o documento dos jogadores. Finalmente, o ônibus saiu lentamente, enquanto os jornalistas e o público presente ao treinamento-que-não-houve pareciam em estado de choque. Impressionante ! A assistir e nunca esquecer ! Não foi nenhum 11 de Setembro mas parecia um acontecimento impactante, desses que podem fazer tremer la République.
De fato, o que aconteceu mostra que a ideologia nacionalista sob o futebol não é um enjeu singular ao sentimento identitário brasileiro ou a um patriotismo raso de Dunga. Durante uma Copa do Mundo, os jogadores de futebol, por mais globalizados e milionários que sejam, representam um Estado-nação. E no caso atual da França, sua seleção é uma questão de Estado, ou pelo menos de governo, antes mesmo da Copa começar. Era engraçado ouvir jornalistas franceses ironizando a intervenção do governo da Costa do Marfim (ex-colônia francesa) sobre sua seleção, enquanto a Ministra e sua Secretária da França para os Esportes divergiam em público sobre o preço do hotel onde hospedavam-se os jogadores franceses. Ai, como pode ser divertido o olhar do ex-colonizador sobre si mesmo…Como ele pode ser burlescamente cego…
Depois do episódio do preço do hotel (discutido, representado e ridicularizado por mídias e humoristas durante uma semana inteira), a França começou sua participação na Copa como o mundo inteiro já sabia que seria : pessimamente. E o governo continuava presente : a) em solenidade oficial, para lançar um programa de educação pelo futebol na África do Sul financiado pelo Estado francês, a Secretária para os Esportes veio antes e sozinha, enquanto os jogadores chegaram depois, não sem tornar pública sua recusa em partilhar o estrelato de uma solenidade com uma Secretária cuja declaração sobre seus custos de hospedagem os tinha deixado « descontentes » (palavra oficial do capitão do time) ; b) no dia da bela derrota que o México lhes infligiu, a TV mostrou que a Ministra francesa para os Esportes estava no mesmo avião que levou os jogadores de volta ao hotel. Pois é, nesse big-brother real em versão francesa, telespectadores e internautas podiam acompanhar todas as intrigas, já sabiam por exemplo que os jogadores estavam de bem com a Ministra e de mal com sua Secretária…E um novo episódio, à origem da greve ou motim do dia 20 de junho e com ares de intermédio burlesco de drama, revelou que as mídias eram realmente um outro personagem central. L’Équipe, célebre jornal francês de futebol, estampou em sua manchete do dia 19 os palavrões que Nicolas Anelka teria dito a Domenech no intervalo do jogo França/México e que seriam, depois que correram o mundo a partir de L’Équipe, a razão de sua exclusão da seleção.
Mas o governo reafirmou sua centralidade enquanto personagem, dessa vez na pessoa do próprio chefe de Estado : da Rússia, onde estava em visita oficial, Nicolas Sarkozy teria declarado que não estava em seu papel julgar a qualidade do futebol da equipe, mas que confiava em sua ministra para que as conclusões e as medidas necessárias sobre o caso Anelka fossem tiradas e executadas, para que « a França do futebol pudesse novamente ser cheia de esperança». Para o leitor que ainda duvida da articulação entre futebol e identidade nacional francesa, preste atenção à frase acima : o presidente da república não fala de um esporte praticado num Estado-nação, mas de um Estado-nação que poussui um esporte como fonte de esperança nacional. Além disso, assume que a seleção francesa é um problema de governo ao designar uma ministra para resolver a confusão! Ora, considerando que a FFF não é instituição do Estado, qual o poder de uma ministra para particpar de uma decisão tão grave? Mas a verdade é que o jogador em questão foi excluído do time horas depois dessa declaração presidencial, oficialmente após uma enquete dos dirigentes com os dois diretamente envolvidos (Anelka eDomenech) e uma reunião do staff dirigente.
O capítulo posterior dessa ópera-bufa, com o qual começamos este post, foi iniciado pelo terceiro personagem central : os próprios jogadores, agora travestidos em cidadãos em luta ! Aqueles que não conseguiam jogar juntos, apresentando-se em campo como individualidades isoladas e perdidas, entraram em cena como grupo organizado de reivindicação, desafiando os discípulos de Alain Touraine e sua sociologia dos movimentos sociais ! Com efeito, o que mais chamou minha atenção no espetáculo ao vivo do Canal + foi o documento dos jogadores contra a exclusão de Anelka. Primeiro por ter sido lido serenamente pelo treinador: Domenech, aquele mesmo por quem a FFF justificara a exclusão de Anelka, apresentava-se como porta-voz dos solidários ao seu agressor ! Em segundo lugar, por alguns de seus conteúdos fundamentais :
Por este comunicado, todos os jogadores da equipe de França sem exceção querem afirmar sua oposição à decisão tomada pela Federação Francesa de Futebol de excluir Nicolas Anelka de seu grupo. Se nós lamentamos o incidente que se produziu durante o intervalo da partida França-México, nós lamentamos mais ainda a utilização de um acontecimento que pertence apenas ao nosso grupo e que é inerente à vida de uma equipe de alto nível.
(…………………………………………………………………………………………)
Consequentemente, e para marcar sua oposição para com as mais altas instâncias do futebol françês, o conjunto dos jogadores decidiu não participar da sessão de treino. Em respeito ao público que veio nos assistir a essa sessão, decidimos vir para encontrar esses torcedores que, por sua presença, trazem-nos uma sustentação sem falha.
No que nos diz respeito, somos conscientes de nossas responsabilidades, aquelas por vestirmos as cores de nosso país, mas também aquelas que nós temos para com nossos torcedores, por seus executivos, educadores, benevolentes e para com as inumeráveis crianças que olham os Bleus como modelos. No que nos diz respeito, não esquecemos nenhum de nossos deveres. Nós faremos tudo individualmente, com certeza, mas também num espírito coletivo, para que a França, terça à noite, reencontre sua honra por uma performance enfim positiva.
Deixo a singular atitude do treinador de lado (seu caso parece realmente psicanalítico) e concentro-me nos conteúdos mais sociologizáveis do documento. Para quem já estava acostumado com as controladíssimas entrevistas coletivas dos jogadores, o contraste é imediatamente significativo. De fato, o sentido de seu discurso era, até então, marcado pela subjetividade, melhor dizendo, por argumentos centrados nas emoções e sentimentos dos jogadores em relação às perguntas. Exemplo notável, já aqui sinalizado : quando perguntados porque não foram à solenidade com a Secretária dos Esportes, o único argumento do capitão foi o de que eles decidiram assim fazer porque ficaram descontentes com a declaração da Secretária sobre o preço do hotel. Argumentação cujo sentido era perfeitamente adequado ao que se diz aqui, no Brasil e no mundo sobre os grandes jogadores contemporâneos – os globalizados, aqueles que jogam em grandes times europeus e são, para cada país, as estrelas da Copa : são celebridades egocêntricas, incapazes de reflexão para além de seus caprichos de jovens enriquecidos, mimados e vestidos com o mesmo zelo das top-models internacionais – com quem aliás eles gostam de namorar, casar, divorciar, etc. Eis que de repente eles conseguem redigir um documento cujos conteúdos apresentam também sentido político, cidadão e, inevitavelmente, o sentido do respeito devido à representação que eles portam do Estado-nação ! Os meninos mimados e incompetentes da seleção francesa, aqueles que alguns jornalistas distinguiam sociologicamente em três bandos adversários bem urbano-globalizados (os provincianos X os da periferia das grandes cidades X os electrons livres), surgem como grupo político uníssono e implodem a FFF (diga-se de passagem, com uma sigla dessas até parece vocação). Que situação !
Mais tarde ficamos sabendo de um detalhe fundamental sobre o tal documento : ele teria sido redigido por um advogado ou conselheiro de um dos jogadores. Pois é : agentes empresariais, advogados, parentes e outros intermediários ; estamos bem no mundo dos negócios do futebol globalizado. Aquele que, com esta Copa, trará entre 600 e 900 milhões de lucros à Fifa, milhares aos jogadores e seus clubes, lucro ou déficit às transmissoras (dependendo se o país fica ou sai logo da Copa) e, certamente, milhões de déficit aos poderes públicos da África do Sul, segundo Le Monde em 21.06.2010. Mas os sentidos dos negócios e suas celebridades contemporâneas não ultrapassaram completamente sentidos anteriores do futebol, no caso os de uma Copa do Mundo : o do sentimento de identidade nacional e o de sua articulação com a ideologia do Estado-nação.
Na França, a estupefação ainda vívida, pois que ninguém consegue dizer se a seleção francesa vai ou não jogar amanhã, compõe-se, entre outras coisas, de duas orientações simbólicas bem sólidas no sentimento identitário e nacionalista do país : o pavor do ridículo, por ter-se transformado em motivo de riso mundial nesta Copa ; a demanda pela intervenção do governo, renovando a tendência estatizante da sociedade francesa, desde pelo menos Louis XIV até Nicolas Sarkozy. Com efeito, desde ontem podemos ouvir jornalistas, principalmente ex-jogadores/treinadores reconvertidos em jornalistas esportivos, declarando que a solução dessa ópera-bufa deve passar pela intervenção do governo, para garantir a presença da seleção ao jogo de terça-feira, pela honra da França.
E concluo com um convite à reflexão sociológica : a ação dos jogadores franceses poderia ser definida como greve ou como motim ? Por um lado, ela manifestou-se como suspensão voluntária de trabalho contratado, logo, a ação estaria perto de uma greve (embora sendo realizada por trabalhadores com salários milionários) ; por outro lado, um time de futebol é uma estrutura hierárquica, ela tem no treinador técnico seu comandante e na federação seu Estado-maior, logo, a ação estaria perto de um motim…Seja como for, vive la France ! Apesar de seu complexo de decadência, continua infatigável em produzir conflitos sociológica e politicamente impactantes.
10 comentários:
São loucos, esses gauleses.
Cynthia,
O lado louco até que é bom; é muito engraçado. A ministra, por exemplo, não se cansa de fazer rir: em entrevista coletiva antes de ontem, assumindo o papel do treinador, o contraste entre a tonalidade solene do discurso e o arregalado dos olhos era tão hila'rio que pensei estar diante de um filme de Monty Pynthon sobre o discurso de De Gaulle de Londres. Ontem no jogo, a mesma criatura apareceu vestida com o mesmo blusão dos jogadores. Ou seja, o time francês tornou-se clube estatal...
Mas todo esse caos tem implicações realmente horri'veis. Exemplo: no universo das mitologias futeboli'sticas, a seleção que venceu o Brasil em 1998,apelidada Les Blancs, Beurs(a'rabes), Blacks, representa o sucesso da integração multicultural à la francesa; ora, ja' teve quem falasse que o ocorrido deve-se a um time de negros de periferia mal-educados...Parece que o futebol francês pode nutrir agora uma mitologia inversa: a da desintegração absoluta da sociedade francesa. Abraço
P.S.: embora não tenha o nome, acho que sou da fami'lia de seu orientador. A prova: estou preparando-me para ir a um show de Bob Dylan...Eu prefiro uma modernidade com poucos riscos e com vinho no lugar de scotch ...
Ai, que inveja. Uma vez Bob Dylan tocou em Brighton, mas eu não pude ir. Adoraria acompanhar vocês e depois saírmos para uma farra regada a vinho nacional francês. Curta por mim!
Beijo
Cara Tâmara
Gostaria de parabenizá-la pelo texto, pois a despeito de seu "desconhecimento" da história do futebol, você conseguiu nos trazer um rico relato dos acontecimentos, num sentido etnográfico mesmo, e o fez com muita ousadia, já que não é fácil abordar um evento que ainda parece reservar alguns próximos capítulos.
Entretanto, duas questões não saem de minha cabeça: no episódio narrado, qual foi o papel (se é que teve) do ex-jogador Zinedine Zidane, que, segundo a imprensa, teria sido o pivô de tudo isso, atuando nos bastifores? Além do mais, soube que alguns dos patrocinadores da seleção francesa resolveram rescindir o contrato de patrocínio, de modo a se afastar da imagem negativa ("perdedores", vergonha nacional) deixada pelos Bleus nesta Copa. A reação desses atores ficou só nisso, ou há algo mais que nós, aqui no Brasil, não estejamos sabendo? Pergunto isso porque no futebol globalizado atual, a importância dos entes privados do Mercado é cada vez maior e mais significativa. Daí cogitei, por alguns momentos, se eles não tiveram ou terão alguma participação nesses fatos bizarros, sejam eles de natureza extra-campo ou não.
Por fim, sobre se a ação dos jogadores franceses está mais para greve ou motim, acredito que a segunda opção seria a mais correta, ao menos do ponto de vista empírico. E digo isto porque greve não seria um conceito muito aplicável às relações entre jogadores e federações e associações nacionais de futebol (neste caso, a FFF) durante a realização de Copas. Até onde sei, os jogadores de cada seleção não estabelecem qualquer contrato salarial com tais entidades para jogar por até um mês a Copa do Mundo. O que há, na verdade, são premiações coletivas (mas que são distribuídas equitativamente em caso de cumprimento da meta firmada), cujos valores são definidos previamente pelas próprias federações (seja através de diálogo com os jogadores e comissão técnica ou não). Os jogadores também podem ganhar um trocado graças aos inúmeros merchandising que eles protagonizam, sobretudo na TV, no período copista (nem sei se existe este adjetivo rsrsrsrsrs).
Ademais, salvo engano, haja vista que hoje em dia os clubes (em especial os grandes europeus) parecem ser tão ou mais importantes que os próprios selecionados, cada federação nacional acaba tendo de pagar uma certa quantia àqueles pelo empréstimo de seus jogadores para a disputa das Copas. Funciona mais ou menos como uma espécie de contrato de seguro, que, em caso de lesão séria de algum atleta, a qual o impeça de retornar imediatamente às atividades futebolísticas quando do regresso ao seu clube, serve de indenização prévia.
Diante desses elementos, acredito que fica um tanto difícil caracterizar o movimento dos jogadores franceses como uma greve. Assim, ele se constituíria como um motim, tal como você definiu no seu texto.
Não tendo mais nada a falar (ou melhor, escrever), vou ficando por aqui...mas não sem antes parabenizá-la novamente, e desta vez pelo conjunto de sua obra no Cazzo. Seus textos e comentários têm sido preciosos e deliciosos de ler! Posso dizer que a sua "pegada" sociológica é daquelas que deixam marcas em nós...UI!
Cara Tâmara
Gostaria de parabenizá-la pelo texto, pois a despeito de seu "desconhecimento" da história do futebol, você conseguiu nos trazer um rico relato dos acontecimentos, num sentido etnográfico mesmo, e o fez com muita ousadia, já que não é fácil abordar um evento que ainda parece reservar alguns próximos capítulos.
Entretanto, duas questões não saem de minha cabeça: no episódio narrado, qual foi o papel (se é que teve) do ex-jogador Zinedine Zidane, que, segundo a imprensa, teria sido o pivô de tudo isso, atuando nos bastifores? Além do mais, soube que alguns dos patrocinadores da seleção francesa resolveram rescindir o contrato de patrocínio, de modo a se afastar da imagem negativa ("perdedores", vergonha nacional) deixada pelos Bleus nesta Copa. A reação desses atores ficou só nisso, ou há algo mais que nós, aqui no Brasil, não estejamos sabendo? Pergunto isso porque no futebol globalizado atual, a importância dos entes privados do Mercado é cada vez maior e mais significativa. Daí cogitei, por alguns momentos, se eles não tiveram ou terão alguma participação nesses fatos bizarros, sejam eles de natureza extra-campo ou não.
Por fim, sobre se a ação dos jogadores franceses está mais para greve ou motim, acredito que a segunda opção seria a mais correta, ao menos do ponto de vista empírico. E digo isto porque greve não seria um conceito muito aplicável às relações entre jogadores e federações e associações nacionais de futebol (neste caso, a FFF) durante a realização de Copas. Até onde sei, os jogadores de cada seleção não estabelecem qualquer contrato salarial com tais entidades para jogar por até um mês a Copa do Mundo. O que há, na verdade, são premiações coletivas (mas que são distribuídas equitativamente em caso de cumprimento da meta firmada), cujos valores são definidos previamente pelas próprias federações (seja através de diálogo com os jogadores e comissão técnica ou não). Os jogadores também podem ganhar um trocado graças aos inúmeros merchandising que eles protagonizam, sobretudo na TV, no período copista (nem sei se existe este adjetivo rsrsrsrsrs).
Ademais, salvo engano, haja vista que hoje em dia os clubes (em especial os grandes europeus) parecem ser tão ou mais importantes que os próprios selecionados, cada federação nacional acaba tendo de pagar uma certa quantia àqueles pelo empréstimo de seus jogadores para a disputa das Copas. Funciona mais ou menos como uma espécie de contrato de seguro, que, em caso de lesão séria de algum atleta, a qual o impeça de retornar imediatamente às atividades futebolísticas quando do regresso ao seu clube, serve de indenização prévia.
Diante desses elementos, acredito que fica um tanto difícil caracterizar o movimento dos jogadores franceses como uma greve. Assim, ele se constituíria como um motim, tal como você definiu no seu texto.
Não tendo mais nada a falar (ou melhor, escrever), vou ficando por aqui...mas não sem antes parabenizá-la novamente, e desta vez pelo conjunto de sua obra no Cazzo. Seus textos e comentários têm sido preciosos e deliciosos de ler! Posso dizer que a sua "pegada" sociológica é daquelas que deixam marcas em nós...UI!
Caro Leonardo,
Muito obrigada, mesmo, por seus parabéns. Principalmente porque você reparou que eu tento aproveitar os benefi'cios da etnografia para as ciências sociais.
Vamos às suas questões. Zizou tem sim relação com o ocorrido, o que ocorre e ainda vai ocorrer, porque existe por tra's disso tudo uma guerra entre a tradição da FFF e a geração de jogadores de 1998. Uma boa parte dos jogadores daquele time que foi campeão, entre os quais Zidane, esta' organizada ha' algum tempo contre a FFF e esta Copa parece ter sido uma ocasião que eles não perderam para implodi-la. E olhe que essa geração de 1998 tem dificuldades com os novos jogadores, porque estes são realmente complicadas estrelas infanto-globalizadas e nunca respeitaram o mito dos campeões do mundo 1998. Mas Zidane não é o li'der; ele nunca teve temperamento para isso e existem outros jogadores (daquela época) muito mais competentes politicamente do que ele para organizar o movimento. Mas é verdade que eles não iam perder o potencial simbo'lico de Zidane diante da opinião pu'blica.
Quanto aos patrocinadores, é verdade sim que um ja' abandonou a seleção francesa:exatamente um dos bancos mais envolvidos com o banditismo financeiro da crise de 2008 que ainda vivemos; como é linda a moral capitalista, não é mesmo? Finalmente, o governo francês, em baixi'ssimo i'ndice de popularidade, invadiu completamente o sistema FFF: essa o'pera-bufa estatizou a tal ponto o futebol nacional do pai's que o presidente da repu'blica esta' hoje em reunião com Thierry Henry (que estava impressionantemente silencioso diante de toda a confusão e que faz parte da geração 1998).
Quanto a greve ou motim, sua argumentação é muito boa e demonstra que você conhece o futebol infinitamente mais do que eu. Fico com você - por enquanto.
No mais, eu gosto demais do Cazzo, tem sido um espaço que abre minha sensibilidade à importância de tornar pu'blico, reflexivo e prazeiroso o olhar das ciências sociais sobre o mundo. Um comenta'rio como o seu faz-me ganhar o dia - e o mês, o ano, quase a eternidade. Brigadão e um grande abraço.
Texto excelente. A melhor análise do evento, de longe.
Eu só fiquei me perguntando onde entraria nessa confusão toda o apego de Domenech pela astrologia, ainda mais num país afeito ao ceticismo e ao racionalismo.
Muito obrigada, João Paulo. Foi escrito com muita vontade e atenção; vai ver é por isso que deu para compensar um pouco o fato de que conheço quase nada de futebol (segundo os homens com os quais convivo e que são experts desde criancinhas).
Quanto a Domenech, rapaz, eu não sei se é verdade essa histo'ria de consultar o mapa astral dos jogadores para seleciona'-los. Eu que achava, na copa anterior, que ele parecia um gentil professor de geografia, atualmente acho que seu caso é psicanali'tico e psiquia'trico. E ai', nem me meto! Abraço.
Tâmara
Segue abaixo um outro texto que escontrei sobre a crise do futebol francês. Não sei se vc já o leu...bem, ele foi publicado no La Repubblica de ontem e seu autor é Bernardo Valli.
Eis o link:
http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=33697
Abraços!
Valeu, Leonardo. Vou consultar agorinha.
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